Nota Musical – Dezembro de 2021

Arte retangular na cor azul. Do lado direito está a caixa de um CD, este decorado por uma foto de quatro artistas: Alicia Keys, Joshua Bassett, Arca e BK’. Já ao lado esquerdo, está escrito, em branco, na área superior, “nota musical”. Ao centro, o logo do persona, um olho com a íris na mesma cor do fundo. Logo abaixo, o texto em preto “dezembro de 2021”.
Destaques do mês de dezembro: Alicia Keys, Joshua Bassett, Arcar e BK’ (Foto: Reprodução/Arte: Ana Clara Abbate/Texto de Abertura: Raquel Dutra)

Quando as canções natalinas não preenchem mais o ambiente e Mariah Carey libera o topo das paradas musicais, é sinal de que o último mês do ano acabou. Ao longo dos últimos 12 meses, o Persona acompanhou cada movimento do mundo da Música nas edições do Nota Musical, e para encerrar o ciclo embalado pelas mais diversas trilhas sonoras de 2021, é hora de ouvir o que o mês de dezembro tem a nos dizer.

Que o ano apelidado de 2020.2 seria repleto de ironias, nós já sabíamos. Mas quando Olivia Rodrigo explodiu suas decepções românticas nos ouvidos do mundo inteiro com o maior hit de 2021 logo em janeiro, ninguém poderia imaginar que terminaríamos o ano em dezembro ouvindo o outro lado da história. O trio de canções Crisis / Secret / Set Me Free parece ser a maneira que Joshua Bassett encontrou para se livrar das maldições liberadas por drivers license, e deixar a confusão com a nova estrela pop no passado.

Enquanto alguns aproveitaram dezembro para resolver suas últimas pendências do ano, outros usaram o mês para iniciar novos projetos e vislumbrar 2022. Este é o caso de Angèle, a artista belga que ganhou repercussão global depois de cantar Fever junto de Dua Lipa, e seu segundo disco, Nonante-Cinq. Em um synth-pop gracioso, fresco e melancólico, Angèle mostra o porquê é um dos nomes francófonos mais populares da atualidade – e porque pode ir muito além disso.

Na mesma direção, Arca continua com sua música ambiciosa e intensa. Em dezembro, a venezuelana indicada ao Grammy colocou no mundo não um, não dois, não três, mas quatro discos, que dão sequência ao seu aclamadíssimo KiCk i. Os admiradores de SASAMI também têm material para iniciar o novo ano, já que a promessa do metal norte-americano continua a preparar o lançamento de seu segundo disco, que vai suceder sua estreia homônima muito bem recebida pela crítica, com o single Say It.

Falando nos jovens, a estreia de No Rome, pupilo de Matty Healy, o frontman do The 1975, é parada obrigatória dos textos abaixo. O artista filipino começou a espalhar suas canções lo-fi pelo SoundCloud e hoje ecoa por aí o que ele chama de “shoegaze R&B” em It’s All Smiles, contando com a produção mais famosa da Música alternativa contemporânea. Outro destaque é a nova música de Ruel, que reflete sobre amadurecimento em GROWING UP IS ____. Enquanto isso, SZA terminava o ano com raiva de alguém e Khalid embarcou em uma viagem suave.

A atmosfera retrospectiva de dezembro também nos levou à memória daquele fatídico 29/12/2001, que levou a voz mais marcante do rock brasileiro alguns dias depois da data destinada à celebrar a sua vida. Cássia Eller é dona de uma presença muito poderosa para desfazer-se entre nós, e os 20 anos de sua morte e 59 de vida foram marcados por Espírito do Som. Ainda resgatando a memória da Música brasileira, nos lembramos de que completaremos 40 anos sem uma das nossas maiores estrelas. A inauguração das homenagens ao legado da eterna Elis Regina começou através do lançamento de Elis, essa saudade, disco que reúne gravações feitas pela artista entre 1979 e 1981.

Mas hoje, temos o prazer de apreciar e valorizar Maria Gadú. Um dos principais nomes da MPB contemporânea completou 35 anos no último dia 4 e celebrou a data através de Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, álbum que traz regravações de grandes sucessos da Música Popular Brasileira e principais influências para a identidade musical da artista. Já para a banda de destaque no pop-rock brasileiro atual, falar de memórias é só mais um pretexto para manifestar sua típica descontração. É que o terceiro álbum da Lagum segue naquele antro de sinceridade, ironia e irreverência, características fortes da música do grupo mineiro. 

Um dos maiores fenômenos pop contemporâneos no Brasil também tomou parte das comemorações de dezembro. Pabllo Vittar encerrou um ano de ouro em 2021, marcado pelo sucesso de Batidão Tropical, com I AM PABLLO, seu primeiro registro ao vivo, que ficou responsável por iniciar as celebrações de seus meteóricos cinco primeiros anos de carreira. Lá fora, o aniversário foi de 5 Seconds of Summer, que exatos 10 anos depois de seu primeiro show, festejou seus 10 anos de existência com a canção 2011, que relembra a história e reverência a amizade do quarteto australiano.

Só estava faltando o encerramento dos 20 anos de carreira de Alicia Keys, perfeitamente concluídos por KEYS. O novo álbum da rainha do neo-soul sucede o colorido ALICIA (2020) com muita ambição: como um disco duplo, 26 músicas as levam de volta às suas origens que construíram o sucesso absoluto de seu primeiro disco em 2001, para desbloquear sua criatividade e reimaginar suas próprias canções. Entre os lados intitulados Originals e Unlocked, o ouvinte de Alicia Keys pode entrar em contato com a cantora, compositora, pianista e produtora que foi um dos maiores fenômenos musicais do século – e que nunca saiu de perto de nós.

Quem também esteve presente foi Black Country, New Road. Enquanto o novo disco da banda britânica, que foi destaques do mês de janeiro, não é lançado, ela aparece aqui com o EP Never Again, apresentando quatro covers inusitados. Também na lista das melhores revelações do ano, Arooj Aftab convenceu até o Grammy com a preciosidade de seu álbum lançado em abril e nos abençoou em dezembro com sua performance no Tiny Desk. E para os brasileiros, a conquista do mês foi ver MC Dricka, que brilhou no lançamento de seu álbum em maio até na Times Square, apresentando o hino Gadinho de Faz Tempo no palco do projeto musical internacional COLORS.

Há sete meses, Luísa Sonza abalava o pop nacional com DOCE 22, e agora, foi vez de encerrar os lançamentos do projeto com ANACONDA *o*~~~. Já em junho, foi a vez de Doja Cat colocar em órbita Planet Her, e em dezembro, a novidade foi o clipe de Woman, o single da vez que aquece sua corrida até as premiações. Na mesma função, está a nova favorita do Grammy Billie Eilish, promovendo sua campanha para Happier Than Ever, com o vídeo de Male Fantasy. A esnobada do ano, infelizmente, foi Lorde, que segue sob o poder do sol desde agosto, e agora traz uma narrativa visual para Leader of a New Regime.

Assim, o que mais teve em dezembro foi presente de fim de ano. A Música brasileira ganhou o lançamento do disco de Elza Soares & João de Aquino, uma releitura de Nara Leão feita por Márcia Tauil, Roberto Menescal e Ana Lélia, e a descoberta de Lucidayz, o projeto solo indie-rock do artista sergipano Samuel Elijah. De fora, Moses Sumney, artista ganês-americano que aparece vez ou outra na trilha de Euphoria, trouxe a experiência espiritual de seu primeiro álbum ao vivo; Katy Perry e Alesso entregaram uma boa canção para uma noite animada; e Art School Girlfriend, pseudônimo da galesa Polly Mackey que apareceu por aqui pela primeira vez em setembro, realizou um tributo a Prince.

Seguindo com os mimos para os sobreviventes de 2021, Tame Impala apresentou a inédita No Choices, introduzindo a edição comemorativa de The Slow Rush, o quarto disco de estúdio da banda, indicado a Melhor Álbum de Música Alternativa no Grammy 2020. Superchunk aproveitou os últimos dias do ano para fazer seu retorno com a canção Endless Summer, e Rostam remixou o seu segundo disco solo. Por último, a maior se fez presente: dois dias antes do Natal, Joni Mitchell presenteou o mundo com um vídeo especial de River, para encerrar a comemoração aos 50 anos de Blue.

Os votos finais do ano partiram de Rodrigo Alarcon, que em Rivotril e a Fé traz uma mensagem descontraída de compreensão para com quem viveu os momentos difíceis dos últimos dois anos. Da mesma forma, Anná e Flaira Ferro refletem resumem o espectro emocional dos últimos dois meses em Ô Ano Doido. E para mais um futuro fevereiro sem Carnaval, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown nos servem música nova pra festejar em casa.

Sobre a vida em sociedade, BK’, como sempre, empresta sua música cirúrgica para analisar as relações que mantemos com o mundo ao nosso redor. A obra da vez é Cidade do Pecado, que traz uma identidade ainda mais urbana para o trabalho do rapper carioca. Precisa de um refresco depois disso? Pois aqui está a dupla Arnaldo Antunes & Vitor Araújo com o paradisíaco Lágrimas no Mar.

Por fim, restou à Mitski aumentar as expectativas para Laurel Hell, seu sexto álbum e um dos mais esperados de 2022 com Heat Lightning. Phoebe Bridgers – também conhecida por aqui como uma das artistas que mais trabalhou em 2021 – deu continuidade à sua tradição anual de direcionar os lucros de seus lançamentos natalinos à instituições humanitárias. A música do ano foi Day After Tomorrow, numa releitura do sucesso de Tom Waits.

Para o ano ou para esse post, se você chegou aqui, merece os parabéns e a nossa bonificação. É hora de colocar os fones para ouvir o último mês de 2021 e apreciar a última edição do Nota Musical como conhecemos hoje. Um novo ciclo está começando, e o Persona guarda muitas novidades para o próximo ano. O que não muda é nosso compromisso com a valorização da Arte, da Cultura e do Jornalismo, que só podem existir se a vida também for preservada. Cuide-se, pois contamos com a sua companhia para um grandioso 2022!

CDs

Capa do álbum I AM PABLLO (Live). Fotografia quadrada, com fundo azul-claro e lilás. Na parte superior, vemos quatro imagens da cantora Pabllo Vittar, havendo variação de perucas e roupas. Abaixo, essas quatro figuras encontram-se reduzidas e em posições diferentes. Quase ao centro, lemos I AM PABLLO. I AM está em letras brancas e Pabllo está em letras multicoloridas. As palavras estão inseridas em uma espécie de elipse. Ao lado de I AM, vemos quatro símbolos redondos, representando a água, o ar, a terra e o fogo. Embaixo das palavras e símbolos, lemos “o espetáculo em comemoração aos 5 anos de carreira de Pabllo Vittar”. Na parte inferior, vemos um registro de Pabllo com bailarinas e bailarinos.
Em comemoração a cinco anos de carreira, Pabllo Vittar lançou seu primeiro álbum ao vivo (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Pabllo Vittar – I AM PABLLO (Live)

A gente piscou e Pabllo Vittar começou a comemorar cinco anos de carreira. É isso mesmo: do single Open Bar ao álbum Batidão Tropical, muita coisa já mudou, e Pabllo conseguiu se consolidar como um dos maiores fenômenos pop contemporâneos no Brasil e no mundo. Mas, depois de lançar quatro discos de estúdio, três CDs de remixes e dois Extended Plays, a drag queen mais popular do planeta ainda não preenchia todos os tópicos disponíveis em uma possível ‘lista universal de afazeres dos cantores’, e o espaço reservado a um álbum ao vivo permanecia vazio.         

