Cineclube Persona – Tudo Sobre os Indicados ao Oscar 2021

Imagem retangular com fundo verde. À esquerda vemos quatros molduras. Na parte superior, a primeira moldura é retangular de borda preta e tem a foto de Chadwick Boseman e Viola Davis. A segunda moldura é redonda de borda preta e tem a foto de Riz Ahmed. Já na parte inferior, a terceira moldura é quadrada de borda preta e tem a foto de Emerald Fennell e Carey Mulligan. A última moldura é quadrada de borda preta e tem a foto do ator de Agente Duplo. À direita, na parte superior, lê-se em branco "cineclube", abaixo lê-se em verde "persona". Na parte central lê-se em preto "os indicados ao oscar 2021". Na parte inferior vemos a logo do Persona com a íris do olho colorida de verde.
Alguns destaques do Oscar 2021: as grandiosas presenças de Chadwick Boseman, Viola Davis e Riz Ahmed; as lendárias Emerald Fennell e Carey Mulligan; e o adorável Sergio Chamy na única obra latino-americana da seleção (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Raquel Dutra e Vitor Evangelista)

A 93ª edição do Oscar é única por uma série de motivos. Começando pelos atrasos e realocação da data para dois meses depois do comum, a Academia teve de lidar com cinemas fechados, lançamentos adiados e o primeiro ano desde 2009 sem um filme da Marvel dominando o verão americano. Mas se engana quem pensa que, por conta disso, a lista de indicações seja mais fraca que a de anos anteriores.

Na verdade, a safra de 2020, e dos primeiros meses de 2021, ostenta qualidade, irreverência e debate temas que o cinema estadunidense não colocaria em pauta num ano cheio de diretores consolidados e franquias continuadas. 72 mulheres foram nomeadas ao Oscar 2021. Este ano, duas concorrem em Direção, além de dois filmes dirigidos por mulheres disputarem Melhor Filme.

Quando o assunto é diversidade, nove atores não-brancos pipocaram nas categorias principais, quebrando uma porção de recordes. Steven Yeun é o primeiro de origem asiática, Riz Ahmed é o primeiro mulçumano e com origem paquistanesa, Chadwick Boseman é o primeiro não-branco a receber uma indicação póstuma e Yun-Jung Youn é a primeira sul-coreana nomeada na Academia, só pra citar algumas das barreiras quebradas.

No campo dos Curtas, categorias comumente ignoradas, as narrativas fora do eixo norte-americano se entrelaçam com abordagens e pontiagudas. Os Animados colocam em xeque os limites da liberdade e a dor da saudade, enquanto os Documentários escancaram injustiças sociais e o racismo, assuntos que guiaram a Arte em 2020. Os Curtas Live Action se concentram entre os EUA e o conflito Israel e Palestina, mostrando ao mundo suas ricas produções cinematográficas.

Passando para os Filmes de Animação, a família e os imprevistos da vida comandam os cinco concorrentes: Shaun, O Carneiro lida com o objeto estranho, Dois Irmãos seca as lágrimas para seguir em frente e A Caminho da Lua viaja pelas fases do luto. O badalado Wolfwalkers discute amizade e o significado de ‘família escolhida’, enquanto o potencial vencedor, Soul, dá o toque da Pixar à crise de meia-idade, tudo regado a jazz e à Tina Fey.

Os Filmes Internacionais de 2021 desafogam o núcleo batido da Europa que normalmente compõe a categoria, dando destaque a um documentário romeno, um filme de bebedeira dinamarquês e um longa de guerra bósnio. Fora da hegemonia branca, Hong Kong alcançou sua primeira indicação em meio ao conflito que trava com a China, atravessando censuras e boicotes. O mesmo é com a Tunísia, que estreia na seleção através do trabalho incansável de uma cineasta, o que criou outro marco: pela primeira vez desde 2011, duas diretoras disputam o troféu. 

Já em Melhor Documentário, o avanço feminino segue do ano passado para cá, e cada um dos 5 filmes tem pelo menos uma mulher creditada à indicação. A categoria denuncia problemas sociais que fogem do eixo europeu-estadunidense, destacando questões ambientais globais em uma ponta, e reconhecendo a única obra latino-americana indicada em outra. No meio, estão as histórias que tocam em temas da Terra do Tio Sam, que dessa vez, têm o tato de minorias, com narrativas negras e femininas, e o protagonismo de pessoas com deficiência, tanto à frente quanto por trás das câmeras.

Abraçando o Cinema de todo o mundo, ou pelo menos começando a fazer isso, a Academia está fazendo valer as mudanças que vem implementando ao longo dos últimos anos. O curta Feeling Through escalou o primeiro ator surdo-cego da história e a ficção O Som do Silêncio tratou de temas que representam a comunidade surda, com direito à escalação de Paul Raci, filho de pais surdos e que luta pela causa há anos, além de um elenco de apoio formado por pessoas surdas.

A Voz Suprema do Blues, o filme que coloca Viola Davis na pele da mãe do blues, indicou Ann Roth, de 89 anos, em Melhor Figurino, no páreo para vencer sua segunda estatueta. No departamento de Cabelo e Maquiagem, o filme nomeou as duas primeiras mulheres negras na história da categoria, Jamika Wilson e Mia Neal. A parte boa? As três são favoritas nas respectivas disputas.

Além disso, o incomparável Chadwick Boseman é o primeiro negro a receber indicação póstuma (e provavelmente será o primeiro a vencer deste modo). Desempatando com Octavia Spencer, Viola Davis quebrou o recorde de indicações para uma atriz negra, apenas quatro, e expressou sua opinião sobre: “Se eu ter quatro indicações em 2021 faz de mim a atriz negra mais indicada da história, isso mostra quão pouco material esteve disponível para os artistas não-brancos.”

Se o assunto é privilégio, Os 7 de Chicago grita alto, mas diz pouco, e é a figurinha carimbada dos americanos sendo honrados por outros americanos. Mank, na mesma moeda, representa a máxima da Terra das Estrelas: é feito por e para homens caucasianos, e de praxe, conta uma embebida história da elite hollywoodiana. O lado bom é que o drama de época foi ignorado em quase tudo, dando espaço para o prêmio acabar em mãos merecedoras.

A casa dos dois deslocados é a Netflix, que angariando um recorde de 35 indicações, ainda não conseguiu emplacar um vencedor de Melhor Filme. A caminhada começou com o belíssimo Roma em 2019, mas deu tudo errado com a coroação de Green Book. Ano passado, nem História de um Casamento nem O Irlandês tinham fôlego para sequer chegar perto do favoritismo e da qualidade de Parasita. Depois de perder o PGA, o WGA e o DGA, ganhando apenas um controverso SAG de Elenco, Os 7 de Chicago ainda pode surpreender em 25 de abril, mas as chances não são animadoras.

Neste ano, a corrida de Melhor Filme, com apenas oito indicados, fez notar ausências doídas. Apesar da questionável condução diretiva de A Voz Suprema do Blues, o longa merecia ocupar aquela nona vaga. O mesmo vale para o trabalho exacerbado de Spike Lee em Destacamento Blood, ou o cuidado milimétrico que Regina King teve em Uma Noite em Miami…, os dois injustiçados de 2021.

Mas falando de quem devidamente entrou na corrida, vemos três filmes com protagonistas não-brancos (Minari, O Som do Silêncio e Judas e o Messias Negro) e dois comandados e protagonizados por mulheres (Nomadland e Bela Vingança). Completando o alto nível da categoria, Meu Pai lida com a velhice e o cuidado familiar, brindado pela atuação da carreira de Anthony Hopkins, o melhor dos vinte nomeados do ano. 

Em Roteiro Original, Emerald Fennell reina soberana nas chances de vencer por Bela Vingança, marcando a primeira vez que uma cineasta concorre à Direção por sua estreia. Em Adaptado, a protagonista do Oscar 2021 Chloé Zhao divide atenções com Florian Zeller e Christopher Hampton, por Meu Pai, e os nove roteiristas creditados por Borat 2, o vencedor do Sindicato, onde Nomadland estava inelegível.

Falando nas roteiristas favoritas, chegamos ao que há de mais interessante nos indicados a Melhor Direção. Zhao e Fennell são responsáveis por representar uma legião de cineastas que por anos tiveram seus trabalhos ignorados por Hollywood. O sexismo é refletido nas nomeações do Oscar, que em seus 93 anos de existência, se deu ao trabalho de reconhecer um total vergonhoso de sete diretoras e premiar apenas uma.

E se a Academia não tivesse tanto esmero com o ego de seus homens brancos, a categoria de Melhor Direção poderia muito bem ser formada por uma maioria feminina e não-branca. Nomes à altura da companhia de Lee Isaac Chung e da dupla recordista não faltavam, mas pelo menos, a favorita se encontra nessa exata interseção. 

Chloé Zhao é a dona deste ano, desta temporada e deste Oscar. A mulher mais indicada da história da premiação chega na noite do dia 25 de abril invicta e pronta para vencer em tudo o que tem direito, acompanhada de sua corrida impecável, que vai desde os festivais de cinema ao longo de 2020, até às premiações precursoras dos últimos meses.

A diretora, roteirista, montadora e produtora venceu os principais prêmios do Globo de Ouro, Critics Choice Awards, Sindicato dos Produtores e Diretores, BAFTA e nos Festivais de Veneza e Toronto. Só não fez história no SAG porque trabalhou com atores não-treinados, mas no mais, fortaleceu a corrida de Frances McDormand, que também é a primeira atriz indicada por produção e atuação no mesmo ano, pelo mesmo filme.

 Às vésperas de uma data histórica para o Cinema, o Persona se reúne num Cineclube Especial para comentar cada um dos 56 filmes que integram a seleção mais diversa da história do Oscar. Abaixo, estão todos organizados em ordem decrescente pelo número de indicações, e nossa Editoria e colaboradores pontuam seus méritos, as injustiças, chances e nomeações de todas as 23 categorias, condensando nossa cobertura da premiação e alinhando as expectativas para a noite do dia 25 de abril de 2021.

Cena do filme Mank. Vemos Amanda Seyfried, uma mulher branca, jovem e de cabelos loiros, olhando para fora de um carro antigo. Ela tem o cabelo curto, na altura dos ombros, e usa um chapéu branco. A imagem é em preto e branco.
Por Mank, Amanda Seyfried conseguiu sua primeira indicação ao Oscar (Foto: Netflix)

Mank (Idem, David Fincher)

Concorre em: Filme, Direção, Ator, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Design de Produção, Figurino, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original & Som 

As dez indicações de Mank ao Oscar 2021 superestimam e muito o filme de David Fincher. Entretanto, a maldição de mãos vazias que combina ‘diretor renomado’ com ‘campeão de nomeações’ e a Netflix parece não acometer o longa, já que a categoria de Design de Produção está praticamente garantida para Donald Graham Burt e Jan Pascale. Depois de vencer o Critics Choice e o BAFTA, o filme foi premiado no ADG, Art Director Guild Awards, o Sindicato dos Diretores de Arte.

E a dupla nomeação de Trent Reznor e Atticus Ross dará a eles um Oscar de Trilha Sonora Original, mas será pelo prestigiado Soul ao invés das recriações estilísticas da década de 30 que a dupla imprime em Mank. Gary Oldman aparece em Melhor Ator, roubando a vaga de candidatos mais merecedores como Delroy Lindo e Mads Mikkelsen. Amanda Seyfried, que começou como possível favorita em Atriz Coadjuvante, viu o sonho cair por terra com a esnobada no SAG e as vitórias unânimes de Yuh-Jung Youn na categoria.

David Fincher nunca ganhou um Oscar, e sua vez não chegará na cerimônia de 2021. O amplo reconhecimento nas categorias técnicas pode sugerir um favoritismo de Mank com a Academia, mas a ausência dos bastidores da criação de Cidadão Kane foi sentida em duas importantes listas, a de Montagem e Roteiro Original. Vital na corrida para vencer Melhor Filme, Montagem parece estar entre O Som do Silêncio e Os 7 de Chicago, enquanto o falecido Jack Fincher, pai do diretor, não ouviu seu nome chamado nas nomeações de Roteiro. O que vem de boa fé, considerando as mentiras que o texto de Mank dita como verdade absoluta. Espere ver o enfadonho filme preto-e-branco vencer em Design de Produção e nada mais. – Vitor Evangelista


Cena do Filme Judas e o Messias Negro. Fred Hampton, interpretado por Daniel Kaluuya, veste uma boina preta, blusa branca com casaco marrom e na sua frente há um microfone. Atrás dele e ao seu lado estão homens de óculos escuros, boinas pretas, representando integrantes dos Panteras Negras.
Judas e o Messias Negro tem um dos seus Coadjuvantes, Daniel Kaluuya, como favorito ao Oscar (Foto: HBO Max)

Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah, Shaka King)

Concorre em: Filme, 2x Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Fotografia & Canção Original

Judas e o Messias Negro narra a história de traição de William (Bill) O´Neal, que trabalha como agente infiltrado do FBI, para a delação das ações dos Panteras Negras e acompanhamento de um de seus líderes, Fred Hampton. O longa faz escolhas narrativas importantes para as atuais discussões sobre as problemáticas raciais, bem como para retrata um acontecimento que culminou na morte de Hampton, interpretado por Daniel Kaluuya.

A proposta da narrativa em contar a história sob a perspectiva do Judas, Lakeith Stanfield, faz muitas vezes com que os Panteras Negras sejam apresentados como radicais. Essa visão vai se modificando ao longo da narrativa, conforme Bill vai se infiltrando mais e mais na organização. Talvez por isso, a indicação dupla em Melhor Ator Coadjuvante, para Lakeith e Kaluuya. A imagem e postura de Hampton no longa o fazem gigante, a atuação de Kaluuya é sem dúvidas digna de um Oscar.

