Homens sem mulheres e o universo melancólico de Haruki Murakami

Com uma de suas narrativas adaptadas para o Cinema, Homens sem mulheres foi a leitura do mês de Março de 2022 no Clube do Livro do Persona (Foto: Alfaguara/Arte: Jho Brunhara)

Bruno Andrade

“Como um dos homens sem mulheres, eu rezo do fundo do coração. Parece que não há nada que eu possa fazer agora a não ser rezar. Por enquanto. Possivelmente.”

O mundo ficcional de Haruki Murakami se parece com o nosso, revestindo-se de uma aura melancólica e acinzentada, na qual habitam indivíduos sem rumo, quase vazios, e à deriva. Somos lembrados que estamos diante de uma obra ficcional quando encontramos vestígios desse mundo onírico em um lugar distante, semelhante a uma memória ainda não vivenciada. Em sete narrativas interligadas por perdas de vários os tipos – sentimentais, físicas, futuras e passadas –, Homens sem mulheres dá voz a um universo que não parece mais existir: um mundo distante, dominado pelo jazz, sonhos perdidos e rostos caídos. 

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A quem pertence O Babadook?

Imagem de divulgação do filme “O Babadook”, de 2014. Foto preto-e-branco de uma página acinzentada. No centro, vemos o desenho de Babadook, feito com lápis preto. Trata-se de uma silhueta alongada, com os braços colados sobre o tronco e os longos dedos de suas mãos abertos. Ele tem olhos esbugalhados, um nariz triangular, e uma grande boca cheia de dentes que se abre em um sorriso perturbador. Além disso, ele veste na cabeça uma cartola. Sua sombra se projeta do lado esquerdo até o desenho de um armário com a porta aberta. E, do lado direito, em paralelo com o armário, vê-se o desenho de uma porta semi-aberta.
O nome “Babadook” trata-se de um neologismo que reproduz a pronúncia de “a bad book”, “um livro mau” em inglês (Foto: Causeway Films)

Enrico Souto

Filme australiano independente lançado em 2014, O Babadook é um dos longas mais marcantes da história recente do Terror e, a despeito de sua pouca visibilidade, foi um sucesso de crítica, sendo considerado hoje um clássico moderno. Seus méritos narrativos e cinematográficos são incontestáveis, porém, o que realmente o marcou como um ícone da cultura pop foi sua apropriação feita pela comunidade LGBTQIA+. Embora visto por muitos como uma grande piada, esse paralelo com a experiência queer evoca camadas da narrativa que jamais seriam alcançadas em uma leitura mais superficial. E, visto que parte do público médio repudia essa relação, é necessário questionar: a quem pertence uma obra como O Babadook?

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