Renaissance: o verdadeiro renascimento da expansão da narrativa criativa de Beyoncé

Cena do filme Renaissance: a film by Beyoncé. Na cena vemos a cantora norte-americana Beyoncé, mulher negra de olhos castanhos claros, ao centro da imagem tocando a lente da câmera que está fotografando-a. Ela usa um capacete feito de metal e um adereço similar a um piercing em seu lábio inferior da   boca. Ao fundo, é possível ver uma espécie de arco com estrutura de metal posicionado ao centro. O ambiente está escuro e a imagem está em preto e branco.
Renaissance World Tour foi uma das turnês lucrativas de 2023 (Foto: Parkwood)

Vitória Borges

Desde o início da carreira, Beyoncé elevou não apenas o padrão da música pop, mas também redefiniu os limites de versatilidade e transição entre os gêneros musicais. Dito isso, é inegável dizer que a artista não é uma das cantoras mais bem consolidadas no mundo da Música. Em seu mais recente trabalho, o documentário Renaissance: A Film by Beyoncé, a performer mergulha nas profundezas da criatividade e da expressão artística, e revela uma jornada única conduzida por ela mesma. O longa acompanha o trajeto da Renaissance World Tour desde o primeiro show em Estocolmo (Suécia), até o último ato em Kansas City (Estados Unidos), expondo os altos e baixos dos bastidores da produção de uma das turnês femininas mais lucrativas da história.

Continue lendo “Renaissance: o verdadeiro renascimento da expansão da narrativa criativa de Beyoncé”

Fale direito com ela: em BB/ANG3L, Tinashe reforça o porquê de não poder ser ignorada

Capa do álbum Baby Angel da cantora Tinashe. A imagem é quadrada e engloba a foto da cantora do busto para cima mostrando seu rosto em perfil à esquerda. Ela é uma mulher negra, com cabelos loiros e longos. Sua pele está reflexiva pois está molhada assim como sua camiseta regata branca e seus cabelos. Seus olhos são escuros e nos encaram com emaranhados de fios de cabelo à sua frente.
Em BB/ANG3L, o número três mais uma vez se faz presente como um símbolo angelical (Foto: Nice Life Recording Company)

Henrique Marinhos e Leonardo Pulcherio

Tinashe é uma artista que nunca escondeu sua sede por autenticidade em tudo o que faz. Após dois projetos lançados de maneira independente, BB/ANG3L (pronuncia-se “Baby Angel”) é o primeiro disco da cantora sob o selo da gravadora Nice Life Recording Company desde seu rompimento com a RCA Records, em 2019. Logo ao se ouvir o projeto completo pela primeira vez, sua liberdade para explorar a Arte livremente é perceptível. O grandioso álbum de sete músicas tem apenas 20 minutos de duração e mostra um lado mais vulnerável da artista, desde a capa sem grandes edições até composições que se comunicam com o ouvinte de maneira mais íntima.

Continue lendo “Fale direito com ela: em BB/ANG3L, Tinashe reforça o porquê de não poder ser ignorada”

The Car segue a estrada do precursor, mas dessa vez, o Arctic Monkeys observa a lua de longe

The Car é um novo capítulo para a banda Arctic Monkeys, que mostra um lado introspectivo e reflexivo do grupo (Foto: Domino Records)

Leandro Santhiago

Desde seu álbum de estreia até o clássico indie AM, de 2013, o Arctic Monkeys havia se estabelecido como uma força gigantesca do rock mainstream, lotando estádios internacionalmente e lançando hits atrás de hits, como é o caso de Fluorescent Adolescent e R U Mine?. O quarteto de Sheffield, até então, cultivou a fama de trazer ao público um som mais enérgico e potente, liderado pela instrumentação rock clássica com a tríade de guitarras, baixo e bateria. No entanto, um piano dado de presente ao vocalista Alex Turner fez com que o grupo expandisse seu vocabulário musical e entrasse em uma nova etapa sonora.

A energia acumulada até o momento foi o combustível para a viagem até o espaço na qual vemos Tranquility Base Hotel & Casino, um passeio lunar regado pela sonoridade dispersa – ainda que coesa – emprestada da psicodelia das décadas de 1960 e 1970. Em The Car, o sétimo disco da banda, a poeira levantada pela decolagem do som espacial de seu precursor assentou. Nesse último lançamento, o grupo traz canções mais reclinadas e relaxadas, quase como um descanso depois da viagem proporcionada pelo sexto disco, ainda que com um sabor melancólico e nostálgico de fundo.

