Nem tudo está conectado às teias de Madame Teia

Cena de Madame Teia. Quatro mulheres estão paradas em uma plataforma entre metrôs, todas estão olhando para a frente, assustadas. Da esquerda para a direita: a primeira mulher é uma jovem negra de cabelos presos, fone de ouvido em volta do pescoço e mochila pendurada no ombro direito; ela veste uma calça cinza com bolsos e cós azul claro com um cinto preto, uma camiseta curta com decote em V branca e um casaco esportivo azul com listras vermelhas. A segunda personagem, uma mulher branca e mais velha que as outras, veste uma calça jeans com cinto preto, camisa preta e jaqueta de couro vermelho enquanto segura um skate com a mão direita, ela tem cabelo preto liso e franjas. A terceira figura presente é uma jovem latina de cabelos castanhos longos e lisos, ela veste uma calça jeans de lavagem escura, uma camiseta curta amarela, um casaco curto de veludo marrom claro e um colar e argolas pratas; ela segura uma mochila no ombro direito. A quarta e última mulher veste uma saia com pregas azul, camisa cinza com botões e detalhes pretos e um casaco de moletom cinza; a personagem é branca, loira e usa óculos de grau.
Um vilão, três adolescentes e uma mulher capaz de prever um futuro (quase) incerto fazem parte da teia de Cassandra Webb [Foto: Sony Pictures]
Agata Bueno

O thriller que nos apresenta uma das heroínas mais enigmáticas da Marvel não nos leva a lugar nenhum. Entre os segredos do passado e um futuro que envolve todos na teia de Cassandra Webb, lugar nenhum é um eufemismo perto do abismo em que o filme deixa o espectador. Afinal, Madame Teia prometeu uma viagem tão transcendental assim?

Nas ruas de Manhattan, Cassie (Dakota Johnson) leva uma vida comum trabalhando como paramédica – até o dia que descobre suas habilidades de prever o futuro. Com o novo dom também vem algumas responsabilidades, e, entre elas, proteger as vidas de três adolescentes que aparecem constantemente em suas visões. 

Julia Carpenter (Sydney Sweeney), Anya Corazon (Isabela Merced) e Mattie Franklin (Celeste O’Connor) se juntam para acompanhar a jornada da personagem que leva o nome do filme. A busca pelo passado, para entender a origem dos poderes de Cassie, não é a única razão que as une, é claro. Quando um velho amigo da mãe de Webb começa a perseguir as três garotas, ela sabe que deve protegê-las. 

Cena de Madame Teia. Na imagem, Cassandra Webb, uma mulher branca de cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo com franjas acima da sobrancelha, está parada enquanto um incêndio ocorre atrás dela; há uma escada de bombeiros e muita fumaça atrás dela. A personagem veste um uniforme azul petróleo de paramédico, uma camisa de botões com detalhes escritos em branco e uma logo do corpo de bombeiros no ombro esquerdo, transpassando seu ombro esquerdo está um rádio de comunicação encaixado em uma espécie de cinto preto.
Madame Teia é a quarta produção do universo Sony e a pior bilheteria entre os outros filmes – e pior do que Morbius (Foto: Sony Pictures)

O tal abismo criado na produção da Marvel com a Sony não é tão fundo assim. Há uma linha cronológica e uma junção de fatos coerentes, sem reviravoltas desnecessárias ou personagens demais para contar. Isso é um fato. Entretanto, ao final da narrativa – que, claramente, é uma abertura para uma sequência –, percebemos que é um filme que fala sobre nada. 

Madame Teia não apresenta nada de relevante e se contenta com uma história que poderia servir de background para outra narrativa, melhor desenvolvida e explorada. Tem um gostinho de filme de Sessão da Tarde que o torna uma das produções mais fáceis de engolir dos últimos anos. É um roteiro basicamente vazio? Sim, mas não chega a amargar o paladar do público.

Cena de Madame Teia. Quatro mulheres estão andando por uma calçada após saírem do metrô, atrás delas está uma avenida com carros, táxis e caminhões na avenida e prédios ao fundo. Da esquerda para a direita: a primeira mulher é uma jovem latina de cabelos castanhos longos e lisos, ela veste uma calça jeans de lavagem escura, uma camiseta curta amarela, um casaco curto de veludo marrom claro e um colar e argolas pratas; ela segura uma mochila no ombro direito. A segunda personagem está guiando as outras e é uma mulher branca e mais velha que as garotas, veste uma calça jeans com cinto preto, camisa preta e jaqueta de couro, ela tem cabelo preto liso e franjas. A terceira figura veste uma saia com pregas azul, camisa cinza com botões e detalhes pretos e um casaco de moletom cinza; a personagem é branca, loira e usa óculos de grau. A última garota é uma jovem negra de cabelos presos, fone de ouvido em volta do pescoço e mochila pendurada no ombro direito; ela veste uma calça cinza com bolsos e cós azul claro com um cinto preto, uma camiseta curta com decote em V branca e um casaco esportivo azul com listras vermelhas.
Cassie e suas protegidas, ou melhor, “mulherzinhas” parecem brincar de gato e rato maior parte da história (Foto: Sony Pictures)

O enredo da diretora S. J. Clarkson em parceria com Matt Sazama, Burk Sharpless e Claire Parker parece, mais uma vez, uma história de super-herói já contada. Embora mantenha uma linha do tempo inteligente, a narrativa não se aprofunda em nenhum personagem de verdade. Tudo está ligado à teia de Cassandra Web, de fato, mas nada parece importante o suficiente para toda a comoção que cerca a personagem principal.

