Nem Olivia Rodrigo, nem Billie Eilish, nem Lil Nas X e nem Justin Bieber. A noite de 3 de abril de 2022 foi de Jon Batiste. Nesta nossa realidade bizarra em que o artista mais indicado de uma premiação é considerado azarão, o jazzista de Louisiana embaraçou todas as apostas ao se consagrar como o maior vencedor do Grammy 2022, saindo da cerimônia com 5 dos 11 gramofones que concorria, incluindo o cobiçado Álbum do Ano, categoria mais importante do evento. O trabalho contemplado foi WE ARE, seu aclamado oitavo álbum de estúdio. E, apesar de competir com grandes nomes, não há outra conclusão ao mergulhar no projeto: o prêmio só poderia ser dele.
“Nós não paramos, mas o tempo sim”. Há uma conduta inusitada nessa afirmação, não? Bem, é assim que Leon Bridges escolhe abrir Motorbike, o segundo single do seu terceiro álbum de estúdio, Gold-Diggers Sound. É comum que o tempo seja entendido, tanto na Arte quanto no inconsciente coletivo, como uma entidade intocável, totalmente fora da nossa compreensão e controle, que existe independente da nossa capacidade de percebê-lo, e que é efêmero por definição. Ou seja, que se vai apaticamente, e quem não o acompanha é fatalmente suprimido.
Uzo Aduba é maior do que podemos imaginar. Nascida no dia 10 de fevereiro de 1981, em Boston, Uzoamaka Nwaneka Aduba é filha de imigrantes nigerianos. Criada em Medfield, ela se formou na Medfield High School, em 1999. Apesar de ter crescido com o sonho de se tornar advogada, seus rumos começaram a mudar quando uma professora a incentivou a cantar mais, e, após performar I Will Always Love You em uma audição, Aduba passou a considerar um futuro mais artístico. Assim veio sua formação em canto lírico, pela Boston University.
Aos 21 anos de idade, em 2003, a norte-americana subiu de vez aos palcos teatrais. Dois anos depois, ela debutou no meio cinematográfico, pelo curta-metragem Notes. Mas a carreira de Uzo Aduba iria, de fato, se iniciar para o grande público apenas em 2013, ao dar vida à personagem Crazy Eyes, em uma das primeiras produções originais da Netflix, Orange is the New Black. Ao interpretar a divertida e complicada Suzanne, Uzo cravou seu nome em Hollywood, conseguindo se destacar em meio ao conturbado presídio de Litchfield. A concretização de seu sucesso viria com sua primeira indicação e vitória no Emmy Awards, como Melhor Atriz Convidada em Série de Comédia.
Ao longo de quatro anos, This Is Us se encarregou de retratar as dores e delícias da vida a partir de crônicas da família Pearson. Com seus personagens profundos e reais, explorados numa história livre e sem amarras, a produção da NBC criou seu maior encanto em sua humanidade radical e melodramática, que gerava fortes relações com seu público ao passo em que criava as mais diversas catarses dentro e fora da tela. Alcançando o clamor da crítica e do público com sua fórmula completamente singular, This Is Us não escapou de viver, como qualquer outra narrativa seriada, seus altos e baixos, e com sua bagagem, chegou ao seu quinto e penúltimo ano.
Sair da casa dos pais não é fácil. Apesar de muitos jovens crescerem sonhando com a tão desejada liberdade, ela vem com obstáculos que nos fazem ter vontade de correr de volta para nossa cidade natal constantemente. A verdade é que não importa o quanto planejamos e tentamos manter uma estabilidade, em algum momento tudo desmorona. E é nesse momento de muita confusão que a irmã mais velha dos Johnson se encontra.
Zoey cresceu sendo mimada pelo pai, obedecida pelos caçulas e popular na escola. Acompanhamos a personagem de Yara Shahidi durante as temporadas iniciais de black-ishsendo um grande destaque da história. Passando de uma adolescente dramática para uma jovem mais dramática ainda, quando entra na faculdade a menina tem um brusco choque de realidade.