Continue lendo “The Car segue a estrada do precursor, mas dessa vez, o Arctic Monkeys observa a lua de longe”

É no ao vivo que Jão transforma SUPER em um álbum memorável

Jão fecha um ciclo de quatro álbuns com sua capa mais bonita até então (Foto: Universal Music)

Vitória Gomez

Jão agarrou cada chance que teve de virar uma estrela pop. Antes das noites lotadas e das superproduções que marcam seus dois últimos projetos, o cantor do interior paulista já se entregava em cada performance, seja em palcos pequenos de bares, com um figurino calça-e-camiseta-preta na Virada Cultural de São Paulo ou casas de shows que mal comportam o fervoroso público adolescente. Mais do que tempo ou maestria musical, o fenômeno surgiu da conexão dos temas com uma audiência enfrentando a perspectiva de virar adulto, se desvencilhar dos primeiros laços ou ter um primeiro coração partido. Com SUPER, não foi diferente: é durante a performance que o artista se conecta e cria o espaço seguro tão característico de sua carreira, transformando um álbum comum em uma noite memorável.

Continue lendo “É no ao vivo que Jão transforma SUPER em um álbum memorável”

Sem mais lágrimas para chorar, há 5 anos Sweetener nos permitiu conhecer Ariana Grande em sua melhor versão

Capa do álbum Sweetener da Ariana Grande. Nela está a cantora de cabeça para baixo em uma foto de perfil. Ela está com seu cabelo branco e preso em um rabo de cavalo. Logo abaixo de sua cabeça está o escrito em preto “Sweetener” ao fundo bege. Sua roupa mostra apenas alças finas de uma blusa quase na mesma cor que seu corpo. Ariana é uma mulher branca de traços finos. Seus cílios são grandes e olhos pretos. Sua boca é refletida através de um batom rosa claro e há uma tatuagem de meia lua não preenchida (apenas o contorno) em seu pescoço.
No dia de lançamento, Sweetener quebrou o recorde do Spotify de maior abertura para uma artista feminina, com 15.1 milhões de reproduções (Foto: Republic Records)

Henrique Marinhos 

Lançado após um atentado terrorista em um dos shows da cantora Ariana Grande, em Manchester, que resultou em 23 mortes e inúmeros feridos, Sweetener é claramente a cura de muitas feridas e uma carta aberta a novas chances e oportunidades, através de experimentação, criatividade e leveza. O projeto é o quarto álbum de estúdio da ex-act, lançado em 17 de Agosto de 2018 pela Republic Records. Com apenas três colaborações em um total de 15 músicas, Nicki Minaj, Pharrell Williams e Missy Elliott entram em sintonia com a cantora em faixas alegres e chicletes. 

Continue lendo “Sem mais lágrimas para chorar, há 5 anos Sweetener nos permitiu conhecer Ariana Grande em sua melhor versão”

Subtract é a soma de tudo que Ed Sheeran tem de mais vulnerável

Capa do CD Subtract. Imagem quadrada com o fundo amarelo. Ao centro está um desenho do rosto do cantor Ed Sheeran, feito de traços leves, deixando apenas a silhueta. Há traços cinza e vermelhos. Dependendo da forma como se olha o rosto lembra um coração humano.
Último dos cinco álbuns com nomes de operações matemáticas, Subtract – subtração em português – foi lançado no dia 05 de Maio de 2023 (Foto: Asylum/Atlantic)

Manu Lima

Conhecido principalmente por suas músicas românticas, o cantor e compositor Ed Sheeran sempre escreveu e cantou sobre sua vida, origens e relacionamentos. Lançado no primeiro semestre de 2023, Subtract é o sexto álbum de estúdio do músico. Depois de perder o melhor amigo, o empresário e youtuber Jamal Edwards, e do diagnóstico de câncer sua esposa Cherry Seaborn, na época grávida da segunda filha do casal, Sheeran decide usar a Música como terapia e contar sobre o luto, o medo e a esperança de um 2022 conturbado.