Foi então que nasceu o curioso trabalho I AM PABLLO (Live), disponibilizado na internet no último mês de 2021. Parte de um projeto audiovisual gravado no pavilhão Oca, em Ibirapuera, São Paulo, o primeiro registro ao vivo de Vittar dá pistas de uma turnê que promete ser a grande aposta internacional da cantora a partir de agora. Não parando por aí, ao mesclar os elementos água, fogo, terra e ar, que adquirem atmosferas próprias, com algumas influências absorvidas do K-pop, o espetáculo da artista maranhense também pretende inovar os formatos de shows realizados em solo nacional.       

De qualquer forma, está mais do que certo que alguns dos registros comemorativos, como o do próprio Open Bar, são nostalgia pura – e repaginada. Fora isso, o que mais se destaca no lado sonoro de I AM PABLLO são os vocais nitidamente bem trabalhados para a realização desse projeto bastante ambicioso. Para quem passou os últimos cinco anos criticando a voz da drag queen, será difícil sustentar as mesmas críticas com esse novo disco. “Não é à toa que eu sou a number one”: de fato, parece que Pabllo Vittar sempre soube do próprio potencial. – Eduardo Rota Hilário         


Capa do álbum Nonante-Cinq de Angèle. Angèle é uma mulher branca em seus 26 anos com o cabelo loiro, longo e com franjas curtas. Imagem quadrada. Nela estão quatro sósias de Angèle numa montanha-russa. A sósia em foco na imagem está sentada no primeiro assento esquerdo com os cabelos esvoaçantes ao vento. Ela encara a câmera enquanto sorri. Ela veste uma blusa preta com brilhos prateados e alças transversais no busto, brinco dourado com pingente esmeralda e anéis coloridos variados. Ao lado dela está outra sósia que a encara de lado. Seus cabelos também estão esvoaçantes, mas ela usa uma faixa azul nele. Ela veste uma blusa amarela com detalhes brancos, um brinco argola e anéis coloridos variados. Ela está com um gameboy nas mãos. Suas unhas estão pintadas com bolinhas azuis sobre nude. Já atrás da sósia em foco, está outra sósia com os olhos fechados. Seu cabelo está separado ao meio e sua franja presa com várias presilhas. Ela veste uma blusa rosa pink. Por último, atrás da sósia anterior, está a última sósia que está com os braços levantados para o alto. Ela sorri de olhos fechados e veste uma blusa azul de mangas compridas. Atrás dela pode-se ver os trilhos da montanha-russa em cor-de-rosa com pilares azul pastel. O fundo da fotografia é um céu azul limpo.
O lançamento de Nonante-Cinq foi adiantado, sem prévias, para a data de aniversário de Angèle no dia 3 de dezembro de 2021 (Foto: Angèle VL Records)

Angèle – Nonante-Cinq

Angèle é popstar. Um dos nomes mais populares entre as estrelas francófonas, a carreira da artista belga ganhou repercussão global após o dueto de Fever com Dua Lipa. Suas vozes, em contraste, destacam a melancolia inerente do timbre de voz aerado de Angèle, que parece enfeitiçar a mais dançante das faixas. Essa habilidade, por sua vez, se corporifica em seu segundo álbum, Nonante-Cinq, conduzindo a efervescência do synth-pop para uma atmosfera agridoce, enquanto versa sobre as desventuras do amor.

Encabeçado pelo single principal Bruxelles je t’aime – uma carta de amor sentimental para sua cidade natal –, Angèle rodopia pelas batidas à la Daft Punk ao longo dos acertos que compõem as doze canções do álbum, incluindo Libre e On s’habitue. Algumas referências, contudo, de tão óbvias, soam quase como imitação: Démons, que conta com a colaboração do rapper belga-congolês Damso, poderia facilmente ter saído diretamente do universo Astroworld de Travis Scott.

Como uma montanha-russa de emoções, aqui, tudo oscila. Entre o dançante e o emotivo do projeto, paira Solo, junto de seus sintetizadores glaciais, atingindo o máximo de melodrama na teatralidade de Taxi, construída pelas baladas de um piano acústico. Apesar do aparente otimismo dos singles divulgados anteriormente a sua estreia, é tecendo o drama que Nonante-Cinq ganha dimensão. – Ayra Mori


Capa do disco kiCK iiiii. A imagem mostra Arca, uma mulher trans branca, de cabelo preto, nua com os braços erguidos e montada sobre uma criatura de quatro com pés de trás humanos, um corpo musculoso e cabeça de tamanduá. Eles se encontram em uma plataforma elevada, como se fossem uma estátua, com guirlandas de flores em torno, no escuro, e linhas laranjas brilhantes em torno.
As capas ilustram bem o que esperar da sonoridade do novo projeto de Arca: pura insanidade (Foto: XL Recordings)

Arca – KICK ii, KicK iii, kick iiii e kiCK iiiii

Depois de no mesmo ano de 2020 ter sido indicada ao Grammy por seu álbum Kick i, publicado uma música de 62 minutos, além de 100 remixes de uma mesma faixa criados com uma Inteligência Artificial, a cantora e produtora venezuelana Arca resolveu encerrar 2021 mantendo o mesmo nível de ambição. O que quer dizer que ela resolveu colocar no mundo não um, mas quatro discos de uma só vez, todos numerados em sequência ao KiCk i, misturando espanhol com inglês e expressando toda a versatilidade dessa artista que desafia as convenções dos gêneros e de gênero. 

Dando o pontapé inicial, KICK ii é o mais acessível dos quatro, pelo menos em sua primeira metade, onde explora, a seu próprio modo, um dos ritmos latinos mais populares da atualidade, o reggaeton. Mas se engana quem espera que daí surja um trabalho convencional: o ritmo dançante vira música avant-garde nas mãos de Arca, dando espaço para as o rap frenético de Tiro, ou arrepiantes vozes lamentosas de Luna Llena. A segunda metade, inaugurada pelas vozes bizarras de Aranã, segue por caminhos mais abstratos e experimentais. E é no mesmo experimentalismo em que mergulha KicK iii, o mais insano da série, recheado de ritmos descompassados, frenético ao extremo, e que sequer dá um mínimo segundo para o ouvinte respirar. Conciliando as batidas caóticas à voz humana em texturas distorcidas, KicK iii se destaca com as faixas Bruja, Incendio, Skullqueen, e Rubberneck.

Seguindo caminhos bem mais amenos e oníricos, kick iiii aposta em uma atmosfera carregada de mistério. Lento e menos chamativo, o quarto volume da série acaba sendo ofuscado pela energia pulsante dos anteriores, mas encontra bons momentos atmosféricos em Boquifloja, em uma faceta mais pop na faixa Queer, e na arrepiante Hija. Surpreendentemente, o último volume, segue caminhos ainda mais minimalistas, encerrando a sequência de discos abandonando completamente o maximalismo dos primeiros volumes e explorando a música ambiente. kick iiiii evita o meio termo do disco anterior, criando atmosferas mais imersivas e abrindo espaço para uma faceta mais meditativa de Arca. Pu, Estrogen e Fireprayer se destacam além de Tierno, uma bela peça onde Arca é despida de todas as distorções vocais, finalmente revelando suas habilidades naturais. Do mais gritante ao mais sutil, do primeiro ao último volume, o projeto Kick é um raio-x das múltiplas camadas que compõem esse complexo ser chamado Arca. – João Batista Signorelli


Capa do álbum MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui). A capa é uma pintura. À frente de um horizonte alaranjado e montanhas roxas e verdes ao fundo, vemos as pinturas dos membros da Lagum. Da esquerda para a direita, vemos Zani, Jorge, Tio e Chico em pé, e Pedro, agachado. Eles seguram um espelho emoldurado. No chão, vemos a sombra deles refletida.
MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) conta com participações de Emicida, em DESCOBRIDOR, e L7NNON e Mart’nália, em EITA MENINA [Foto: Sony Music Entertainment]
Lagum – MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui)

Descontração já é a marca registrada da banda Lagum. No seu terceiro álbum de estúdio, MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui), o grupo mineiro repete os feitos de Seja o Que Eu Quiser e Coisas da Geração (os dois primeiros) e cria uma experiência leve, bem humorada e divertida. Agora com alguns anos a mais de experiência, a Lagum encontra a dose certa entre o comercial e a liberdade para experimentar, e, ao longo das dez faixas, não abre mão da sua espontaneidade característica.

Das canções, cinco são inéditas. Enquanto duas das previamente lançadas, NINGUÉM ME ENSINOU e EU E MINHAS PARANOIAS, são elétricas e estimulantes ao refletirem sobre as angústias da identidade e da juventude, outras abaixam o tom para pensarem nas memórias ainda por vir, como na calma DESCOBRIDOR, para declararem os desejos em uma relação, como na curta PLAYGROUND, ou para revelarem o fim da mesma, como na dançante VEJA BABY. Das frenéticas guitarras e baterias aos calmos violões e vocais, do pop à MPB, MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) transita entre sonoridades e temas, e a falta de um conceito só torna o álbum ainda mais espontâneo.

No novo lançamento, um dos pontos mais altos da Lagum se repete: a banda diz na lata o que tem para dizer. Sem rodeios, metáforas ou muitas figuras de linguagem, as composições do vocalista Pedro Calais são até literais, o que, se não impressionam pelas letras trabalhadas, encantam pela sinceridade. Como ele mesmo afirmou, a banda só deixa as coisas fluírem e que “se dava vontade de falar coisas engraçadas, trágicas, a gente falava”. Ao final, além de genuinamente divertido e animador, MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) também foi uma bela homenagem ao trabalho de Tio Wilson, percussionista da banda que faleceu em 2020: o álbum foi a última participação do baterista, que teve suas partes, gravadas na pré-produção, mantidas e respeitadas. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum It’s All Smiles de No Rome. Imagem quadrada com fundo off-white. Na imagem estão duas fotografias e uma folha em composição. A maior fotografia é uma em preto e branco de uma estrada de terra. Nela está uma camionete com um painel escrito “001: It’s All Smiles” em fonte pixelada e letras maiúsculas. Acima dela, na parte superior direita, está a imagem de uma rosa cor-de-rosa pastel com fundo preto. Atrás de tudo, está uma folha branca, também na parte superior direita.
It’s All Smiles é o álbum de estreia de No Rome, carregando consigo as influências da colaboração do cantor com Matty Healy (Foto: Dirty Hit)

No Rome – It’s All Smiles

Nascido Guendoline Rome Viray Gomez, em seus 24 anos de idade, No Rome é cantor, compositor, produtor e pupilo de Matty Healy. Das Filipinas até o Reino Unido, foi compartilhando faixas lo-fi no SoundCloud que a colaboração entre ambos surgiu, logo levando Rome a assinar com a gravadora independente de Healy, Dirty Hit – casa de beabadoobee, Rina Sawayama, The Japanese House e Wolf Alice, espécie de meca da Música alternativa contemporânea. Para ele, contudo, a fabricação do álbum de estreia foi produto de anos, consumado, por fim, durante o isolamento do musicista em sua cidade natal, Manila.