O filme que conta com toda a equipe de produção composta por produtores negros, concorre ao Oscar nas categorias Melhor Filme, Roteiro Original, Fotografia e Ator Coadjuvante, na qual é favorito com Daniel Kaluuya. O longa rendeu ao intérprete de Hampton os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante no Globo de Ouro, Critics Choice Awards, no Sindicato dos Atores e no BAFTA. – Ma Ferreira


A imagem é uma cena do filme Meu Pai. Na imagem, vemos o personagem Anthony, interpretado pelo ator Anthony Hopkins, sentado em uma poltrona marrom em uma sala. Anthony é um senhor de idade, branco e com cabelos grisalhos; ele veste uma camisa branca, um casaco verde-musgo e uma calça bege. Em sua mão direita, apoiada na poltrona, ele segura um controle remoto.
Anthony Hopkins se tornou o concorrente mais velho a ser indicado na categoria de Melhor Ator (Foto: Sony Classics)

Meu Pai (The Father, Florian Zeller)

Concorre em: Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Montagem & Design de Produção

Florian Zeller é um nome para ficar de olho. O escritor e diretor francês deu origem a diversas peças de teatro, entre elas, Meu Pai. Em sua adaptação para o cinema, uma tarefa por vezes arriscada, ele conseguiu entregar um retrato avassalador e doloroso de uma questão conhecida por atingir a vida de diversas famílias. A obra se centra na relação entre um pai com demência e sua filha que tenta ao máximo se adaptar às suas necessidades, interpretados pelos já vencedores do Oscar, Anthony Hopkins e Olivia Colman

Ao invés de criar um drama exagerado e pecaminoso sobre essa síndrome, Zeller nos coloca extremamente próximos do protagonista, também chamado Anthony, ao passo que entramos em sua mente sem perceber. A condução da obra prega diversas peças no espectador, mudando cenários, atores e repetindo diálogos. O resultado disso nos deixa em um estado de confusão mental, sentimento semelhante ao das pessoas que se encontram na mesma condição do personagem, que são constantemente traídos pela sua própria memória. 

Mas o baque de Meu Pai não seria tão forte sem a performance sensível de Anthony Hopkins, que assegurou sua indicação na categoria de Melhor Ator, e é o único forte concorrente a tirar a estatueta das mãos quase garantidas de Chadwick Boseman, de A Voz Suprema do Blues. E, em Melhor Roteiro Adaptado, a produção está no páreo da disputa com Nomadland, após ter levado a melhor no BAFTA. Justa e merecidamente, o longa também garantiu nomeações para Melhor Filme, Montagem, Design de Produção e Melhor Atriz Coadjuvante para Olivia Colman. – Vitória Silva


Cena do filme Minari. Nela vemos o neto e a avó na beira de um riacho. Ao lado direito da avó há uma plantação de minari, uma verdura popular na Coreia do Sul. O menino está sentado, de branco, e a avó está vestida de verde, segurando um galho acima da cabeça.
Minari está indicado em seis categorias (Foto: A24)

Minari – Em Busca da Felicidade (Minari, Lee Isaac Chung) 

Concorre em: Filme, Direção, Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro Original & Trilha Sonora Original

O semi-autobiográfico Minari está bem perto de fazer história no Oscar. O filme de Lee Isaac Chung conta a história de uma família sul-coreana, que, ao se mudar para o interior dos Estados Unidos para começar uma fazenda de agricultura, se depara com dilemas econômicos e familiares. Além da indicação em Melhor Filme, o longa também foi indicado em Melhor Ator pela performance do incrível Steven Yeun, e em Melhor Atriz Coadjuvante, que pode render uma vitória histórica para Yuh-Jung Youn, se tornando a primeira sul-coreana a vencer na categoria, a segunda asiática em 64 anos, e o primeiro ‘papel de vovó’. 

O filme também está indicado em Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Trilha Sonora Original. Se vencer Direção ou Roteiro Original, teremos a primeira dobradinha asiática e sul-coreana da história, por Parasita ter vencido no ano passado. Minari é sensível e caloroso na mesma medida que escancara o caos de uma família como qualquer outra, que enfrenta dificuldades nas relações pessoais e busca um caminho para se estabelecer economicamente, e é, sem dúvidas, um dos longas imperdíveis para se assistir dessa temporada. – Jho Brunhara


Foto do set de Nomadland. À esquerda, a atriz Frances McDormand, apoiada na porta aberta de uma van, usando uma jaqueta verde com um capuz abaixado aparecendo por cima. À direita, a diretora Chloé Zhao, usando um suéter de lã bordado. Ao fundo, um céu claro com algumas nuvens iluminando a paisagem árida com uma luz fria. Há também uma vegetação rasteira e algumas planícies fora de foco no horizonte.
Frances McDormand e Chloé Zhao nos bastidores de Nomadland, o grande favorito da noite (Foto: Searchlight Pictures)

Nomadland (Idem, Chloé Zhao)

Concorre em: Filme, Direção, Atriz, Roteiro Adaptado, Fotografia & Montagem

É difícil exagerar a importância do caminho que Nomadland trilhou nessa temporada de premiações. O terceiro longa da diretora e roteirista Chloé Zhao vem acumulando prêmios em sua estante desde sua exibição simultânea no Toronto International Film Festival e no Venice Film Festival, onde se tornou o primeiro filme da história a receber os maiores prêmios de ambos os festivais. Desde então, Chloé Zhao se tornou a pessoa mais premiada numa só temporada (ela também é roteirista, produtora e montadora do filme), e a jornada nem tão solitária de Fern (Frances McDormand) pelo Oeste americano segue forte para os principais prêmios do Oscar, indicada em seis categorias.

Após a vitória no Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos e no Globo de Ouro, Zhao é a favorita para levar a estatueta de Melhor Direção, competindo apenas com Lee Isaac Chung e o adorável Minari. Ela também segue forte em Roteiro Adaptado, onde concorre com Meu Pai, que recentemente venceu o prêmio da Academia Britânica, o BAFTA. A câmera volúvel de Joshua James Richards também segue fortíssima na categoria de Melhor Fotografia, tanto por sua capacidade de capturar as paisagens áridas quanto pela sensibilidade de registrar as personagens que as habitam.

Após sua recente vitória no BAFTA, Frances McDormand ganha momento na categoria de Melhor Atriz, apesar da forte competição com Carey Mulligan, Vanessa Kirby e Viola Davis. A estatueta de Montagem, que também agregaria aos prêmios de Zhao, permanece concorrida, sem nenhum vencedor claro. No entanto, o grande prêmio da noite está praticamente na mão de sua diretora e produtora: é amplamente esperado que Nomadland leve para sua van o Oscar de Melhor Filme. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena do filme O Som do Silêncio. A imagem é uma fotografia do ator Riz Ahmed, que interpreta Ruben. Ele é homem jovem, ascendência paquistanesa, pele marrom, olhos, barba, cabelo e bigode castanhos. Ele está sem cabeça e no seu abdômen há várias tatuagens. Ele está tocando uma bateria e olha, preocupado, para o horizonte. O fundo da imagem é preto.
Riz Ahmed interpreta Ruben que possui um duo de heavy metal com a namorada Lou (Foto: Amazon Prime Video)

O Som do Silêncio (Sound of Metal, Darius Marder)

Concorre em: Filme, Ator, Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Montagem & Som

Com os efeitos sonoros contando metade da história, O Som do Silêncio é esplêndido na sua construção e conquistou seu espaço no Oscar 2021. O filme acompanha a trajetória de Ruben, um baterista de heavy metal que descobre que está ficando surdo. O difícil papel é interpretado pelo incrível Riz Ahmed, esse que só errou em participar de Venom. O ator surpreendeu a todos e equilibrou a sua atuação na medida que a produção precisava; ele, inclusive, teve aulas de bateria. A sua performance levou Riz a ser o primeiro homem mulçumano indicado ao Oscar de Melhor Ator e possui muita chance de levar o prêmio.

O filme está indicado em outras 5 categorias, e é possível que leve a estatueta por alguma delas. O design de som te transporta para a mente do protagonista e faz o filme ser o favorito em Melhor Montagem. O montador  Mikkel E.G. Nielsen elevou essa categoria técnica em uma experiência sensorial espetacular. O filme já levou o BAFTA, Critics Choice Awards e o Satellite Award por categorias sonoras e o Gotham Independent Film Awards de Melhor Ator. 

Além de ser um belo filme pela sua produção, a história e o roteiro também são elementos para tirar o chapéu. O roteiro e a estreia da direção de Darius Marder (vencedor do DGA de Primeiro Filme) é algo bem trabalhado e não repete estereótipos de pessoas surdas retratados na Sétima Arte. Paul Raci, filho de pais surdos e defensor da luta por anos, concorre em Ator Coadjuvante. Infelizmente o longa não possui muita sorte em ganhar nas premiações em um ano com candidatos tão fortes em outras categorias como Melhor Filme e Melhor Roteiro que devem ser do incrível Nomadland. Com sua alternância em expressar os sentimentos, O Som do Silêncio é sobre histórias reais de jornadas árduas. – Ana Beatriz Rodrigues


Cena do filme Os 7 de Chicago. Nela constam quatro homens, da esquerda para a direita estão: Abbie, interpretado por Sacha Baron Cohen, é um homem branco alto de cabelo preto encaracolado em um corte curto, ele veste uma jaqueta verde por cima de uma blusa branca, e está com as mãos posicionadas nos bolsos da calça. O segundo é John, vivido pelo ator Daniel Flaherty, ele é um homem branco de cabelos castanhos claros compridos na altura do ombro, ele veste uma jaqueta marrom escura, está sentado com as mãos cruzadas no colo. Ao lado, Tom é interpretado pelo ator Eddie Redmayne, ele é um homem branco de cabelo castanho claro curto, veste um suéter verde escuro e calça jeans, está de pé e sua cabeça está cortada pela foto. Por último, Jerry Rubin, interpretado por Jeremy Strong é um homem branco de cabelos pretos encaracolados, ele possui barba e bigode pretos e utiliza uma faixa na testa, ele também veste uma camiseta listrada com uma jaqueta por cima, e está posicionado em pé com as mãos nos quadris. O cenário é formado por tons de marrom, com a parede cheia de fotos e pôsteres colados, um banco escuro encostado e uma mesa central vazia.
Os 7 de Chicago venceu o SAG de Melhor Elenco, depois de perder todos os outros grandes prêmios, como o Sindicato dos Roteiristas, o dos Diretores e o dos Produtores (Foto: Netflix)

Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7, Aaron Sorkin)

Concorre em: Filme, Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Fotografia, Montagem & Canção Original 

É certo dizer que todo ano existe um filme que se repete no Oscar. Mesmo mudando a sinopse, todo edição somos premiados com algum drama histórico liderado por homens brancos irritados ou indignados com alguma coisa. Esse ano o clichê é representado por Os 7 de Chicago (tradução do original The Trial of the Chicago 7), produção com selo Netflix dirigida por Aaron Sorkin, que inclusive ganhou o prêmio da Academia por Melhor Roteiro Adaptado por A Rede Social em 2011. Mas, apesar de ser uma escolha previsível, a história biográfica de um dos julgamentos mais ácidos dos Estados Unidos acerta e conquista pelo ritmo contagiante.

Além de ter levado Melhor Roteiro no Globo de Ouro, a obra é uma das concorrentes na disputa de Melhor Filme da Academia. A produção indicada também para Melhor Roteiro Original, possui uma trama que se passa conturbado ano de 1968, quando alguns jovens para lá de revolucionários lutavam contra a Guerra do Vietnã, narrando o inflamado julgamento que houve após um violento protesto na Convenção Nacional Democrata. Entre os atores principais estão Eddie Redmayne quase reprisando Marius Pontmercy (Os Miseráveis) e o incrível Sacha Baron Cohen, indicado como Melhor Ator Coadjuvante por sua interpretação de Abbie Hoffman.

As idas e vindas da história, que mescla a injustiça presente na corte com o desenrolar frenético do protesto, são capazes de prender o público até o fim. Mas, apesar do interessante contexto político e personagens carismáticos que compõem a obra, é fato dizer que o filme é mais fraco na categoria, a exemplo de Nomadland e Minari que com certeza merecem o prêmio. Os 7 de Chicago possui um bom histórico e uma trama cheia de intensidade, só erra em não se distanciar daqueles filmes de guerra que a gente vê por aí. – Isabella Siqueira


Imagem promocional do filme A Voz Suprema dos Blues. A imagem mostra os atores do filme em cima de um palco. Há 4 homens e 1 mulher na imagem, todos são negros e os homens usam smoking preto. Da esquerda para a direita, Michael Potts está segurando um violoncelo, Colman Domingo segura um trombone, Viola Davis veste um vestido azul com detalhes brilhantes, Chadwick Boseman segura um trompete, Glynn Turman está sentado.
O elenco do filme confirma que Chadwick, a grande aposta da noite, aprendeu a tocar trompete para interpretar Levee (Foto: Netflix)

A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom, George C. Wolfe)

Concorre em: Ator, Atriz, Design de Produção, Figurino & Cabelo e Maquiagem

Assistir A Voz Suprema do Blues é como ouvir uma melodia constante de luta. Viola Davis mais uma vez é um presente e interpreta Ma Rainey, a mãe do blues, com seu talento incrível. Com sua performance, ela revela as injustiças e o racismo vivido na indústria musical no período em que se passa a obra. Seguindo as outras premiações, a categoria de Melhor Atriz no Oscar está sendo muito mutável e não há uma certeza sobre quem levará, mas depois de vencer o Sindicato dos Atores, Viola merece. 

Outro ponto marcante no filme é a atuação de Chadwick Boseman, encerrando sua trajetória com um trabalho marcante. Ele se destaca mesmo ao lado da incrível protagonista. Ninguém pode tirar o seu prêmio de Melhor Ator e os seus diálogos na trama são uma entrega final emocionante. Além disso, o filme concorre em Design de Produção, e é favorito a levar Figurino & Cabelo e Maquiagem, que são os suplementos que fazem A Voz Suprema do Blues. – Ana Beatriz Rodrigues


A imagem é uma cena do filme Bela Vingança. Na imagem, está a personagem Cassie, interpretada pela atriz Carey Mulligan, deitada em uma cama de casal com os braços abertos e olhando em direção à câmera. Cassie é uma mulher branca, de cabelos loiros e compridos; ela veste uma camisa branca e um terno preto.
A produção de Emerald Fennell é uma das grandes concorrentes na categoria de Melhor Atriz e Roteiro Original (Foto: Focus Features)

Bela Vingança (Promising Young Woman, Emerald Fennell)

Concorre em: Filme, Direção, Atriz, Roteiro Original & Montagem

Bela Vingança é o filme mais corajoso dessa temporada de premiações. Em linhas gerais, a narrativa acompanha a personagem Cassandra Thomas (Carrey Mulligan), que ainda se vê atingida pela morte de sua melhor amiga, Nina, vítima de um caso de estupro quando ambas ainda estavam na faculdade. Com isso, a protagonista passa a adotar uma rotina que consiste em ir para um bar todas as noites, se fingir de bêbada e depois se vingar do primeiro cara que tentar se aproveitar da situação. Após encontrar alguns fantasmas do passado, Cassie direciona seus atos para aqueles responsáveis por acabarem com a vida de sua colega.

