Para uma geração, o MTV Video Music Awards foi um grande acontecimento. Mobilizou votações, foi palco de grandes anúncios e era uma das premiações mais aguardadas do ano, sendo prestigiada por diversos nomes de peso da indústria musical. Madonna, Michael Jackson, Whitney Houston, Spice Girls, Britney Spears, Eminem, Beyoncé, Lady Gaga e diversos ícones se apresentaram no palco ao longo das décadas, disputando as estatuetas do Homem na Lua e fazendo história em Nova York ou Los Angeles. No entanto, ao olharmos para o presente, não podemos afirmar que o evento tem o mesmo brilho, mas, aos trancos e barrancos, tenta recuperar os tempos de glória de um passado não tão distante.
Na era dos charts e streamings, a validação de carreiras artísticas facilmente recai em volumes numéricos. Talento, conceitos e estratégias de divulgação se organizam como meras formalidades que devem trabalhar por recordes incansáveis de reproduções, vendas e prêmios. Selena Gomez demorou para perceber essa realidade ingrata da indústria e seus impactos no corpo e espírito – o que a fez entender a relevância de patentear o fluxo da própria história. Em My Mind & Me, primeiro documentário da cantora e atriz, ela, enfim, dá voz aos episódios pessoais e midiáticos que acompanharam sua saúde mental nos últimos seis anos.
Quem matou Bunny Folger? É essa a pergunta que abre a segunda temporada de Only Murders in the Building, série da Hulu lançada no Brasil em Junho de 2022 pelo streaming Star+. Depois de solucionarem o assassinato de Tim Kono (Julian Cihi), os moradores Mabel Mora (Selena Gomez), Charles-Haden Savage (Steve Martin) e Oliver Putnam (Martin Short) se juntam novamente após o corpo da mais querida e detestada síndica do edifício Arconia ser encontrado com uma agulha de tricô no peito, no apartamento de Mora. Em dez episódios, o público descobre informações sobre a história dos três protagonistas e do prédio, enquanto tenta desvendar o mistério da morte de Bunny (Jayne Houdyshell).
O que é ser amigo? É brincar depois da escola? Ou ser uma família feliz? Não existe uma única resposta correta para a pergunta. Quando pensamos em amizade, é natural que a nossa mente nos teletransporte para a infância, momento em que os primeiros laços são criados. E não há nada que marque os primeiros anos de vida de alguém na mesma intensidade que um bom programa infantil com um personagem super carismático. Há 30 anos, Barney e Seus Amigos provaram que a amizade pode ser carregada de infinitos significados, pode acontecer de diversas maneiras e pode, até mesmo, ser feita entre crianças e dinossauros.
Embarcando na modinha de podcasts true crime e a popularização ainda maior de casos criminais, a Hulu decidiu trazer essa aposta para o streaming com Only Murders in the Building (ou, como popularmente ficou conhecida, a série da Selena Gomez). Na contramão, ao invés de escalar um grupo de cinco atores adultos interpretando adolescentes do high school dos Estados Unidos – como a conturbada Pretty Little Liars e a perdida Riverdale – a produção traz de volta três renomados (e nostálgicos) nomes da Televisão norte-americana: a dupla dinâmica, Martin Short e Steve Martin, e Selena Gomez (afinal, para a década de 2020 até o nome da cantora se tornou nostálgico na TV).
Se despedindo do frio intenso do mês passado, Agosto passou correndo, nos lembrando que faltam somente quatro meses para o fim de um ano que mais pareceu mentira do que verdade. Atingindo o número de 122 milhões de vacinados com a primeira dose, o futuro parece clarear. Mas mesmo sob perspectivas mais otimistas, a realidade é de que a pandemia ainda perdura e devemos (!) nos cuidar. Com a esperança de que tudo passe logo, o Persona continua isolado dentro de casa e traz a oitava edição do Nota Musical.
Abrindo o mês com chave de ouro, Lorde finalmente lança na íntegra o aguardadíssimo Solar Power, após quatro anos de muita espera e cobrança dos fãs. E carregada da difícil tarefa de superar o insuperável Melodrama, a neozelandesa se despe do fardo de salvadora deixando claro que essa nunca foi sua intenção. Assim, entre idas melancólicas à manicure e discussões sobre mudanças climáticas, Ella Yelich-O’Connor – para os mais chegados – celebra as banalidades da vida sob o Sol, convidando, quem quiser, a se derramar junto.