Nos primeiros segundos da faixa de abertura, Space-Cowboy, Rome revela o que ele nomeia de “shoegaze R&B”. Como o próprio nome diz, o gênero combina precisamente os dois opostos numa hibridização camaleônica das distorções texturizadas ao groove suave. As influências são ambiciosas, dando caráter ao melodrama emocional simples da composição que ganha dimensão através da produção excelsa. São dez músicas co-produzidas com BJ Burton (Bon Iver, Kanye West e The Japanese House), conferindo resquícios de seu trabalho passado, familiar em ITS *N0T* L0V33 (Winter In London).

A mentoria de Healy se reflete por todo álbum – por vezes, mais pontuais do que deveriam. Apesar da habilidade inegável de Rome, por trás de muitas referências devotas, alguns curtos instantes soam genéricos, como em I Want U, onde até a harmonia vocal dos companheiros é similar. Adentrando uma paisagem noturna carregada de sintetizadores, explodem Issues (After Dark) e Remember November / Bitcrush*Yr*Life, como experiência cinematográfica que It’s All Smiles é. E bom, a espera valeu a pena. – Ayra Mori


Capa do álbum Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor. Nela vemos uma foto da cantora Maria Gadú enquanto ainda bebê. Ela veste roupas e tiara branca. Na testa lê-se em branco Maria Gadú. A capa tem borda lateral amarelo pastel.
Novo álbum de Gadú é festa de aniversário com karaokê (Foto: Slap)

Maria Gadú – Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor 

O novo álbum de Maria Gadú já traz em sua apresentação um título estrondoso. O impacto é ainda maior com a informação que Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor é o nome da canção de Márcio e Lô Borges, e o carro chefe de Pietá – importante álbum de Milton Nascimento. A aposta da cantora foi grande e a expectativa para o quarto disco de estúdio era maior ainda.

Contando apenas com regravações de outros gigantes da Música Popular Brasileira, Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor foi lançado na véspera do aniversário de Gadú e veio moldando a personalidade da artista. Isso porque, mesmo lidando com conhecidas da grande plateia, Gadú deixa sua assinatura em cada faixa e permite que o trabalho esteja mais próximo do autoral do que de covers

Um móbile no furacão de Paulinho Moska, Abololô de Marisa Monte e a indiscutível Lindo Lago do Amor de Gonzaguinha ganham destaque entre as 12 músicas. Mas, o absolutismo fica, de longe, por conta de Admirável Mundo Novo e Faroeste Caboclo. A primeira de Zé Ramalho vem para reforçar a posição política da artista e sua produção individual concretiza as crenças da cantora. Já a maior (e desafiadora) música de Renato Russo chama a atenção em qualquer contexto que se insira por conta de seus quase dez minutos de duração. O diferencial na atual gravação vem pelo tom no qual a história do João de Santo Cristo é apresentada. – Ana Júlia Trevisan


Capa do álbum Elza Soares & João de Aquino. Fotografia quadrada, em preto e branco, com borda grossa e branca. Na parte superior, dentro da borda, lemos Elza Soares & João de Aquino em letras pretas, com exceção do &, registrado em cinza. João de Aquino está ao fundo, sentado, com olhar fixo e tocando violão. Elza Soares está sentada na beira do palco. Ela é uma mulher negra, de blusa brilhante, brincos, olhos fechados e segura o microfone com a mão esquerda.
Elza Soares é imbatível! (Foto: Hipólito Pereira/Deck)

Elza Soares & João de Aquino – Elza Soares & João de Aquino

De voz inigualável, repertório inquestionavelmente rico e expressão artística arrebatadora: assim é – e sempre foi – Elza Soares. Mas esses traços bem definidos conseguem se acentuar ainda mais quando a Mulher do Fim do Mundo se entrega de corpo e alma à Música. Desse modo é Elza Soares & João de Aquino, disco gravado na década de 1990 ao lado do violonista que também dá nome à obra, em sessão única feita no extinto estúdio carioca Haras. Agora disponível pela gravadora Deck, o mais recente lançamento da eterna Deusa-Mãe esperou cerca de 25 anos para ver a luz do mundo.    

No fim, toda espera valeu a pena! Desde Drão, composição de Gilberto Gil que assume o posto de abertura elevada, quase divina, somos fisgados por uma química inventiva arquitetada de maneira fabulosa entre Elza e João. Em alguns casos, como Hoje, as habilidades vocais da Cantora do Milênio atingem em cheio os ouvidos – e corações – mais sensíveis. E, em faixas como Devagar Com a Louça, a liberdade interpretativa digna de grandes nomes torna-se, talvez, o maior motivo para uma inevitável fascinação do público – o que não ofusca, no entanto, o talento de João de Aquino.

Ainda nos destaques, a escolha do imortal Meu Guri, de Chico Buarque, mesclado com a Ave Maria No Morro, de Herivelto Martins, com certeza merece alguma atenção. Já em Juventude Transviada, o nome de Nilo Chagas pode surpreender os observadores mais atentos, já que essa faixa traz também um pouco de Lamento da Lavadeira, música composta por ele ao lado de Monsueto e João Vieira Filho. Mas nada, enfim, é capaz de substituir a experiência de ouvir na íntegra um álbum de tamanha qualidade. Certo é que, Como Uma Onda, João de Aquino e Elza Soares podem nos dominar.  – Eduardo Rota Hilário 


Capa do disco Scenic Drive The Tape, de Khalid. Na foto colorida quadrada, vemos Khalid sentado em cima de um carro de cor laranja, com a cabeça virada para o seu lado esquerdo, com os dois pés apoiados em cima da porta esquerda do veículo. Khalid é um homem negro, possui cabelos de cor preta bem curtos, uma barba de cor preta, e veste uma blusa de cor azul, uma calça verde com listras pretas e botas de cor preta. Está de noite, e ao fundo podemos ver de forma bem distante uma cidade iluminada.
Lançado em 3 de dezembro de 2021, Scenic Drive (The Tape) é uma aposta reconfortante de Khalid, e traz ecos de Frank Ocean e The Weeknd durante suas 9 canções [Foto: RCA Records/Right Hand Music Group]
Khalid – Scenic Drive (The Tape)

“Obrigado por sintonizar em Scenic Drive, estamos aqui hoje à noite para fornecer a vibração para sentar, relaxar e aproveitar o passeio”. Depois de ouvirmos um motor de carro ligando e uma rádio sendo sintonizada, a voz de Alicia Keys surge na primeira faixa do disco, e anuncia o início de Scenic Drive (The Tape), terceiro álbum na carreira de Khalid. Com apenas 23 anos, o artista demonstra uma grande ambição musical, e desde o início Scenic Drive (The Tape) é enquadrado como uma experiência musical e uma experimentação de sentimentos na escuta. Mas em alguns momentos, nas faixas Voicemail (feat. Kiana Ledé) e Backseat, o disco se deixa levar por sua suavidade, permanecendo calmo demais, e beira um fim de viagem.

Apesar dessa abertura conceitual e de uma perfeita ligação das canções durante suas transições, o disco esbarra em suas próprias referências, nas quais Khalid satura as metáforas sobre bancos de carros, estradas e viagens solitárias – mas, no fim, o álbum não deixa de ser sobre isso também. O ponto alto do disco está em Brand New (feat. QUIN) e Present. Ainda assim, se você procura algo para relaxar ou que sirva de trilha sonora para uma viagem tranquila, Scenic Drive (The Tape) é uma boa pedida. – Bruno Andrade


Capa do álbum Live From Blackalachia de Moses Sumney. Imagem quadrada. Ao centro está um quadrado preto com um círculo vermelho vibrante. No círculo está uma pena quase imperceptível. O fundo, atrás do quadrado com círculo, está a fotografia de um conjunto de trevos de três folhas. Atrás dessa fotografia está outra de um conjunto de vegetação arbustiva. Na parte superior central pode-se ler o nome do artista “Moses Suntney” em fonte caligráfica branca e na inferior central o título do álbum “Live From Blackalachia” em fonte serifada branca com um grande espaçamento entre as letras.
Live From Blackalachia é o terceiro álbum de Moses Sumney, o primeiro gravado ao vivo (Foto: TUNTUM)

Moses Sumney – Live From Blackalachia

Isolamento vem de ‘insula’ que significa ilha”, nos recebe uma voz robotizada à experiência espiritual de Live From Blackalachia, terceiro álbum de Moses Sumney. Gravado ao vivo nas montanhas de Blue Ridge, no verão de 2020, o palco do cantor foi nada menos que as colinas de uma paisagem verde solitária. Junto de sua banda, Sumney encontra na vastidão da natureza a liberdade. E como é linda a liberdade.

Sobrecarregado pelo “culto à personalidadelinkado à vida artística de Los Angeles, foi em 2017 que Sumney se refugiou em Asheville, uma cidade na Carolina do Norte. Atraído pelos arredores naturais do novo lar, debaixo do céu limpo, da floresta e da fauna, ele reencarnou quatorze faixas selecionadas de seus álbuns anteriores, Aromanticism (2017) e græ (2020). Há uma continuação orgânica dos temas já explorados por esses registros, permeando gênero, raça e identidade. Quem somos, como somos e como somos vistos pelo mundo: “Minhas asas são produzidas/E, e eu também”.

Despido das harmonias vocais de fundo, na segunda metade de Live From Blackalachia, Sumney soa como a pessoa mais solitária do mundo. Doomed é conduzida pelo jazz cósmico dos saxofones chorosos de Serena Wiley e Brian Horton, somados ao trombone melancólico de Derrick Johnson. Cada sopro suscita uma dor. Uma sensibilidade dolorosa que cresce gradativamente no peito, até se tornar inconsolável na pureza da voz de Sumney. – Ayra Mori


 Capa do álbum Elis, essa saudade. Arte digital quadrada, com fundo predominantemente laranja. A cantora Elis Regina ocupa quase toda a imagem. Ela é uma mulher de cabelos pretos, roupa rosada, brincos, anéis, sorriso largo e inclina o corpo levemente para a frente, com as duas mãos sobre as pernas. Entre os braços da artista, lemos Elis em letras brancas. No canto inferior direito, lemos Essa Saudade… em letras vermelhas.
Um texto nunca estará à altura de Elis Regina, mas falar dessa lenda é ainda hoje uma grande necessidade (Foto: Paulo Kawall/Warner Music Brasil)

Elis Regina – Elis, essa saudade

Elis Regina é uma das maiores saudades que um país pode ter. É por isso que, às vésperas dos 40 anos de morte da eterna Pimentinha, as já aguardadas homenagens à imortal artista brasileira davam seus primeiros passos a todo vapor – e a coletânea Elis, essa saudade, lançada em pleno dezembro, é prova óbvia dessa realidade. Com produção executiva e repertório assinados pelos jornalistas Danilo Casaletti e Renato Vieira, o lançamento da Warner Music reúne gravações feitas entre 1979 e 1981, e com certeza receberá a atenção dos fãs mais ferrenhos. 

Não que sucessos como O bêbado e a equilibrista, ou versões ao vivo de Águas de março e Upa, neguinho, por exemplo, sejam motivo do entusiasmo puro da novidade, mas alguns elementos ‘novos’ acabam se tornando, sem dúvida, bastante animadores. É o caso de uma versão menos conhecida de Alô! Alô! Marciano, anteriormente indisponível nas plataformas digitais, ou do carro-chefe Pequeno exilado, música de 1980 gravada com o cantor gaúcho Raul Ellwanger, e até então inédita em formato digital. Seja como for, o CD – físico ou on-line – já vale a pena por conta dessas duas pérolas.

