Mesmo quem não gosta, sabe reconhecer a importância do futebol na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. O esporte é capaz de unir paixões, reunir familiares e amigos, além de lotar estádios enormes durante jogos importantes. A Mão de Deus, um dos concorrentes a Melhor Filme Internacional no Oscar 2022, indica que irá refletir sobre sua influência na vida de seu protagonista, mas não sabe direito qual abordagem seguir em sua narrativa, o que resulta em uma obra apática, com poucas cenas boas em um todo sem alma.
Recentemente, um curioso fenômeno tem ocorrido na indústria audiovisual, em que nomes estão saindo do seio cinematográfico hollywoodiano e se aventurando no segmento televisivo. Kate Winslet é um exemplo, com a excelente Mare of Easttown; o diretor Adam McKay é um dos responsáveis pela surpresa que foi Succession; e Nicole Kidman virou figura recorrente nas séries. Mas qual a razão desse chamariz? Qualidade, sem dúvida, é uma das respostas, o que pode fazer com que categorizemos essa época como uma nova Era de Ouro da TV e do streaming. Outros fatores podem ser listados, como liberdade criativa, roteiros desafiadores, diversidade de histórias e apostas das plataformas no formato. Todos esses ingredientes estão presentes na bula de Dopesick.
A narrativa de Four Good Days tinha tudo para ser óbvia e seguir o roteiro clássico de um filme com essa abordagem, entretanto o que se vê é um show de atuações, e um recorte instigante do problema apresentado. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Rodrigo García (Em Terapia, Questão de Vida), mostra a trajetória de Molly (Mila Kunis), uma mulher jovem viciada em drogas, que retorna para a casa da sua mãe, Deb (Glenn Close), em busca de ajuda para vencer sua dependência química. Após levar a filha à reabilitação, pela 15ª vez, elas descobrem um método novo e intensivo de cura para o vício, mas para iniciar o tratamento, Molly precisa ficar quatro dias sem usar nenhum tipo de droga.
Quando falamos de musicais, alguns nomes vêm imediatamente à cabeça. Clássicos contos de bruxas cantados por Bernadette Peters, felinos noturnos cantando sobre amor e memórias, romances proibidos com fantasmas mascarados… Tudo isso morou por anos na cabeça de Jonathan Larson. O grande nome da Broadway inovou e mudou a cena do teatro musical por anos ao escrever o fenômeno Rent, que ficou em cartaz por muito tempo, sendo remontado milhares de vezes em diferentes palcos ao redor do mundo.
Mas antes de Rent, existiu tick, tick… BOOM!. Nesse musical originalmente estrelado por seu próprio criador, acompanhamos a história de Jon, um nova-iorquino aspirante a compositor no início dos anos 90. Ele está preocupado com a chegada dos 30 anos, se comparando com grandes nomes que haviam conquistado muitas vitórias antes de atingir a fatídica idade. No longa-metragem, dirigido por Lin-Manuel Miranda e roteirizado por Steven Levenson, vemos mais detalhes da vida de Jonathan que tornam a obra original um trabalho semi-autobiográfico, traçando paralelos das vivências reais de Larson com as dos personagens que ele criou.
Das confissões mais íntimas de Carolina Maria de Jesus, surge Quarto de despejo. Mesmo com mais de 1 milhão de cópias vendidas – 10 mil só na primeira semana -, tendo ganhado traduções para 13 idiomas e sendo comercializado em mais de 40 países, o nome da autora não significava tanto, à época, quanto agora – que ainda é pouquíssimo, se comparado aos devidos créditos merecidos. Mulher negra, mãe solo, moradora da favela, antes de ter seus diários publicados, a luta do dia a dia de Carolina era por comida. Seus escritos sempre foram importantes para ela, mas nunca mais do que os filhos e o árduo trabalho diário, o único meio de alimentá-los.
Quatro anos após o início de suas gravações, a aguardada comédia romântica Eduardo e Mônica chega aos cinemas reverenciando não só a música de Renato Russo, clássica brasileira que inspirou o filme, mas também o amor e o respeito às diferenças. O longa, dirigido por René Sampaio e estrelado por Gabriel Leone e Alice Braga, narra a história do jovem vestibulando e da médica independente que se cruzam na tal festa estranha com gente esquisita e mostram que, definitivamente, os opostos se atraem. Ele, que assiste novela e joga futebol de botão com o avô, em contraposição se apaixona por ela, que bebe conhaque e gosta do Bandeira, Bauhaus, Van Gogh, Mutantes, Caetano e de Rimbaud.
Guillermo del Toro sempre teve uma predileção pelo inóspito e o bizarro. Conforme sua carreira foi amadurecendo, o diretor se viu cada vez mais confortável em meio às suas criações monstruosas com olhos nas mãos, chifres reluzentes e escamas pelo corpo, buscando reforçar que, no final das contas, o estranho pode ser um convite para uma vida fantástica. No entanto, em O Beco do Pesadelo, sua nova empreitada, del Toro prende as criaturas no baú, fecha o livro de histórias mágicas e assume uma roupagem realista à sua maneira para provar, mais uma vez, que o ser humano é bem mais perigoso que o pior dos monstros.
Dando sequência ao novo formato do querido Nota Musical, a Editoria do Persona se reúne novamente para trazer suas impressões sobre os mais empolgantes – e outros nem tanto – lançamentos do mês. Despedindo-se do último palíndromo (22/02/2022) da década, Fevereiro foi uma montanha-russa de sentimentos. Em curtos 28 dias suando de calor, chegamos até a assistir de longe uma guerra ser declarada. No dia 23 de fevereiro, o mundo também deu adeus à Paulinha Abelha, vocalista da banda de forró tecnobrega Calcinha Preta. Presente no ambiente da Música nacional desde 1996, o ritmo sônico do grupo ecoa pelos mais diversos sons brasileiros.
Não poderíamos terminar o Melhores do Ano sem falar do setor que retomou os seus dias de glória em 2021: o Cinema. Após a paralisação completa das salas ao redor do mundo em 2020, em decorrência da pandemia de covid-19, o audiovisual precisou se readaptar. Com isso, ano passado foi o momento de observar o efeito da ascensão dos streamings, assim como o retorno da sagrada experiência de subir as escadas para sentar em uma poltrona aconchegante e comer pipoca fresquinha enquanto assiste ao mais novo lançamento cinematográfico na telona.
“Belfast ainda estará aqui quando você voltar”. Dito e feito: o bom filho à casa torna e o ator, diretor, roteirista e produtor Kenneth Branagh usou seu espaço na Sétima Arte para reviver a infância na sua familiar vizinhança. Irlandês, o cineasta se mudou para a Inglaterra aos nove anos de idade, em um período em que seu país e cidade natal enfrentavam os conflitos entre católicos e protestantes. Branagh, um dos principais entusiastasshakespearianos da indústria cinematográfica, entre outras diversas produções no currículo, se voltou, agora, à sua própria história. Com um molde autobiográfico, Belfast relembra os dias de seu idealizador na cidade, mesmo que a nostalgia não seja tão simples.