A diretora, roteirista, e também atriz, Emerald Fennell, cutucou uma ferida de longa data da sociedade patriarcal em que vivemos: a cultura do estupro. E fez isso criando uma espécie de heroína com atitudes que muitas mulheres gostariam de poder ter, mas sua intenção nunca foi produzir uma ficção, basta observar o destino final de Cassie. Ter um filme como esse, que é tão incisivo e incômodo, lembrado na maior premiação da indústria do cinema, especialmente em sua categoria principal (Melhor Filme), já é uma grande conquista. Emerald ainda fez história ao ser indicada à Melhor Direção que, pela primeira vez, conta com duas mulheres, ao lado da também brilhante Chloé Zhao, de Nomadland

A performance instigante de Carey Mulligan não poderia ficar para trás, e concorre à estatueta de Melhor Atriz. Ela já foi premiada no Critics Choice Awards, mas a corrida para o Oscar entre as atrizes permanece um mistério, após Viola Davis levar o SAG; Frances McDormand, o BAFTA; e Andra Day ter conquistado o Globo de Ouro. Bela Vingança ainda foi nomeado em Melhor Montagem e Roteiro Original, essa última vindo com grandes chances de vitória contra o temido Aaron Sorkin, por Os 7 de Chicago. – Vitória Silva


Cena do filme Relatos do Mundo. A imagem mostra uma menina branca à esquerda, sentada em uma grande rocha de frente para um homem branco grisalho. Seus cabelos loiros cobrem o seu rosto, ela usa um vestido branco e marrom, meia-calça branca, e se encontra encurvada, colocando algum objeto em um pequeno balde que o homem segura. Veste um terno preto surrado, e se debruça sobre a pedra segurando o balde em direção à menina. A paisagem ao fundo, com vegetação esparsa e semi-desértica sugere que eles se encontram em um lugar elevado.
A amizade desenvolvida entre Kidd e Johanna, Tom Hanks e Helena Zengel, é o fio condutor da narrativa (Foto: Netflix)

Relatos do Mundo (News of the World, Paul Greengrass)

Concorre em: Fotografia, Design de Produção, Trilha Sonora Original & Som

Saindo dos dramas de ação realistas que ajudou a consolidar em filmes como A Supremacia Bourne e Capitão Phillips, Paul Greengrass decide se aventurar no faroeste em Relatos do Mundo de forma bastante clássica e cativante. O filme que era uma das grandes apostas da Universal para a temporada de premiações, acabou sendo adquirido pela Netflix para sua distribuição internacional, e desbancou 4 indicações para o Oscar, em Melhor Som, Design de Produção, Trilha Sonora Original e Fotografia. Se o filme se destaca pelos seus feitos técnicos, a indicação que realmente faz falta aqui é da pequena Helena Zengel, que mesmo não dizendo muitas palavras, nos captura com seu olhar entristecido, mas corajoso. 

Destaque em categorias técnicas, o filme tem oponentes de peso para bater caso queira levar uma estatueta para casa. A trilha sonora conduzida pelas cordas aconchegantes de James Newton Howard teria que bater a dupla favorita Trent Reznor & Atticus Ross não uma, mas duas vezes, pelas trilhas de Soul e Mank. Ainda no campo sonoro, o trabalho de som naturalista rendeu elogios, mas talvez não tenha grandes chances contra o uso criativo de O Som do Silêncio. A belíssima fotografia de Dariusz Wolski dá espaço às amplas ambientações e cenários, é digna de sua indicação. Com grandes chances de sair de mãos vazias, talvez Relatos do Mundo possa surpreender no prêmio de Design de Produção, que traz uma estética mais real e palpável ao faroeste americano, um pouco menos lustrosa e mais suja do que o idealista americano médio desejaria.  

Estrelado ainda por Tom Hanks, que faz um ótimo dueto com a atriz mirim, o roteiro cai para uma jornada tocante, mas ainda assim bastante convencional e fácil de prever. A maior cartada do filme, porém, talvez não esteja em sua narrativa, mas em sua força temática despertada pelos encontros feitos pela dupla ao longo da história. Se Relatos do Mundo poderia fazer uso de uma narrativa mais impactante ao falar tanto sobre o poder das narrativas, há momentos aqui que não perdem em nada ao explorar a importância e a necessidade humana de ouvir e contar histórias. Só por isso, a transição de Greengrass de um cinema de ação cru, cheio de militarismo estadunidense e câmera tremida, para paisagens naturais e um pouco de calor humano já vale o ingresso. – João Batista Signorelli 


Foto retangular de uma cena de Soul. Os personagens 22 e Joe Gardner estão ao centro, conversando. 22 está do lado esquerdo. Ela é uma alma azul esverdeada baixa, com cabeça, tronco e dois braços. Ela possui olhos azuis e bochechas rosadas. A sobrancelha direita está contraída e a esquerda, arqueada. A boca está aberta, com os dentes superiores à mostra. Ela possui uma insígnia no lado esquerdo do peito. Seu braço esquerdo está um pouco levantado, com a palma da mão para cima. Joe está do lado direito. Ele é uma alta azul esverdeada alta, com cabeça, tronco, braços e perna. Ele possui olhos castanhos. A sobrancelha direita está arqueada e a esquerda, contraída. Ele está sorrindo. Ele veste um chapéu da mesma cor de seu corpo e um óculos branco quase transparente. Sua mão esquerda está apoiada na cintura. Ao fundo, observa-se esboços de estantes com livros, igual a uma biblioteca.
Soul é o favorito para levar a estatueta para casa em todas as categorias, assim como foi nas outras premiações (Foto: Disney+)

Soul (Idem, Pete Docter e Kemp Powers)

Concorre em: Animação, Trilha Sonora Original & Som

No ano de 2009, Peter Docter nos apresenta a Carl Fredricksen em Up – Altas Aventuras, um homem frustrado e inquieto com a chegada da velhice e o impasse de não ter vivido como sonhava, mas que percebe as maravilhas apreciadas durante o caminho. Em 2015, Docter mostra a Riley de Divertida Mente atravessando a infância e se deparando com a adolescência, a qual a obriga a sentir na pele que os sentimentos ruins são parte das nossas vivências e que aprender com eles é o melhor caminho. Em 2020, o diretor lança Soul contando a história de Joe Gardner na vida adulta, cheio de angústias para ser bem sucedido e conquistar seus objetivos.

A vida de Joe (Jamie Foxx) chega ao fim logo após conseguir o trabalho dos seus sonhos, ser membro da banda de jazz de Dorothea Williams (Angela Bassett). Amargurado e aborrecido por sua grande oportunidade ter escapado dos seus dedos, o músico tenta uma maneira de voltar ao seu corpo. Ao mesmo tempo, ele precisa ajudar a alma 22 (Tina Fey) a completar sua personalidade para ir à Terra. O relacionamento dos dois é muito entrosado e extremamente divertido. 22 é o grande destaque por causa de seu estilo autêntico e extrovertido, o qual contrasta com a timidez e a insegurança de Joe. Não é à toa que mereceu um espaço para os indicados a Melhor Animação do Oscar 2021, já que foi considerado a melhor animação da história da Pixar pelo site Cinema Blend

O favoritismo vem da sua dose de humor atrelado à ideias existenciais, as quais fazem o público terminar o filme com a cabeça cheia de questionamentos. A direção de Pete Docter, dono de um currículo cheio de premiações, a co-direção de Kemp Powers fazendo história e a produção de Dana Murray (indicada ao Oscar de Melhor Curta-Metragem por Lou em 2017) nos concede uma conexão com nós mesmos extremamente gratificante. Aliado à sonoridade primordialmente vinda do jazz, a animação também está candidata a receber o prêmio de Melhor Trilha Sonora Original, além de ser um nome potente em Melhor Som. Trent Reznor, Atticus Ross (também concorrentes na mesma categoria por Mank) e Jon Batiste criam o ambiente musical dos anos 20 que garante a veracidade dos fatos e alcança a perfeição que Soul entrega. Não mentiria se dissesse que suas percepções sobre a vida, pelo menos por um instante, fossem reconsideradas. – Júlia Paes de Arruda


Cena do filme Uma Noite em Miami…. Na imagem, os quatro personagens principais estão num telhado durante a noite. Eles estão de frente para a câmera e um do lado do outro. Começando pela esquerda, está Leslie Odom, Jr., um homem negro, de cabelos crespos curtos, de estatura um pouco mais baixa que os demais. Odom interpretando o artista Sam Cooke e está de braços cruzados na frente do corpo, usando um terno vermelho escuro e uma camisa rosa clara e olha para frente enquanto fala. Ao lado direito dele, está Eli Goree como Muhammad Ali, também um homem negro de cabelos crespos e curtos, olhando para a frente e com as mãos dentro dos bolsos do paléto, que combina com o restante da roupa num tom caramelo e uma camisa azul. Ao lado direito de Muhammad, está Kingsley Ben-Adir interpretando Malcolm X, também um homem negro de cabelos curtos, que usa um óculos de grau arredondado. Ele olha para a frente com a mão esquerda na cintura e a direita dentro do bolso da calça, que combina com o restante da roupa num tom de cinza esverdeado e uma camisa branca. Ao lado dele e no extremo direito da imagem, está Aldis Hodge enquanto Jim Brown, um homem negro de cabelos curtos e barba rasa, que usa um terno completo preto, gravata vermelha e camisa branca. Ele olha para a frente com os braços soltos sob o corpo. Ao fundo, pode-se observar uma construção amarelada que dá a saída para o telhado e algumas plantas no lado direito da imagem. Todos os personagens são fotografados do joelho para cima.
Conhecida do Oscar, Regina King estreia na direção sem nenhuma indicação creditada ao seu nome na premiação (Foto: Amazon Prime Video)

Uma Noite em Miami… (One Night in Miami…, Regina King)

Concorre em: Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado & Canção Original

Imagina criar um encontro ficcional entre quatro figuras históricas que equilibra reflexões sociais atemporais com uma dinâmica narrativa perfeita para o Cinema. Isso é o que a magnífica Regina King faz em Uma Noite em Miami… a partir da adaptação de Kemp Powers de sua peça homônima. Marcando a estreia de King como diretora, o filme conquistou indicações nas principais categorias de algumas premiações da temporada, mas, infelizmente, não chegou com tanta força no Oscar 2021, longe de ser o favorito das categorias em que concorre.

O filme teatral abriga toda a sua potência em suas performances e diálogos através do trabalho incrível de Eli Goree como Muhammad Ali e de Aldis Hodge na pele de Jim Brown, além do brilhante Kingsley Ben-Adir interpretando Malcolm X, que poderia muito bem ter alcançado uma indicação junto de seu parceiro de cena Leslie Odom, Jr. como Sam Cooke. O que cairia bem também seria um reconhecimento maior do trabalho de Regina, que fecharia com chave de ouro a categoria de Melhor Direção ao invés da vaga desperdiçada com único trabalho questionável vindo de – adivinha?! – um homem branco.

Assim, além da justiça, outro sonho seria realizado, e veríamos três mulheres reconhecidas pelos seus trabalhos enquanto diretoras e uma maioria não-branca em uma das categorias mais importantes do Oscar. Mas a realidade é outra, e se Uma Noite em Miami levar uma estatueta, não será pela escrita magnífica de Kemp Powers indicada a Melhor Roteiro Adaptado, mas pelo talento de Leslie Odom, Jr.. Não pela categoria de Daniel Kaluuya, mas pela sua preciosa veia musical que nos concedeu Speak Now, repetindo seu nome dentre as nomeações do filme na categoria de Melhor Canção Original do Oscar 2021. – Raquel Dutra


A continuação de Borat é tão polêmica quanto o primeiro filme e concorre a duas estatuetas (Foto: Amazon Prime Video)

Borat: Fita de Cinema Seguinte (Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan, Jason Woliner)

Concorre em: Atriz Coadjuvante & Roteiro Adaptado 

Lançado pelo Amazon Prime Video, Borat: Fita de Cinema Seguinte é a continuação do primoroso filme de 2006, Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. Interpretado por um dos comediantes mais ácidos e geniais dos últimos tempos, Sacha Baron Cohen, o estrelato da continuação ao lado de Borat é de sua filha Tutar, vivida por Maria Bakalova. A atriz brilha tanto quanto o protagonista, entregando de forma irônica e cômica toda ingenuidade da personagem, que por anos acreditou em todas barbaridades ensinadas por seu pai.

Gravado em segredo e por vários momentos colocando a vida da equipe em risco por seguir a linha do limite para atingir seu humor, Fita de Cinema Seguinte vem ganhando espaço nessa temporada de premiações. O filme foi destaque no Globo de Ouro, vencendo Melhor Filme de Comédia e Melhor Ator em Comédia para Sacha, que se tornou o segundo ator na história do prêmio a ganhar duas vezes a mesma categoria pelo mesmo personagem. O texto genial e cirúrgico concorre ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e tem a assinatura de nove roteiristas na produção.

Chegou também à Academia a fenomenal Maria Bakalova, concorrendo à Melhor Atriz Coadjuvante. Ela já ganhou essa mesma categoria no Critics Choice Awards. Apesar de ser uma das favoritas, o SAG Awards e o BAFTA que são termômetros do Oscar apontaram Yuh-Jung Youn, a vovó de Minari, como ganhadora. Ambas merecem o reconhecimento por seus respectivos papéis, só nos resta torcer para que vença a melhor. – Ana Júlia Trevisan


Cena do documentário Collective. A imagem mostra ao centro uma mulher de costas, vestindo um casaco preto e um chapéu da mesma cor decorado com penas. Ao redor dela, existem vários jornalistas, que estão de frente para a imagem, apontando microfones e câmeras em sua direção. A imagem é colorida em tons azulados e levemente iluminada, registrada no anoitecer.
Consagrado como o Melhor Documentário no Prêmio de Cinema Europeu, Collective foi um dos filmes internacionais mais comentados e elogiados de 2020, mas perdeu força na corrida ao Oscar (Foto: Alexander Nanau Production)

Collective (Colectiv, Alexander Nanau)

Concorre em: Filme Internacional & Documentário

A dobradinha Filme Internacional-Documentário foi responsável por reconhecer uma das melhores obras da seleção do Oscar 2020. O lugar de honra que o doce Honeyland ocupou no ano passado é igualmente bem representado e diferentemente frequentado desta vez por Collective. A produção romena de Alexander Nanau acompanha uma equipe de jornalistas numa investigação que se inicia em uma tragédia local e deságua numa deflagração de corrupção pública nacional, construindo uma obra fria, difícil e crua ao mesmo tempo em que é rica, envolvente e inflamada.

Nessa estrutura complexa, o valor de Collective está mais em seus registros, acessos e desdobramentos do que em aspectos técnicos e impactos sentimentais, características que costumam dominar as categorias em questão, especialmente neste ano. O histórico do Oscar também não o favorece, mostrando que mesmo com a nomeação dupla, o filme que encontra espaço nas categorias mais interessantes da premiação pode sair sem ser coroado em nenhuma das duas. 