Unindo os títulos dos álbuns Essa Mulher e Saudade do Brasil, Elis, essa saudade é, antes de tudo, celebração e memória. Ou, quem sabe, uma forma de ilustrar os versosAh, como essa coisa é tão bonita/Ser cantora, ser artista/Isso tudo é muito bom” – que, um pouco descontextualizados neste texto, cabem com maestria na figura de Elis. Na verdade, a compilação recém-lançada é também um sinal de que nenhuma homenagem basta para as lendas infinitamente humanas, mas simbolicamente infindáveis. Sendo assim, que Elis Regina cante sempre, profunda e íntima, ao pé do ouvido de nossos corações. – Eduardo Rota Hilário  


Capa do álbum Changephobia Remixes: Part I + II de Rostam. Imagem 16x9 enquadrada dentro de um quadrado com fundo preto nas partes superior e inferior. A imagem é uma ilustração pixelada. Nela está Rostam, um homem sul-asiático. Ele está deitado sobre um telhado com telhas cinza escuro. Sua perna está inclinada e um de seus braços, o da frente, está dobrado atrás da cabeça, enquanto o outro, o de trás, segura sua guitarra branca. Ele veste uma camisa com tons do arco-íris e calças pretas. No fundo da fotografia está uma paisagem repleta de árvores verdes e alaranjadas. Atrás das árvores está o horizonte de uma cidade de arranha-céus. Na lateral esquerda estão três pequenos quadrados em coluna. As cores desses quadrados são azul, amarelo e vermelho. Na parte central superior da ilustração pode-se ler o início do título do álbum “Changephobia” em fonte branca não serifada com efeito 3D. Na parte central inferior à ilustração está o resto do título “Remixes:” em fonte verde água não serifada e “Part I + II” em fonte vermelha não serifada. Na lateral inferior da direita pode-se ver escritos em persa nas cores azul, lilás e amarelo em degradê.
A coletânea de remixes de Changephobia divide-se em dois discos, contando com nomes potentes da cena indie pop de Los Angeles (Foto: Matsor Projects)

Rostam – Changephobia Remixes: Part I + II

Após seis meses do sensível “pop torto” de Changephobia, Rostam Batmanglij, ex-integrante e fundador da banda Vampire Weekend, divulgou na íntegra a coletânea de remixes do segundo álbum de sua carreira solo. Dividido em duas partes, sobrevive, nas reinterpretações, a aura mágica das versões originais, que continuam evocando um ambiente agridoce, quente e colorido. As colaborações do projeto contam com nomes potentes, fruto da relação estreita do próprio Rostam com a cena indie pop de Los Angeles – o multi-instrumentista tem no catálogo a recente produção de Immunity (2019), de Clairo, e Women in Music Pt. III, das HAIM.

Lançada em 1º de dezembro de 2021, a primeira parte da coletânea conta com a remixagem de A. G. Cook (que produziu faixas de Charli XCX, Caroline Polachek e SOPHIE) na cinética Kinney, até a versão reducionista de A. K. Paul, que desacelera o tempo em These Kids We Knew. Já a segunda parte inclui a interpretação vibrante de 4Runner por EASYFUN, que é conduzida pelas batidas metálicas comuns do hyperpop, e o suave sintetizador de From the Back of a Cab por Ben Böhmer. Ao passar pelas nove faixas alternativas, o impulso para se ouvir Changephobia mais uma vez, cresce. – Ayra Mori


Capa do álbum Lágrimas no Mar. Nela vemos Arnaldo Antunes e Vitor Araújo vestidos com roupas inteiramente brancas. Ambos estão de pé na areia da praia. O céu é estrela e editado para que ficasse semelhante a uma galáxia. Ao fundo vemos o mar. A foto está em preto e branco. Na parte central superior lê-se em branco LÁGRIMAS NO MAR. Logo abaixo lê-se também em branco ARNALDO ANTUNES + VITOR ARAÚJO.
É doce ser carregada pela ondas de Arnaldo (Foto: Altafonte)

Arnaldo Antunes e Vitor Araújo – Lágrimas no Mar 

Em 2020, Arnaldo Antunes não poupou em colocar o dedo na ferida com seu potente O Real Resiste. O show deste trabalho criou um vínculo entre o cantor e o pianista Vitor Araújo – pernambucano de 32 anos. O encontro entre a juvenil musicalidade e a experiência de ex-Titã tomou forma no êxtase de Lágrimas no Mar.

O resultado é um álbum que beira o paradisíaco. Com o potente instrumental que atravessa feito lança cada verso, e com canções intimistas que remetem ao mar, o duo apostou numa apresentação mais cinzenta para intensificar a transversalidade do disco. O repertório vai de gravações conhecidas pelo público, como a unânime Como 2 e 2 (Caetano Veloso); música que já fizeram parte de shows do Arnaldo, como Fora de Si (1995) e Longe (2009); e inéditas batizadas de Enquanto Passa Outro Verão, Lágrimas no Mar, Umbigo e A Não Ser. – Ana Júlia Trevisan


Capa do álbum KEYS, de Alicia Keys. A imagem tem fundo azul royal e um buraco de fechadura no centro, onde surge a figura de Alicia. Ela está virada para o lado direito da imagem e encara a câmera. Ela é uma mulher negra, seus cabelos castanhos estão presos num grande coque na nuca. Alicia usa uma roupa azul celeste bufante e grandes brincos dourados que têm o formato do buraco de uma fechadura. No canto superior esquerdo, sob o fundo azul, está escrito o nome do disco na vertical em dourado. No canto inferior direito, existe o desenho de uma chave, também dourada.
A capa não é das melhores, mas a música sim (Foto: RCA Records)

Alicia Keys – KEYS

Ao completar 20 anos de carreira, Alicia Keys decidiu revisitar suas raízes e brincar com as suas possibilidades contemporâneas em KEYS, seu oitavo disco. Para a maioria dos espectros musicais, essas intenções podem parecer completamente inconciliáveis, mas para o da experiência de Alicia Keys, foi a ideia mais natural de projeto para a atual etapa de sua vasta carreira como cantora, compositora, produtora e pianista. O disco é duplo e suas divisões são muito bem definidas: no lado A, ela relembra suas matérias-primas originais em canções inéditas, e no lado B, desbloqueia lampejos criativos ao reimaginar a produção de suas próprias músicas. 

Assim, Originals apresenta faixas do disco totalmente fundamentado nas influências Alicia, como o gospel e o soul, que quando percorrem o piano junto de suas mãos, criam uma música essencialmente contemporânea e fresca. Em diálogo direto com a artista que conhecemos em 2001 através da estreia aclamada de Songs In A Minor, ela apresenta sua habilidade em criar o R&B mais atual e bem referenciado da atualidade (mantendo o posto que é seu desde o início do novo milênio) com primor em Love When You Call My Name. Já em Is It Insane, ela nos lembra de seus talentos como vocalista e intérprete, enquanto Daffodils e seu fundo folk constroem a demonstração perfeita de uma musicista plena. Além disso, ela também traz colaborações de nomes como Kanye West para Plentiful, e expressa sua amizade com Brandi Carlile em Paper Flowers – um dos melhores destaques de KEYS

Quando chegamos em Unlocked, obviamente, o impacto não é o mesmo. Mas a segunda parte de KEYS também guarda as suas próprias inéditas, músicas que Alicia concebeu já na identidade imaginada para o segundo disco, ao invés de passarem pelo processo contrário. Nestas, estão o destaque das produções originais de LALA – primeiro single do álbum que traz a participação de Swae Lee – e Come For Me – resultado grandioso de uma colaboração entre Keys, Khalid e Lucy Daye. Ao final das 26 faixas, o impacto de Alicia Keys se mostra o mesmo que encantou o mundo há 20 anos atrás: não existe uma porta que suas chaves não possam abrir. – Raquel Dutra


EPs

Capa do EP Crisis / Secret / Set Me Free, do cantor Joshua Bassett. A imagem é um quadrado branco com escritos bem pequenos em fonte preta. No topo, canto esquerdo, lemos Warner Records, Los Angeles, CA. No canto inferior direito, lemos JB 03.12.21 JOSHUA BASSET. I. CRISIS II. SECRET III. SET ME FREE.
Solta o gogó, Joshua, pode chorar se quiser (Foto: Warner Records Inc.)

Joshua Bassett – Crisis / Secret / Set Me Free

Por ironia do destino, se em janeiro ocorreu o nascimento do fenômeno Olivia Rodrigo, dezembro fecha com o lançamento de seu ex-namorado Joshua Bassett, o suposto remetente das cartas de coração partido de SOUR. O jovem artista, que além de cantar é um dos protagonistas da série de High School Musical, liberou Crisis / Secret / Set Me Free, com direito a três clipes, poucos meses depois de seu EP autointitulado.

Pela primeira vez se referindo diretamente ao espetáculo de horror que vivenciou seguido do lançamento de drivers license, Bassett cria uma narrativa de maturidade no novo e curto trabalho. Abrindo com Crisis, ele canta sobre como sua ex-amada nunca desperdiçou uma crise, aproveitando para capitalizar por cima do namoro que acabou. Além das trivialidades que se tornaram clichês do pop, ele denuncia seu estado de saúde, revelando que sofreu ameaças de morte.

A sequência com Secret é o máximo de sacana que o EP se permite ser, na insinuação de que a pessoa sobre a qual ele canta esconde um segredo, e talvez tudo que ela cantou não seja a mais absoluta das verdades. O fim, pelos versos da saudosista Set Me Free, é o momento de Joshua respirar e implorar por conclusões. “Você não pode levar tudo de mim (me liberte)/E não preciso das suas desculpas (me deixe em paz)”, ele canta, com verdade na voz. – Vitor Evangelista


Capa do EP Never Again. A imagem com moldura branca, mostra a mão de uma pessoa branca segurando um CD com o lado de baixo virado para cima, refletindo a luz com diversas cores, com predominância do roxo e do verde. Ao fundo, vemos a cor verde desfocada.
Never Again foi lançado apenas em vinil, e não se encontra disponível em nenhuma plataforma de streaming (Foto: Ninja Tune)

Black Country, New Road – Never Again

Enquanto o aguardado disco Ants From Up There não chega, a banda britânica Black Country, New Road resolveu lançar, com exclusividade para os compradores de discos de vinil (mas que pode ser encontrado no YouTube), um EP reunindo quatro inusitados covers de canções populares. A trupe que concilia a guitarra ao saxofone e ao violino levou ao estúdio suas próprias versões de duas canções do ABBA, uma do MGMT e outra da Adele, que já vinham realizando em suas apresentações ao vivo de um tempo para cá. 