O quinto disco com nome de uma série de álbuns com nomes de operação matemática – depois Plus, Multiply, Equals, e agora, Subtract – é também o último da produção audiovisual que vem sendo pensada pelo britânico desde o início da carreira. Em A Soma de Tudo, série documental sobre a carreira do artista que estreou no Disney+ pouco antes do lançamento do álbum, ele conta que vem pensando no projeto há pelo menos dez anos: “a ideia para o Subtract era gravar o álbum acústico perfeito” e, portanto, fazer um disco que, como o próprio nome sugere, subtrai instrumentos da música pop mainstream que o cantor vinha fazendo”.

Continue lendo “Subtract é a soma de tudo que Ed Sheeran tem de mais vulnerável”

Youngblood: a juventude corre solta pelas veias da 5 Seconds of Summer

Capa do disco Youngblood da banda australiana 5 Seconds of Summer. Na imagem, uma mancha de azul, laranja e lilás aparece. No meio, há uma parte listrada em preto e branco. Sobreposta aos dois elementos anteriores, uma foto da banda aparece. À esquerda, no canto inferior, o guitarrista Michael Clifford aparece sentado; ele é um homem branco, com cabelos loiros escurecidos pela imagem, e utiliza uma camisa preta. No meio, o vocalista Luke Hemmings aparece, sentado; ele é um homem branco, de cabelos loiros escurecidos pela imagem; utiliza uma camisa branca de manga comprida e uma calça preta. À direita, no canto superior, o baterista Ashton Irwin aparece de pé; Ashton é um homem branco, de cabelos loiros médios escurecidos pela imagem; ele utiliza uma camisa listrada de manga curta, calça preta e um cinto. À direita, no canto inferior, o baixista Calum Hood aparece sentado; ele utiliza uma camisa preta. No meio da parte superior da foto, o escrito 5SOS aparece em caixa alta, colorido em branco. Sobre a imagem toda da capa, o escrito Youngblood aparece, em letra cursiva, colorido em vermelho.
Youngblood completa 5 anos em 2023 (Foto: Capitol Records)

Laura Hirata-Vale

Dentro de nossas veias e artérias, por meio do plasma, viajam as hemácias, as plaquetas e os leucócitos. O fluido vital que permeia nossas vidas pulsa e leva com ele o ferro, o vermelho, a hemoglobina. Quando rompidos, o sangue extravasa, sendo acompanhado – na maior parte das vezes – pelo choro e por fortes emoções. Ele também é responsável por esquentar e aquecer o corpo, em situações de perigo e excitação. Já na corrente sanguínea da 5 Seconds of Summer, podemos encontrar a dor, a doçura e o melodrama. 

O líquido escarlate e viscoso também é personagem principal de histórias de vampiros, de amor e de loucura, além de representar os mais variados sentimentos do ser humano. Com uma grande pontada aflitiva, eles são aspectos que machucam e encantam de uma forma inesperada. O sangue jovem e reativo da banda diz, com versos repletos de ardor: “lembre-se das palavras que você me disse: ‘me ame até o dia que eu morrer’”. De forma raivosa, emocionada e cheia de decepção, nascia – em Junho de 2018 – o terceiro álbum da banda australiana: o grande e aclamado Youngblood.

Continue lendo “Youngblood: a juventude corre solta pelas veias da 5 Seconds of Summer”

Do começo ao fim, há vida: a cultura Ballroom do nascimento ao presente

A capa é uma colagem de várias fotos de Mothers, figuras lendárias e muito respeitadas na cena da Ballroom por serem fundadoras de casas que acolhiam outras pessoas. A esquerda, Crystal LaBeija, uma pessoa negra, em um vestido vermelho com acessórios combinando e cabelo castanho volumoso e bem arrumado. Ao lado, em um recorte em preto e branco, está Angie Xtravaganza, com um elegante vestido, desfilando em uma das passarelas da Ballroom. Ao centro acima, uma parte da capa do documentário “Paris is Burning”. Logo abaixo, uma foto de Pepper LaBeija, uma pessoa também negra, em uma ball, com roupas douradas brilhantes e muita elegância. No topo direito está Paris Dupree, uma pessoa branca de cabelos loiros e olhos claros, usando uma boina e roupas pretas brilhantes que, na foto, está em uma pose de Voguing. Abaixo, Willi Ninja, um homem negro e um dos maiores nomes do Voguing de todos os tempos, considerado por muitos como o fundador do estilo amplamente conhecido, que na foto está parado em uma pose até meio contorcionsita, usando um boné azul e uma camisa parcialmente aberta.
Sendo um símbolo de resistência, falar sobre e dar os devidos créditos a Ballroom por suas contribuições é mais do que um resgate histórico: é um ato político (Arte: Aryadne Xavier)