Ao que tudo indica, Collective será a vítima do Oscar 2021. Mesmo agraciado como Melhor Documentário no Prêmio de Cinema Europeu, o filme não venceu na mesma categoria do Critics Choice Awards e nem no BAFTA. Na premiação da Academia, a produção não garante a corrida de Filme Internacional, com Druk disparado na frente, nem de Documentário, dividindo o possível segundo lugar com Crip Camp, atrás do favoritismo de Professor Polvo. – Raquel Dutra


Cena do filme Druk. A foto mostra ao centro em destaque um homem branco loiro de em torno de 50 anos. Ele veste um terno preto, com a cabeça inclinada para trás e o braço erguido segurando uma garrafa, bebe de olhos fechados o seu conteúdo. Ao fundo em seu entorno, vários adolescentes com roupas brancas e chapéus de marinheiro brancos com faixas cor-de-vinho, segurando garrafas ou latas de bebida, aparentam estar felizes com os braços erguidos e virados em direção ao homem ao centro. O céu que preenche o fundo da imagem é azul.
Mads Mikkelsen indo à loucura: o que mais eu poderia pedir? (Foto: Samuel Goldwyn Films)

Druk – Mais uma Rodada (Druk, Thomas Vinterberg)

Concorre em: Filme Internacional & Direção 

Álcool. Pode estar presente no dia mais feliz da sua vida, mas também pode te deixar à beira da morte. Mas não se preocupe, o álcool também serve pra superar esse trauma. Explorando a complexidade da nossa relação para com a bebida, o novo longa do dinamarquês ex-expoente do movimento Dogma 95, Thomas Vinterberg, é o absoluto favorito na categoria de Melhor Filme Internacional, e a forte campanha da Samuel Goldwyn Films nos EUA ainda rendeu ao filme uma surpreendente indicação a melhor direção. Sensação na Dinamarca, foi o grande vencedor da principal premiação do país, o Danish Film Awards, além das múltiplas indicações ao BAFTA com uma vitória, sendo destaque em festivais e associações de críticos, além de ter sido o filme de encerramento da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. 

A indicação do filme talvez não seja uma surpresa tão grande para os dinamarqueses, considerando o extenso histórico do país na premiação, especialmente nos últimos anos. É a décima terceira indicação para um filme da Dinamarca, sendo que nos últimos 10 anos acumula impressionantes 6 indicações. A vitória quase certa de Mais uma Rodada garantiria ao país a quarta estatueta, depois de A Festa de Babete, Pelle, o Conquistador e Em um Mundo Melhor. Já Thomas Vinterberg como diretor tem poucas chances de levar a melhor, mas sua indicação certamente já é uma grande vitória para o país. 

No filme, 4 professores de Ensino Médio decidem dar nova vida às suas rotinas pacatas ao colocarem em prática a teoria pouco ortodoxa de um pensador norueguês que diz que a vida seria mais equilibrada e harmoniosa com 0,5% a mais de álcool no sangue. Partindo de uma premissa que poderia facilmente ter saído de uma comédia escrachada de Seth Rogen, Vinterberg transporta o absurdo para um contexto palpável, encontrando o perfeito equilíbrio entre a comédia e o drama. Mads Mikkelsen se entrega de corpo e alma ao papel principal, passando por uma espécie de arco de redenção que desencadeia em um final catártico e inesquecível. Em Another Round (título em inglês), os personagens podem até fazer escolhas estúpidas, mas Vinterberg em conjunto com o elenco nos faz querer apreciar cada segundo delas. – João Batista Signorelli


Cena do filme Emma. A personagem Emma, interpretada por Anya Taylor-Joy, olha para frente. Ela aparenta estar dando um leve sorriso. Podemos ver um chapéu de época escuro com uma pena vermelha adornando o lado esquerdo. Ela usa um vestido de tons avermelhados e uma gola rendada branca no pescoço. Apenas parte do seu cabelo loiro encaracolado está visível por baixo do chapéu. Atrás dela, uma parede escura com adornos dourados e um castiçal com velas apagadas à sua direita.
Emma. consegue entregar tudo aquilo que a audiência espera de um drama de época sem perder seu próprio senso estético (Foto: Focus Features)

Emma. (Idem, Autumn de Wilde)

Concorre em: Figurino & Cabelo e Maquiagem

Estreando sua carreira no cinema, o primeiro longa da diretora Autumn de Wilde poderia ser considerado uma aposta segura: uma nova adaptação de Emma, uma das mais célebres obras de Jane Austen, que já havia tido versões para o cinema, televisão e muitas outras mídias. Estrelando Anya Taylor-Joy no papel titular da socialite inglesa intrometida do século XIX, já era esperado que Emma. fosse indicado aos prêmios de figurino e maquiagem, como todo bom filme de época.

De Wilde traz uma direção moderna e sensível ao clássico, que busca atualizar o texto sem perder a identidade tão bem estabelecida por sua autora. A premiada figurinista Alexandra Byrne compõe uma sinfonia colorida de vestidos, cartolas e coletes que adicionam textura e cor à narrativa, externalizando seus principais conflitos, estabelecendo simetrias distintas entre suas principais personagens e acompanhando suas transformações profundas ao longo da trama, seja no amor ou no status social.

Por outro lado, a equipe de maquiagem e penteados também contribui muito para o sucesso da direção de arte do filme, acentuando as particularidades de seus atores e atrizes e impedindo que eles se diluam em meio às paisagens idílicas. Os realizadores de Emma. capturam não só o espírito original do livro de Jane Austen, mas também uma qualidade estilística inteiramente própria à essa versão da história, recheada de estéticas ousadas e sofisticadas. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena do filme Era uma vez um sonho. Nela vemos um close no rosto de Glenn Close. A atriz, uma mulher branca e idosa, está deitada numa cama com tubos de oxigênio conectados ao nariz. Seus olhos são claros e seu cabelo é castanho. Ela tem nos olhos uma expressão de fraqueza.
O trabalho de Cabelo e Maquiagem transforma Glenn Close, mas sua interpretação ainda soa caricata demais (Foto: Netflix)

Era uma vez um sonho (Hillbilly Elegy, Ron Howard)

Concorre em: Atriz Coadjuvante & Cabelo e Maquiagem 

Era uma vez um sonho não traduz nada bem as aventuras de Hillbilly Elegy. Não só pelo título genérico, mas a direção de Ron Howard desqualifica qualquer potencial discussão a respeito de pobreza, ascensão social e os traumas do passado na criação de alguém. Diacho, o filme não é bom nem na estrutura fílmica, esbanjando de momentos mortos entre a gritaria incessante de Amy Adams (gratamente esnobada) e Glenn Close (infelizmente nomeada, manchando sua bela filmografia).

Outro dos filmes aguardados da Netflix, Era uma vez um sonho foi massacrado, pela história, pela abordagem terrível da ‘comunidade’ que retrata e pelos posicionamentos políticos do homem que o inspirou. A falta de pulso firme de Ron Howard não era surpresa pra ninguém, mas o papel prestado por Close vai em desencontro à carreira artística da veterana que, quando perder o Oscar em 25 de abril, quebrará mais um recorde.

Sua interpretação da avó tem lampejos de afeto, mas o texto de Vanessa Taylor (que teve amnésia depois de roteirizar A Forma da Água e chegar aqui) não alavanca os méritos da atriz. Mesmo que fosse apenas o conto maternal de uma avó e seu neto e discutisse o papel social das avós e os laços familiares, Hillbilly Elegy aproveitaria melhor seu elenco e equipe de produção. No Oscar, Close foi nomeada para sair de mãos vazias, e o departamento de Cabelo e Maquiagem irá ouvir o discurso de agradecimento dos indicados por A Voz Suprema do Blues. Simples assim. – Vitor Evangelista


Fotografia retangular de uma cena de Mulan. A atriz Liu Yifei está no centro da imagem, do pescoço até o final da testa. Liu é chinesa, com cabelos pretos presos acima da cabeça e olhos castanhos escuros, quase pretos. Ela veste um kimono chinês antigo vermelho. A mão esquerda de outra pessoa segura seu queixo enquanto a direita segura um pincel e passa tinta branca por sua testa. O nariz da atriz também está semi pintado de branco. O fundo está desfocado, mas no lado direito da imagem pode-se observar flores rosas.
O live action da Disney concorre a Melhor Figurino junto com A Voz Suprema do Blues e Emma (Foto: Disney+)

Mulan (Idem, Niki Caro)

Concorre em: Figurino & Efeitos Visuais

Depois dos live actions de Aladdin e A Dama e o Vagabundo, muitos fãs aguardavam a estreia de Mulan. Porém, ele chegou na plataforma de streaming da Disney cheio de polêmicas. A principal, e talvez a mais debatida, foi a ausência de personagens icônicos para o filme. É um pouco estranho não ouvir um “desonra pra tu, desonra pra tua vaca” tão marcante de Mushu, mas isso não é motivo para boicotes. 

Apesar da premissa das histórias serem a mesma, os acontecimentos que são desencadeados se diferem. Na obra de 1998, o empoderamento de Mulan torna-se mais palpável já que a guerreira luta e desafia as leis do seu país por mérito próprio. Já na de 2020, a força da personagem deriva do seu Chi, dando-lhe poderes sobrenaturais para elevá-la a um grau superior. A mitologia envolvida, de certa forma, descredibiliza a coragem e o esforço da soldada. Apesar disso, os figurinos escolhidos por Bina Daigeler são deslumbrantes e extremamente detalhados. A cena emblemática da casamenteira é realmente nostálgica com as cores e os tecidos usados por Mulan. Não é a primeira vez que a Disney alcança uma indicação ao Oscar de Melhor Figurino, ganhando com Alice no País das Maravilhas (2010) e Pantera Negra (2018). 

Os efeitos visuais criados pelo trabalho em equipe de Sean Faden, Anders Langlands, Seth Maury e Steve Ingram produzem aquela atmosfera mágica do Chi das personagens, os quais se tornam realmente lindos em tela. Nesse aspecto, a Disney também já trouxe o troféu pra casa na categoria, em 2006, com Piratas do Caribe: O Baú da Morte. Contudo, esperava-se muito da representatividade asiática que Mulan trairia consigo tanto dentro quanto fora das gravações. A consequência disso foi deixar mais evidente os problemas em torno da indústria cinematográfica, tornando-o uma visão utópica da vivência na China. Para aqueles mais aficionados pelo desenho, infelizmente tenho que te dizer que você vai se decepcionar. É preciso ter a mente aberta por ser algo independente do que foi visto na infância. Assim, a apreciação do filme será genuína. – Júlia Paes de Arruda


Cena do filme Pinóquio. Nela vemos Pinóquio e a fada. Em primeiro plano, e focado, está Pinóquio, um menino feito de madeira, pele marrom, e nariz pontudo. Ele veste um chapéu em forma de cone vermelho, e uma blusa com gola da mesma cor. Desfocada, à esquerda, está a fada. Uma menina branca, de cabelos grisalhos azulados, e vestido verde.
A nova versão de Pinocchio é sensacional, cheia dos pequenos detalhes que tornam essa história tão única e mágica (Foto: Archimede)

Pinóquio (Pinocchio, Matteo Garrone)

Concorre em: Figurino & Cabelo e Maquiagem

Roberto Benigni é viciado em Pinóquio, não existe outra explicação. Mas, pensando bem, é melhor explicar: acontece que o ator, premiado por A Vida É Bela, estrela agora sua terceira adaptação da história do menino feito de madeira. Longe do Framboesa de Ouro, a versão de 2020 emplacou duas merecidas indicações nos prêmios da Academia. Produção italiana, Pinocchio coloca Benigni na pele de Geppetto, um homem pobre que ganha o mundo ao modelar uma tora de madeira mágica, que ele batiza de Pinocchio.

As mais de duas horas de duração recontam a versão da Disney, abusando de estranhezas e caracterizações bizarras. Matteo Garrone dirige o jovem Federico Ielapi com a ingenuidade e o bom coração que o protagonista necessita, empatizando com o público logo em sua primeira travessura. As nomeações técnicas ao Oscar denotam o tato desse campo de profissionais, que busca premiar trabalhos merecedores, e não se levam por campanhas publicitárias.

A Voz Suprema do Blues é favorita em ambas disputas? Sim. Mas o poder de Pinocchio não deve ser menosprezado. A criação dos fantoches, dos seres mágicos e a estilização animalesca de personagens secundários, tudo pelo poder do Cabelo e Maquiagem, colocam o filme italiano como a possível zebra a acabar com a festa da Netflix. Vale apontar que a maquiagem do fantoche demorava 3 horas para ficar pronta. Sem contar que Mark Coulier, cabeça do departamento, nunca perdeu um Oscar, saindo vitorioso por A Dama de Ferro e O Grande Hotel Budapeste. E, mesmo que a adaptação saia de mãos abandonando, vivemos em tempos bons para os fãs de Pinóquio. – Vitor Evangelista


Foto promocional de Tenet, com John David Washington, homem negro vestindo terno cinza, blusa azul e gravata preta, esta dividida em duas. Do lado esquerdo o homem anda de frente, segurando uma arma e olhando para a câmera. Do lado direito, ele anda para o lado oposto da foto, usando uma máscara presa em seu rosto e olhando para a direita. Dos dois lados, no fundo é possível ver um corredor, com pessoas vestidas de preto, e uma construção de vidro. Centralizado, está escrito o nome do filme, Tenet, de preto. Do lado esquerdo as letras estão de cabeça para baixo. O “N” do meio está e branco.
Christopher Nolan volta a ser indicado ao Oscar com sua obra Tenet (Foto: Warner Bros)

Tenet (Idem, Christopher Nolan)

Concorre em: Design de Produção & Efeitos Visuais

Desde 2000 sendo indicado ao Oscar, Christopher Nolan não é novo na premiação. O diretor, roteirista e produtor, que é um dos mais bem sucedidos atualmente, garantiu seu lugar esse ano com com Tenet, estrelado por John David Washington. O longa de ação acompanha o protagonista em uma missão de tentar evitar o fim do mundo do ajuda vindo do futuro. 

Apesar do plot caótico que nos deixa com uma feição quase tão apavorada quanto a de Washington, o filme tem seus pontos positivos que os levaram a duas indicações ao Oscar. Disputando na categoria de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Design de Produção, as cenas de ação da obra possuem uma produção muito bem feita, ainda mais por misturar elementos em dois tempos, o normal e o reverso. O trabalho que ficou na mão de Scott Fisher, Andrew Jackson e Andrew Lockey garantiu o prêmio BAFTA de Efeitos para o filme, e segue na temporada de premiações para a estatueta do Oscar junto a outros grandes filmes, como O Céu da Meia-Noite.