Mamma Mia e Chiquitita compõe o lado A do disco, trazendo toda a energia e as firulas instrumentais já tão características do grupo. A empolgação e a total dedicação do vocalista Isaac Wood em Mamma Mia compensam as suas limitações vocais ao deixar seu estilo mais falado de cantar para uma canção mais melódica, e Chiquitita traz a mesma serenidade e a carga emocional crescente dos singles recentes, Bread Song e Concorde. O mesmo vale para Time to Pretend, primeira faixa do lado B, seguida de uma Someone Like You simples de voz e piano, mas que ao trazer vários dos membros do grupo cantando juntos, transmite a agradável sensação de uma boa confraternização entre amigos. – João Batista Signorelli


Capa do EP Once Twice Melody: Chapter 2 de Beach House. Imagem quadrada com fundo branco texturizado como uma folha granulada. Com exceção do lado esquerdo, todas as bordas são contornadas em dourado que reflete. Ao centro pode-se ler o título do álbum “Once Twice Melody” em fonte serifada com adornos arredondados entre as letras. As letras também são douradas e o título é contornado por um quadrado de duas finas linhas, no qual estão quatro círculos nas quatro extremidades.
Dividido em 4 capítulos, o lançamento integral de Once Twice Melody está previsto para fevereiro de 2022 (Foto: Sub Pop Records)

Beach House – Once Twice Melody: Chapter 2

Que tudo chega ao fim é certo – mas nem sempre. No segundo capítulo do álbum Once Twice Melody, dividido por 4 partes, a finitude das ordinariedades parece ser usurpada através da repetição. São quatro faixas inéditas que sucedem o plano metafísico criado pela dupla de dream pop Beach House, integrada por Victoria Legrand e Alex Scally, no primeiro EP lançado em novembro de 2021. Conjura-se uma confusão psicodélica conduzida por devaneios coloridamente cinematográficos que se materializam somente através do som. Ainda, nada é palpável.

O capítulo se inicia com o Éden futurista de Runaway, orientado pela voz transumana de Legrand sob efeito do vocoder. Em sequência, a atmosfera de ESP evoca um sonho tranquilo acompanhado pelas notas clássicas da guitarra elétrica, enquanto New Romance carrega consigo as reminiscências sintéticas de My Bloody Valentine. Over and Over encerra o EP através de uma experiência sinestésica que entranha o lirismo da composição junto a reverberação dos vocais que se fundem caleidoscopicamente com os sintetizadores, tornando-os em coisa única – é impossível distinguir o orgânico do robotizado. São brilhos, imagens quentes e sons que se entregam inteiramente a um cenário fantástico, “E então/Esses dias se vão (de novo e de novo)”. – Ayra Mori


Capa do ep Cidade do pecado, de BK. Na foto quadrada, vemos BK parado bem ao centro de um cenário totalmente branco, olhando diretamente para a câmera. Ele está com as duas mãos unidas, à altura do pescoço. Ele é um homem negro, possui cabelos de cor preta e veste uma blusa de preta e cinza, com detalhes em cor branca; veste também uma calça de cor cinza e um tênis de cor cinza. Como moldura da imagem, vemos diversas ilustrações de rosas e folhas de cor laranja, algumas dessas rosas estão apontando armas para BK.
Liberado nas plataformas digitais no dia 1 de dezembro de 2021, Cidade Do Pecado é um percurso liderado por BK’ por uma cidade dominada pelo pecado, sem glamourizar a violência ou fazer apologias vazias (Foto: Gigantes)

BK’ – Cidade Do Pecado

Em Grande Sertão: Veredas (1956), João Guimarães Rosa questiona, através do personagem Riobaldo, a existência do diabo, e escreve a seguinte sentença: “O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano”. Na obra O mestre e Margarida – terminada em 1940, porém publicada postumamente em 1966 –, o russo Mikhail Bulgakov também questiona a existência do diabo, mas dessa vez o insere fisicamente na União Soviética, fazendo alusões a um mundo tão cruel que já ocupa o lugar do próprio inferno. Agora BK’ também entra na lista: debruçando-se sobre os pecados que rodeiam a civilização, Cidade Do Pecado é uma pequena viagem de pouco mais de 16 minutos, distribuídos em 5 canções nas quais somos apresentados a sensação aniquiladora de submissão, imposta pela metrópole aos indivíduos.

Na canção Último Baile Antes da Guerra, BK’ se une a MC Marcelly e ao rapper Nochica para contar a história de um indivíduo envolvido com a criminalidade, sem perspectivas de vida, e mescla afrobeat com batidas típicas do hip-hop. Com produção de JXNV$ (nome artístico do DJ e produtor Jonas Profeta, colaborador frequente nos trabalhos do rapper), Cidade Do Pecado traz, ainda, participações da cantora Mayra Andrade e do rapper niLL. Sobre o disco, BK’ disse: “Eu vejo o EP Cidade Do Pecado com muito foco no desejo e nas formas como você se perde na vida urbana, no que se deixa levar por ela e em como, ao tentar existir, você deixa de existir”. – Bruno Andrade


Músicas

Capa do single 2011. A capa é uma foto de cima de um palco. Na parte de trás, vemos lanternas de luz iluminando o palco. À esquerda e à direita, vemos placas vermelhas iluminadas nos formatos do número “5” e as letras “S”, “O” e “S” espalhadas e jogadas tortas pelo chão. Ao centro, na parte de trás do palco, vemos uma bateria colorida em cima de uma plataforma e um amplificador, ao lado. No primeiro plano, vemos os quatro integrantes da banda 5 Seconds of Summers deitados com os braços abertos no chão quadriculado em preto e branco, que está repleto de confetes de papel roxo e prata, e tem suportes de microfone e pedais de guitarra ao redor. Vemos confetes ainda caindo pelo ar.
Em comemoração aos 10 anos, além do lançamento do single, a banda 5 Seconds of Summer fez um show e apresentou a canção, assim como outras antigas (Foto: 5SOS)

5 Seconds of Summer – 2011

Exatos 10 anos depois de seu primeiro show, a banda 5 Seconds of Summer comemora sua década de existência com 2011. Na canção, o quarteto formado por Luke Hemmings, Michael Clifford, Calum Hood e Ashton Irwin relembram os sentimentos e as dificuldades no início e durante os anos de carreira, e se agradecem por chegarem até aqui unidos. O grupo australiano tem cinco álbuns juntos – Luke e Ashton também lançaram trabalhos solo -, e, mesmo depois de terem amadurecido cada vez mais sua sonoridade, culminando no adulto CALM, o single se assemelha às faixas de 5 Seconds of Summer, álbum de estreia da banda, de 2014. Não só na letra, mas também em sua essência, 2011 celebra o aniversário, o progresso e as conquistas pessoais e profissionais de 5 Seconds of Summer com muito carinho e nostalgia. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Ô Ano Doido. Arte digital quadrada, com fundo azul-claro. Na parte superior, lemos Ô Ano Doido em letras roxas, de contorno branco e grosso. Uma montagem horizontalmente retangular, de borda rosa, ocupa quase toda a imagem. Nela, observamos um fundo repleto de corações, a cantora Flaira Ferro disposta no lado esquerdo, e Anná, no direito. Ambas estão com um filtro roxo sobre suas fotos. Flaira é uma mulher de cabelos compridos e roupa fechada até certa parte do pescoço. Anná é uma mulher de cabelos curtos e roupa florida, com parte do ombro à mostra. Na parte inferior da capa, lemos Anná feat. Flaira Ferro em letras brancas.
Alguém já conseguiu assimilar 2021? (Foto: Boia Fria Produções/Isabela Lazarini)

Anná e Flaira Ferro – Ô Ano Doido

Assumir a função de ‘cronista de seu tempo’ costuma ser uma decisão bastante inteligente para muitos artistas. Em alguns casos, trata-se até mesmo de uma necessidade. Seja como for, dentro dessas e outras possibilidades, Anná soube expressar muito bem, em forma de Música, uma sensação quase coletiva de quem vivenciou e, a propósito, sobreviveu ao bizarro ano de 2021: “ô ano doido que mexeu fundo com a gente/ô ano doido que meteu fundo na gente”. Sendo uma composição autoral da multiartista mocoquense, Ô Ano Doido ainda ganhou a calorosa companhia da cantora recifense Flaira Ferro em sua gravação.

Mas as colaborações não param por aí. Isso porque a produção musical, as programações e o coro do terceiro single do vindouro álbum Bra$ileyrah também carregam o nome de Amanda Magalhães, cantora com quem Anná dividiu a faixa Me Cuidar em setembro de 2021. Não satisfeito, Ô Ano Doido cria ainda diálogos com Tom Zé, Valesca Popozuda e Claudinho & Buchecha, dentre outros artistas que inspiraram essa curiosa mistura de frevo com funk. No fim, os divertidos versos de Anná lembram inclusive a “esperança equilibrista”, que sempre soube “que o show de todo artista/tem que continuar”. – Eduardo Rota Hilário       


Capa do single Day After Tomorrow de Phoebe Bridgers. Fotografia quadrada de pessoas patinando no gelo. As pessoas estão pintadas como fantasmas em caneta permanente branca. Seus olhos são vazios em caneta permanente preta. No fundo da fotografia está a paisagem de uma cidade com arranha-céus e árvores. É inverno e a folhagem das árvores estão secas. A fotografia é granulada e seu tom é levemente saturado. No centro da imagem está o título do single “Day After Tomorrow” em caligrafia branca.
Phoebe Bridgers é nossa Mariah Carey indie (Foto: Dead Oceans)

Phoebe Bridgers – Day After Tomorrow

Enfim, o Natal chegou (e já passou). Com ele, como uma espécie de Papai Noel magrela e de cabelos platinados, Phoebe Bridgers lança sua rendição natalina de Day After Tomorrow, sucesso de Tom Waits em 2004. A canção dá continuidade à tradição anual da cantora que restitui o lucro dos lançamentos natalinos a instituições humanitárias. Os covers incluem If We Make It Through December (2020) de Merle Haggard, 7 O’Clock News / Silent Night (2019) de Simon & Garfunkel, Christmas Song (2018) de McCarthy Trenching e Have Yourself a Merry Little Christmas (2017).

Produzida em conjunto com Tony Berg e Ethan Gruska, toda a receita do último cover foi destinada ao Local Integration & Family Empowerment Division of the International Institute of Los Angeles, que presta assistência a imigrantes, refugiados e sobreviventes de tráfico humano em suas novas vidas no sul da Califórnia. “Eu não estou lutando por justiça/Eu não estou lutando por liberdade/Eu estou lutando pela minha vida/E mais um dia neste mundo aqui”, canta Bridgers com sua melancolia autoral, amplificando as dores de uma festividade que pode ser tão solitária quanto feliz. – Ayra Mori


Capa do single Endless Summer, da banda Superchunk. Na imagem retangular quadrada, há um quarto de madeira em cor branca, com duas portinhas da janela abertas, ambas de cor verde. Bem ao centro dessa janela aberta está um bezerro de cor preta, com a cabeça virada para o seu lado direito, e utilizando uma corda de cor amarela no pescoço.
O quarteto estadunidense Superchunk anunciou um novo álbum, previsto para 25 de fevereiro de 2022; Endless Summer é o primeiro single divulgado (Foto: Merge Records)

Superchunk – Endless Summer

Superchunk está de volta, e com um novo álbum na praça. O quarteto de indie rock formado em 1989 lançou o single Endless Summer, faixa que compõe Wild Loneliness, o novo disco da banda. Quase como uma versão alegre dos Pixies – ou talvez uma versão expandida dos Pixies de Here Comes Your Man –, Superchunk mantém em Endless Summer as guitarras cruas, com poucos efeitos, e dá à letra um tom cantarolável, ao mesmo tempo envolta de uma aura que abraça indivíduos desconfortáveis, abandonados com o fim da onda punk dos anos 1970. 

Mantendo-se fiel ao que sempre foi desde o início – Superchunk (1990) –, o grupo parece manter as letras evocativas, carregadas de críticas muito bem direcionadas – essa, sim, uma herança deixada pelo punk rock –, como na canção What a Time to Be Alive, faixa-título do álbum anterior, carregada de piadas sarcásticas sobre a era Trump.