Aryadne Xavier

“Você pensou que eu deitaria e morreria?/Oh não, eu não. Eu vou sobreviver/Enquanto eu souber como amar/Eu sei que permanecerei viva/Eu tenho minha vida toda para viver/Eu tenho meu amor todo para dar e/Eu vou sobreviver, eu vou sobreviver” 

– I Will Survive (Gloria Gaynor)

O ser humano pode não nascer programado para certos comportamentos, mas os aprende tão cedo que pode sentir, em seu íntimo, que as coisas apenas são dessa maneira. O desejo de pertencer, resquício fundamental do desenvolvimento em grupos, é tão latente que se transforma em uma vontade dupla de ser aquilo que é aceitável ou ao menos parecer ser. Lançada ao mundo pela primeira vez há 130 anos, a revista Vogue imprime o que seu próprio nome diz. Registrando e, talvez, ajudando a ditar o que está em alta, a publicação estadunidense foi, por incontáveis vezes, inacessível a uma parcela da população, que podia apenas se projetar nela, como um sonho. 

Tal projeção se via em uma sombra, refletindo aquilo que brilhava, mas o objetivo nunca foi copiar fielmente. Ao imitar as poses das modelos da Vogue em uma espécie de duelo, o grupo que participava das balls se apropriou daqueles movimentos, criando algo único. O Voguing se tornou algo muito além da revista, mesmo que seus nomes ainda possam ser assimilados. Esse ato de reconstruir, verbo que sempre fez parte dessa cultura, foi o que reinventou e revolucionou o que é ser uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ em sua época de fundação, trazendo identidade, força e conexão até o presente.

Continue lendo “Do começo ao fim, há vida: a cultura Ballroom do nascimento ao presente”

A liberdade criativa de Carly Rae Jepsen em The Loveliest Time

Carly Rae Jepsen, mulher branca e loira de cabelos longos, usando um top e saia cinza brilhantes de costas para um balcão, onde apoia os cotovelos e a cabeça inclinada para trás, olhando para cima, em um fundo amarelo sóbrio com sombras.
The Loveliest Time chega para provar que o Lado B de um álbum pode ser melhor que seu Lado A (Foto: Interscope Records)

Arthur Caires

Quando se trata de Carly Rae Jepsen, é de se esperar música pop de alta qualidade. A artista inicialmente se destacou com o sucesso Call Me Maybe, mas ao longo de sua carreira, demonstrou ser muito mais do que o fenômeno de um único hit. Em seu álbum de 2015, Emotion, conquistou uma base sólida de fãs e se consolidou como uma das principais figuras do gênero. Em seguida, com Dedicated em 2019, Jepsen reforçou sua posição como ‘princesa do pop’. Agora, em 2023, temos o resultado de um experimento que deu errado no início – The Loneliest Time – mas que gerou um resultado final surpreendente: seu sétimo álbum de estúdio, The Loveliest Time.

Continue lendo “A liberdade criativa de Carly Rae Jepsen em The Loveliest Time”

Lagum: tem gente que só começa Depois do Fim

Capa do álbum Depois do Fim, da banda Lagum. Quatro homens estão centralizados na imagem, distantes, sentados em uma janela em cima de um telhado. A casa na qual o telhado está, queima em chamas, com fumaça e fogo aparecendo nos cantos. Os homens aparentam estar tranquilos, conversando no local, que está anoitecendo e sendo iluminado apenas pelas chamas.)
A estética de casa em chamas aparece no quarto álbum de estúdio da banda Lagum e aponta para um recomeço pós destruição (Foto: Sony Music)

Luiza Lopes Gomez

Angústias, perdas, negação e reencontro. Estas são algumas das palavras que caracterizam e são usadas como base para a criação do quarto álbum da banda mineira Lagum. Depois do Fim é lançado como um olhar diferenciado sobre o mundo e traz à tona questões filosóficas talvez nunca aprofundadas nos últimos discos – pelo menos, não na mesma intensidade. A chegada do projeto recorre a jornadas internas em meio ao entendimento do despertar depois do fim, abordando temáticas como o destino e o acaso, a saudade, o reconhecimento pessoal e esclarecimentos internos na mente de um jovem reflexivo. 

Continue lendo “Lagum: tem gente que só começa Depois do Fim”