Lagum: tem gente que só começa Depois do Fim

Capa do álbum Depois do Fim, da banda Lagum. Quatro homens estão centralizados na imagem, distantes, sentados em uma janela em cima de um telhado. A casa na qual o telhado está, queima em chamas, com fumaça e fogo aparecendo nos cantos. Os homens aparentam estar tranquilos, conversando no local, que está anoitecendo e sendo iluminado apenas pelas chamas.)
A estética de casa em chamas aparece no terceiro álbum de estúdio da banda Lagum e aponta para um recomeço pós destruição (Foto: Sony Music)

Luiza Lopes Gomez

Angústias, perdas, negação e reencontro. Estas são algumas das palavras que caracterizam e são usadas como base para a criação do terceiro álbum da banda mineira Lagum. Depois do Fim é lançado como um olhar diferenciado sobre o mundo e traz à tona questões filosóficas talvez nunca aprofundadas nos últimos discos – pelo menos, não na mesma intensidade. A chegada do projeto recorre a jornadas internas em meio ao entendimento do despertar depois do fim, abordando temáticas como o destino e o acaso, a saudade, o reconhecimento pessoal e esclarecimentos internos na mente de um jovem reflexivo. 

Continue lendo “Lagum: tem gente que só começa Depois do Fim”

Mussum, o Filmis: o samba e o humor brasileiro agradecem

Maior estreia nacional em 2023, Mussum, o Filmis integrou a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Downtown Filmes)

Vitória Gomez

Mussum, o Filmis chegou às telas em uma safra fértil para as personalidades brasileiras: alguns meses depois de Nosso Sonho, junto do documentário Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você e Meu Nome é Gal, e pouco antes de Meu Sangue Ferve por Você. Haja cultura e diversidade em um ano em que, independentemente dos desempenhos individuais de cada obra, o Cinema nacional mostrou a potência que é – e que poderia ser ainda maior com políticas públicas que verdadeiramente valorizassem esse potencial. Para melhorar, a envolvente cinebiografia do sambista, ator e comediante Mussum, eternamente conhecido pelo seu papel como um dOs Trapalhões, arranca risadas fáceis e, não por menos, estreou com seis Kikitos do Festival da Gramado na bagagem, além de passagens pelo Festival do Rio 2023 e pela 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil.

Continue lendo “Mussum, o Filmis: o samba e o humor brasileiro agradecem”

Dulcineia explora a música como a conexão, inspiração e destino de um artista em busca de sua identidade

Cena do filme Dulcineia. Na imagem estão os dois protagonistas Hugo e Dulcineia andando de bicicleta. Hugo é um homem de meia idade com cabelos lisos, longos e presos. Ele tem uma barba preta que cobre seu rosto enquanto anda de bicicleta. Dulcineia é uma mulher branca de cabelos castanhos longos. Ambos estão em uma rodovia movimentada e muito iluminada por postes e reflexos da água em poças formadas pela chuva. Estão usando capas de chuva, Dulcineia uma capa vermelha e Hugo uma capa transparente.
Junto a Dulcineia, mais de 20 filmes portugueses integram a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Bando à Parte)

Henrique Marinhos

Dirigido e roteirizado pelo cineasta português Artur Serra Araújo, Dulcineia conta a história de Hugo, um contrabaixista de jazz que decide tirar um ano sabático e voltar a Porto, sua cidade natal, em busca de equilíbrio e inspiração. No entanto, como o fio condutor da trama, a sinfonia se desenvolve lentamente em torno de um mistério como um pianista famoso, que toca uma música que o protagonista vem escrevendo na sua cabeça há anos, mas nunca conseguiu colocá-la no papel.

A obra está presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Perspectiva Internacional, e mistura elementos de romance, suspense e uma quase fantasia. Suas referências também são diretas e bem-vindas, construindo uma base sólida para o desenvolvimento da narrativa: Dom Quixote, que influi o nome da personagem Dulcineia (Alba Baptista) e sua relação com Hugo (António Parra); a própria cultura de Porto, retratada em belas imagens e diálogos; e o jazz, a paixão e a expressão de Hugo e dos demais músicos que ele encontra em sua nova jornada de autoconhecimento. 