Wild Loneliness trará diversas participações especiais – incluindo Owen Pallett e Mike Mills, do R.E.M. –, e tem seu lançamento previsto para 25 de fevereiro de 2022. No refrão do novo single, ouvimos Mac McCaughan perguntar: Este é o ano em que as folhas não perdem a cor?”. Não sei, veremos. – Bruno Andrade


Capa do single GROWING UP IS ____. Na capa, em frente a um fundo amarelo parcialmente iluminado, vemos o cantor Ruel do peito para cima, com os olhos fechados, balançando a cabeça e com seus cabelos esvoaçando. Ruel é um homem branco, de cabelos loiros e lisos na altura do ombro, aparentando cerca de 20 anos e usando um terno claro e uma gravata preta.
O videoclipe de GROWING UP IS ____, que foi lançado junto do single, é a performance da canção no estúdio australiano Filmworx Melbourne (Foto: RCA Records)

Ruel – GROWING UP IS ____

Como qualquer artista sob os holofotes desde cedo, Ruel precisou crescer também em frente a eles. O cantor britânico-naturalizado-australiano, agora com seus 19 anos, lançou seu primeiro single aos 15 e amadureceu sua sonoridade desde então. Não precisa nem olhar tanto assim para trás, a mudança é perceptível já nos últimos projetos do artista: do primeiro álbum, Free Time, de 2019, até seu lançamento seguinte, o EP Bright Lights, Red Eyes, de 2020, a evolução na musicalidade é perceptível. Não só profissionalmente, mas Ruel também teve de crescer e se entender como pessoa, e, no single GROWING UP IS ____, reflete sobre esse processo.

A canção é o primeiro lançamento do cantor desde o EP de 2020. Ele, no ano distante, usou seu tempo para “descobrir o tipo de pessoa que ele quer ser” e o questionamento acerca do amadurecimento se estende na faixa. “Crescer é estranho, dormir com amigos, quebrar um coração/Questionar tudo que você achava”, ele canta, acompanhado do ritmo intenso da canção. Passando da adolescência para a fase adulta, GROWING UP IS ____  ilumina essa fase de Ruel. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Mexe a Cabeça. Fotografia quadrada, com fundo repleto de plantas. A dupla Ivete Sangalo e Carlinhos Brown ocupa o lado esquerdo e o meio da imagem. Ivete é uma mulher de tranças, roupa vermelha, colares, pulseiras, anéis e brincos dourados, segura o microfone com a mão esquerda e levanta o braço direito. Brown é um homem de barba, turbante, óculos, roupa branca, segura o microfone com a mão direita e levanta o braço esquerdo. No canto inferior direito, lemos Mexe a Cabeça em letras azuis. Abaixo, lemos Ivete Sangalo e Carlinhos Brown em letras esverdeadas.
“Cole em mim, não solta não” (Foto: Caco Music/Universal Music)

Ivete Sangalo e Carlinhos Brown – Mexe a Cabeça

Diante de tantas incertezas, esperar por um carnaval à la tempos passados em 2022 parece ser, antes de qualquer coisa, uma ilusão muito ingênua e utópica. Mas isso não quer dizer que precisamos ficar desprovidos de lançamentos musicais característicos, já que festejar sozinhos, em casa, pode se tornar uma necessidade preventiva e um escapismo temporário. É, portanto, totalmente compreensível que Ivete Sangalo e Carlinhos Brown tenham lançado, em dezembro, a parceria Mexe a Cabeça, de qualidade tão boa quanto o sucesso Cadê Dalila, de 2009 – que teve Brown como um dos compositores, e Veveta como intérprete.  

Destacando agora a voz dos dois artistas, o novo single dos cantores baianos foi composto por Ivete Sangalo, Gigi, Ramon Cruz, Radamés Venâncio e Samir Trindade, e adota um espírito genuinamente carnavalesco. Ao lado de Sorte Grande, Flor do Reggae e Festa, por exemplo, Mexe a Cabeça provavelmente carregaria consigo a nostalgia de outros carnavais, mesmo sendo uma música extremamente nova e de repercussão ainda limitada. De qualquer forma, o que nos resta hoje é imaginar como ficaria essa canção no meio de confetes, serpentinas e a muvuca eufórica de um trio elétrico, ou de um salão bem lotado. – Eduardo Rota Hilário 


Capa do single Abstinência, de Lucidays. Na imagem quadrada, vemos ao centro, dentro de um quadrado de cor cinza, o desenho de um gramofone de cor cinza, de onde sai uma flor com pétalas amarelas bem ao centro. Em volta do quadrado onde está o gramofone há diversas faixas coloridas, cujas cores são azul, vermelho, amarelo, e verde, colocadas de forma alternada.
Lucidayz é o projeto solo do músico sergipano Samuel Elijah, e o single Abstinência faz parte de sua nova fase, na qual mergulha no indie rock (Foto: Lucidayz)

Lucidayz – Abstinência

Se, por alguma razão, misturassem O Terno com Jorge Ben Jor, não seria difícil afirmar que um de seus possíveis resultados seria algo próximo da canção Abstinência, de Lucidayz. Esse é o nome que recebe o projeto solo do sergipano Samuel Elijah, cujo single marca uma nova fase, mergulhada em referências ao indie rock nacional, e ainda trazendo elementos circenses. Tanto a canção quanto seu videoclipe complementam a narrativa evocada por Elijah, na qual ambos destacam-se pela mistura de expressões artísticas.

Em Abstinência, enxergamos um artista que sabe fazer música, elencando elementos poéticos com certa naturalidade. Seu lado teatral resplandece na própria letra da música, onde ouvimos: Então ela o seduzia/E o derrotava/Então passavam os dias/Não regenerava”. A grande ironia é que o single, embora esteja recheado de sentido lírico e carregado de referências retrô – o próprio ambiente circense já evoca uma certa marcação temporal –, soe extremamente contemporâneo. – Bruno Andrade


Capa do single No Choice. No canto superior esquerdo da capa, vemos as palavras “Tame Impala” em uma fonte sem serifa, branca e em caixa alta. No cantor superior direito, vemos as palavras “THE SLOW RUSH” em uma fonte sem serifa, branca e em caixa alta, e “REMIXES/B-SIDES” logo abaixo, na mesma fonte. Na parte superior da capa, do lado esquerdo, vemos paredes vermelhas e uma janela com o céu visível através dela. Do lado direito, vemos uma porta branca aberta. Na parte central e inferior da capa, vemos montes de areia clara, saindo pela janela e pela porta.
Donos do hit The Less I Know The Better, Tame Impala é um quinteto nos palcos e uma banda de um homem só no estúdio, com Kevin Parker atuando como vocalista, instrumentista, compositor e produtor (Foto: Modular Recordings)

Tame Impala – No Choices

A banda Tame Impala é fã das edições comemorativas e The Slow Rush, quarto registro de estúdio e indicado como Melhor Álbum de Música Alternativa no Grammy 2020, já tem data marcada para ganhar sua versão Deluxe. The Slow Rush Deluxe será lançado dias após o aniversário de dois anos de seu antecessor e incluirá, além das canções originais, versões estendidas, remixes e duas faixas inéditas. Uma dessas b-sides já chegou com antecedência: descartada da edição original do álbum, No Choice lembra as primeiras sonoridades do grupo australiano, como a do álbum de estreia Innerspeaker, e atualiza a essência inicial da Tame Impala. Fazendo a ponte entre as eras da banda, o single, com sua aura envolvente e psicodélica, dialoga também com The Slow Rush. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single I Would Die 4 U de Art School Girlfriend. Fotografia quadrada da sombra de uma pessoa, projetada no lado esquerdo. A iluminação é arroxeada, com efeitos de luz e brilho sobre a imagem. Os efeitos refletem tons de branco, dourado e azul em formato circular. Os círculos se desmancham organicamente, sem um padrão. Na parte inferior está uma sombra preta retangular inclinada.
Art School Girlfriend metamorfoseia o sucesso de Prince, I Would Die 4 U (Foto: Universal Music Operations Limited)

Art School Girlfriend – I Would Die 4 U

Por trás do pseudônimo Art School Girlfriend, está Polly Mackey, cantora, compositora, produtora e multi-instrumentista galesa que navega entre a melancolia sufocante de sintetizadores sônicos que imergem o lirismo entranhado de suas composições. “Eu morreria por você”, ela murmura em seu tributo atmosférico de I Would Die 4 U, canção original de Prince. Mas mesmo homenageando o legado real do príncipe da opulência, ela reverte completamente a sonoridade da primeira versão, transfigurando-a numa Purple Rain densa, não mais enérgica.

O primeiro lançamento desde o álbum de estreia Is It Light Where You Are, a faixa carrega as memórias góticas da formação musical de Mackey, introduzida pelo shoegaze e new wave. Sua voz baixa é acompanhada pelos vocais de Marika Hackman, ambos afogados pelos toques eletrônicos de sintetizadores emotivamente sombrios. Ela não se acomoda na sombra do insuperável, igualando-se, com um fascínio etéreo. – Ayra Mori


Capa do single Rivotril e a Fé. Ilustração quadrada, com fundo bege, imitando papel envelhecido. Uma borda quadrada, preta, torta e de pontas redondas emoldura a imagem. Dentro dela, na parte superior, lemos Rivotril e a Fé em letras pretas. No lado esquerdo, uma ilustração representa Rodrigo Alarcon. Ele é um homem de bigode, roupas formais e aponta para frente com o dedo indicador direito. No canto inferior direito, lemos Rodrigo Alarcon em letras pretas. Fora da borda, abaixo do desenho que simboliza Rodrigo, lemos Taquetá 2021 em letras pretas.
Quem também está “equilibrado entre o Rivotril e a fé”? (Foto: Taquetá)

Rodrigo Alarcon – Rivotril e a Fé

Começar um videoclipe com livros de Hilda Hilst, Angela Davis, Gabriel García Márquez e outros nomes notórios da humanidade não é para qualquer um. Quando essa obra retrata, então, uma música que lembra intensamente a fase mais pop de Rita Lee, a situação acaba melhorando ainda mais. Essa é a realidade de Rivotril e a Fé, novo single solo de Rodrigo Alarcon e também sucessor de Taquetá Vol.1, EP lançado na primeira metade de 2021, ao lado das cantoras Ana Müller e Mariana Froes.   

Com uma letra que faz referências a Gilberto Gil, o mais recente lançamento de Alarcon com certeza recorda que ninguém atravessa a pandemia de modo neutro e intacto. “Me acostumar com a tragédia acima da média/É o novo normal, vão dizer/Eu só queria um abraço, o mais simples contato/Mas nem isso eu tô podendo ter”, diz a composição assinada por Rodrigo, Luiz Bellini e Niela Moura. Curioso é que seu clipe retrô, em formato de propagandas, nem parece retratar as angústias de alguém que viveu um caos inesquecível – o que talvez seja pura ironia. – Eduardo Rota Hilário    


Capa do single Espírito do Som. Nela vemos a cantora Cássia Eller suspensa no ar sentada num balanço. Na parte superior direita lê-se em branco CÁSSIA ELLER. Junto, lê-se em marrom ESPÍRITO DO SOM. A imagem está em preto e branco com poucos tons de marrom.
2021 marca os 20 anos de partida da cantora (Foto: Porangareté)

Cássia Eller – Espírito do Som

A Música brasileira nunca mais foi a mesma desde que a voz transcendental de Cássia Eller emudeceu. O fatídico 29 de dezembro de 2001 é lembrado com dor por todos os admiradores da malandra garotinha do rock, que nos deixou no auge de seus 39 anos. Mas, o último mês do ano tem sabor agridoce quando se trata da cantora, isso porque ela também completava sua revolução solar no dia 10. Inesquecível e insuperável, Cássia é diariamente homenageada por sua legião de fãs e seu mês doze não passa despercebido.