Outro retrato mais pessimista da vida pós-covid-19 é Pressure Machine, dos veteranos The Killers, que conta com a colaboração invejosa de Phoebe Bridgers na faixa Runaways Horses. Com título de um dos melhores discos de 2020, a queridinha do indie rock contemporâneo também revisitou o aclamado Punisher com três remixes inéditos de Kyoto. E semelhante à colega de banda (boygenius), Lucy Dacus entrega ao público uma nova versão de Going Going Gone, que originalmente integra o sensível autorretrato da cantora-compositora em Home Video.
Além das revisitações de registros já conhecidos, Agosto trouxe junto de si estreias empolgantes. O vocalista do sucesso juvenil 5 Seconds of Summer, Luke Hemmings, lança o primeiro trabalho solo da carreira com When Facing the Things We Turn Away From, encarando de frente o passado através de um processo empático de autoconhecimento. Igualmente, Orla Gartland surpreende com Woman on the Internet. Em seu álbum inaugural, a irlandesa refuta todos os estigmas criados em cima do passado como youtuber, abraçando aqui quem ela realmente é.
Já se despedindo, Iggy Azalea dá adeus ao mundo da música com The End of an Era, último ato da carreira, cheio de batidas encorpadas do funk carioca. Infelizmente, contrário à rapper australiana, algumas figuras parecem nunca dizer o tão necessário ciao! Em meio aos singles forçosos do mês, destacam-se o insosso Summer of Love de Shawn Mendes & Tainy e HIT IT do calejado Black Eyed Peas, com feats inusitados de influencers latinos. J. Balvin, por outro lado, continua influente no reggaeton internacional, divulgando Que Locura, prévia do álbum a ser lançado em Setembro.
Outra figura querida pelo público é Tinashe, que presenteou os fãs com o esperadíssimo 333. No seu melhor trabalho até o momento, a artista toma conta da criação narrativa do álbum recheado de sentimentalismo comum do R&B. Enquanto isso, The Weeknd continua bebendo da fonte oitentista da nova era, com direito a muito sintetizador no mais recente Take My Breath. E, o imitador oficial de After Hours, Ed Sheeran dá novamente as caras com Visiting Hours – coincidência? Dessa vez, sem a fantasia arlequina, o britânico aposta no usual violão acústico, assim como FINNEAS em A Concert Six Months From Now.
Na efervescência de exaltações nostálgicas, o trio de synthpop CHVRCHES mergulha de cabeça nas influências que inspiraram o terceiro álbum, criando uma narrativa quase cinematográfica. Trazendo “A” participação de Robert Smith, Screen Violence já nasce digno de um filme de terror slasher dos anos 80, carregado de sangue, sintetizador e uma final girl de respeito. Evocando a mesma década, Angel Olsen exalta o período com covers de hits oitentistas em Aisles, uma prévia vibrante do que vem a seguir. Já para quem busca sonoridades mais experimentais, o imersivo SINNER GET READY de Lingua Ignota e as faixas sombriamente atmosféricas de Cruisingda banda black midi são garantias certas de uma experiência original, com um quê de sinistro.
Ainda em Agosto, a hashtag #fleabagiscoming causou comoção nos trendings do Twitter, mas infelizmente não pelos motivos que gostaríamos. Com o mesmo nome da incrível Fleabag– série criada pela gênia Phoebe Waller-Bridge –, YUNGBLUD lançou nesse mês um novo single, ostentando fortes referências grunge. Machine Gun Kelly traz as mesmas veias noventistas em papercuts, produzido em conjunto com Travis Baker e Nick Long. Ao se afastar da sonoridade de seus registros passados, MGK não agradou todos os ouvidos e respondeu às críticas com um “STFU”. Crescentemente aparecendo em produções pop-rock alternativas do ano, o baterista do nostálgico Blink-182, Travis Baker, é incluído mais uma vez no último EP misery lake de Blackbear.
Guns N’ Roses também alvoroçou sua fanbase com ABSUЯD, primeira música da banda após treze anos sem novos materiais. E de fãs sêniores à fãs Gen Z devotos, Red Velvet entrega ao público Queendom, mais um sucesso comercial adicionado à lista do grupo de k-pop. Agora comemorando parcerias de longa data, a amizade fofíssima entre Tony Bennett e Lady Gaga dá as graças com a versão enérgica da dupla de I Get A Kick Out Of You, bem como o retorno de Skrillex com Justin Bieber e Don Toliver em Don’t Go.