Dia 29 de dezembro de 2020, J. Cole surpreendia a todos com umpost inusitado em seu Instagram, consistindo numa imagem da página aberta de um caderno. Em seu topo estava em destaque The Fall Off Era, e, abaixo, listados vários nomes de antigos e possíveis novos projetos, dispostos em uma linha vertical, denotando tempo. Acima, podia-se ler, ambas horizontalmente riscadas, dando a entender que são etapas já cumpridas, Features – em referência à corrida de colaborações que o rapper entregou entre 2018 e 2020 – e ROTD3– aludindo à última compilação lançada pela Dreamville, gravadora fundada por Cole; uma das melhores produções coletivas que o hip-hop nos concedeu na última década, envolvendo todos os seus artistas associados e inúmeros outros colaboradores.
Mais abaixo, apresentavam-se os dizeres It’s a Boye The Fall Off, aparentemente futuros trabalhos que podemos esperar de Cole, que dariam seguimento à era aqui anunciada. Em que estágio estamos agora? No centro do papel, sanduichado pelos dizeres citados anteriormente, estava grafado The Off-Season, que seria lançado seis meses depois, em 14 de maio de 2021. O álbum já havia sido antecipado antes com o freestyle Album Of The Year, de 2018, porém sua espera sempre caminhou na sombra de The Fall Off, o projeto mais aguardado de Cole, que promete ser o maior feito de sua carreira. Numa lógica de parasitismo, semelhante ao que ocorre nas produções do MCU, The Off-Season, dentro do roteiro dessa grande epopeia, até cumpre seu papel, porém inevitavelmente tem seu rendimento individual como obra afetado.
Ano Novo, Nova Ru. Não contente em apenas estrear a 13ª temporada de RuPaul’s Drag Race junto da virada para 2021, Mama Ru fez a sorte operar à seu favor: com 16 episódios, um especial dos bastidores e mais dublagens do que nunca, o seriado manteve o público vidrado na TV toda sexta-feira, até que, finalmente, Symone da House of Avalon fosse coroada a Nova Super Estrela Drag da América.
Eric Garner, Breonna Taylor, George Floyd. Diga o nome deles. Quase um ano depois do assassinato de George Floyd, o ex-policial Derek Chauvin foi declarado culpado pelo júri popular. Exceção, claro, já que pouquíssimos agentes da polícia estadunidense são processados por matar alguém durante uma ação de trabalho. A decisão histórica calhou de acontecer alguns dias antes da cerimônia do Oscar 2021, em que Dois Estranhos, curta da Netflix que denuncia a violência sofrida pela população negra, está cotado como o favorito para levar a estatueta para casa.
Latasha Harlins, uma jovem preta de 15 anos, morava em Los Angeles e alimentava grandes sonhos, como o de ser advogada. A menina morava com sua avó e sua melhor amiga, que também era sua prima. No dia 16 de março de 1991, os sonhos e a vida de Latasha foram arrancados por menos de dois dólares. Após a sua morte, seu nome também foi citado nos protestos dos distúrbios de Los Angeles em 1992, que reivindicavam sobre o julgamento do caso Rodney King. Depois de 30 anos da morte da garota, Uma Canção para Latashaconta sua história em uma curta documentário chocante.
Em um mundo que rotula as pessoas, que as faz se sentirem estranhas, mal vistas e menosprezadas por serem quem são, levantar sua voz e usá-la como uma arma é um ato de coragem. Nesse contexto, o livro O ódio que você semeia, da magnífica autora afro-americana Angie Thomas, me deu uma lição que vou levar pelo resto da minha miserável vida de leitora, que é: minha voz é importante e não devo permitir que alguém tente me silenciar, pois quando nos calamos permitimos que um ciclo de injustiças criado pela sociedade elitizada continue e evolua. Assim, quando vamos às ruas em manifestações e escrevemos tweets cobrando pelos nossos direitos como seres humanos, estamos quebrando esse ciclo preconceituoso que já dura séculos.