A atuação de John David Washington, que deu um show em Malcolm & Marie, continua em alto nível. Robert Pattinson e Elizabeth Debicki deram o suporte necessário nas cenas em conjunto e serviram tão bem quanto o protagonista. Melhor amigo e par romântico de John, a química de ambos nos deixa com o coração quentinho no meio da bagunça. E quando finalmente ele consegue completar a missão, o filme acaba com um gostinho de alívio e nostalgia do futuro, onde tudo começou. – Mariana Chagas


Imagem do filme A Caminho da Lua. No centro da imagem há a personagem principal, Fei Fei vestindo uma jaqueta prata, shorts azuis, uma legging preta e botas pratas; seu cabelo é curto e preto e usa uma faixa rosa. Ela segura em seu braço direito seu coelho de estimação branco, Pulinho. Ao seu lado esquerdo está Gobi, uma criatura verde neon que vive na lua e do lado esquerdo seu irmão, Chin, que usa um moletom azul, camiseta vermelha, shorts azuis e tênis vermelhos. No seu ombro está seu sapo de estimação, da cor verde. Ao fundo é possível ver a imagem da lua, os dragões amarelos e vermelhos que vivem ali e seus lugares coloridos em cores neon.
Indicado ao Oscar 2021 de Melhor Animação, A Caminho da Lua passa mensagem aos adultos enquanto diverte as crianças (Foto: Netflix)

A Caminho da Lua (Over the Moon, Glen Keane) 

Concorre em: Animação

A produção da Netflix vai além de uma história para crianças. A Caminho da Lua traz nuances da cultura chinesa ao mesmo tempo que passeia brilhantemente pelas 5 fases do luto da protagonista, a pré-adolescente Fei Fei. Ademais das particularidades bem construídas do roteiro, o filme é rico em detalhes, desde as cores mais vibrantes da lua até os traços no rosto das personagens sejam elas humanas ou criaturas de outra galáxia, como a Gobi e o coelho Pulinho.

A indicação merece destaque em meio aos escolhidos pela Academia por toda sua representatividade asiática dentro da produção, o que deixa a desejar quando olhado pelos bastidores, em que o diretor Glen Keane é norte-americano. Porém, a lista de dubladores conta com grandes nomes de descendência sul-coreana, como Sandra Oh, e chinesa, como Cathy Ang.

Portanto, A Caminho da Lua é um dos indicados mais promissores para a categoria de Melhor Animação do Oscar 2021 por toda sua representatividade e brilhantismo no esboço, principalmente quando ela embate com o público das grandes produções pop da Disney como Dois Irmãos e Soul. – Larissa Vieira


Em treze minutos, Kris Bowers consegue absorver os mais puro do diálogo com seu avô e concorre ao Oscar (Foto: The New York Times)

A Concerto is a Conversation (Idem, Ben Proudfoot e Kris Bowers)

Concorre em: Documentário em Curta-Metragem

A Concerto Is a Conversation é um documentário em curta-metragem, distribuído pela The New York Times e produzido por Kris Bowers, um pianista de sucesso que divide o protagonismo do doc com seu avô, Horace Bowers. Em apenas treze minutos, o curta consegue emocionar e inspirar, principalmente com as falas do patriarca da família que relata sua história dentro de uma sociedade racista e busca incentivar o neto a continuar seu trabalho. “Nunca pense que você não deveria estar lá. Porque você não estaria lá se você não deveria estar lá.”

Kris Bowers já vem recebendo os olhares de Hollywood há um tempo. Recentemente compôs a trilha sonora da queridinha série da Netflix, Bridgerton. Ele também assina as canções de Green Book, o problemático e infelizmente vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2019. Já tendo sido indicado até ao Grammy, agora em 2021 ele concorre na categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem. – Ana Júlia Trevisan


Cena do documentário Agente Duplo. A foto mostra dois homens, um em pé à esquerda, e um sentado à sua frente e à direita. O homem em pé, com a cabeça virada para sua direita, usa um chapéu preto e um sobretudo bege, e é iluminado por uma luz que atravessa uma cortina horizontal. Quanto ao homem sentado, vemos apenas sua cabeça na parte inferior da foto, e é um senhor de idade segurando uma lente de aumento à frente de seu rosto. Ao fundo há uma parede cheia de fotos e recortes de jornal, indicando o escritório de um detetive
Além do Oscar, Agente Duplo também concorre na categoria de Melhor Documentário do Independent Spirit Awards (Foto: Globoplay)

Agente Duplo (El Agente Topo, Maite Alberdi) 

Concorre em: Documentário 

A América Latina está muito bem representada na categoria de Melhor Documentário em 2021 com Agente Duplo. A produção chilena não tem o mesmo hype que o nosso Democracia em Vertigem tinha quando alcançou seu lugar na lista final dos indicados ano passado, mas é tão digno de ser apreciado quanto. Com uma narrativa charmosa, divertida, leve e gentil sobre o processo de envelhecimento na contemporaneidade, o filme cria um ar de ficção ao redor da trajetória de Sergio Chamy, que embarca numa nova ocupação depois de enviuvar aos 80 anos.

Agente Duplo é atraente e amigável, mas a Academia segue imune às qualidades de filmes latino-americanos, que neste ano, foram notados apenas com a nomeação do documentário, mesmo com uma lista extensa de produções dignas de reconhecimento. Queria muito falar sobre as grandes chances da fantástica diretora Maite Alberdi nessa categoria de ouro, mas se nem com a campanha quentíssima de 2020 conseguimos chegar perto do Oscar de Melhor Documentário, infelizmente também não será dessa vez. – Raquel Dutra


Cena do filme Amor e Monstros. Dylan O’Brien, um homem branco e jovem, está agachado atrás de um tronco de árvore. Ele está à direita da imagem, da altura do peito para cima. Ele usa uma camiseta suja azul clara de mangas compridas, e está com uma expressão de cautela, com os lábios comprimidos. Ele segura um cachorro de porte médio marrom, com a mão ao redor de seu focinho, prendendo. Na esquerda da imagem, há uma criatura meio gelatinosa com tentáculos e grandes presas tentando alcançá-los. Não há como identificar o tipo.
Uma obra que envolve o apocalipse não seria tão legal sem um cachorro parceiro do protagonista (Foto: Netflix)

Amor e Monstros (Love and Monsters, Michael Matthews)

Concorre em: Efeitos Visuais

Filmes pós-apocalípticos podem ser extremamente pretensiosos. Um protagonista heroico e medíocre, algum desastre natural, e as fórmulas básicas se encaixam. No entanto, em Amor e Monstros, não vemos nada disso. Talvez um pouco de heroísmo, mas Dylan O’Brien dá conta do recado na comédia estilo Zumbilândia com insetos gigantes dirigida por Michael Matthews. As pontinhas de drama e romance completam o longa que surpreende pela diversão e pelo ritmo contagiante, e, bem, os monstrões carismáticos também não ficam para trás – não é à toa que a única indicação no Oscar 2021 foi na categoria de Efeitos Visuais.

O supervisor da área, Matt Sloan, mesclou efeitos práticos, uma equipe de artistas com foco em criaturas e muita criatividade para chegar no resultado final, utilizando os efeitos visuais apenas quando seus bichos já estavam praticamente prontos. Na hora da indicação, Sloan não estava sozinho. Seu nome veio acompanhado de Genevieve Camilleri, Matt Everitt e Brian Cox nos méritos da peça singular que foi comprada pela Netflix

O filme foi incrivelmente bem recebido por crítica e público, e a indicação ao Oscar com certeza deu um gás para novos espectadores. Apesar disso, as chances da estatueta ir para as mãos de Tenet ou O Céu da Meia-Noite são infinitamente maiores – o que é uma pena, pois nenhum dos dois possui criaturas tão singulares quanto as de Matt Sloan e sua equipe. – Caroline Campos


Cena do filme Better Days. A imagem mostra dois jovens, fotografados de lado e posicionados no lado esquerdo, observando um aquário que está à frente deles, ocupando o lado esquerdo da imagem. Em primeiro plano, pode-se observar a personagem Chen Nian, interpretada pela atriz Zhou Dongyu, uma mulher amarela, de cabelos curtos, na altura da orelha, lisos e pretos. Ela usa uma jaqueta jeans clara e olha para o aquário sorrindo levemente, e com as pernas flexionadas, apoiando as mãos no joelho. Atrás dela, de pé, está Liu Beishan, interpretado por Jackson Yee, um homem amarelo, de cabelos raspados nas laterais e mais compridos na parte de cima, presos num rabo pequeno, que veste uma blusa xadrez amarela. Ele está com o rosto ralado em algumas partes, com marcas de sangue, e olha para a frente com uma expressão séria e impaciente. Ao fundo, pode-se observar a continuação do corredor onde eles estão, e a imagem é colorida de forma vibrante.
Better Days é o primeiro filme de um diretor natural de Hong Kong a receber uma indicação ao Oscar (Foto: Shooting Pictures)

Better Days (少年的你, Derek Tsang)

Concorre em: Filme Internacional

O filme que fica de lado na categoria de Melhor Filme Internacional possui uma infeliz característica em comum com o favorito ao Oscar de Melhor Filme: ambos foram censurados no país de origem de seus realizadores. E ao contrário da resolução que Nomadland encontrou em solo americano, Better Days não teve como fortalecer sua corrida ao prêmio da Academia dentro da China.  

Dirigido por Derek Tsang, o drama é uma das produções orientais mais esperadas e bem-avaliadas de 2020. Através da adaptação de Lam Wing Sum, Li Yuan, e Xu Yimeng do romance In His Youth, In Her Beauty, de Jiu Yuexi, Better Days conta história de Chen Nian (Zhou Dongyu), uma estudante vítima de bullying que desenvolve um elo forte com Liu Beishan (Jackson Yee) depois que ambos se envolvem em um caso de homicídio. 

Os grandes nomes no elenco e o sucesso que o filme encontrou nas bilheterias e nas premiações locais não foram suficientes para engatar sua visibilidade e reconhecimento. Better Days foi prejudicado pelos conflitos de China e Hong Kong, e os espectadores sequer poderão assistir seus representantes marcando a história do Cinema no Oscar, já que a cerimônia não está autorizada a ser transmitida no país. – Raquel Dutra


Cena do documentário Colette. A imagem mostra suas duas personagens, Colette e Lucie, na frente de uma janela, durante o dia, e de frente para a câmera. Colette, uma senhora idosa branca de cabelos brancos, olha para a câmera, e usa um óculos de grau avermelhado, uma blusa creme com listras brancas e um lenço marrom amarrado no pescoço. Ela está sentada e aparece do peito para cima, ao lado esquerdo de Lucie. A jovem está de pé, é branca, tem cabelos castanho claro curtos e ondulados, usa uma blusa azul escura com listras brancas e um óculos de grau marrom. Lucie segura um retrato que mostra uma fotografia antiga em preto e branco de um homem.
Colette é uma produção do jornal The Guardian e a primeira indicação ao Oscar de Anthony Giacchino (Foto: Time Travel Unlimited)

Colette (Idem, Anthony Giacchino)

Concorre em: Documentário em Curta-Metragem

Anos se passam, gerações se transformam, épocas e sociedades se renovam, mas existem temas que são para sempre, e Colette existe nesse sentido. Em seus 25 minutos, o documentário explora a jornada de Colette Marin-Catherine, que quando jovem, lutou contra os nazismo junto da Resistência Francesa. Por toda a sua vida, ela se recusou a pisar na Alemanha, mas isso muda quando a jovem estudante de história Lucie a contata buscando mais informações para uma pesquisa que realiza sobre o Holocausto. Juntas, as duas confrontam o passado visitando locais onde os piores horrores da Segunda Guerra Mundial foram cometidos.

O filme não tem muita voz em meio aos outros indicados a Melhor Documentário em Curta-Metragem, mas constrói seu poder junto do processo individual de Colette. Conforme a militante reabre suas feridas em prol de algo maior enquanto critica veemente a ideia de transformar cenários de horrores como algo turístico, Colette usa seu espaço no Oscar para ressaltar que memorar tragédias a fim de evitar repetições de horrores sempre será uma das funções da arte. – Raquel Dutra


Cena do filme Crip Cramp. Vemos um homem e uma mulher, ambos pessoas com deficiência e cadeirantes. Eles estão num campo de terra, e atrás deles há um trator amarelo e árvores. À esquerda, vemos uma mulher idosa, pessoa com deficiência e cadeira, branca, cabelo curto preto com uma mecha roxa, óculos de grau e veste uma camisa cinza. Ao lado dela está um homem idoso, também PCD e cadeirante, gordo, branco, de cabelo cinza e cavanhaque grisalho, óculos de sol, e ele veste uma camiseta tie dye azul, vermelha e amarela.
Crip Camp une a luta social com a documentação do afeto, é o melhor dos dois mundos (Foto: Netflix)

Crip Camp: Revolução pela Inclusão (Crip Camp: A Disability Revolution, Nicole Newnham e James LeBrecht) 

Concorre em: Documentário 

Crip Camp: Revolução pela Inclusão poderia ser piegas, chato ou desrespeitoso. Crip Camp poderia ser enfadonho, repetitivo ou de mau gosto. Mas Crip Camp não é nada disso. Nova produção da Higher Ground, o documentário da Netflix é bem sucedido em todas as suas escolhas estéticas e narrativas.

Começando como um registro histórico que documenta a estadia de uma porção de jovens com deficiência no Acampamento Jened, a direção de Nicole Newnham e James LeBrecht catapulta quem assiste a uma jornada emocional digna da maior premiação do Cinema. LeBrecht é criatura e criador, dirige e estrela, aproxima seus amigos de longa data da câmera e transpassa o vínculo pela telinha da Netflix.