Continue lendo “Dulcineia explora a música como a conexão, inspiração e destino de um artista em busca de sua identidade”

Há 10 anos, Lorde lançava o fermento de uma geração: Pure Heroine

Capa do álbum Pure Heroine. O fundo é totalmente preto. Na parte superior central, está escrito “Lorde” em letras maiúsculas e na cor prata. Logo abaixo, está escrito “Pure Heroine” em letras maiúsculas e na cor prata.
Lorde não era hipertensa para ficar aguentando músicas sem sal, então decidiu criar sua própria receita com Pure Heroine (Foto: Universal Music)

Ana Cegatti

Uma parede clara e uma camisa branca são componentes clássicos de vídeos gravados por subcelebridades que tentam se desculpar por algum erro. No entanto, a neozelandesa Ella Marija não usou tais componentes no clipe de Royals para limpar alguma defecação, mas para jogá-la no ventilador. Há uma década, as rádios anunciavam a transformação de Ella em Lorde e ecoavam melodias que fizeram da onda alternativa da época um tsunami. Naquele momento, a indústria musical precisava fazer uma escolha: se afogar ou aprender a surfar. Lançado pela Universal Music e produzido por Joel Little, Pure Heroine é um álbum que nunca precisou pedir desculpas, já que Lorde jamais sentiria remorso por um erro tão ingênuo: amar demais. 

Continue lendo “Há 10 anos, Lorde lançava o fermento de uma geração: Pure Heroine”

Nosso Sonho é coisa de Cinema

Nosso Sonho esteve entre os cotados para representar o Brasil como Melhor Filme Internacional no Oscar 2024 (Foto: Manequim Filmes)

Vitória Gomez

Se o Cinema é um modo divino de contar a vida, as cinebiografias são a vida passando na frente dos nossos olhos. No entanto, assim como acontece com os documentários, realidade e ficção se misturam e o ponto de vista sempre se sobressai. Por que não usar isso a seu favor? É o que Nosso Sonho: A História de Claudinho e Buchecha faz: o longa-metragem que reconta a trajetória da maior dupla de funk nacional abraça de vez o sentimento e mostra que, por trás das coreografias inusitadas e das letras contagiantes, o que prevalecia era a amizade entre os dois.

Continue lendo “Nosso Sonho é coisa de Cinema”

RR é uma celebração do amor?

A capa do álbum une as iniciais dos cantores Rosalia e Rauw Alejandro (Foto: Sony Music)

Isabela Domingos 

Juras de um amor eterno e um pedido de casamento marcaram o lançamento de um dos casais mais queridos do mundo pop. Enquanto os fãs se decidiam entre Versace e Louis Vuitton para o matrimônio do ano, a notícia que ninguém esperava veio à tona: Rosalia e Rauw Alejandro se separaram. Para os filhos do divórcio, felizmente, restou um álbum impecável marcado pela mistura de estilos e vocais que definem o fim da era RR

Continue lendo “RR é uma celebração do amor?”

A partir do afrofuturismo, Dirty Computer mantém seu impacto político intacto mesmo após 5 anos

Capa do álbum Dirty Computer. Nela está a cantora Janelle Monáe, uma mulher negra de cabelos curtos que veste uma burca feita de joias brilhantes interligadas por correntes. Apenas seus olhos não estão cobertos. A burca é de metal e vazada. Sua pele é iluminada por uma forte luz vermelha enquanto ao fundo está um círculo que se assemelha a um planeta com árvores ao redor de sua cabeça. Este é preenchido por um degradê que vai do vermelho ao amarelo. Ao fundo, tons de azul que se assemelham a nuvens e à esquerda o texto Janelle Monáe - Dirty Computer.
Dirty Computer foi anunciado com um trailer, exibido nas sessões do filme Pantera Negra (Foto: Bad Boy Records)

Henrique Marinhos

Baseado em uma história distópica que transforma aqueles que não se conformam em computadores sujos, Dirty Computer é o terceiro álbum de estúdio da cantora, compositora e atriz Janelle Monáe. Lançado em 2018, a obra-prima não se destaca apenas por sua sonoridade, mas também por sua narrativa visual e conceitual, unidas em um audiovisual de 48 minutos emocionante.

Desde o lançamento de seu primeiro álbum, The ArchAndroid, em 2010, Monáe tem sido aclamada pela crítica e pelos fãs por sua originalidade e inovação na Música. Ela mistura elementos de R&B, soul, funk e rock, além de ser conhecida por suas performances energéticas e hipnotizantes, que cativam a audiência em seus shows ao vivo. Hoje, ela pode comemorar a realização de um manifesto impactante que comemora cinco anos de existência.

