Em Estado elétrico, Simon Stålenhag ilustra um apocalipse contemporâneo

Estado elétrico, graphic novel de Simon Stålenhag, está em adaptação para os cinemas pela Netflix (Foto: Companhia das Letras/Quadrinhos na Cia/Arte: Bruno Andrade)

Bruno Andrade

Somos rostos em meio à multidão, mas dificilmente pensamos naquilo que torna a multidão real. Sistemas de armas termonucleares coexistem com comerciais de refrigerante em um ambiente dominado pela publicidade, no qual é possível enxergar apenas pequenas frações de uma realidade mais ampla, dominada pelo inalcançável. Na tentativa de reunir o maior número de consumidores sob as armas da especulação, da alienação e de tudo que o dinheiro pode comprar, os donos do poder tecnológico resumem a grande trama neoliberal da contemporaneidade: tentar concentrar o máximo de atenção e especulação às empresas, às redes sociais e aos produtos. É sob esse contexto que Estado elétrico (2017), de Simon Stålenhag – lançado no Brasil em Maio deste ano pelo selo Quadrinhos na Cia da Companhia das Letras, sob tradução de Daniel Galera – ganha novos e assustadores contornos.

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Beyond Van Gogh borra a linha entre exposição e imersão

Foto da sala principal da exposição. Nela há pessoas sentadas no chão ou em pé, vendo as projeções das obras nas paredes e no chão, na projeção aparece uma parte de uma pintura de Van Gogh na qual se vê várias folhas e uma floresta criando um ambiente esverdeado.
Imagem da sala principal durante a apresentação do vídeo (Foto: Eva Serra Aprilanti)

Eva Aprilanti

Beyond Van Gogh é uma exposição que ocorreu em São Paulo no Morumbi Shopping desde o dia 17 de março até o dia 03 de julho de 2022, e chegou ao Brasil este ano em homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. A instalação é imersiva, pois o público vivencia a experiência entre as telas e multimídias a vida do artista holandês como se estivesse mergulhando na sua história e nas suas obras.

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De 1922 para 2022: o que é ser Moderno no Brasil?

A Semana de Arte Moderna terminou ontem, mas as perguntas que o movimento cultural brasileiro deixou são para mais de 100 anos

Pintura "Operários" de Tarsila do Amaral. A imagem é composta por vários rostos de pessoas das mais diversas feições e tons de pele. Elas se organizam na diagonal da imagem, de forma crescente, da esquerda para direita, uma em cima da outra. Ao fundo, existe o desenho de uma indústria e o céu é azul.
“Que esperem o centenário. Se no ano de 2022 ainda se lembrarem disso, então sim.”, respondeu Manuel Bandeira quando questionado sobre a necessidade de relembrar a Semana de Arte Moderna em 1952 (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

18 de fevereiro de 1922. As cortinas do salão de concertos já se fecharam, as luzes do saguão de exposições já se apagaram, e as portas do Theatro Municipal de São Paulo já se trancaram. Lá fora, pelas ruas da cidade, corre uma promessa de novos ares, criada pelos artistas que estiveram reunidos durante os últimos cinco dias no centro cultural mais tradicional da capital paulista. A ideia é transformar a Arte nacional através do que existe no nosso próprio país, buscando, assim, uma expressão artística 100% brasileira. “Genial e revolucionário!” exclama quem cruza com essa energia pelo caminho, porque ali, alguém testemunhou o início do modernismo no Brasil. É o primeiro dia pós-Semana de Arte Moderna, e sua força tem o potencial de influenciar todo o resto do país a procurar pelas suas raízes e colocá-las para fora, sem depender nunca mais de referências externas. Pelo menos, é o que eles dizem.

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Minha força não é bruta: as mulheres da Semana de 22

Foto retangular de fundo cor gelo e textura. Na parte central superior lê-se “MULHERES NO CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA”. Centenário e as letras S e A estão em azul, o restante está em preto. Na parte inferior está a montagem de seis mulheres da semana de arte moderna, elas estão enfileiradas e as fotos estão em preto e branco. Todas as imagens são de busto. Da esquerda para a direita, as mulheres retratadas na imagem são: Patrícia Galvão, Guiomar Novaes, Regina Gomide Graz, Tarsila do Amaral, Zita Aida e Anita Mafaltti. No canto inferior direito está a logo do Persona com a cor da íris estilizada em azul.
Destaques femininos do Modernismo, da esquerda para a direita: Patrícia Galvão (Pagu), Guiomar Novaes, Regina Gomide Graz, Tarsila do Amaral, Zina Aita e Anita Malfatti (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan)

Ana Júlia Trevisan e Vitória Silva

Quando falamos na Semana de Arte Moderna de 1922, há um retrato muito nítido na memória brasileira sobre quem eram as figuras envolvidas nesse importante capítulo de nossa história. Nele estão presentes nomes como Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, e mais uma porção de personalidades masculinas. Ao se tratar da parcela feminina, o primeiro nome que deve surgir com certeza é a popular Tarsila do Amaral, mas ela sequer esteve presente no evento. Durante os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, a pintora se encontrava do outro lado do oceano, na cidade de Paris. 