Acompanhar o envelhecimento dos campistas, sua luta social e as mudanças que conseguiram realizar, além de conhecer a fundo suas vidas, amores, paixões, problemas e pensamentos, é um prato cheio para o gênero documental e para o cinema como um todo. É improvável que Crip Camp bata o favoritismo de Professor Polvo, mas sua reles presença na lista de 2021 já tira o amargo da língua pela pesarosa vitória do ano passado. – Vitor Evangelista 


A imagem retangular é uma cena de Destacamento Blood. Da esquerda para direita vemos 5 homens. O primeiro é Isaiah Whitlock Jr, um homem negro de 66 anos. Ele está de pé e minimamente inclinado, enquanto usa um boné preto para trás, um relógio preto, uma camiseta limpa da cor vermelha e uma calça preta. À sua direita e um pouco mais atrás vemos Norm Lewis, um homem negro de 57 anos. Ele está de pé e usa um chapéu de caça verde, um relógio prateado, um colete verde por cima de uma jaqueta azul, que está por cima de uma camiseta cinza e uma calça bege. À sua direita e à frente, centralizado na imagem, vemos Delroy Lindo, um homem negro de 68 anos. Ele está agachado e segura um fuzil enferrujado nas mãos. Ele usa um colete azul sujo, por baixo uma camiseta de manga longa verde, um relógio bege e calças pretas. Atrás vemos Clarke Peters pela metade, um homem negro de 69 anos. Ele usa uma bandana verde, uma camiseta de manga longa laranja e aberta e por baixo uma camiseta verde. À sua direita vemos Jonathan Majors, um homem negro de 31 anos. Ele está na parte mais à direita da imagem e usa um boné preto para trás, uma camiseta bege com um bordão escrito em vermelho e calças verdes de exército. O plano de fundo é uma densa mata em uma montanha rochosa.
O trabalho conjunto do elenco de Da 5 Bloods é digno de bem mais reconhecimento (Foto: Netflix)

Destacamento Blood (Da 5 Bloods, Spike Lee)

Concorre em: Trilha Sonora Original 

A guerra do Vietnã já foi base para muitos cineasta se aventurarem – de Kubrick a Coppola, passando por Oliver Stone e Brian De Palma. Quando se trata do cinema de Spike Lee, no entanto, o buraco é bem mais embaixo. O épico Destacamento Blood, lançado em junho de 2020 pela Netflix, pode ser uma das mais recentes referências audiovisuais quando se trata do conflito e, principalmente, dos resquícios deixados nos envolvidos. O jogo de fotos e vídeos, a narrativa essencialmente racial e os questionamentos em cima dos direitos civis nos EUA atual compõem a obra de tirar o fôlego do diretor que, infelizmente, só conseguiu a indicação em Melhor Trilha Sonora Original. Mais uma vez, o nome de Lee integra a lista dos esnobados da edição. 

Terence Blanchard foi o responsável por essa única memória do longa no Oscar 2021. Amigo de longa data de Spike Lee e vencedor de diversos prêmios Grammy, Blanchard é parte primordial da alma conturbada de Destacamento Blood. O músico já é familiarizado com o tapete vermelho, pois seu trabalho em Infiltrado na Klan também rendeu uma indicação na mesma categoria em 2019, tornando Terence o único homem negro a concorrer duas vezes em Melhor Trilha Original. Em 2021, pela primeira vez, dois homens negros foram indicados para essa estatueta: Blanchard divide a categoria com Jon Batiste que, ao lado de Atticus Ross e Trent Reznor, são os favoritos ao prêmio pelo trabalho em Soul.

Entre todas as categorias que o longa poderia ter abocanhado – Melhor Filme, Diretor, Montagem -, a ausência mais inacreditável foi a performance impressionante de Delroy Lindo como Paul, um dos quatro veteranos negros que vão atrás de um tesouro perdido e dos restos mortais de seu comandante. Os monólogos, trejeitos e atitudes do personagem produzem uma das atuações mais intensas do ano, podendo facilmente ter entrado no lugar da batida interpretação de Gary Oldman. Os Bloods na selva profunda de Lee mereciam muito mais atenção das grandes premiações. Agora, só nos resta seguir exaltando o cinema de excelência de Spike Lee. – Caroline Campos


Cena do filme Do Not Split. Vemos três jovens em movimento, de costas para a câmera. A primeira, à esquerda, é uma mulher. Não podemos ver seu rosto, mas sua pele é clara, seu cabelo é comprido e preto e está preso em um rabo de cavalo. Ela usa uma blusa branca e uma saia preta, assim como tênis branco e uma faixa branca na perna direita. Ao seu lado, um homem empurra um carrinho de supermercado. Ele está todo de preto, com uma mochila azul nas costas e proteções nos cotovelos. Dentro do carrinho, há uma caixa branca de papelão. À direita, um último homem também corre. Ele usa capacete, máscara preta, blusa e calça pretas e um cassetete nas costas. Os três estão em uma rua, com lojas ao fundo.
Liberate Hong Kong, revolution of our times! (Foto: Field of Vision)

Do Not Split (不割席, Anders Hammer) 

Concorre em: Documentário em Curta-Metragem 

Do Not Split possui uma trajetória memorável. O curta documentário dirigido por Anders Hammer, que acompanha os protestos em Hong Kong marcados pela brutal repressão da polícia e um desmonte organizacional em decorrência da pandemia, recebeu fortíssimas críticas do governo chinês – incluindo um alerta para as emissoras locais não transmitirem a cerimônia do dia 25. Hammer documenta, na linha de frente, todas as bombas de gás, balas de borracha e sprays de pimenta que os protestantes tiveram que enfrentar na luta por democracia. A crueza e força do documentário coloca o espectador no centro dos conflitos, com uma narrativa pessoal e crítica acerca da Lei de Segurança Nacional e as extradições para a China continental.

Ao lado de outros quatro curtas potentes, o favoritismo, no entanto, se inclina em direção ao tocante Uma Canção para Latasha. Mesmo assim, Do Not Split garantiu a terceira indicação para a produtora Field of Vision, que disponibilizou os 35 minutos de seu filme no YouTube. A obra corajosa de Anders Hammer, que também se arriscou no Afeganistão em meio a Guerra ao Terror, já instiga no seu título: não se separem. Independente do resultado da premiação, a visibilidade em cima de um tema ainda tão atual e tão delicado para a população de Hong Kong já vale a indicação. – Caroline Campos


Cena do curta Dois Estranhos. A imagem é retangular, com a metade para esquerda com um fundo branco e a metade direita com um fundo preto. À esquerda há um homem negro jovem de perfil. Ele possui uma barbicha, cabelo curto e utiliza óculos. Ele veste um casaco todo amarelo que cobre sua cabeça com a parte da toca, além de usar uma mochila verde com alças pretas nas costas. À direita há um policial branco de meia idade também de perfil. Ele é careca e utiliza uma boina policial toda preta, enquanto usa um uniforme policial todo preto.
“É muito dinheiro para quem tem cigarro que cheira a cigarro” (Foto: Netflix)

Dois Estranhos (Two Distant Strangers, Travon Free e Martin Desmond Roe)

Concorre em: Curta-Metragem em Live Action 

George Floyd, Breonna Taylor, Tamir Rice, Eric Garner, Freddie Gray… Todas essas pessoas possuem mais do que a cor em comum – compartilham também da farda que lhes tiraram injustamente a vida. Dois Estranhos, curta-metragem distribuído pela Netflix e dirigido por Martin Desmond Roe e Travon Free, também roteirista, nos mostra como esse ciclo de repressão, violência e sangue contra a população negra é impossível de ser quebrado, até mesmo quando tudo parece estar dando certo. Indicado à categoria de Melhor Curta em Live Action no Oscar 2021, Two Distant Strangers é o favorito para levar a estatueta. 

O famoso rapper Joey Bada$$ interpreta Carter James, um jovem negro que possui um único objetivo – chegar em casa e encontrar com seu cachorro. A tarefa extremamente simples se complica quando James se encontra num looping, onde o policial Merk (Andrew Howard), um branco de meia idade e extremamente racista, tenta o matar das mais diversas maneiras, todos os dias. Até mesmo quando parece que veremos um resultado, o sorriso de realização no rosto do personagem é interrompido pelos barulhos de tiro mais uma vez.

Durante os 32 minutos na tela, nunca saímos do lugar enquanto acompanhamos o  personagem acordar na mesma cama e voltar para o ciclo vicioso que representa as falsas promessas de que vidas negras importam. O maior concorrente de Dois Estranhos na premiação desse ano é justamente The Present, também cotado como um dos mais fortes na categoria. A tendência, no entanto, é Travon Free e Martin Desmond Roe levarem o prêmio para casa. Assim como a música que toca em replay nos fones de ouvido de James, esse é o jeito que é, algumas coisas nunca vão mudar. – Vitor Tenca


Foto retangular de uma cena de Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica. Os personagens Ian e Barley Lightfoot estão no centro da imagem. Ian é um elfo azul claro de rosto bem fino e magro, cabelos azuis desarrumados e olhos castanhos. Ele está no lado esquerdo da imagem e veste uma camiseta vermelha de gola. Possui uma expressão de medo, com as sobrancelhas contraídas e a boca semi aberta, com os dentes superiores à mostra. Barley é um elfo azul claro de rosto mais redondo e gordo, cabelos azuis lisos e olhos esverdeados. Ela está do lado direito da imagem e veste uma camisa preta com um colete jeans de gola, a qual possui dois botões. Do lado direito do colete, está escrito “Hades” com letras vermelhas e maiúsculas contornadas em preto. Ele usa um chapéu preto que cobre somente sua cabeça. Ele está sorrindo, com os dentes à mostra. Seu rosto está colado ao de Ian. O braço esquerdo de Barley está em volta dos ombros de Ia. Barley usa pulseira preta larga com círculos pontudos em cinza. Ao fundo, no lado esquerdo, possui um armário em madeira com alguns livros. No lado direito, há um mural de recados com um calendário e uma luminária acesa.
“Era uma aventura, era empolgante e, o melhor de tudo, tinha magia. E aquela magia ajudava quem precisava”: essa é a premissa de um dos concorrentes ao Oscar de Melhor Animação (Foto: Disney+)

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward, Dan Scanlon)

Concorre em: Animação 

Que a Pixar é um grande sucesso, ninguém pode negar. Pioneira das animações em computação gráfica, muitos de seus filmes – além da função de entretenimento – oferecem uma visão existencialista sobre a vida para atingir de forma subconsciente às crianças e cirúrgica aos adultos. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica aproxima-se dessa mesma linha de raciocínio, ainda mais por se tratar de um fato particular do diretor Dan Scanlon. 

Ambientado na cidade fictícia de New Mushroomton, somos apresentados à Ian e Barley Lightfoot (Tom Holland e Chris Pratt, respectivamente), dois irmãos elfos que, em luto, buscam uma maneira mágica de trazer o pai de volta à vida. De cara, já é possível ver em tela as feições de seus dubladores, o que garante um afeto aos personagens de trejeitos desengonçados e divertidos. 

Mesmo não sendo o favorito para ganhar a estatueta, o filme de Dan Scanlon e Kori Rae tem suas maravilhas. Os animais fantásticos unidos à sensação de alegria facilmente atrai as crianças, mas os adultos sentem o peso dos tópicos sensíveis que são abordados. O lidar com o luto, o relacionamento entre irmãos e até mesmo a garra de uma mãe solteira em criar seus filhos são pontos-chave que embelezam o enredo. Na verdade, tais fatos o fizeram vencer a categoria de Melhor Filme no Dublin International Film Festival. Dessa forma, a animação disponibiliza o equilíbrio perfeito entre risadas e lágrimas acaloradas, valor digno para a categoria de Melhor Animação do Oscar 2021. – Júlia Paes de Arruda


Cena do filme Estados Unidos Vs. Billie Holiday. Nela vemos Andra Day, uma mulher negra. Seus cabelos estão presos e há uma flor branca em sua cabeça. Ela veste um vestido preto e seus braços estão abertos. À sua frente há um microfone. O fundo da imagem é preto.
Andra Day solta o gogó na Trilha Sonora Original do filme (Foto: Hulu)

Estados Unidos Vs Billie Holiday (The United States vs. Billie Holiday, Lee Daniels)

Concorre em: Atriz

No ano da diversidade, e com tantos atores não-brancos brilhando em ótimos trabalhos, é uma pena que a poderosa Andra Day se encontre presa ao opaco Estados Unidos Vs Billie Holiday. A jovem cantora estreia nas telas de Cinema interpretando um ícone e coletando a única indicação do filme ao Oscar 2021, na categoria de Melhor Atriz. Corrida essa aberta, visto que cada uma das nomeadas venceu um precursor. Tudo começou em fevereiro, com a própria Day levando o Globo de Ouro, sucedida por Carey Mulligan e seu Critics Choice, Viola Davis com um SAG e Frances McDormand no BAFTA.

Pela segunda vez na história, duas negras disputam a estatueta principal no mesmo ano. Day e Davis buscam se tornar a segunda atriz a vencer a honraria, depois de Halle Berry, no longínquo 2002. Ademais, outra curiosidade que salta os olhos é a coincidência que assola a figura de Billie Holiday. A primeira vez que duas atrizes negras foram indicadas juntas foi em 1973, que tinha na lista Cicely Tyson e Diana Ross, essa segunda interpretando, é claro, a cantora Billie Holiday. – Vitor Evangelista


Cena do curta Feeling Through. Nela, vemos Terek e Artie andando de braços dados numa rua. Artie, um homem branco, careca, cego e surdo, segura Terek, jovem negro, no braço. Está de noite, Artie guia sua longa bengala branca. Ao lado deles, na rua, vemos objetos laranjas e brancos separando a rua da calçada.
Feeling Through está indicado na categoria Melhor Curta-Metragem em Live Action (Foto: Doug Roland Films/Giant Hunter Media)

Feeling Through (Idem, Doug Roland)

Concorre em: Curta-Metragem em Live Action

Robert Tarango, que interpreta Artie em Feeling Through, já é parte da história. O ator é o primeiro surdo-cego a ser escalado em um filme, algo totalmente inédito no cinema. A personagem, que também é uma pessoa com deficiência, recebe ajuda de Tereek (Steven Prescod) para pegar um ônibus e voltar para casa. A interação entre os dois rende momentos sensíveis e emocionantes, reflete sobre invisibilização e explora uma forma de comunicação através do tato. 

