A estranha fábula de Lamb

A imagem retangular é uma cena do filme Lamb. Ao centro vemos duas pessoas andando de costas para a câmera. Centralizado e à esquerda há um homem adulto e branco, visto do pescoço para baixo. Ele usa um casaco verde escuro e uma calça jeans azul, enquanto carrega um rifle em sua mão esquerda e segura uma criança com a mão direita. Centralizado à direita e mais embaixo há uma criança com cabeça e mãos/patas de um cordeiro. Ela usa um casaco azul escuro e uma calça jeans azul claro. Ao fundo vemos uma paisagem cheia de verde das gramas e montanhas que cortam o céu cinza.
Novo Terror da produtora A24, Lamb chega à Mostra SP pela seção Competição Novos Diretores (Foto: A24)

Caroline Campos e Vitor Tenca

Um casal inerte e enlutado é agraciado, milagrosamente, com a bênção de uma filha. A criança enche a casa de alegria e traz a vida de volta para aquele relacionamento decrépito. E eles viveram felizes para sempre. Não, Lamb não é assim – mas quase. Saindo das geladas montanhas islandesas, um dos filmes mais comentados da última edição do Festival de Cannes aterrissa na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo para destilar toda a sua fantástica estranheza familiar.

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Alan Wake Remastered é mais do que uma luz no fim do túnel

Cena do jogo Alan Wake Remastered. Alan Wake está de costas para a câmera, no meio de uma estrada, encarando um tornado de energia escura que avança e levanta carros, barris e outros objetos. Alan possui cabelos negros e usa um paletó cinza de tweed com um capuz de moletom abaixado por cima. Na mão esquerda ele segura uma lanterna apontada para o chão. À sua esquerda está um edifício baixo envolto por uma cerca de madeira baixa. Mais a frente, a silhueta de um poste elétrico aparece contra a floresta mais a frente, iluminado por uma fonte de luz vindo de algum lugar dessa floresta. À direita de Alan, uma árvore silvestre se ergue e podemos ver outra cerca circundando o outro lado da estrada. A cena toda está ocupada por uma névoa densa e sobrenatural.
“O mistério sem resposta é o que fica na cabeça, e é dele que nos lembraremos no fim” (Foto: Remedy Entertainment)

Gabriel Oliveira F. Arruda e João Paulo de Oliveira

Mais de uma década após seu lançamento original no Xbox 360, o pesadelo cult da Remedy Entertainment toma nova forma em Alan Wake Remastered, entregando a experiência definitiva da obra idealizada por Sam Lake. Inicialmente amaldiçoado por um período de desenvolvimento caótico, uma janela de lançamento inoportuna e um grande número de versões piratas, o remaster chega como uma segunda chance para que a franquia alcance o sucesso que sempre mereceu.

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Quem tem medo de Jennifer Check?: Garota Infernal e o verdadeiro inimigo

Cena do filme Garota Infernal. Megan Fox, que interpreta Jennifer Check, é uma mulher branca, de olhos azuis e cabelos pretos. Jennifer é uma adolescente no colegial. Ela se olha no espelho de um armário azul marinho, típico dos colégios estadunidenses. O espelho é arredondado com strass prata e rosa em sua volta. Na lateral superior esquerda e na lateral inferior direita do espelho estão colados dois adesivos de desenhos orgânicos, também em rosa. Não se vê nada na cena além da vista do rosto de Jennifer refletido no espelho e o fundo azul marinho do armário.
Fracasso comercial, Garota Infernal pouco a pouco se restabeleceu como terror cult feminista (Foto: Fox/Dune Entertainment)

Ayra Mori

Se em 2009 Garota Infernal foi considerado um crasso fracasso, após uma década de seu lançamento o filme se restabeleceu como Terror cult feminista à frente de seu tempo. Escrito por Diablo Cody, dirigido por Karyn Kusama e protagonizado pela dupla Megan Fox e Amanda Seyfried, Garota Infernal é um estudo de caso sobre como um roteiro perspicaz, um enquadramento subversivo da câmera e personagens autoconscientes são capazes de transfigurar o olhar masculino predominante no gênero, pondo em foco a perspectiva feminina quanto às violações do corpo através de Jennifer e, bem, “O inferno é uma garota adolescente”.