A combinação do script com a atuação reforça a ideia de que a história poderia ser reduzida a apenas 20 minutos de uma produção melhor executada. Mesmo com Johnson, Sweeney, Merced e O’Connor nos holofotes, parecia que faltava algo. Talvez faltasse uma combinação melhor com os papéis. Ou apenas um interesse verdadeiro em entrar no Universo Cinematográfico da Marvel.

Cena da história em quadrinhos do Homem-Aranha. No fundo da ilustração há uma máquina preta e azul que conecta fios e correntes cinzas em forma de teia de aranha, que estão ligados a uma espécie de poltrona preta com detalhes amarelos onde uma mulher idosa está sentada. A mulher, Cassandra Webb, possui cabelos cinza e um óculos tipo de esqui preto e vermelho, ela usa brincos de bolas brancas e um traje de mangas longas preto e vermelho com uma aranha branca que está centralizada no meio de seu tronco. Acima da figura feminina e de costas para o leitor, está uma figura masculina, o Homem-Aranha, com um traje azul, preto e vermelho; suas luvas, botas, cinto e parte superior do figurino é vermelho com teias de aranha pretas, tem um desenho de aranha vermelha no meio de suas costas. Ele parece pular em posição de ataque na direção da mulher sentada. Na ilustração estão duas caixas de texto amarelas com letras e detalhes vermelhos – a primeira, no canto superior esquerdo diz "Hey, Spidey - Você acha que é o único cabeça de teia na cidade...?" em inglês e, no canto inferior direito, também em inglês, "... Conheça a Madame Teia!".
Madame Teia já chega ao mundo de Peter Parker como uma mulher mais velha e muito poderosa (Foto: Marvel Comics)

Diferentemente dos quadrinhos, em que Webb já nasce com uma condição genética que a deixa parcialmente cega e possui uma conexão espiritual que lhe concede habilidades psíquicas extraordinárias, a versão do filme parece ser um tanto quanto superficial. A figura que apareceu no universo do Homem-Aranha pela primeira vez em 1980 é incumbida de um papel importantíssimo, tanto na vida do herói da vizinhança quanto na narrativa de outros defensores. Já a personagem de Dakota Johnson não parece emanar tamanha importância. 

Após o efeito Vingadores, não houve uma produção da Marvel sequer que conseguiu suprir as expectativas do público. Uma audiência mais crítica combinada com a aparente escolha de quantidade sobre qualidade do estúdio foi a mistura perfeita para o boicote das produções mais recentes. Sequências de filmes, novos universos, novas séries e um multiverso inteiro para explorar não são páreos para uma nova produção que parece reciclar a mesma ideia várias e várias vezes.

Fotografia do Baile da Vogue. Na imagem, Dakota Johnson, uma mulher branca de cabelos castanhos e franja, veste um vestido de alças e decote em V semi transparente preto, cravejado por brilhos prata que formam uma teia de aranha pelo vestido todo; na cabeça, ela usa um véu com o mesmo padrão de estampa do vestido. Ela está parada em frente a um painel preto com logos de marcas patrocinadoras em branco.
Entre uma coletiva e outra, Dakota Johnson também atendeu ao Baile da Vogue e mesclou o tema Galáctika com a divulgação do filme (Foto: Vogue Brasil)

Quando o boicote chega a ser quase palpável, a publicidade ganha força. A divulgação de Madame Teia foi pesada e, especialmente após o anúncio, muito aguardada. Desde presenças especiais em eventos até especulações sobre uma possível aparição de um dos Homem-Aranha, o longa realmente adotou o “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.

Apesar da divulgação, o longa não parece ser levado a sério – nem mesmo por quem esteve nele. A temática e a escolha das personagens e do elenco realmente despertou o interesse do público, inicialmente. No entanto, conforme a estreia se aproximava, podíamos sentir o desinteresse da atriz principal. Dakota Johnson afirmou que não estava surpresa com o fracasso da produção e que provavelmente não faria papéis como esse novamente.

Cena de Madame Teia. Na imagem está uma figura masculina com um traje preto com listras castanho claro, a roupa cobre sua cabeça e mantém a mesma estampa; na região dos olhos estão lentes vermelhas acopladas ao traje, ele também possui uma espécie de cinto composto por linhas castanho claro. O personagem olha para a tela de cima e está parado em frente a um prédio com um anúncio de campanha publicitária para uma marca de roupas íntimas, cujo modelo aparece vestindo apenas uma cueca branca ao fundo.
De pesquisador infiltrado na Amazônia a super vilão fissurado em aranhas, o perigo de Ezekiel Sims é apenas sua obsessão (Foto: Sony Pictures)

Se, na vida real, a obra pode ter virado piada, na ficção os personagens parecem ter saído de um circo. As protegidas de Cassie são, na maior parte do tempo, apenas crianças mimadas e teimosas – até uma rápida tomada de consciência pelas três, ao mesmo tempo, quando elas (de repente) sentem que têm responsabilidades. Com o vilão não é diferente. Na maioria das aparições de Ezekiel Sims (Tahar Rahim), o perigo que ele representa parece tão distante que não chega a ser uma ameaça urgente que paira sobre a ilha de Manhattan.

Entre uma exibição e outra em uma sala de espera ou numa tarde de filmes na TV aberta, Madame Teia não prende ninguém em sua teia. É uma obra que fala sobre nada, mas, se tivesse sido lançada há alguns anos, com certeza seria melhor avaliada. Pelo menos, nos serve de entretenimento enquanto esperamos o próximo lançamento que fará valer o ingresso do cinema.

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