Apesar de pioneiro na surdo-cegueira, Feeling Through ainda tem problemas ao lidar com uma pessoa com deficiência. O curta de Doug Roland infelizmente não abandona a concepção capacitista de que devemos ter ‘dó’ ou ‘pena’ de PCDs, e a construção do texto dá a impressão de que o personagem de Tereek é transformado em salvador após o simples ato de ajudar Artie, que é quase que colocado como um recurso narrativo para fornecer inspiração. Pessoas com deficiência são muito mais que isso, e não devem ser utilizadas para dar um exemplo de uma vida ‘pior’, e sim apenas uma vivência diferente. – Jho Brunhara


Cena do filme Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars. Na cena vemos Lars e Sigrit cantando no palco do Eurovision para um estádio lotado e azul desfocado ao fundo. Ele, Lars, está à esquerda. É um homem branco, de meia idade, cabelo loiro preso em um coque, e veste um conjunto prateado de jaqueta e calça. Ele segura a mão de Sigrit e toca no ombro dela com a outra mão. Sigrit é uma mulher branca, de cabelo castanho, e usa um vestido azul bebê e um par de mangas da mesma cor.
A partir de hoje, Husavik é o meu Hino Nacional (Foto: Netflix)

Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars (Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga, David Dobkin)

Concorre em: Canção Original 

Presente em apenas uma categoria do Oscar 2021, Festival Eurovision da Canção é a joia perdida da cerimônia. Camuflado no catálogo da Netflix entre tantos outros grandes nomeados, o filme de David Dobkin toca as notas certas para emocionar, divertir e se diferenciar da competição. Na história, Sigrit (Rachel McAdams, a cara da Sandy) e Lars (Will Ferrell no único papel bom de sua carreira) sonham em ganhar o Festival Eurovision

Representando a Islândia, a dupla luta e consegue chegar à competição, mas no caminho dá de cara com uma porção de obstáculos, desde uma Demi Lovato zumbi até elfos mágicos e americanos burros. A Canção Original nomeada é Husavik, de linda composição creditada à Savan Kotecha, Fat Max Gsus e Rickard Göransson. Cantada no memorável clímax de The Story of Fire Saga, a música pode surpreender na cerimônia pelo fator espetáculo, visto que é a única das 5 Canções propriamente performada no filme. Dedos cruzados para a dupla conquistar mais essa! – Vitor Evangelista


Genius Loci é uma viagem mística guiada pelos traços do francês Adrien Merigeau (Foto: Adrien Merigeau)

Genius Loci (Idem, Adrien Merigeau)

Concorre em: Curta-Metragem de Animação

Sentimentos antagônicos te invadem ao assistir Genius Loci. Ao mesmo tempo que não sabemos direito o que está acontecendo na transformação dos desenhos, sabemos o rumo exato que os traços irão percorrer. As figuras desenhadas com tinta hidrográfica ganham estrutura com os breves diálogos que servem para nortear o telespectador nessa viagem dimensional. Genius Loci é o caos instaurado em figuras geométricas e cores vibrantes, com uma complexidade que vai além de sua curta duração.

Genius Loci é um termo latim que significa espírito local. A tradução nos ajuda a entender um pouco mais da mistura de sensações causadas pela pintura, a transformação de Reine em loba transpõe a incansável busca da protagonista por apoio e compreensão. Produzido pela Kazak Production, o curta é de origem francesa e tem seus loucos e impressionantes traços assinados por Merigeau. Ele concorre ao Oscar de Melhor-Curta Metragem de Animação ao lado do queridinho da Disney e do pavoroso Yes-People. – Ana Júlia Trevisan


Cena do filme Greyhound. Nela vemos Tom Hanks, um homem branco e de meia-idade, com roupa de capitão. Ele está dentro de um barco, e veste uma jaqueta de couro escura e um cap preto com uma insígnia prateada, e um par de binóculos pendurado no pescoço.
Tom Hanks não emplacou nem Greyhound nem Relatos do Mundo na corrida do Oscar 2021 (Foto: Apple TV+)

Greyhound – Na Mira do Inimigo (Greyhound, Aaron Schneider)

Concorre em: Som

Dirigido por Aaron Schneider e escrito pelo próprio Tom Hanks, Greyhound é um tiro descartado da Apple TV+. A produtora emplacou Wolfwalkers com aclamação da crítica, e sem o apelo de Soul, em Melhor Animação, mas errou a mão com o longa marítimo de Hanks. A história pouco importa, visto que os noventa minutos se encarregam de colocar os marinheiros para lá e para cá numa encruzilhada durante a Segunda Guerra Mundial.

Depois de uma recepção apática no lançamento, a campanha de Greyhound focou nas categorias técnicas, especificamente a de Efeitos Visuais e Som. Aparecendo apenas na segunda, com nomeação creditada à Warren Shaw (vencedor do Emmy por The Night Of), Michael Minkler (vencedor de 3 Oscars, o mais recente por Dreamgirls), Beau Borders e David Wyman. O trabalho sonoro é formidável, e a junção das categorias de Mixagem e Edição em uma ajudou Greyhound a se estabelecer na corrida.

Entretanto, um filme ruim com bom trabalho técnico não se justifica. A história recente da Academia preza por premiar espetáculos musicais e campos de guerra, e 2021 parece se encaminhar para a primeira opção, com a possível vitória de O Som do Silêncio. Ainda sobre Greyhound, podemos perceber que algo está faltando num longa de guerra quando nossa maior preocupação é o estado da jaqueta de couro de Tom Hanks depois de ele tomar tanta chuva. – Vitor Evangelista


Foto de divulgação de Hunger Ward. Na imagem, uma menina iemenita, muito magra, aparentando ter cerca de cinco anos, de pele amarronzada e cabelos castanhos, senta sob uma cama, ao centro, e sorri para a câmera. Ela está em uma sala de paredes rosadas na clínica de reabilitação.
Hunger Ward, indicado ao Oscar como Melhor Documentário em Curta-Metragem, aborda as consequências da desnutrição no Iémen, que ameaça de morte cerca de 100 mil crianças (Foto: Paramount+)

Hunger Ward (Idem, Skye Fitzgerald e Michael Scheuerman)

Concorre em: Documentário em Curta-Metragem

Assistir a Hunger Ward é testemunhar a realidade de uma em cada quatro crianças no Iémen. O curta-metragem indicado ao Oscar 2021 retrata a rotina da médica Aida Alsadeeq e da enfermeira Mekkia Mahdi em duas clínicas de alimentação terapêutica no país, onde lutam para salvar crianças da morte por desnutrição. O diretor dinamarquês Skye Fitzgerald não hesita em filmar a agonia dos pacientes e de suas famílias em seus momentos mais vulneráveis e usa dessa exposição para escancarar as implicações e sequelas da fome, que é usada como arma na guerra que assola o Iémen. 

Mesmo que Hunger Ward não gaste saliva dando aula sobre o conflito e foque em documentar a realidade nas clínicas, não se acovarda e, ao final, lembra que a guerra que causou tudo aquilo é financiada pelo país anfitrião da premiação. O curta não é o único que trata de pautas políticas e sociais: Do Not Split, Uma Canção para Latasha e Colette – quatro dos cinco indicados – também abordam seus diferentes temas sob óticas politizadas e humanizadas, em uma categoria com histórico de vitórias na mesma linha.

O trabalho de Fitzgerald já é familiar à Academia, que nomeou seu antecessor Lifeboat à mesma categoria em 2019, ainda que não o premiou. Quem levou a estatueta foi Absorvendo o Tabu, da Netflix, que esse ano também tem um concorrente na disputa, mas a pequena vantagem não prevê nada quando os outros nomeados da categoria também ostentam indicações. A competição é acirrada pela imprevisibilidade, mas a vitória – ou derrota – não anula o poder do cinema humanitário de Hunger Ward, que, como um sobrevivente pediu, mostra ao mundo o quanto as pessoas do Iémen sofrem. – Vitória Lopes Gomez


Cena do filme O Céu da Meia-Noite. Nela vemos George Clooney e uma criança. Eles estão vestindo casacos para neve e estão com neve em suas vestimentas. O céu ao fundo está limpo e o sol bate diretamente nas duas personagens, que olham para frente ao horizonte. George Clooney está com a barba congelada.
O Céu da Meia-Noite está indicado na categoria Melhores Efeitos Visuais (Foto: Netflix)

O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky, George Clooney) 

Concorre em: Efeitos Visuais

Depois da campanha caótica de Tenet e o abandono parcial da Warner, a categoria de Melhores Efeitos Visuais ganhou mais um competidor com chances reais de vencer. O Céu da Meia-Noite, drama de ficção científica da Netflix dirigido por George Clooney, conta a história de Augustine, um cientista que tenta impedir que seus colegas astronautas retornem à uma Terra pós-apocalíptica do futuro. A equipe responsável pelos efeitos é composta por Matthew Kasmir, Christopher Lawrence, Max Solomon e David Watkins.

O apelo do CGI espacial de O Céu da Meia Noite pode ajudar o longa na categoria, mas mesmo com uma campanha fraca, Tenet ainda tem chances de se dar bem. O que acontece é que os votantes de Efeitos Visuais não costumam ligar tanto assim para campanhas milionárias, e são fiéis aos méritos técnicos de cada indicado. Também é importante lembrar que filmes com temática espacial costumam se dar bem em cima de blockbusters, como por exemplo na vitória de O Primeiro Homem contra Vingadores: Guerra Infinita. Agora é só aguardar para ver se quem sairá vitorioso será Clooney ou Nolan. – Jho Brunhara


Imagem da capa do filme O Grande Ivan. O fundo possui um degradê do verde até o amarelo, como se fossem pinceladas. Na parte inferior, há um desenho preto simulando uma grama. Sob a grama, está uma fileira de silhuetas de animais, preenchidos de preto e sombreados de amarelo claro, caminhando para o lado esquerdo. O primeiro da fila, próximo ao canto esquerdo, está um cachorro pequeno. O segundo, é um gorila andando sobre as quatro patas. O terceiro é uma arara, voando. O quarto, um bebê elefante com a tromba apontando para o céu. O último animal é uma galinha.
A Disney concorre por dois filmes na categoria de Melhores Efeitos Visuais com Mulan e O Grande Ivan (Foto: Disney+)

O Grande Ivan (The One and Only Ivan, Thea Sharrock) 

Concorre em: Efeitos Visuais

O debate sobre animais circenses é um assunto polêmico e extremamente sensível. Porém, a Disney conseguiu abordar esse tema de uma maneira simples e descontraída em O Grande Ivan. O enredo gira em torno do gorila Ivan (Sam Rockwell), a atração de um circo dentro de um centro comercial. Porém, com a chegada de problemas financeiros, o dono Mack (Bryan Cranston) substitui Ivan pela pequena elefanta Ruby (Brooklynn Prince). Com a nova integrante no picadeiro, o gorila passa a repensar a vida que leva dentro do estabelecimento. 

Os efeitos visuais presentes no filme foram de responsabilidade de Nick Davis (que já foi indicado ao Oscar 2009 por Batman: O Cavaleiros das Trevas), Greg Fisher, Ben Jones e Santiago Colomo. Esse método promoveu fidelidade aos animais, por imitar as texturas de pelos e penas. A imagem computadorizada, além de evitar maus tratos com os bichos, promovem uma interação mais legítima e menos superficial com os seres humanos. Se você não é fã de filmes com animais falantes, O Grande Ivan não é para você. Contudo, sua trama desenvolta e, em alguns momentos, engraçada não é algo de se jogar fora. – Júlia Paes de Arruda


A imagem retangular é uma cena do filme O Tigre Branco. Ao centro e à frente vemos Adarsh Gourav, um homem de etnia indiana e pele parda. Ele tem um cabelo longo e preso em um rabo de cavalo, uma barba fina e um bigode longo. Ele sorri e possui os braços abertos. Ele usa um paletó preto aberto e por baixo uma camisa social xadrez em roxo e rosa. Ao fundo vemos 15 homens encarando a câmera, todos de etnia indiana e com camisas sociais brancas, porém aparentam ser rosas devido ao reflexo da luz.
No mundo dos ricos, não há humanidade, muito menos humanização em seus funcionários; por isso é tão satisfatório assistir a reviravolta de Balram (Foto: Netflix)

O Tigre Branco (The White Tiger, Ramin Bahrani) 

Concorre em: Roteiro Adaptado

Quem se depara com a trama de O Tigre Branco espera um filme clichê e sem sal com alguma história de superação ou até uma pitada de romantização da pobreza. Muito disso vem do preconceito contra o cinema indiano e sua variedade de histórias, pesando na valorização de qualquer obra ambientada no país. No entanto, a aposta da Netflix dirigida por Ramin Bahrani foge de qualquer estereótipo injusto do gênero. The White Tiger, no original, foi lembrado no Oscar pela sua maior qualidade: o roteiro. Baseado no livro homônimo de Aravind Adiga, Bahrani também assina a adaptação que garantiu a assertiva indicação em Melhor Roteiro Adaptado.

A luta anticapitalista e a tentativa de sair do galinheiro das castas indianas levam Balram ao limite e além, sempre com diálogos sagazes e um retrato cruel da relação servo-mestre que rendeu ao filme o apelido de Parasita indiano, principalmente pelo destino dos patrões em ambos os longas. Priyanka Chopra Jonas, que não só atuou como também produziu O Tigre Branco, foi a responsável pelo anúncio dos indicados a premiação no dia 15 de março, e, ao lado do marido Nick Jonas, pode espalhar o nome de seu filme em alto e bom som como parte oficial da seleção do Oscar esse ano. Apesar da surpresa boa, a obra não tem chances na categoria, que, se decidir não premiar Nomadland, vai entregar o prêmio a Meu Pai. – Caroline Campos


Cena do curta Opera. A imagem apresenta duas faixas pretas em sua parte superior e inferior, com uma imagem digital em destaque na faixa horizontal central.Nela, vemos como que um recorte da parede de um prédio, visualizando seus diversos cômodos como uma maquete. A imagem tem várias pessoas representadas por bonecos de traços simples e grande parte deles de cabeça branca redonda, sem características significativas que diferenciariam um do outro. Há muitos detalhes na imagem, destaquemos alguns, da esquerda para a direita. Um moinho de vento movimenta um grande sistema de engrenagens, no qual termina em uma espécie de enorme concha cheia de esferas, ao lado da qual dois homens se encontram em pé. Do outro lado deles, uma lareira acesa. Abaixo do moinho, há várias pessoas reunidas, algumas parecem estar dormindo. Mais à direita, um sistema de roldanas movimenta círculos amarelos para cima. Na parte central superior, um homem sentado em uma poltrona segura uma corda onde dois homens brancos nus com cabeça preta estão amarrados. No andar abaixo deles, 8 celas com grades verticais mantém 8 prisioneiros cativos. Mais abaixo, em um aposento onde parece ser um lugar para banho, há dois homens em pé no canto esquerdo, duas espécies de banheiras, sendo que vapor sai de uma delas, três corpos estranhos pendurados em ganchos, três homens vestidos de preto e chapéu em pé, e três homens nus com cabeça marrom agachados. No canto superior direito, no lugar que parece ser uma amurada de um castelo, vários homens em fila com lanças na mão, e um deles com uma tocha. Abaixo, há dois aposentos. Em um deles, dois homens se encontram em pé, ao lado do que parece ser um grupo concentrado agachado de homens de cabeça marrom. Ao lado, em um aposento iluminado por uma lâmpada, dois homens se encontram sentados diante de uma mesa, com duas pilhas enormes do que parece ser comida: uma pilha amarela, outra rosa. Abaixo, há quatro aposentos com cortinas e fundo roxo, com silhetas de pessoas fazendo sexo em diferentes posições.
Opera impressiona pela quantidade de informações simultâneas que apresenta, e como todas elas se relacionam para formar um sistema complexo (Foto: Beasts and Natives Alike)

Opera (Idem, Eric Oh)

Concorre em: Curta-Metragem de Animação

Fugindo das breves narrativas mais convencionais de alto apelo emocional que costumam se destacar na categoria de Melhor Curta de Animação, Opera é uma experiência visual que vai para além do cinematográfico. Deixando de lado a tradicional sucessão de planos planejados para contar uma história, o curta é uma maquete, uma estrutura, um sistema complexo em suas centenas de intrincadas camadas que operam até a sua autodestruição e ressurgimento. É uma ilustração animada que resume ao seu modo toda a história da humanidade, e se isso parece ambicioso demais para 8 minutos de imagens programadas em um computador, pode ter certeza que o filme é páreo para suas próprias pretensões. 