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O medo em O Chamado de Cthulhu na verdade é uma sugestão

Capa do livro O Chamado de Cthulhu, pela editora Darkside Books. Foto quadrada, com o livro no centro. A capa é composta majoritariamente pela figura do monstro se levantando do oceano. A criatura posiciona-se de costas para o observador, estando visível principalmente suas asas e braço direito. A imagem possui tons brancos, cinzas e pretos que dão uma impressão de nevoeiro.
Uma das principais inspirações do autor ao escrever esse conto foi o poema O Kraken de Alfred Tennyson (Foto: Darkside Books)

Angelus Simões

O clima é de abóboras, doces e Terror. Outubro chega e traz com ele uma das datas mais aguardadas pelos amantes do gênero, o Halloween. E é impossível falar de cultura do Horror sem evocar o nome de Howard Phillips Lovecraft, contista de ficção de Terror e fundador de um novo gênero dessa mesma cultura, e autor de O Chamado de Cthulhu.

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O Homem Invisível: quando a ficção encontra a realidade

Cena do filme O Homem Invisível. A personagem Cecília (Elisabeth Moss), de cabelos loiros, está de lado num box de banheiro, enquanto no segundo plano o foco está na mão do Homem Invisível marcada no vidro do box embaçado.
Assim como no mundo real, O Homem Invisível muitas vezes só existe na cabeça das mulheres (Foto: Universal Pictures)

Alberto Borges

Ao sentar para assistir O Homem Invisível de Leigh Whannell, você pode até imaginar que será mais um filme de Terror com perseguição, mortes e muito sangue. Porém, a produção, lançada em 2020, tem camadas muito mais profundas do que as que passam no imaginário do público enquanto estão entretidos durante as mais de duas horas de sequências de ação. Baseado no livro de mesmo nome de Herbert George Wells, lançado em 1897, e na primeira versão do filme de 1933, dirigido por James Whale, a trama se prende na visão da personagem principal, Cecília (Elisabeth Moss), que logo no início do filme mostra qual é seu principal objetivo e seu maior inimigo: fugir daquele que se deita ao seu lado

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Não há túmulo que enterre a (des)temida Noite na Taverna

Cena do filme Noite na Taverna. Fotografia retangular. Ao fundo, vemos o ambiente noturno de uma taverna. Uma mesa com cinco homens ocupa toda a imagem. Os homens parecem dialogar, vestem roupas semelhantes e aparecem em poses diferentes. No centro da mesa, observamos uma garrafa de vinho, taças, uma escultura e outros objetos.
Inigualável livro brasileiro, que desperta o interesse do público há mais de 100 anos, Noite na Taverna ganhou um curta-metragem em 2014 (Foto: ZYRé produções)

Eduardo Rota Hilário

Senhores, em nome de todas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que mentiram, de todas as nossas esperanças que desbotaram, uma última saúde!”. Repleto de exclamações, minúcias descritivas e momentos reflexivos, o livro Noite na Taverna nasceu postumamente, em 1855 – cerca de três anos após a morte da mente brilhante que o criou. Escrita sob o pseudônimo de Job Stern, a obra de Álvares de Azevedo, grosso modo, acompanha uma noite de bebedeira e boemia entre Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann, cinco conhecidos personagens da Literatura brasileira. Ambientada em uma libertina taverna, espécie de bar da época, não tarda nessa novela o surgimento das narrativas mais absurdas, tétricas e bizarras.    