Em celebração aos 59 anos da artista, o engenheiro de som Bruno Giorgi restaurou a canção Espírito do Som. A gravação inédita do blues aconteceu em Brasília no ano de 1985, a música integrava o setlist do show Dose Dupla. Junto à voz e ao violão de Cássia está o novo arranjo feito por Chico Chico, filho da cantora e cabeça do projeto. Além do primogênito, Rodrigo Garcia e Pedro Fonseca também fazem parte da banda que acompanha a saudosa Cássia Eller. – Ana Júlia Trevisan


Capa do single Peachy. A capa tem o fundo em tons rosa, liso e com marcas de um cd. À esquerda, vemos parte de um rosto de uma mulher branca, com o nariz, a boca sorrindo e mostrando os dentes, os lábios com batom vermelho, e o queixo. Ao centro, vemos o logo da banda Bad Suns, um círculo com faixas arredondadas partindo dele. No canto superior direito, vemos as palavras “BAD SUNS” em uma fonte amarela e em caixa alta. No canto inferior direito, vemos as palavras “Apocalypse Whenever”, em uma fonte branca cursiva.
Peachy vem depois de Baby Blue Shades, Heaven is A Place in My Head, When The World Was Mine e Wishing Fountain, lançados nessa ordem (Foto: Bad Suns)

Bad Suns – Peachy

Com o lançamento do quarto álbum da banda Bad Suns se aproximando, Apocalypse Whenever, o título do trabalho, ganhou sua quinta prévia: Peachy é o último dos cinco singles, que vêm sendo disponibilizados desde setembro de 2020. Neste, a banda mantém a aura animada e vivaz das outras faixas do álbum e os destaques são as bases e riffs das guitarras elétricas, que despontam na canção e lembram musicalidades anteriores do grupo, que não estavam tão presentes no último projeto. A estética anos 80 da sonoridade também é refletida no clipe e na capa de Peachy, que, como a Bad Suns anunciou, já é a do Apocalypse Whenever. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Amor Nas Estrelas. Arte digital quadrada. Ao fundo, observamos um céu estrelado. Na parte superior, lemos Amor Nas Estrelas em letras cursivas amarelas. Abaixo, da esquerda para a direita, vemos Márcia Tauil, Roberto Menescal e Ana Lélia. Márcia é uma mulher de cabelos pretos, roupa branca, maquiagem e brinco. Roberto é um homem de cabelos e barba brancos, roupas pretas e segura um instrumento de cordas com a mão direita. Ana é uma mulher de cabelos castanhos, roupa roxa e maquiagem. Na parte inferior, lemos Márcia Tauil, Roberto Menescal, Ana Lélia em letras brancas.
Esta nova versão de Amor Nas Estrelas é sublime! (Foto: Mins Música)

Márcia Tauil, Roberto Menescal e Ana Lélia – Amor Nas Estrelas

Para poder realizar a releitura de um sucesso de Nara Leão, um artista precisa ter muito talento, confiança e coragem – e isso é o que não falta para este trio musical super habilidoso. Unidos em novo single, Márcia Tauil, Roberto Menescal e Ana Lélia dão brilho próprio a Amor Nas Estrelas, composição inegavelmente bela de Roberto de Carvalho e Fausto Nilo. E isso ocorre em grande parte por conta do “arranjo inusitado” de Jonatas Pingo, além de alguns versos traduzidos para o Inglês: conjunto de elementos que dá roupagem expressiva e única à canção.           

Sem dúvida, as trocas coesas feitas entre Ana e Márcia transmitem uma suavidade e elegância que nos cativam do início ao fim. Já a participação de Roberto Menescal, nome por trás da guitarra do single, é com certeza um destaque à parte, tendo em mente a inquestionável relevância e contribuição desse artista para grande parte da Música brasileira. Com tantos acertos acumulados, Amor Nas Estrelas torna-se, então, uma dádiva de fim de ano – e ouvir essa obra em primeira mão é um privilégio que agradeço aqui, agora, publicamente e de coração. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Say It de SASAMI. Imagem quadrada com fundo cinza. No centro está a cabeça de SASAMI num corpo de uma serpente com oito braços semelhantes às pinças de um escorpião. O cabelo de SASAMI é preto e esvoaça pelo vento. Seus olhos são semelhantes ao de uma cobra e delineados por uma maquiagem preta forte. Seu rosto está pintado de branco e sua língua é separada no meio como a de uma cobra. Na parte superior direita estão símbolos japoneses em cor prateada, quase reflexivos.
Say It se distancia da sonoridade indie rock do álbum de estreia homônimo de SASAMI, progredindo às distorções agonizantes do metal (Foto: Domino Recording Co Ltd)

SASAMI – Say It

Sinto que, quando ouço a música, visualizo uma hot femme com um lança-chamas místico envolto por chamas azuis emocionais, dançando sozinha em uma discoteca industrial no espaço sideral”, é a definição de Sasami Ashworth (a.k.a. SASAMI) sobre Say It, um hino furiosamente dançante que dá sequência às prévias do álbum Squeeze, a ser lançado em fevereiro de 2022. E se na estreia homônima a cantora, compositora e produtora norte-americana já apresentava inclinações sutis ao noise rock, as três faixas do sucessor, anteriormente compartilhadas – The Greatest, Skin a Rat e Sorry Entertainer –, mergulham de cabeça nas distorções claustrofóbicas do metal.

Ashworth se designa como uma divindade folclórica japonesa, Nure-onna, uma serpente com cabeça de mulher sedenta por sangue humano, que reage violentamente contra aqueles que a incomodam. Cresce a atmosfera industrial da percussão estourada sobre a base de uma guitarra suja, construindo uma fúria apocalíptica intensificada por seus vocais sussurrados. “Não quero agonizar, apenas diga”, efervesce Ashworth que proclama uma raiva abismal justa diante da incomunicabilidade de uma outra pessoa. Ela grita, ela quebra o silêncio, ela exige respostas. – Ayra Mori


Capa do single When I’m Gone. Em frente a um fundo lilás, vemos a cantora Katy Perry ao centro. Ela é uma mulher branca, de cabelos pretos, lisos e longos, aparentando cerca de 35 anos e vestindo um vestido roxo escuro. Em frente a ela, vemos recortes retangulares em preto e branco, aparentemente imitando falhas na imagem, e preenchidos com partes do rosto e corpo de Alesso. Ele é um homem branco, de cabelos lisos penteados para trás na altura do ombro, barba rala e aparentando cerca de 30 anos. No canto direito da imagem, vemos as palavras “ALESSO” e “KATY PERRY”, um símbolo estilizado, e “WHEN I’M GONE”, dispostos na vertical na borda e dentro de uma caixa de texto, delimitada por uma linha fina. As palavras estão em preto e em caixa alta.
O videoclipe de When I’m Gone foi lançado separadamente do single e traz Katy Perry e Alesso dançando ao som da canção (Foto: 10:22PM)

Alesso e Katy Perry – When I’m Gone

Em uma publicação no Twitter, Katy Perry prometeu dar tudo o que seus fãs queriam em sua nova canção. Com uma pegada eletrônica e dançante, se a cantora cumpriu com o ‘tudo’ ou não, ela certamente garantiu a trilha sonora para uma noite animada. O single, intitulado When I’m Gone, é uma parceria com Alesso e faz parte do repertório de Play, seu show em residência. Junto do DJ e produtor musical e com um videoclipe lançado duas semanas depois, a mistura entre o pop e o EDM do single faz Katy Perry se entregar – com direito a coreografia, troca de figurinos e estética futurista – e entregar uma faixa eletrizante e divertida. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single I hate u, de SZA. Na imagem, vemos o que seria a tela de um celular, na qual SZA enviou uma mensagem a alguém, com os dizeres: I hate u. Na parte superior central, vemos o que seria uma foto de perfil de SZA, tirada em frente ao espelho. Ela segura o celular branco com a mão esquerda. SZA é uma mulher negra, e possui cabelos lisos volumosos, de cor preta. Abaixo de sua foto, está escrito Today 8:06 AM. Na parte inferior direita está o selo de controle parental em inglês, escrito Parental Advisory Explicit Content.
Lançado em 3 de dezembro de 2021, I Hate U é a primeira parte dos lançamentos que SZA pretende divulgar; o clipe da canção é estrelado por LaKeith Stanfield (Foto: Top Dawg Entertainment/RCA Records)

SZA – I Hate U

Aparentemente, SZA está com raiva de alguém. Aos 32 anos de idade, Solána Imani Rowe, conhecida pelo seu nome artístico, figura no topo das paradas desde sua estreia com Z (2014), seguido pelo aclamado CTRL (2017). Depois de algumas participações especiais em álbuns de colegas – além de possuir uma canção na trilha sonora de Querido Evan Hansen (2021) –, SZA surge com a música I Hate U, single inédito lançado em 3 de dezembro de 2021. 

I Hate U analisa as dificuldades de um término, através de passagens musicais relativamente obscuras. Mas nada soa sombrio – é quase como um desabafo. As afirmações contraditórias (“Eu me sinto tão comum, triste, quando você está perto de mim/Trate-me como veludo cotelê, me desgaste”) mostram a complexidade da voz narrativa – não sabemos ao certo se essa é uma canção totalmente autobiográfica ou apenas uma colcha de retalhos de diversos momentos, vividos ou não por SZA – em entender sua própria condição dentro do relacionamento. A cantora utiliza uma cadência de rap que põe em evidência um fluxo de consciência, novamente acenando para a dificuldade de seus pensamentos. A canção é uma viagem sentimental, e às vezes soa brutalmente sincera. – Bruno Andrade


Capa do single Heat Lightning de Mitski. Fotografia preto e branco quadrada do rosto de Mitski. Seu rosto está inclinado para cima, voltado para a direita. Do rosto dela sai quatro linhas brancas irregulares semelhantes a relâmpagos. Na parte superior pode-se ver um retângulo sólido na cor vermelha, que vai da esquerda até aproximadamente o centro.
“E não há nada que eu possa fazer/Nada a mais que eu possa mudar/Então eu desisto por você/Espero que esteja tudo bem” (Foto: Dead Oceans)

Mitski – Heat Lightning

Assistimos o retorno de Mitski se debatendo num teatro vazio, vimos toda uma floresta queimar no pulsar nostálgico de sintetizadores eletrônicos e, agora, testemunhamos sua rendição aos relâmpagos das 4 horas. Terceiro single de Laurell Hell, Heat Lightning sustenta a alta expectativa sobre o aguardado sexto álbum. A cada novo lançamento fica mais declarado que o sucessor de Be The Cowboy tem tudo para ser um dos maiores registros de 2022 – assim como seu antecessor em 2018.

