A partir do afrofuturismo, Dirty Computer mantém seu impacto político intacto mesmo após 5 anos

Capa do álbum Dirty Computer. Nela está a cantora Janelle Monáe, uma mulher negra de cabelos curtos que veste uma burca feita de joias brilhantes interligadas por correntes. Apenas seus olhos não estão cobertos. A burca é de metal e vazada. Sua pele é iluminada por uma forte luz vermelha enquanto ao fundo está um círculo que se assemelha a um planeta com árvores ao redor de sua cabeça. Este é preenchido por um degradê que vai do vermelho ao amarelo. Ao fundo, tons de azul que se assemelham a nuvens e à esquerda o texto Janelle Monáe - Dirty Computer.
Dirty Computer foi anunciado com um trailer, exibido nas sessões do filme Pantera Negra (Foto: Bad Boy Records)

Henrique Marinhos

Baseado em uma história distópica que transforma aqueles que não se conformam em computadores sujos, Dirty Computer é o terceiro álbum de estúdio da cantora, compositora e atriz Janelle Monáe. Lançado em 2018, a obra-prima não se destaca apenas por sua sonoridade, mas também por sua narrativa visual e conceitual, unidas em um audiovisual de 48 minutos emocionante.

Desde o lançamento de seu primeiro álbum, The ArchAndroid, em 2010, Monáe tem sido aclamada pela crítica e pelos fãs por sua originalidade e inovação na Música. Ela mistura elementos de R&B, soul, funk e rock, além de ser conhecida por suas performances energéticas e hipnotizantes, que cativam a audiência em seus shows ao vivo. Hoje, ela pode comemorar a realização de um manifesto impactante que comemora cinco anos de existência.

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John Wick 4: Baba Yaga é um épico de ação que redefine riscos

Cena do filme John Wick 4: Baba Yaga. John Wick em uma capela, protagonista da saga de filmes de mesmo nome, interpretado por Keanu Reeves. Um homem branco de cabelos longos na altura do ombro que veste um terno totalmente preto. Ele está andando de costas para o altar de uma capela com várias velas acesas em castiçais ao seu redor. A exibição está ao nível de sua cintura mostrando uma passarela cercada de cadeiras em que a frente está um homem sentado.
Keanu Reeves, conhecido por participar de vários filmes de ação e ser referência no gênero, chegou a doar parte de seu salário para a equipe de efeitos especiais de Matrix (Foto: Lionsgate)

Henrique Marinhos

John Wick 4: Baba Yaga reflete e pode ser definido pelo seu subgênero neo-noir, em sua exploração das complexidades do ser humano, desde seus conflitos internos até sua moral ambígua no contemporâneo. Ainda que a subcategoria o descreva tão bem, a ação e o suspense se sobressaem em função de sua construção, tanto pela direção de Chad Stahelski, à atuação do veterano Keanu Reeves. Em contrapartida às motivações triangulares – de construção simples, capazes de suportar grandes tensões e únicas –, todo desenrolar da narrativa segue a busca do protagonista pela vingança de um passado e uma esperança destruídos em atos simplórios em sua prequela, que ocasionaram uma sequência de desestruturações de escala mundial, reais e fictícias.

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Treta revela que a paz interior é mais uma jornada do que um destino

Cena da série Treta. Nela estão os dois personagens principais interpretados pelos atores asiáticos americanos Steven Yeun e Ali Wong. Um está à frente do outro enquanto se olham em desafio. Ao fundo uma casa bem ornamentada com uma obra de arte pendurada ao centro. Steven, que interpreta Danny Cho, está segurando uma taça de champanhe enquanto veste uma camisa preta. Ali Wong está com um macacão branco e cabelos na altura do queixo olhando para cima.
Steven Yeun tranquilizou Ali Wong antes das filmagens de Treta, dizendo que sabia tanto quanto ela; a atriz supôs que, sem isso, talvez não tivesse sido capaz de se apresentar como fez (Foto: A24)

Henrique Marinhos

Treta, como comédia dramática, beira ou até ultrapassa o humor ácido ao acompanhar um surto de raiva no trânsito entre duas pessoas, que acabam deixando isso tomar conta de suas vidas. Criada pelo hilário Lee Sung Jin (Thunderbolts) e produzida pela A24, uma das produtoras mais aclamadas do Cinema independente norte-americano, a obra reúne os talentosos Steven Yeun (Minari – Em Busca da Felicidade) e Ali Wong (Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa), protagonistas e produtores executivos que, durante as filmagens, elogiaram um ao outro por seu senso de humor e atuação.