Falando em duplas de respeito, Lizzo retorna após dois longos anos em Rumors ao lado da rapper Cardi B como deusas do Olimpo banhadas a ouro. Ambas encaram juntas as críticas ligadas ao corpo, avisando: todos os boatos são verdadeiros! E em meio à voltas triunfantes, Kacey Musgraves ressurge das cinzas com justified, anunciando o próximo álbum intitulado star-crossed, que desde sua revelação, já se tornou um dos mais esperados do ano. A musa country-pop se debruça sobre as dores do fim de um relacionamento, entregando um single perfeito para se chorar sozinhos no carro enquanto sofremos por desilusões amorosas.
Saindo direto de um conto épico medieval, If I Can’t Have Love, I Want Power exibe, logo de cara, Halsey em todo seu poder como matriarca sentada sobre um trono de ferro – ou melhor, o seu trono de ouro. Marcando o pop internacional com muito conceito, o álbum inclui em sua produção a improvável colaboração da cantora com os membros de Nine Inch Nails, Trent Reznor e Atticus Ross, se tornando uma declaração soberba sobre maternidade, auto-sabotagem e emancipação feminina.
Em clima saudosista, o querido Zeca Pagodinho marcou presença com Meu Partido É Alto!, evocando alegrias distantes. Vento nos cabelos, fim de tarde e cerveja gelada são lembranças afloradas pelo pagodeiro ao longo das faixas do álbum, assim como na performance descontraída de Eita Menina em versão pagode por Lagum. No sertanejo, Gabeu ressignifica o gênero tradicional através de uma reinterpretação queer com o bem-humorado AGROPOC.
Seguindo no Brasil, Marina Sena faz jus ao título do álbum de estreia, De Primeira, ultrapassando a marca de 3 milhões de streams no Spotify. Com produção e direção de arte impecáveis, a mineira entrega um pop recheado de brasilidades, seguindo como uma das promessas da música brasileira, ao lado de nomes como Jup do Bairro, um dos mais relevantes da cena musical nacional atual, e Manu Gavassi em seu desabafo internacional – diferente de Vitão e seu TAKAFAYA. Ao mesmo tempo, o cearense Matuê alcança com “Quer Voar” parada global na Billboard, se consolidando como um dos principais nomes do trap nacional.
Dando continuidade, de Madu à Supercombo, se destaca Ney Matogrosso, que como um dos maiores intérpretes da música brasileira, continua fazendo o que bem entender em Nu Com a Minha Música. Na comemoração dos 80 anos de sua deliciosa existência, quem é presenteado são os fãs. E entre reboladas e presentinhos, a funkeira Valesca Popozuda retorna despirocada como sempre.
Assim, somado às fragilidades e ameaças aos direitos das mulheres no Afeganistão e no mundo, o episódio serve como um lembrete urgente de que a luta contra a misoginia deve ser diária e tomada como um compromisso sério. No oitavo mês do Nota Musical, o Persona reúne a Editoria e os Colaboradores em apoio a todas as vítimas de violência contra a mulher, antes de analisar os acertos e deslizes musicais de Agosto.
Março foi recheado de comebacks e performances de tirar o fôlego. Não é para menos, afinal estamos falando sobre o mês em que o maior evento da música ocidental ocorreu, trazendo para nós o Santo Graal das composições – ou pelo menos é isso que eles dizem. Contudo, após uma noite de esnobados e merecidos, o bafafá se perpetuou mesmo através de nomes como Megan Thee Stallion e Cardi B, que trouxeram a brasilidade do funk para o palco do Grammy.
Voltando à questão dos comebacks, foram tantos que é difícil enumerar. Bruno Mars retomou sua carreira, parada desde 24K Magic de 2016, com a parceria ao lado de Anderson .Paak. Outro nome que volta a entregar canções inéditas – para o delírio dos fãs – é Lana Del Rey, que traz toda a estética dos country clubs, tipicamente americanos, para sua atmosfera sóbria e melodramática, pela qual todos a conhecem. Sem deixar de lado o pop mainstream, Nick Jonas também reinicia seu trabalho solo com Spaceman.