Co-escrito com Dan Wilson, a composição de Heat Lightning é um cântico à madrugada. Da insônia, os sentimentos afloram-se, junto da culpa. Aqui, Mitski encontra a maneira de se redimir dessas angústias, flutuando pela instrumentação crepuscular da faixa: “Eu precisava de canções de amor sobre relacionamentos reais que não são lutas de poder a serem vencidas ou perdidas. Eu precisava de músicas que pudessem me ajudar a perdoar os outros e a mim mesmo. Eu cometo erros o tempo todo. Não quero colocar uma fachada de que sou um modelo, mas também não sou uma pessoa ruim. Eu precisava criar esse espaço, principalmente para mim”. – Ayra Mori


Capa do single anaconda. Nela há sete mulheres com roupas idênticas e estampadas com pele de cobra. Os olhos foram editados para que ficassem completamente brancos. O fundo é um local fechado. Os tons da imagem variam em verde escuro e preto.
Já diria Nicki Minaj: “My anaconda don’t” (Foto: Universal Music)

Luísa Sonza e Mariah Angeliq – ANACONDA *o* ~~~

Luísa Sonza e seu Doce 22 apareceram em inúmeras – mas inúmeras mesmo – listas de melhores álbuns de 2021. Não à toa, afinal o disco desnuda a montanha-russa que é a compositora. A produção ainda trouxe uma novidade para o cenário fonográfico brasileiro. Ao invés de preparar o terreno com singles e depois lançar o álbum completo, Luísa (gênia!) optou por liberar o álbum com algumas faixas a menos, para serem lançadas mês a mês e ainda render muito açúcar nesse doce.

A faixa da vez foi ANACONDA *o* ~~~. A música, que conta com a participação da norte-americana Mariah Angeliq, foi composta na mesma época que Sonza escreveu Braba. Após um período de maturação, a letra provocativa ganhou espaço na revolução de sentimentos e palavras da cantora. Um dia depois do lançamento de ANACONDA *o* ~~~, foi disponibilizado um videoclipe da mesma no YouTube. – Ana Júlia Trevisan


Clipes

Cena do videoclipe da música Woman. A imagem mostra Doja Cat, uma mulher negra de cabelo preto preso, vestindo uma roupa de raízes que cobre parte do seu corpo, além de brincos grandes, compridos e brilhantes, e uma espécie de chifre de jóias preso à sua cabeça. Ela se encontra iluminada por uma luz azul em um ambiente escuro.
Woman é o quarto videoclipe do disco Planet Her (Foto: Kemosabe Records/RCA Records)

Doja Cat – Woman

Somando 8 indicações ao Grammy 2022 para o aclamado terceiro disco de sua carreira, Planet Her, a cantora e rapper Doja Cat volta para reivindicar seu trono no videoclipe da faixa de abertura do álbum lançado em junho. Depois de 6 meses de espera, Woman, um dos maiores hits do disco, finalmente recebeu merecidamente o seu acompanhamento visual, que traz visuais arrojados para a canção que celebra a feminilidade. 

Reunindo referências afrofuturistas com um toque do Egito Antigo, o clipe abre com um clima seco e escaldante, com direito a cores quentes, luzes alaranjadas e areia. Mas logo na metade, a chegada do rap também marca a chegada da cor azul, da água, e de tons mais escuros. O clipe incorpora bem seus figurinos criativos envolvendo as tranças de Doja, e até raízes de árvores, além da narrativa enigmática, amargada por um discreto mas inconveniente product placement da Beats. – João Batista Signorelli


Cena do clipe River, de Joni Mitchell. Na ilustração em preto e branco, há uma representação do que seria Joni Mitchell. Ela está desenhada com cabelos longos de cor branca e cinza, e veste uma blusa de cor preta. Sua pele é de cor branca, seus olhos e boca estão pintados de cinza. O fundo da imagem é de cor cinza.
O clipe especial de River foi lançado dois dias antes do Natal, como comemoração dos 50 anos de lançamento do disco Blue, de Joni Mitchell (Foto: Warner Records)

Joni Mitchell – River

Em 2021, o disco Blue, de Joni Mitchell – cantora oito vezes vencedora do Grammy –, completou 50 anos de existência. Não é exagero afirmar que Blue é um dos álbuns mais marcantes dos anos 1970, e certamente um dos maiores de todos os tempos. Como comemoração ao meio século de vida, a música River ganhou um clipe especial, lançado dois dias antes do Natal. O videoclipe é composto por animações em preto e branco, com passagens que lembram uma tinta em aquarela, que começa a ganhar cor conforme o vídeo se aproxima do fim.

No comunicado que acompanhou o lançamento do single – reproduzido ao final do clipe também –, Mitchell escreveu: “River expressa arrependimento pelo fim de um relacionamento… mas também é sobre estar sozinho na época de Natal. Uma canção de Natal para as pessoas que estão sozinhas no Natal! Precisamos de uma música como essa”. Embora River tenha sido interpretada como uma canção de Natal moderna, retrata, também, o término de um relacionamento, na forma mais singela e íntima possível, de modo que somente Joni Mitchell poderia ter feito. – Bruno Andrade


Imagem do clipe Male Fantasy de Billie Eilish que mostra a cantora sentada em uma poltrona. O ambiente é mal iluminado. Ela é uma mulher branca de cabelos loiros curtos, veste um comprido moletom cinza e meias altas da mesma cor, está sentada em uma poltrona marrom e sua expressão é vazia, encarando o nada. O fundo mostra a parede de uma casa e uma janela com cortinas bege clara.
Em Male Fantasy, Billie Eilish sofre tanto por um coração partido quanto por tentar superar uma existência definida pelo desejo sexual dos homens (Foto: Darkroom/Interscope Records)

Billie Eilish – Male Fantasy

Ainda bem que Billie Eilish descobriu outra face da sua arte e, novamente, dirigiu o clipe de Male Fantasy. É incrível que ela viva suas letras, principalmente uma tão melancólica quanto essa, o que deixa a letra em uníssono com a performance desde o primeiro verso. Billie está presa sob o estereótipo social de que mulheres devem satisfazer as fantasias dos homens. 

E esse é um lugar de pura solidão onde qualquer meio de se distrair também reafirma a opressão: Sozinha em casa, tentando não comer/Me distrair com pornografia. Cada canto da casa em que ela senta para refletir seu sofrimento simboliza os becos sem saída que a nossa mente encontra ao tentar escapar das exigências masculinas que alcançam qualquer pedacinho das mulheres. Não há saída. Há apenas a tristeza de existir dessa forma. Nathália Mendes


Capa do álbum Solar Power, da cantora Lorde. Ela é uma mulher branca e veste uma camiseta de manga longa de cor amarela. Na fotografia, é possível ver o céu ao fundo, enquanto Lorde corre pela praia. Na parte superior, pode-se ler Solar Power, escrito em fonte de cor amarela.
Precisamos do líder de um novo regime (Foto: Universal Music New Zealand Limited)

Lorde – Leader of a New Regime

California? Secrets from a Girl? The Path? Nada disso! De surpresa, Lorde lançou o curto videoclipe (dirigido pela própria ao lado de Joel Kefali) de Leader of a New Regime, espécie de interlúdio que compõe seu Solar Power, um dos discos mais divisivos de 2021. Não havia maneira melhor de fechar o ano senão presenteando os fãs com imagens luxuosas e contemplativas, à beira-mar.

Na letra, Ella sussurra: “Ninguém, ninguém mesmo, vai ser líder de um novo regime?/Liberte os guardiões do cenário de esgotamento psicológico”. Como o terceiro trabalho de estúdio provou, a figura de Messias divino não cabe mais à Lorde de hoje em dia, mas ela continua sua jornada introspectiva de transformar poesia em melodia. – Vitor Evangelista


Performances

Capa do single Gadinho de Faz Tempo - A COLORS SHOW. Fotografia quadrada, com fundo laranja. A cantora MC Dricka ocupa quase toda a imagem. Ela é uma mulher negra, de maquiagem, cabelo cacheado, blusa preta, jaqueta azul-escura, colares dourados e olha para frente com uma expressão séria. No canto inferior esquerdo, observamos um quadrado branco, onde é possível ler Colors Studios em letras pretas.
Que a Música brasileira cresça cada vez mais! (Foto: COLORSxSTUDIOS)

MC Dricka – Gadinho de Faz Tempo – A COLORS SHOW

O último mês do ano também é tempo de conquistas, e uma prova disso é que MC Dricka se consagrou como a primeira funkeira a participar do projeto internacional de Música intitulado COLORS. Para sua apresentação na plataforma musical que divulga talentos e novos artistas de todo o globo, a dona do EP Acompanha resolveu cantar Gadinho de Faz Tempo, single que aborda a inutilidade do sofrimento durante términos de relações – ou, como canta a própria Dricka, “sofrer é coisa de momento”.        

Gravada em estúdio minimalista, de fundo alaranjado, a performance da MC, como era de se esperar, dá destaque total à canção que é apresentada. E não resta dúvida de que ver a sétima personalidade brasileira a ocupar esse espaço é motivo de muita esperança para as Artes nacionais, que merecem atingir o mundo inteiro. No fim, gostando ou não, esta acaba sendo mais uma das inúmeras provas de que o funk brasileiro toma proporções cada vez mais globais – e, por que não, de respeito. – Eduardo Rota Hilário             


Foto da performance de Arooj Aftab no Tiny Desk. Fotografia quadrada com fundo marrom claro. Nela, está Arooj Aftab cantando em frente a um microfone retangular cinza, posicionado sobre um pedestal preto. Ela é uma mulher sul-asiática em seus 36 anos, com cabelo castanho escuro ondulado na altura dos ombros e virado para o lado. Ela veste uma blusa preta de gola alta, um blazer framboesa por cima e uma corrente dourada. Ela está de olhos fechados e seu braço da frente está dobrado. Atrás dela, ao lado direito, está a cabeça careca de um baixista com headphones preto. Só é possível ver a cabeça do baixista e parte de seu torso. Ele veste uma blusa preta.
Estreando no Tiny Desk, Arooj Aftab foi indicada a duas categorias no Grammy 2022, incluindo a de Artista Revelação (Foto: NPR)

Arooj Aftab no Tiny Desk

Dentro das ruínas de um antigo convento no Brooklyn, a voz de Arooj Aftab ecoa como um choro doloroso. A performance conta com a seleção de três canções que integram Vulture Prince, último álbum da paquistanesa radicada em Nova York – listado como um dos melhores do ano de 2021. A voz da musicista, sua banda e, claro, uma mesinha, são suficientes no cenário intimista criado para uma das mais sublimes apresentações do Tiny Desk.

O dedilhar das cordas inauguram Suroor, sem jamais descentralizar os vocais derramados de Aftab. Acompanham-na a harpa celta de Maeve Gilchrist, o violão clássico de Gyan Riley, o violino de Darian Donovan Thomas e Shahzad Ismaily no baixo e sintetizador. Em sequência, Mohabbat se redireciona do groove melancólico anterior, explorando a dor da separação que arde lentamente sobre a delicadeza dos instrumentos: “Essa tristeza se iguala a toda tristeza do mundo”, canta  em urdu.

Aftab conclui sua performance com maestria, entrelaçando a nostalgia tradicional do ghazal às feridas contemporâneas de uma nova geração como uma prece. Saans Lo é sua pungente rendição final. Sua voz ressoa mesmo após os últimos minutos da canção, quando a tela já está preta, em silêncio. Cresce uma solidão estranhamente reconfortante. – Ayra Mori


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