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Do interior à metrópole, Marina Sena se arrisca com Vício Inerente

Capa do álbum Vício Inerente. Nela está a cantora Marina Sena sentada ao meio em uma estrutura reflexiva metálica que aparenta ser uma caixa com fundo de uma cidade. Ela está com meias longas pretas sentada acima de suas panturrilhas. Enquanto segura uma concha brilhante em seus ouvidos, seus cabelos longos e pretos aparentam movimento esvoaçante e sua pele clara é iluminada por sua maquiagem. Em seu rosto está marcado uma sombra prateada em seus olhos fechados. Acima à esquerda o símbolo MS que nomeia a artista.
Marina Sena participou do projeto Foundry do YouTube Music em 2021, focado em impulsionar e divulgar artistas no começo da carreira (Foto: Sony Music)

Henrique Marinhos

Em seu segundo álbum, Vício Inerente, Marina Sena apresenta uma evolução em relação ao seu álbum de estreia, De Primeira, que fez tanto barulho no cenário brasileiro em 2021. Com influências de gêneros como reggaeton, drill, trap e funk, a artista experimenta novas sonoridades e se arrisca em texturas eletrônicas, resultado de uma colaboração estreita com seu produtor Iuri Rio Branco, que a acompanha desde o início. Aqui, a cantora apresenta um som mais maduro e coeso, consolidando sua posição no cenário pop nacional.

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Em As Primas, amor, Arte e violência se misturam na Argentina dos anos 1940

Aurora Venturini e seu livro As Primas venceram o prêmio Nueva Novela, do jornal Página/12, pelo qual a autora, enfim, foi premiada por “um júri honesto” (Foto: Fósforo/Arte: Vitória Vulcano)

Henrique Marinhos

As Primas é um romance de formação, que narra a irmandade das primas Yuna, Petra e Carina, que crescem em uma família disfuncional e marginalizada na cidade argentina de La Plata, nos anos 1940. Publicada originalmente em 2007, quando Aurora Venturini tinha 85 anos, a obra recebeu vários prêmios literários na Argentina e no exterior. Destacando-se pela linguagem radical e excêntrica, que mistura diferentes registros, gírias, estrangeirismos, neologismos, erros gramaticais e ortográficos, criando um estilo único, original e cativante, o trabalho foi a leitura do Clube do Livro do Persona em Março de 2023.

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A 2ª temporada de Hunters aproveita as brechas da liberdade criativa

Texto Alternativo: Cena da série Hunters. Nele estão 4 pessoas. Dois homens e duas mulheres.Estão andando com roupas de gala em um salão ornamental. A esquerda, um homem e uma mulher brancos, vestem um terno vermelho e amarelo e um vestido prateado respectivamente. A direita, um homem branco e uma mulher negra. Vestem um terno vermelho de veludo e um vestido marrom
David Weil, showrunner de Hunters, subiu ao estrelato com a série que o representa pessoalmente por ser neto de sobreviventes do Holocausto (Foto: Amazon Prime Video)

Henrique Marinhos

Há três anos estreava a dualista primeira temporada de Hunters. Aos que conseguiram terminá-la, hoje podem apreciar o segundo – e maior – ato do enredo, desenvolvido por David Weil, Mark Bianculli, Nikki Toscano e David Rosen, que divide opiniões. Com um exímio elenco, a série traz Al Pacino de volta às telas, já que seu último papel em uma produção para televisão foi em 2003, em Angels in America. Agora, o ator interpreta Meyer Offerman, um líder de caçadores nazistas à procura de fechar as feridas deixadas pela Segunda Guerra Mundial.

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Pearl sangra até o próprio estrelato

Cena do filme Pearl. Na imagem, uma mulher branca de cabelos castanhos presos para trás. Ela possui rímel escorrendo em direção à parte de baixo do rosto e uma expressão de raiva, além de usar um vestido vermelho em renda, com mangas bufantes. Suas mãos seguram um machado de tons terrosos ao topo de sua cabeça. Ao fundo, um céu azul e uma árvore de galhos verdes desfocada.
Gravada em sigilo midiático, a segunda parceria entre Ti West e Mia Goth estreou em Setembro de 2022, no 79º Festival Internacional de Cinema de Veneza (Foto: A24)

Henrique Marinhos e Vitória Vulcano

Favorecido pela liberdade do anonimato, o território dos pensamentos não vive para impor limites no dilema “ser ou não ser”; ele simplesmente é. A introspecção, nessa toada, pode ser a principal contextualização da oficina do diabo, especialmente no fantasioso universo do Terror. Direcionando seu tato experiente no gênero cinematográfico à agente dos assassinatos de X: A Marca da Morte, o diretor e produtor Ti West se une novamente à atriz Mia Goth em Pearl, filme-sequência concentrado em estudar a mente de uma mulher que cansou de existir plenamente apenas no mundo das ideias. 