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Em Grave, Julia Ducournau está faminta por você

Cena do filme Grave. Justine (Garance Marillier) está no colo de Adrien (Rabah Nait Oufella), com a cabeça apoiada em seu ombro esquerdo, mordendo fortemente seu próprio braço direito. Justine é caucasiana, de cabelos pretos e longos. Ela está nua, e a câmera captura seu olhar animalesco conforme sangue se acumula em seu braço e escorre para a cama. Adrien é caucasiano, tem o cabelo escuro raspado e sua expressão não é visível, sua cabeça apoiada na cama. Ele gentilmente alisa o cabelo de Justine com a mão esquerda. Atrás deles, o resto do quarto está desfocado, mas podemos identificar alguns livros empilhados e roupas espalhadas.
Sim, você (Foto: Focus Features)

Gabriel Oliveira F. Arruda

Antes de adentrarmos mais uma vez na cabeça da diretora e roteirista Julia Ducournau para falar sobre Titane, vale a pena olhar cinco anos para trás e comentar seu poderoso filme de estreia, Grave. A mistura elegante de drama coming-of-age com terror corporal dá um sabor inteiramente próprio à obra, subvertendo clichês dos dois gêneros e clamando para si seu lugar na cultura cinematográfica como um dos filmes mais perturbadores dos últimos tempos.

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Zé do Caixão vem te buscar em À Meia-Noite Levarei Sua Alma

 Imagem do filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma. Foto retangular. Imagem em preto e branco. No centro da imagem, mostrado do peito para cima está Zé do Caixão, um homem branco, com uma barba preta grande, monocelha, e unhas grandes. Ele veste um terno preto, com capa preta e cartola preta. Sua mão direita está encostada no seu peito. O fundo é branco.
Zé do Caixão foi baseado em um pesadelo de Mojica, no qual ele era arrastado para o túmulo por um coveiro vestido inteiramente de preto (Foto: Indústria Cinematográfica Apolo)

Nathan Sampaio

Drácula, Frankenstein, Jason Voorhees, Pinhead, Chucky e tantos outros são personagens muito conhecidos do Cinema de Terror, e só de ler seus nomes já vem à mente diversas histórias que eles protagonizam. No Brasil, também temos uma figura tão importante e reconhecível quanto: o Zé do Caixão, o qual, infelizmente, está aos poucos caindo no esquecimento. Mas que deveria ser relembrado, pois seu primeiro filme, À Meia-Noite Levarei Sua Alma, é um clássico e o precursor do Horror brasileiro. 

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O Sacrifício do Cervo Sagrado: uma luta de sobrevivência para a purificação do pecado

Cena do filme O Sacrifício do Cervo Sagrado. A personagem Anna, uma mulher loira, está ao lado esquerdo com mais claridade e o personagem Steve, um homem branco, está vestido com um jaleco médico  do lado direito com menos claridade. Ambos estão se encarando pela porta de vidro do hospital. 
As atuações de Colin Farrell e Nicole Kidman dão ainda mais vida à estranheza do filme (Foto: A24 Films)

Tiago Way

O Sacrifício do Cervo Sagrado é uma produção da A24 Films dirigida por Yorgos Lanthimos (Dente Canino, 2009), lançado em Cannes em 2017, onde recebeu o prêmio pelo júri de Melhor Roteiro (creditado ao diretor e a Efthymis Filippou) e foi altamente aplaudido pelo público do festival. O filme acompanha a vida do cardiologista Steve (Colin Farrell), que é casado com a oftalmologista Anna (Nicole Kidman). O casal vive tranquilamente com seus dois filhos Kim e Bob, e logo são submetidos a um estado de conflito com a chegada do jovem Martin (Barry Keoghan). O longa é inspirado na obra dramatúrgica grega Ifigénia em Áulide

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O horror do envelhecimento em Tempo

Cena do filme Tempo exibe uma família de pessoas brancas se abraçando embaixo de um guarda-sol em uma praia. A família é formada por um casal de um homem e uma mulher, e vemos um menino e uma menina, adolescentes.
A família ainda é importante para Shyamalan (Foto: Universal Studios)

Caio Machado

Na infância, parece que nunca vamos envelhecer. Para nosso cérebro, novo e inocente, “ficar velho” é algo que afeta só os outros e não a nós mesmos. Quando você cresce e olha para o espelho com mais atenção, reparando nas marcas do rosto, a verdade universal vem à tona: a idade chega para todos. O novo filme de M. Night Shyamalan, Tempo, expõe com sinceridade quão perturbador o envelhecimento pode ser para um ser humano. 

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