Na música nacional, o rap foi destaque com a voz de Rico Dalasam e Djonga, que trouxeram suas vivências da forma mais crua possível. Elza Soares foi outra estrela que nos presenteou com a canção Nós, dedicada especialmente ao Dia Internacional da Mulher, que é comemorado no dia 8 de março. E foram realmente as mulheres que reinaram neste mês, ao sermos presenteados com a remasterização do álbum Elis, de Elis Regina, e em uma mesma tomada, com o rearranjo de dois singles de sua filha, Maria Rita, ao lado de Quintal de Prettos. Trazendo o saudosismo das memórias jamais desfrutadas do carnaval de 2021, a união dos vocais de Rita e do grupo paulista nos lembram da esperança de dias melhores.
Não poderíamos nos esquecer, ainda, da preciosidade em forma de EP que Selena Gomez entregou ao colocar em pauta toda a sonoridade latina em músicas na língua espanhola. Bem como é bom ficar de olho no mais novo compilado de Joshua Bassett, que com seu pop frenético trouxe a íntegra de sua versão da conturbada história com Olivia Rodrigo e Sabrina Carpenter. E é em meio a uma polêmica indicação ao gramofone de ouro – merecidamente perdido – que Justin Bieber lança seu sexto álbum, intitulado Justice.
Assim, em um mês de altos e baixos, no qual completamos um ano presos em casa, a Música conseguiu transparecer todos os sentimentos que gritamos entre quatro paredes. Da campanha #fuckthegrammys à realidade distorcida confidenciada por Demi Lovato, Março de 2021 conseguiu ser alvo de altos e baixos intensos que serão lembrados por muito tempo. Por isso, a Editoria do Persona, ao lado de seus colaboradores, comenta tudo isso e ainda mais sobre o que aconteceu no mundo da Música entre os CDs, EPs, singles, clipes e performances que mais marcaram os últimos 31 dias.
O nome Selena, além de significar brilho e luz, remete à uma forte influência latina. Quintanilla ou Gomez, duas gerações não tão distantes, mas que representaram e representam toda uma origem. Ambas texanas, nunca deixaram de lado as raízes mexicanas da família. Apesar de uma carreira majoritariamente cantada em inglês, Selena Gomez sempre exaltou sua ascendência mexicana paterna e dessa vez concretizou ainda mais um dos maiores orgulhos de sua vida. Dez anos depois da promessa do disco em espanhol, Revelación finalmente nasceu e está incrível.
I’m sorry, the old Melhores Discos do Mês can’t come to the phone right now. Why? Oh, ‘cause he’s dead!
Brincadeiras e referências taylorswifitianas à parte, o Melhores Discos do Mês realmente pediu aposentadoria. Porém, não vamos deixar esse buraco sem um substituto: sejam bem-vindos à primeira edição do Nota Musical.
Todo começo de mês publicaremos um listão dos melhores e piores lançamentos musicais do mês que passou. Tem CD, tem EP, música e até clipe. Em textinhos de até três parágrafos, a Editoria e os colaboradores do Persona levam até você os méritos e deméritos do que rolou no mundo da música.
Janeiro abriu a segunda temporada da pandemia com o delicioso COR, da dupla ANAVITÓRIA. Depois foi a vez da internet ficar obcecada com Olivia Rodrigo, sua carteira de motorista, e o drama digno de malhação com seu ex, Joshua Bassett e a loirona Sabrina Carpenter. Selena Gomez mandou um cállate puta e anunciou Revelacíon, um EP totalmente em espanhol.
Arlo Parks, ‘apadrinhada’ por Billie Eilish, presenteou o mundo com o primeiro grande disco do ano: Collapsed in Sunbeams. E no penúltimo dia do mês, perdemos a talentosíssima SOPHIE, um dos grandes nomes da música do século 21. O Nota Musical de Janeiro presta suas homenagens à ela. Ícone trans, gênia da produção eletrônica, e um dos pilares da PC Music. Rest in power.
Quem vê Charlie Puth agora, dono de hits como Attentione Girlfriend, mal sabe que o álbum Nine Track Mind, lançado em 2016, é um produto de sua autoria. Ele mesmo afirmou que esse disco era sua tentativa de se encontrar e se descobrir como artista. Porém, isso não significa que não possamos apreciar sua genialidade e seu imensurável talento na música. A verdade é que, 5 anos depois, o álbum só reafirma a preciosidade de cantor, compositor e produtor que Puth é.