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Os Curtas do Oscar 2023

Em 2023, a entrega do troféu para as categorias de curta-metragem volta à transmissão ao vivo do Oscar (Arte: Ana Clara Abatte/Texto de abertura: Nathalia Tetzner)

Eles são rápidos, podem vir em diferentes cores, ritmos e formas. Alguns se debruçam sobre o drama, outros carregam o peso da história nos ombros e há ainda aqueles que são desenhados com os mais delicados traços. Todos são a escolha ideal para quem começou a assistir a lista de filmes indicados ao Oscar e sentiu que precisava descansar a vista após passar horas com os olhos vidrados em longas-metragens intermináveis. Sim, nós estamos falando deles, os curtas selecionados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para a 95ª edição da premiação.

Na disputa pela estatueta de Melhor Curta-Metragem Live Action, os lenços não são suficientes para enxugar as lágrimas do reencontro de dois irmãos e uma história de natal doce em meio ao amargo da guerra. Já na corrida pelo Melhor Documentário em Curta-Metragem, um bebê elefante órfão que nasceu como favorito ao prêmio divide espaço com uma loira estadunidense tão eloquente como a Hebe. Por fim, a estatueta de Melhor Curta-Metragem de Animação é arrastada de um lado para o outro com a sátira da vida sexual de uma jovem da década de 90 e a amizade improvável entre menino e animal. 

Se, no ano passado, a emissora ABC tomou a decisão infeliz de vetar a entrega das estatuetas das três categorias que dividem as 15 produções de menor duração, em 2023, a revolta do público e do Persona fez efeito e a cerimônia irá ao ar por completo. Repetindo o conteúdo informativo e imersivo do primeiro cineclube de curtas, a publicação está de volta com a estrutura pensada especialmente para os amantes da Sétima Arte. Dessa vez, com um ânimo especial pelo renascimento do Cinema e junto dos comentários apurados da Editoria, que não cansa de gabaritar os bolões dos principais eventos do meio, incluindo o Oscar 2023

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Os Melhores Discos de 2022

Entre a vida e a morte, o sagrado e o profano, composições íntimas e inovadoras são o combustível do Melhores Discos de 2022 (Arte: Henrique Marinhos/Texto de Abertura: Ana Júlia Trevisan)

A Música é o tom indispensável da vida. No amor, na alegria, na tristeza, na solidão, as canções preenchem playlists embalando a vida e refletindo a alma. As composições são o espelho de como artista e ouvinte enxergam a existência, fazendo com as mudanças sejam necessárias e novidades refresquem o imaginário auditivo de quem aguarda ansiosamente por um single, quiçá um disco de seu intérprete favorito. É impossível me conformar com a potência transformadora da Música. Assim como é inevitável usar tanto floreio para introduzir esse que reúne o melhor do que foi feito em 2022.

Com o formato de vendas modificado pelas plataformas digitais, os álbuns se tornam cada vez mais inviáveis para cantores inseridos na indústria, que coage produções única e exclusivamente voltadas a músicas virais para o TikTok. Quebrando aquilo que parece ter virado regra, o Persona emerge os ossos do ofício e abocanha 73 produções que marcaram o ano na Música.

Dominando a tarefa de trazer um novo fôlego para sua arte, The Weeknd lançou a rádio Dawn FM, vislumbrando dias melhores. Coroando o topo dos rankings, ROSALÍA acelerou com muita autenticidade sua MOTOMAMI. Ao lado da catalã, montada em seu cavalo prata, a musa-mor do pop renasceu. Kendrick Lamar ficou entre a cruz e a espada, SZA pediu socorro, Björk celebrou os recomeços, Sabrina Carpenter finalmente enviou seus e-mails, Florence and the Machine renovou seu nome na lista das netas das bruxas e a loirinha mais querida cantou seus terrores noturnos.