Mas esse apagamento não se justifica pela ausência completa de mulheres entre as artistas, longe disso. Na década de 20, as mulheres brasileiras ainda não tinham conquistado o direito de votar, trabalhar sem a autorização do marido, ter conta bancária ou até mesmo a guarda dos filhos. Direitos esses que viriam, pelo menos, dez anos depois (e contando). Com um papel meramente restringindo a ser bela, recatada e do lar, quem imaginaria participar de um movimento artístico que impactaria não somente em esferas culturais como também políticas? Foram poucas que tiveram não somente a audácia, mas uma condição social e econômica para tal. 

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Com Amor, Van Gogh: uma aventura estética

(Foto: Reprodução)

Rayanne Candido

Com Amor, Van Gogh trata-se de uma cinebiografia inspirada no pintor holandês Vincent Willem van Gogh e foi um dos grandes destaques do cinema em 2017. O projeto se concretizou quando a polonesa Dorota Kobiela conheceu Hugh Welchman (ganhador do Oscar pelo curta-metragem Pedro e o Lobo em 2008), e juntos criaram a primeira animação feita inteiramente por pinturas de óleo. O custo total foi cerca de 18 milhões de reais.

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Caravana do senso crítico passa por Bauru com o grupo gaúcho Ói Nóis Aqui Traveiz

“Nenhuma cultura imposta é mais bela do que a nossa” (Augusto Boal)

Sesc e Rui Barbosa elucidam: trajetória de 40 anos de companhia gaúcha “Ói Nóis Aqui Traveiz” é referência do teatro brasileiro e do teatro de resistência, atraindo plateias e admiração por onde passa. Dessa vez, Bauru foi a presenteada.

Camila Araujo

O que me chamou atenção no grupo, à primeira vista, foi a camiseta estampada pelo busto de Carlos Marighella vestida pelo senhor alto, de longos cabelos grisalhos. A coincidência é que eu, naquele mesmo dia e local, portava na bolsa o exemplar laranja e pesado do livro que traça por olhares lúcidos de Mário Magalhães a biografia de Marighella, O guerrilheiro que incendiou o mundo. Acaso ou destino, isso selou o encontro, que se repetiria mais tarde naquele dia.

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O pedido de Please Like e uma artista brasileira em LA

As ferramentas que Peróla Navarro encontrou para lidar melhor com seus transtornos mentais. (Foto: Reprodução)

Giovana Silvestri

Você já se sentiu ansioso? Tem um amigo com depressão? Um conhecido com ansiedade? Sentiu uma angústia sem saber o motivo? Já teve insônia? Já viu um ataque de pânico ou teve um? Ouviu a palavra bipolaridade ou SPA: Síndrome do pensamento acelerado? Você sabe diferenciar ataque de ansiedade de ataques de pânico?

A saúde mental está sendo mais discutida nos últimos anos, com debates, conversas e preocupações sobre suicídios e depressão, assuntos que estão mais em voga nessa última década do que nos últimos cem anos. As perguntas anteriores podem ser compreendidas ao assistir Please Like Me ou ao contemplar as obras de Perola Navarro, além de sentir uma nova sensação acerca da arte e sobre as doenças psíquicas.

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Young Lungs renova os ares da Alunte Lounge

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Foto: Lucas Mendes

Bárbara Alcântara e Gabriel Leite Ferreira

O show da Young Lungs começou quase pontualmente neste domingo. Por volta das 21h, João Ricardo Ribeiro, Guilherme Abramides e Joyce Rodrigues se distribuíam pelos instrumentos, dispostos na parte da sala da Alunte que foi reservada como palco. À medida em que eles iam assumindo suas posições, as pessoas se aproximavam, intrigadas. Essa foi a primeira vez que o espaço abriu as portas para uma banda de rock local, e o resultado dessa experiência foi um público bem diversificado – muito diferente das outras edições que acabaram se estendendo apenas à galera do rolê do hip hop.

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Conheça os Mitos de Zardulu

O que André Breton, o fundador do movimento Surrealista, e ratos em um metrô de Nova Iorque têm em comum? Ambos ajudaram o mundo a acreditar em uma realidade mais imprevisível, onde sonhos se misturam ao real, e ratos urbanizados carregam pedaços de pizzas em estações de metrô.

Henrique Antero

Em Setembro de 2015 um comediante pequeno de Nova Iorque chamado Matt Little fez o upload de um vídeo de 15 segundos que, embora ele ainda não soubesse, iria se tornar um fenômeno e ser reproduzido na maioria das emissoras de TV do país. O vídeo mostra um ratinho persistente carregando um pedaço de pizza pelas escadas de uma plataforma de metrô. Segundo nova-iorquinos, o vídeo se tornou amado por representar o espírito da cidade. Com a quantidade de pedaços de pizza e ratos pela cidade de Nova Iorque, o senso comum diria que um evento como esse estava fadado a acontecer. A verdade, porém, é um pouco mais bizarra. Continue lendo “Conheça os Mitos de Zardulu”

Sonhos e pesadelos na Twin Peaks de Raf Simons

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Matheus Fernandes

David Lynch, Angelo Badalamenti, Cindy Sherman e Martin Margiela. Essas são as influências que guiam Nightmare and Dreams, coleção do designer belga Raf Simons apresentada em 2016 na edição outono/inverno da semana de moda de Paris, a primeira após sua saída da Dior. Continue lendo “Sonhos e pesadelos na Twin Peaks de Raf Simons”