Continue lendo “A partir do afrofuturismo, Dirty Computer mantém seu impacto político intacto mesmo após 5 anos”

PC Music (2013-2023): o pós-pop reencarnado e virtualizado

No seu aniversário de dez anos, em 2023, a PC Music lançou um mix multiautoral de 100 minutos e anunciou o encerramento do selo (Arte: Aryadne Xavier)

Gustavo Capellari

Em 23 de Junho de 2013, o selo e coletivo Personal Computer Music, mais conhecido por seu nome encurtado PC Music, disponibilizava seu primeiro lançamento musical, o single Bobby, da cantora GFOTY. A empresa foi fundada pelo produtor britânico A.G. Cook, que um ano antes já testava um protótipo de selo independente, a Gamsonite.

Embora Cook tenha sido essencial para a sua construção, quando ouvimos falar de PC Music, mais do que uma história linear ou um conceito fechado em uma empresa do Reino Unido, é aberta uma multiplicidade de significados, auras artísticas, gêneros musicais e estéticas (im)possíveis da pós-modernidade tecnocapitalista. O decênio do selo não pressupõe que as histórias das mais variadas subversões da música pop mainstream tenham começado apenas em 2013. A construção da PC Music e, juntamente, de gêneros musicais recentes como o hyperpop e o bubblegum bass, é produto direto e indireto da música que os antecede e da que é criada no mesmo período.

Continue lendo “PC Music (2013-2023): o pós-pop reencarnado e virtualizado”

Do interior à metrópole, Marina Sena se arrisca com Vício Inerente

Capa do álbum Vício Inerente. Nela está a cantora Marina Sena sentada ao meio em uma estrutura reflexiva metálica que aparenta ser uma caixa com fundo de uma cidade. Ela está com meias longas pretas sentada acima de suas panturrilhas. Enquanto segura uma concha brilhante em seus ouvidos, seus cabelos longos e pretos aparentam movimento esvoaçante e sua pele clara é iluminada por sua maquiagem. Em seu rosto está marcado uma sombra prateada em seus olhos fechados. Acima à esquerda o símbolo MS que nomeia a artista.
Marina Sena participou do projeto Foundry do YouTube Music em 2021, focado em impulsionar e divulgar artistas no começo da carreira (Foto: Sony Music)

Henrique Marinhos

Em seu segundo álbum, Vício Inerente, Marina Sena apresenta uma evolução em relação ao seu álbum de estreia, De Primeira, que fez tanto barulho no cenário brasileiro em 2021. Com influências de gêneros como reggaeton, drill, trap e funk, a artista experimenta novas sonoridades e se arrisca em texturas eletrônicas, resultado de uma colaboração estreita com seu produtor Iuri Rio Branco, que a acompanha desde o início. Aqui, a cantora apresenta um som mais maduro e coeso, consolidando sua posição no cenário pop nacional.

Continue lendo “Do interior à metrópole, Marina Sena se arrisca com Vício Inerente”

Racionais MC’s: o legado das ruas em um documentário

Fotografia retangular com o fundo branco. No centro estão os quatro membros do grupo Racionais Mc´s. Da esquerda para a direita tem-se Edi Rock, KL Jay, Mano Brown e Ice Blue. Todos usam calças, camisetas e jaquetas brancas, exceto Kl Jay que usa calça e camiseta preta. Os quatro homens são negros de estatura mediana, olham fixamente para frente com expressões sérias.
A valorização de uma estética única entre o grupo funciona como uma forte ferramenta no incentivo da autoestima da população negra (Foto: Jef Delgado)

Julie Anne Alves

Com mais de trinta anos de estrada, premiações internacionais e canções que salvaram gerações, o grupo de rap Racionais MC’s  foi contemplado com o documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo, disponibilizado pela Netflix. Dirigido por Juliana Vicente, o longa estreou na plataforma em Novembro de 2022 como um dos mais acessados mundialmente, e conta, em pouco menos de duas horas, a história do quarteto a partir do olhar dos membros e de quem os acompanha ao longo dos anos. 

Continue lendo “Racionais MC’s: o legado das ruas em um documentário”