A música haitiana foi lembrada em notas do Topical Dancer. Cruzando o oceano, no mundinho do k-pop, enquanto 2022 serviu para SEVENTEEN se consolidar de vez como uma das maiores boybands da Coreia, artistas de outros grupos tão grandes quanto embarcaram em viagem solo, com novas perspectivas, sonoridades exuberantes e trabalhos coesos que entregam turbilhões de sentimentos. No território russo a boa surpresa veio do metal vampiresco da dupla IC3PEAK.

Em solo brasileiro Acorda, Pedrinho caiu na boca do povo, Bala Desejo ganhou o grande público, Ludmilla mais uma vez provou que nasceu para interpretar pagode, Maria Rita cantou para Xangô, e os calos de Alaíde Costa a fizerem – merecidamente – a cantora nacional mais citada nos rankings. Em meio a isso, o amargo das perdas imperaram no território com os álbuns póstumos de Marilia Mendonça e Elza Soares, o adeus a Erasmo Carlos, e aquela que foi a despedida mais cruel do ano, Gal Costa, a Doce Bárbara, se encantou. 

O Melhores Discos de 2022 é dedicado a Gal Costa. Coisas sagradas permanecem!

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As Melhores Séries de 2022

(Seja na ação policial de Bom dia, Verônica, no terror genial de Yellowjackets ou na aventura de She-Hulk, as mulheres arrebentam em todos os gêneros presentes no Melhores do Ano do Persona. Arte: Aryadne Xavier/Texto de abertura: Nathália Mendes)

A competição entre os streamings para conquistar o público no conforto de quatro paredes aumenta cada vez mais. Em 2022, não só assistimos às Melhores Séries, mas também o drama da perda bilionária da Netflix, a busca incessante pelo lucro com a introdução dos anúncios nas plataformas e a caminhada de ascensão da HBO até dentro das premiações. Talvez, no ano que vem, o Persona tenha que abarcar até os esportes que adentraram nesse mundo.

É nítido que a Netflix segue sendo a mandachuva: das 64 séries indicadas pela nossa Editoria, 25 pertencem à dona do tudum. Para além disso, a novela mexicana que a empresa vive após 200 mil assinantes pularem fora, e consequentemente as ações despencaram em 35%, nos alcançou. Se antes era divertido ver a vermelhinha fazer de tudo para que suas séries originais brigassem por prêmios, agora tivemos dor de cabeça ao descobrir a novidade polêmica e irritante de que o compartilhamento de conta na plataforma será cobrado.

Dentro desse cenário, vivemos um paradoxo: enquanto Wandinha, Heartstopper e Stranger Things foram as mais lembradas pelo Persona, mencionadas nove vezes cada uma, as melhores produções não são da nossa camarada Netflix. The Bear e Ruptura (Severance, em seu nome original) empataram na liderança dos rankings, ambas com três menções na primeira posição de melhor série do ano. Parece que estamos divididos ou que a competição das empresas tem resultado em produções mais esplêndidas? 

A coletânea da nossa Editoria também está alinhada com as maiores premiações da Televisão, mesmo sem ter a intenção. Enquanto aguardamos a lista de indicados ao Emmy 2023, fazemos nossas especulações. Desbancando suas concorrentes em uma competição interna, a HBO Max também preencheu um grande espaço na nossa lista. Com o lançamento estrondoso de A Casa do Dragão, o spin-off de Game Of Thrones enfiou o dedo na ferida de sua produção materna e foi mencionado oito vezes por nossos colaboradores. Em seu cangote está a segunda temporada de The White Lotus, com a mesma quantidade de menções e ganhando em número de troféus do Globo de Ouro deste ano por 2 a 1 da novela da família Targaryen.

Vale ressaltar que outras grandes produções premiadas ou aclamadas pelas críticas também foram lembradas, seja a polêmica história de Dahmer: Um Canibal Americano, a comédia de Hacks ou o terror genial de Yellowjackets. No entanto, não é isso que prezamos. Enquanto estiver despejando sua curiosidade e tempo na leitura de nossas indicações de Melhores Séries de 2022, saiba que priorizamos nos aventurar. Você encontrará produções nacionais extremamente políticas, como Rota 66, irá se deparar com romances britânicos, dois volumes de Atlanta muito esperados, e mais. Essa espontaneidade de obras é essencialmente quem somos, uma diversidade em construção. Aproveite, até Pantanal entrou na dança!

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