Tudo Bem no Natal que Vem: filme da Netflix vai do riso às lágrimas

Pôster promocional do filme Tudo Bem no Natal que Vem. Nela os personagens se encontram lado a lado, com o protagonista Jorge, um homem branco, cabelos escuros, roupa azul e gorro de papai noel, está sentado no centro, com luzes pisca-pisca em volta de seu corpo. De um lado de Jorge temos Laura, mulher branca, de cabelos escuros e curtos, e Aninha, menina branca, cabelos castanhos e longos. Do outro lado Márcia, mulher branca, cabelos longos e loiros, e Léo, homem branco, cabelos curtos e escuros. Todos vestindo roupas em tons azuis, com o fundo verde.
Tudo Bem no Natal que vem é o primeiro filme de Natal brasileiro da Netflix (Foto: Reprodução)

Letícia Depiro

Quando Jorge, personagem de Leandro Hassum, acorda no dia 24 de dezembro de 2010, tudo parece errado para ele, que se levanta e passa o dia resolvendo todas as pendências para a festa de Natal daquela noite, enfrentando calor, trânsito e lugares lotados. Depois de uma introdução em que o protagonista expõe toda sua complicada relação com a festa, que coincide com seu aniversário, o filme faz um bom trabalho em apresentar o conflito entre Jorge, a data e as relações familiares que o permeiam. Tudo Bem no Natal Que Vem é um filme que mistura todos os clichês natalinos com a típica comemoração brasileira.

O filme é uma narrativa cíclica dos natais de Jorge e sua família através do tempo, todos os anos ele acorda no dia 24 de dezembro sem se lembrar de nenhum outro dia do ano, vivendo em sequência seu próprio pesadelo natalino. O cinema brasileiro é muito conhecido por suas comédias, como Minha Mãe é uma Peça e Se Eu Fosse Você, e Tudo Bem no Natal que Vem, dirigido por Roberto Santucci, se coloca como mais um desses bons filmes nacionais. Com um tom leve e divertido ao longo de todo o longa, nos fazendo rir das peripécias do protagonista e nos envolvendo com seus dramas e aprendizados pessoais.

Imagem do filme Tudo Bem no Natal que Vem. Nela vemos 8 personagens, todos brancos, reunidos na sala de uma casa, com paredes de madeira com alguns quadros pendurados e uma árvore de Natal no canto esquerdo.
Jorge se vê preso num ciclo de seu maior pesadelo: os Natais (Foto: Reprodução)

Durante a narrativa, nós acompanhamos Jorge através de um único dia do ano que se repete em saltos temporais, descobrindo junto com ele todas as mudanças de sua vida. Essa fórmula é muito conhecida de produções como Click, protagonizada por Adam Sandler e Feitiço do Tempo. Utilizando de todas as características da celebração do Natal no Brasil e, fugindo dos clichês hollywoodianos, o roteiro de Paulo Cursino nos apresenta duas versões de um mesmo personagem que, todo dia 24 de dezembro, é obrigado a viver as consequências de todos os atos de seu alter ego. 

Jorge é o que podemos chamar de o verdadeiro Grinch. Desde criança ele desenvolve uma antipatia pelo Natal que tira dele a única data que podemos chamar de nossa: o aniversário, tendo que dividi-la com a maior celebração do mundo. Logo que isso é apresentado, fica claro a principal falha que move o personagem. Ele é um cara comum, com uma vida comum, numa família comum que não apresenta nada de especial, é apenas mais um na multidão.

No decorrer de Tudo Bem no Natal que Vem vamos entendendo o universo do protagonista de forma sútil. Em um dos Natais, descobrimos que numa tentativa de fugir da mesmice de sua vida, Jorge se envolve num relacionamento extraconjugal com Márcia (Danielle Winits). O seu “eu” alheio a todos os acontecimentos dos últimos 365 dias, que tem como última lembrança o Natal anterior, ainda mantém fresco o amor pela sua família e busca retomar o controle de sua vida através dessa única janela temporal.

Imagem do filme Tudo Bem no Natal que Vem. Nela vemos os personagens Jorge e Márcia, ambos brancos, sentados em um sofá na sala de uma casa. Jorge é moreno, está com metade do bigode e blusa listrada e preto e branco, olhando para frente de modo sério. Márcia, loira, está sentada ao lado de Jorge, sorrindo para um aparelho celular, vestida com uma lingerie vermelha com tema natalino e tiara com chifres.
No dia 24 de dezembro, Jorge precisa enfrentar as consequências de seu alter ego (Foto: Reprodução)

Com uma mulher, Laura (Elisa Pinheiro), entusiasta da data, toda a família é levada a comemorar ano após ano da maneira mais tradicional possível. O filme usa e abusa das tradições e piadas de fim de ano, da famosa brincadeira de amigo secreto à piada do pavê que todos conhecemos, mas dentre todos esses detalhes que constroem o modo brasileiro de celebrar a data, será que ainda sentimos o verdadeiro significado do Natal? 

Um filme que nos prometia fazer rir, também nos faz derramar lágrimas ao acompanhar todo o drama vivido por Jorge. Ele não acompanha o crescimento dos filhos e nem se dá conta da verdadeira importância da família quando perde todos os seus grandes momentos. Tudo Bem no Natal que Vem que resgata o sentido da celebração: estar perto das pessoas que amamos, repensar nossas atitudes e fazer planos para sermos melhores e mais felizes no próximo ano, a magia do Natal está presente em pequenos momentos da trama.

E aqui descobrimos que Leandro Hassum, além de saber nos fazer rir, também prova que pode nos emocionar e nos fazer chorar. Tudo Bem no Natal que Vem é mais do que apenas mais uma comédia de fim de ano, ele nos leva a refletir sobre nossas escolhas e nosso modo de ver a vida.

Imagem do filme Tudo Bem no Natal que Vem. Nela vemos uma família com 10 pessoas reunidas em volta de uma mesa de jantar onde está sendo servido a ceia de Natal. Tio Vitor, um homem branco, meia idade, grisalho, vestindo um terno cinza, está segurando o peru acima da cabeça enquanto os outros personagens o olham de forma espantada e Laura, mulher branca, morena, com blusa amarela, se inclina para ele de forma espantada.
Tudo Bem no Natal que Vem nos leva a refletir sobre nossas escolhas (Foto: Reprodução)

Apesar da excelente representação do clima brasileiro, Tudo Bem no Natal que Vem apresenta algumas inconstâncias em relação a ambientação, como o fato de Aninha, filha de Jorge, aparecer usando pijamas de inverno em pleno verão carioca, e a forte fotografia amarelada que acentua de forma exagerada o calor já tão conhecido da cidade. Mas, apesar de alguns exageros de Hassum e da direção, o longa entrega um bom entretenimento com uma linda mensagem final, algo que não pode faltar em longas natalinos.

Tudo Bem no Natal que Vem é um filme para toda a família, que traz originalidade em um tema extremamente clichê, provocando uma importante identificação para o povo brasileiro, se desenvolvendo de forma leve, sutil e emocionante como o gênero pede. Foi uma aposta inteligente, com elenco de tirar o fôlego que trouxe um pouco da magia nacional para o fim de ano e ganhou destaque, ficando no top 10 não apenas no Brasil, mas em países como Portugal, Alemanha e Suíça. O sucesso internacional do filme é motivo de comemoração. Apesar do preconceito que o cinema brasileiro enfrenta dentro do próprio país, por falta de investimento e visibilidade, ter um produto tão cultural sendo reconhecido dentro da plataforma é  uma conquista gigante para nossa indústria cinematográfica.

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