Quando a Netflix lançou A Maldição da Residência Hill em 2018, Shirley Jackson voltou aos trendings 53 anos após sua morte por insuficiência cardíaca. A grandiosa série de Mike Flanagan adaptouo romance mais infame da carreira de Jackson, A Assombração da Casa da Colina, escrito em 1959 e, hoje, considerado uma das maiores obras de terror do século XX. Em 2020, foi a vez da própria autora ganhar uma adaptação de sua vida conturbada, dessa vez pelas mãos habilidosas de Josephine Decker e com produção executiva de Martin Scorsese. Shirley, que conta com o protagonismo de Elizabeth Moss, é uma biografia desconfortável de uma mulher assustadora – no melhor dos sentidos.
O Som do Silêncio, da Amazon Prime Video, prega uma inteligência emocional que todos gostaríamos de ter. O longa independente conta a história de um baterista de heavy metal que descobre no meio de uma turnê, que está ficando surdo. Esta premissa já nos faz esperar por um clichê de superação da deficiência, ou de obsessão artística, como em Cisne Negro. Mas, o que torna as coisas interessantes é a oposição do protagonista à própria adaptação.
Ser uma amante de musicais é um caminho perigoso que proporciona altos estratosféricos e quedas dolorosas. Não é todo dia que temos a oportunidade de aproveitar um Mamma Mia (2008) e por vezes nos deparamos com alguns Cats (2019) pela frente. E por mais que A Festa de Formatura (The Prom) tivesse absolutamente tudo para entregar uma história recheada de carisma, atos de dança deslumbrantes e atuações dignas de Oscar, o filme se torna apenas mais um entre as inúmeras produções de Ryan Murphy. Nem a pior, nem a melhor, apenas a mais esquecível.
Nós damos valor demais ao Globo de Ouro. Esse ano, o grupo votante lamenta a morte de seu antigo presidente, Lorenzo Soria, ao mesmo tempo que enfrenta acusações de fraude e uma investigação que revelou o óbvio: a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) não tem diversidade alguma. Reportagens no Los Angeles Times e no The New York Times estouraram poucos dias antes da 78ª edição do prêmio. Além de descobrirem que a HFPA não tem membros negros, foi escancarado um lobby poderosíssimo ao redor de Emily em Paris, uma das questionáveis indicadas ao Globo de Série de Comédia ou Musical.
É de suma importância relembrar que o GG não é prévia do Oscar de maneira nenhuma. Em questões de marketing e campanha, uma vitória no Globo alavanca sua visibilidade, mas o corpo votante da Academia é composto por mais de 7 mil membros, todos trabalhadores da indústria. A HFPA, por outro lado, é formada por 87 jornalistas, residentes de Los Angeles e que não têm ligação com o Oscar.
Todavia, o que acontece é o Globo de Ouro tentando ditar tendências na temporada. Às vezes, as coisas dão ‘certo’: Green Book e Bohemian Rhapsody começaram ganhando aqui e percorreram solenes seu caminho até as estatuetas douradas e carecas. Ano passado, o amor por 1917 e por Sam Mendes caiu por terra quando Parasita e Bong Joon-ho saíram com os louros.
George Clooney nos familiarizou ainda mais com o seu trabalho de diretor depois de seu último filme. Produção da Netflix, O Céu da Meia Noite usa a ficção para falar das relações humanas, em especial, a história de um pai e sua filha. Apesar de semelhanças com Interstellar (2014), o longa é uma adaptação do romance Good Morning, Midnight, de Lily Brooks-Dalton. Além da direção, Clooney se coloca no centro da história, e com um visual diferente dos seus galãs de meia idade.
O mundo dos curtas vem crescendo ao longo dos últimos anos. Com uma premissa rápida e certeira, esse mercado tem ganhado um público cada vez mais diverso. E é nessa onda que Se Algo Acontecer… Te Amo (If Anything Happens I Love You), nova aposta da Netflix, ganhou grande visibilidade. Lançado no fim de 2020, o curta-metragem alcançou rapidamente o top 10 da plataforma e se tornou assunto nas redes sociais, como Twitter e TikTok. Além disso, entrou na lista de filmes pré-selecionados para concorrer ao Oscarde Melhor Curta-Metragem de Animação, garantindo a presença da plataforma de streaming na disputa.O filme encantou todos ao redor do mundo, não apenas pelo enredo, mas também pelo cuidado da produção.
“Eu estou falando de mulheres violentas, perversas. Mulheres sinistras. Não me diga que você não conhece algumas”. Com dificuldades de se enturmar por conta de sua timidez, a jovem Gillian Flynn encontrou uma fuga na leitura e na escrita, o que a levou a cursar Jornalismo na Universidade do Kansas (KU). Uma vez formada, ela planejava se tornar repórter policial, no entanto, percebeu que era desajeitada para o ramo criminal por querer que toda história tivesse um começo, meio e fim. Assim, começou a trabalhar na Entertainment Weekly, escrevendo críticas de cinema e TV por dez anos.
Em 2017, o mundo hollywoodiano virou do avesso. Denúncias de assédio sexual por parte de funcionários e funcionárias do meio artístico começaram a vir à tona para o grande público. A avalanche se desencadeou com as acusações sobre o magnata Harvey Weinstein, dono da grande produtora Miramax, e hoje condenado a 23 anos de prisão. Com isso, outros escândalos emergiram para a superfície na crescente onda do movimento #MeToo, que acumula queixas de superiores até fora do meio cinematográfico.
Não ia demorar muito para que esses protestos tomassem forma nas telonas. O Escândalo, lançado em 2019, foi um dos primeiros a cumprir a tarefa, ao tratar sobre casos de assédio causados por Roger Ailes, diretor da Fox News. Apesar de parecer promissor, o resultado acabou por ser uma prova nítida de que boas intenções não fazem um bom filme, muito menos justiça, se as pessoas erradas estiverem por trás das câmeras. Nesse caso, A Assistente merece muito mais levar os créditos do pioneirismo.
O recente documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem foi aclamado quase por unanimidade. A produção original da Netflix exibe o evento de estreia do mais recente álbum do rapper Emicida, AmarElo. O artista reúne todas as pessoas que, durante muito tempo, não tiveram a oportunidade de sequer pisar no Theatro Municipal, principal símbolo da cultura erudita do país. Emicida nos revela o porquê de suas letras, mensagens, parcerias e missões. Mais do que isso, o show traz um profundo sentimento de esperança aos seus espectadores. Ao mesmo tempo que evidencia os diferentes males que assolam nosso país, também constrói um forte apelo à esperança de tentar mudar esse cenário.
Nem todos têm a mesma sorte de Maísa, que começou o ano sendo protagonista de seu primeiro filme na tão sonhada “firma” Netflix. A adaptação do livro de Thalita Rebouças chegou ao serviço de streaming com nomes já conhecidos pelo público, como Eduardo Moscovis (Bom dia, Verônicae O Cravo e a Rosa) e Marcelo Médici (Vai que Cola e Haja Coração). Trabalhando na mesma base de Mamma Mia, Pai em Dobro saúda e aflora uma memória da criança interior adormecida.