Chip Chrome & The Mono-Tones é a morte de The Neighbourhood

Jesse Rutherford é Chip Chrome; Brandon Fried, Jeremy Freedman, Mikey Margott e Zach Abels são os Mono-Tones (Foto: Reprodução)

Jho Brunhara

Para Jesse Rutherford, vocalista, compositor e a principal cabeça do The Neighbourhood, o contrato de uma banda é como um casamento. E o divórcio é o seu fim. Mas Devil’s Advocate deixa bem claro que, assim como na vida real, o buraco é mais embaixo: “Eu continuo junto pelas crianças/Eu preciso fazer a coisa certa”. No ano passado, Jesse lançou seu segundo álbum solo, GARAGEB&, e por enquanto parece fácil conciliar os desejos do grupo com seus próprios, mas até que ponto as saídas criativas do artista encontram um sentido comum com seus parceiros? Chip Chrome & The Mono-Tones parece ser esse limite da dobra, e como toda boa morte simbólica, um recomeço para os meninos de Sweather Weather. 

Olhando em retrospecto, Hard To Imagine The Neighbourhood Ever Changing (“Difícil Imaginar The Neighbourhood Mudando Algum Dia”), compilado dos EPs lançados em 2018, era um anúncio bem carudo do que viria a seguir. O que talvez ninguém imaginava era que veríamos Jesse encarnando seu próprio Ziggy Stardust, persona criada pelo lendário David Bowie. Chip Chrome, que virou até o nome de usuário do Instagram de Jesse, não tem um relâmpago na cara, mas é prateado dos pés à cabeça. Será que Bowie também mudaria seu @ se as redes sociais existissem naquela época? 

Freddie Mercury Prateado? (Foto: Daniel Prakopcyk)

Sete anos depois do lançamento de I Love You., debut da banda, The NBHD já transitou entre pop rock, r&b e hip hop. Apesar de cada disco fazer sentido dentro de sua própria proposta, Chip Chrome é o primeiro trabalho que não soa estamos fazendo música porque estamos fazendo música. Aqui, há a subversão de temas costumeiros como garotas e romances, dando lugar para metaversos e um olhar mais introspectivo sobre dilemas do grupo.

Não que cantar sobre amor e sexo faça um álbum melhor ou pior, muito pelo contrário, mas é interessante ouvir também o que Jesse tem a dizer quando não vem de seu coração ou do seu pau. Aliás, apesar da roupa apertada na virilha, Chip Chrome oferece uma gama muito maior de desdobramentos do que apenas um alter-ego inspirado em Bowie. Nem tudo que reluz é ouro, mas aqui, pelo menos, é prata.

Capa do álbum (Foto: Reprodução)

Chip Chrome & The Mono-Tones é o desmonte de The Neighbourhood, longe de ser seu fim, mas uma nova adição de camadas. E se queimar o símbolo da banda não é uma analogia suficiente, com certeza Jesse teria mudado o nome do grupo se fosse possível. Enquanto nos outros projetos os meninos da vizinhança faziam um som mais convencional e perfeito para a atmosfera indie-da-internet, aqui, faixas como Hell or High Water mostram despreocupação em servir de trilha sonora para TikToks de sad boys e sad girls, ou pertencer à compilados no YouTube.

Com menos instrumentos eletrônicos, a sonoridade é um contraponto perfeito com a superprodução da persona Chip. Mas não acredito que tenha sido muito difícil para Jesse encontrar a linha para costurar uma nova imagem, dessa vez projetada para o exagero. Apesar de The NBHD, até então, ser um tipo de banda come-quieto, no sentido de não se importarem em construir uma imagem de super estrelas, Jesse é um rockstar no fim do dia. Seja posando com Lana Del Rey, ou brincando com androginismo.

Usando roupa de sair pra ir no supermercado durante a pandemia (Foto: Reprodução)

Aliás, se o mundo do rock me permite, Rutherford muitas vezes se apresenta próximo da aura de Kurt Cobain. Ambos astros singulares, talentosos, que chamam a atenção sem esforço, tudo isso dobrando um pouquinho o gênero masculino de vez em quando. A bifurcação é justamente na música, com Neighbourhood transitando entre um rock com um quê de alternativo e o pop.  

Chip Chrome conta duas histórias. A primeira parte parece vir de um desabafo íntimo de Jesse, enquanto a outra parcela do álbum traz canções mais impessoais, que também refletem o resto da banda. Mesmo com um abismo entre faixas como Lost In Translation e Cherry Flavoured, tudo parece se encaixar. E até os momentos menos empolgantes do CD, como o trio BooHoo, Silver Lining e Tobacco Sunburst, fazem sentido dentro do universo de experimentações da mente de Chip. Nem todas as novas camadas são necessariamente boas, mas pelo menos são interessantes. 

“Bowie faleceu e todos começaram a pensar nele novamente, fizeram músicas sobre ele. Mas ninguém estava levando isso ao extremo Ziggy! […] Por favor. Eu me sinto confortável. Eu estou me divertindo”, via Interview Magazine (Foto: Reprodução)
Se reinventar é mais que cobrir o corpo de tinta e uma dentadura de brilhantes, mas essa não é a preocupação de Jesse. Chip Chrome não é uma personagem produzida e emperequetada para forçar transformação e impressionar os seguidores da Neighbourhood. Sim, é mais fácil cantar sobre alguns sentimentos sob outra roupa, mas acima de tudo é divertido trocar de pele e brincar de ser outra pessoa. The Neighbourhood está amadurecendo, morrendo e renascendo, e está tudo bem aquele suéter não vestir mais. Afinal, o que diz mais ‘futuro’ do que um macacão prateado? 

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