Only Murders in the Building: a série da Selena Gomez é um bom podcast

Imagem da série Only Murders in the Building. Na imagem, da esquerda para direita, uma mulher branca, de cabelos pretos presos em rabo, usa um casaco de pelo marrom, com uma blusa amarela; ao meio, um homem branco, de cabelos curtos grisalhos usa um casaco preto; e por fim, um homem branco, usa um chapéu e óculos pretos, assim como um casaco preto. Os três estão com expressões assustadas e ao fundo vemos uma porta.
A aposta da Hulu em true crimes populares do Spotify é boa, mas nada revolucionária para a Televisão (Foto: Hulu)

Larissa Vieira

Embarcando na modinha de podcasts true crime e a popularização ainda maior de casos criminais, a Hulu decidiu trazer essa aposta para o streaming com Only Murders in the Building (ou, como popularmente ficou conhecida, a série da Selena Gomez). Na contramão, ao invés de escalar um grupo de cinco atores adultos interpretando adolescentes do high school dos Estados Unidos – como a conturbada Pretty Little Liars e a perdida Riverdale – a produção traz de volta três renomados (e nostálgicos) nomes da Televisão norte-americana: a dupla dinâmica, Martin Short e Steve Martin, e Selena Gomez (afinal, para a década de 2020 até o nome da cantora se tornou nostálgico na TV).

Criada pelo próprio protagonista de O Pai da Noiva, junto de John Hoffman, a trama ainda faz uma homenagem (nada inovadora para o cenário atual, mas ainda assim um bom tributo) à agitada Nova York. Baseada quase que inteiramente no Arconia, prédio fictício do Upper West Side, conta a história de três moradores desconhecidos que se ligam por simples dois motivos: eles são amantes do mesmo podcast true crime e eles foram as últimas pessoas (além do assassino, claro) a estarem com o falecido Tim Kono (Julian Cihi). Intrigados com o até então suicídio, o trio de personalidades distintas se une a fim de solucionarem um crime (e no caminho se tornarem grandes podcasters), devido à sua bagagem de conhecimento por conta do programa que ouviam.

Imagem da série Only Murders in the Building. Da esquerda para direita, um homem branco, usa chapéu, óculos e chapéu preto, segura com as mãos um saco de mercado bege. Ao meio, um homem branco, grisalho, usa um casaco azul e cachecol rosa, segura três caixas de papelão e por fim, uma mulher branca, usa um gorro amarelo, fones vermelhos, um casaco de pelo bege, uma blusa amarela por baixo. Ao fundo, uma parede de madeira escura.
Com estreia exclusiva no Brasil pelo Star+, Only Murders in the Building, apesar de falha, é o respiro de sucesso do streaming (Foto: Hulu)

Conhecida a narrativa principal apresentada a nós praticamente nos quatro primeiros episódios, que foram disponibilizados em uma leva só, queremos embarcar nesse enredo que até então foi curioso, interessante e leve (apesar do crime). A relação dos senhores, Charles-Haden Savage (Martin), Oliver Putnam (Short) e em contraponto com a jovem Mabel Mora (Gomez) é o primeiro destaque que te faz querer ficar na série, afinal a maestria do choque de gerações traz um refresco perante os clichês criminais adolescente. 

Alinhado a isso, temos suas personalidades particulares que se complementam e repelem, ao mesmo tempo: o ex-ator de comédia é aquele desiludido amorosamente, ainda buscando a grandeza após seu sucesso tremendo como Brazzos; o ex-diretor da Broadway é o nosso elo cômico que vem com uma bagagem de frustrações, tanto pessoais quanto profissionais; e, por fim, o alívio “jovem” para a trama, carrega a escuridão de ser uma das personagens mais ligadas ao falecido. 

Assim, antes mesmo de vermos o desfecho da trama, temos certeza que o que sustenta sua narrativa são essas três figuras e seu relacionamento. Mas, independente disso, sua história se desenvolve como um bom podcast de true crime, que não necessita dessas grandes figuras para se tornar um elemento de sucesso, mas que quando levados à Televisão, sem eles, seria um grande fracasso. Apesar disso, Only Murders in the Building merece sim destaque em determinadas cenas e, em principal foco, um episódio: o sétimo. 

Imagem da série Only Murders in the Building. Da esquerda para direita, um homem branco, grisalho, usa óculos bege, uma camisa branca, colete azul marinho e um casaco preto sob. Ao meio, um homem branco, também grisalho, usa uma camisa quadriculada azul, um cachecol preto e um casaco marrom por cima; ele está com as mãos para cima. Por fim, uma mulher branca, de cabelos pretos presos em rabo, olha para eles com a cabeça apoiada na mão direita, usa uma blusa longa branca por baixo de um colete bege. A frente deles, uma mesa marrom escura, com folhas, canetas e adereços decorativos.
“Os nova-iorquinos têm uma forma especial de se comunicar. E por especial, quero dizer direta” (Foto: Hulu)

Após um mês de estreia, Only Murders in the Building já havia sido deixada de lado pela mídia. Mas foi quando o sétimo episódio, O Garoto do Apartamento 6B, estreou, que a chama reacendeu. Causando estranheza, no início, o capítulo é totalmente sem falas, até seu último segundo (literalmente). Mas, não só sem elas ele se fez, a construção sonora do caso é intrigante ao ponto de se esquecer deles e, principalmente, solucionar o crime – naquele instante. O caminhar do som, junto do uso da linguagem de sinais entre Teddy Dimas (Nathan Lane) e seu filho surdo Theo Dimas (James Caverly), faz com que a investigação seja concluída de uma forma interessante, como por exemplo, um podcast de true crime não conseguiria. 

É durante o sétimo episódio, também, que podemos notar uma particularidade quase imperceptível da produção. Com ele, percebemos que cada trama trouxe uma perspectiva diferente sobre o crime (do trio principal, do falecido Tim Kono, dos primeiros suspeitos, e até mesmo dos fãs do podcast), de diferentes olhares do Arconia. Essa mudança de ver, no entanto, causa duas coisas: uma visão geral do homicídio como um todo, mas também, nos 3 episódios seguintes fica fácil entender quem é o verdadeiro assassino, tirando um pouco da magia final de uma história de assassinato.

Imagem da série Only Murders in the Building. Na imagem, um homem branco, de cabelos pretos curtos, usa um suéter marrom e esta com as mãos juntas ao centro do corpo, como se estivesse rezando. Ao fundo, podemos ver um sofá branco com abajures e spot de luz nas paredes bege.
O sétimo episódio entrega muito mais do que 32 minutos sem falas (Foto: Hulu)

Há então, a tentativa e a esperançosa abertura para uma segunda temporada, que é construída nos cinco minutos finais da temporada. Apesar de ser intrigante o fato deles agora estarem envolvidos no crime a ser solucionado, a trama não é nada nova para uma série criminal, que já construiu caminhos mais ousados que esse. Apesar disso, é importante destacar que o espectador, que conheceu e entendeu a narrativa construída por Steve Martin e John Hoffman, não perdeu o brilho pela história e buscará novos olhares no novo ano da produção. 

Isso porque ele pode entender que em questão de enredo, era mais fácil abrir o Spotify ou qualquer agregador de podcast, que encontraria true crimes similares a esse, até mais interessantes e inovadores. No entanto, as portas que o mundo televisivo abriram para o enredo sonoro, como as personagens, a mudança de olhar quase que imperceptível e momentos sem som, foram o que tornaram Only Murders in the Building essa montanha-russa de picos altos e baixos pelas ondas sonoras do podcast.

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