O fato de ser um filme ser tão diferente talvez se explique se voltarmos à sua concepção original, tendo sido pensado originalmente pelo artista Erick Oh, ex-animador da Pixar Animation, como uma instalação artística, onde o vídeo poderia ser visto várias vezes pelo observador. Não à toa, o curta suplica para ser reassistido: há uma riqueza infinita de situações representadas em todos os cantos da tela, todas recebendo igual atenção. Uma das grandes inspirações para Oh foram murais renascentistas, como o teto da Capela Sistina por Michelangelo, que impõe grandeza ao mesmo tempo que apresentam uma cadeia riquíssima de informações visuais. A instalação artística virou curta, e dos prêmios em festivais veio a indicação ao Oscar. Agora só nos resta torcer para que a Academia seja páreo para o curta de Erick Oh. – João Batista Signorelli


Com Vanessa Kirby concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz, Pieces of a Woman faz parte da longa lista de indicados disponíveis na Netflix (Foto: Netflix)

Pieces of a Woman (Idem, Kornél Mundruczó)

Concorre em: Atriz

Dramático, intenso, envolvente, angustiante, emocionante, essas são algumas das palavras usadas para definir Pieces of a Woman. Contando a história de um luto de uma mãe que perde sua filha durante o parto em casa, a produção se mostra cuidadosa na construção de um ambiente sentimentalmente vazio após toda dor da tragédia. A narrativa se concentra em condenar culpados pela morte da bebê, com a família convencida que o certo a se fazer é julgar a parteira no tribunal, a protagonista – contra essa decisão – se vê sozinha lidando com os sentimentos que a consomem.

Interpretada por Vanessa Kirby, e graças à sua atuação visceral que quase causa dor física no telespectador, por tamanha entrega na personagem, Pieces of a Woman chegou nas premiações de 2021. A atriz que já venceu o British Television Awards por seu papel em The Crown, esteve presente em todas premiações que antecedem o Oscar, inclusive o BAFTA que contou apenas com ela e Frances McDormand (vencedora) da lista do tapete vermelho. Ao lado das gigantes Viola Davis e Carey Mulligan, as chances de Vanessa levar a estatueta de Melhor Atriz por Martha Weiss são baixas, mas a chuva de indicações é merecida. – Ana Júlia Trevisan


Cena do Documentário Professor Polvo.O mergulhador Craig Foster está no mar, com equipamento para mergulho, touca, bermuda apropriada para mergulho, relógio à prova d 'água, máscara e snorkel. À frente do mergulhador está um polvo conhecido como Polvo Comum. Ele é laranja com manchas mais escuras de tom de laranja e apresenta, também, manchas brancas.
Professor Polvo mostra com sensibilidade como a visão de mundo pode ser modificada quando o homem volta a ter contato com a natureza (Foto: Netflix)

Professor Polvo (My Octopus Teacher, Pippa Ehrlich e James Reed)

Concorre em: Documentário

Professor Polvo retrata de maneira incrível a amizade entre o mergulhador Craig Foster e um polvo. O documentário mostra de forma emocionante como a interação do ser humano com o ambiente marinho se torna uma investigação e aprendizado sobre o comportamento animal. De modo sensível, o mergulhador vai desenvolvendo amor, respeito e um sentimento de proteção para com o molusco, o que se amplia para ações coletivas de preservação e proteção do ambiente.

A narrativa documental apresenta uma ousada e elaborada técnica de filmagem, permitindo ao espectador a sensação de mergulhar junto a Craig e de ver o mundo com seus olhos. Foi indicada na categoria de Melhor Direção em Documentário do Directors Guild of America Award, e ganhadora em Melhor Documentário no Sindicato de Produtores da América e no British Academy Film Awards. As premiações recebidas e sua indicação ao Oscar fazem do longa documental o favorito da categoria na referida premiação. 

É um documentário poético e crítico, com um tom ambientalista assertivo. Ele não força a empatia e o entendimento de importância e da manutenção dos recursos ambientais, realiza de modo lento, progressivo (quase que como o andar do polvo) e sensibilizador esse sentimento em quem o assiste. As escolhas de narrativa, captação de imagens e trilha sonora para o que se conta também são o ponto de grande acerto da produção e que o justificam como favorito a levar a estatueta dourada do Oscar. – Ma Ferreira


Cena do filme Quo Vadis, Aida?. Nela vemos a personagem principal atrás de uma grade, com um close no rosto. Ela é uma mulher branca e tem um olhar raivoso e preocupado.
Quo Vadis, Aida? é o representante da Bósnia e Herzegovina na categoria Melhor Filme Internacional (Foto: Super LTD)

Quo Vadis, Aida? (Idem, Jasmila Žbanić)

Concorre em: Filme Internacional

Druk – Mais uma Rodada está bem posicionado para vencer a categoria de Melhor Filme Internacional, mas Quo Vadis, Aida? pode surpreender e ser uma das zebras da noite de 25 de abril. O longa bósnio conta a história de um episódio da Guerra da Bósnia, o massacre de Srebrenica, do ponto de vista da tradutora da ONU Jasna Đuričić, que tenta garantir a segurança de seu marido e seus filhos, ameaçada pelos militares sérvios. 

O filme, importantíssimo em suas motivações políticas, é brutal, de forma a escancarar um evento terrível da história humana que não pode ser ignorado. A última vez que o país venceu a categoria no Oscar foi em 2002, com Terra de Ninguém, batendo o francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. – Jho Brunhara


Rosa e Momo ficou de fora das categorias de atuação, concorrendo apenas a Melhor Canção Original (Foto: Netflix)

Rosa e Momo (La vita davanti a sé, Edoardo Ponti) 

Concorre em: Canção Original

Esnobado pelos italianos que preferiram levar o documentário Notturno para representar o país no tapete vermelho, Rosa e Momo chegou à premiação graças à sua canção original Io Sí, ternamente interpretada por Laura Pausini. O filme marca a volta da consagrada Sophia Loren às telinhas, após quase uma década sem protagonismos. Dirigido pelo filho da atriz, Edoardo Ponti, a não-indicação em categorias mais relevantes de atuação deixa o questionamento se futuramente veremos o diretor tentando emplacar uma produção com sua mãe.

Sophia Loren não está sozinha em Rosa e Momo. O ator mirim Ibrahima Gueye se destaca em todas as cenas que aparece, mostrando uma excelente atuação verbal e não-verbal e sendo reconhecido por  seu trabalho com a indicação ao Critics Choice Awards na categoria de Melhor Ator/Atriz Jovem. Mesmo ficando de fora do Oscar, a produção italiana conseguiu espaço no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards, ambos em Melhor Filme em Língua Estrangeira.

Io Sí é composta por Diane Warren, que é a mulher com maior número de indicações ao prêmio da Academia sem nunca ter ganho uma estatueta. A música foi premiada no Globo de Ouro e agora concorre ao maior prêmio do cinema estadunidense ao lado de Fight for You, Hear My Voice, Husavik e Speak Now, lembrando que a última do Leslie Odom, Jr., saiu vencedora do Critics Choice Awards. – Ana Júlia Trevisan


A imagem é uma cena do curta Se Algo Acontecer… Te Amo. A imagem é um desenho em tons preto e branco. Nela, há um homem e uma mulher sentados em uma longa mesa de jantar, cada um em uma ponta; ao centro da mesa, há um vaso com uma flor murcha. Acima deles, está escrito o título original do curta: If anything happens I love you.
Se Algo Acontecer… Te Amo domina o favoritismo na categoria de Melhor Curta de Animação (Foto: Netflix)

Se Algo Acontecer… Te Amo (If Anything Happens I Love You, Will McCormack e Michael Govier) 

Concorre em: Curta-Metragem de Animação

Entre as milhares de apostas da Netflix na premiação, Se Algo Acontecer… Te Amo é uma que se destaca. O curta-metragem, dirigido por Will McCormack e Michael Govier, é um retrato de uma luta frequente entre os estadunidenses, que é a perda de seus filhos em tiroteios no ambiente escolar. A partir da perspectiva de um casal, a delicada animação navega por todas as fases do luto, criando uma bela história sobre superação. 

A obra conta com a vencedora do Oscar Laura Dern na produção, e tem os traços de Yougran Nho como elemento importante para a composição do seu significado. Todo esse trabalho só poderia resultar em uma indicação para o prêmio da Academia, em Melhor Curta de Animação. E a narrativa ainda permanece como uma das favoritas na categoria, podendo derrubar outros grandes nomes como Toca e Opera. Vitória Silva


Cena do filme Shaun, o Carneiro: O Filme - A Fazenda Contra-Ataca. A imagem, montada com bonecos, mostra um ser alienígena ao centro, cercado por 4 carneiros. A alienígena veste um enorme casaco de tricô que cobre seu corpo todo, exceto a ponta de seu nariz, a parte superior de sua cabeça azul, seus olhos e orelhas compridas roxas. Ela se encontra de braços abertos. Os carneiros, todos em duas patas, tem braços e pernas finos cinza-escuros, tronco branco de lã, com cabeças cinza-escuras, com focinhos largos avantajados para baixo, orelhas encurvadas para os lados e olhos redondos. À esquerda da imagem, vemos uma ovelha magra com uma bola de lã em sua cabeça, patas na cintura, sorrindo. Ao seu lado e mais ao fundo, outra ovelha mais alta e corpulenta de braços curtos e olhos arregalados. À direita da imagem há outras duas ovelhas. Mais à frente, uma bem pequena e arredondada, com um sorriso grande e segurando um urso de pelúcia laranja. Atrás dela, outra ovelha maior e corpulenta sorrindo com as mãos apoiadas no corpo. Ao fundo, há uma parede de pedras irregulares e finas. Nela, algumas tábuas e uma grande roda de maneira estão apoiadas.
Nada como a textura de um casaquinho de tricô feito à mão (Foto: Netflix)

Shaun, o Carneiro: O Filme – A Fazenda Contra-Ataca (A Shaun the Sheep Movie: Farmageddon, Richard Phelan e Will Becher)

Concorre em: Animação

Em um tempo onde a animação digital monopoliza o mercado, e a cada ano a Pixar se desenvolve a cada filme com texturas e realismo de cair o queixo, a Aardman Animations vai na contramão e insiste em permanecer produzindo suas animações em stop-motion: um processo caro, trabalhoso, mas infinitamente recompensador ao se concretizar na tela, e de certa forma mais atemporal do que qualquer inovação tecnológica do momento. O estúdio já tem um longo histórico na premiação, com um total de 8 indicações e 3 vitórias na categoria de Curta de Animação, além de uma vitória para o longa Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais, e uma indicação para o primeiro filme da franquia do carneiro Shaun. Tendo sido lançado em 2019 na Inglaterra, foi distribuído pela Netflix no mercado internacional, tornando-se apto à premiação de 2021. A indicação foi mais do que merecida, ainda que não tenha chances de vitória por conta de um certo concorrente pouco competitivo. 

Brincando com todos os clichês do sci-fi com homenagens que vão de E.T. – O Extraterrestre a Sinais, o longa de Will Becher e Richard Phelan diverte pelo ritmo ágil, impressiona pelo nível de detalhamento e criatividade de sua animação e cenário, e cativa com a simplicidade de sua história. Shaun, O Carneiro: O Filme – A Fazenda Contra-Ataca nos mostra não é necessária uma única palavra para se contar uma boa história, que o humor físico ainda pode ser engraçado, e que uma animação não precisa explicar todo o sentido da existência humana para ser indicada ao Oscar (ouviu, Pixar?). É, por fim, tudo de bom para a minha criança interior. – João Batista Signorelli


Cena do filme The Letter Room. Na foto constam duas pessoas, um homem e uma mulher, sentados de frente para outro num restaurante. O homem, vivido pelo ator Oscar Isaac, usa uma camisa pólo marrom por dentro da calça, calça jeans clara e um cinto. Ele possui pele morena, cabelos escuros e um bigode escuro, e está com as mãos cruzadas em cima da mesa. A mulher, vivida por Alia Shawkat, possui cabelos castanhos curtos, estilo pixie até nuca, e pele clara. Ela veste um vestido estampado floral e um casaco azul. O cenário é composto por uma mesa marrom, e atrás está uma janela com uma decoração feita de vasos numa prateleira.
Em The Letter Room, Oscar Isaac foi dirigido por sua esposa, a diretora indicada ao Oscar de Melhor Curta-Metragem em Live Action Elvira Lind (Foto: Dutch Tilt Film)

The Letter Room (Idem, Elvira Lind) 

Concorre em: Curta-Metragem em Live Action

Repetindo as temáticas que surgem dos problemas do sistema prisional norte-americano, The Letter Room se volta para a questão da privacidade. O curta de Elvira Lind acontece pela perspectiva do segurança Richard (Oscar Isaac), que almeja uma vaga de emprego no setor de RH da penitenciária em que trabalha e acaba como fiscal da correspondência dos presos. Esperando topar com conversas sobre tráfico, terrorismo e demais planos ilícitos, o que o funcionário encontra são escritos sentimentais e que confrontam sua própria forma de levar a vida.

A diretora conhecida pelo documentário Bobbi Jene estreia no Oscar com um filme que pensa sobre um problema grandioso de forma sutil, concordando com boa parte dos demais indicados a Melhor Curta-Metragem em Live Action. O nome e a atuação de Isaac, aqui entregando algo diferente do que estamos acostumados a ver vindo dele, é algo que dá sustância ao filme, assim como Alia Shawkat – presente também no esnobado First Cow – , que toma o filme apenas com sua voz. Mas The Letter Room não é o favorito à estatueta. – Raquel Dutra


Cena do filme The Man Who Sold His Skin. A imagem mostra o personagem Sam Ali, interpretado por Yahya Mahayni, de costas, sem camisa. Ele está de frente para uma plateia de pessoas sentadas que o aplaude. Todos estão numa sala elegante e com decoração clássica, que possui três aberturas para passagem cobertas por cortinas vermelhas, sendo uma ao centro e as outras duas nas laterais. Ao centro, no alto, também existe um lustre brilhante. A imagem possui um efeito de desfoque e as luzes estão levemente borradas.
Esta é a segunda vez que Kaouther Ben Hania é selecionada para representar a Tunísia no Oscar, e a primeira em que a diretora chega até a lista final das indicações (Foto: Cinétéléfilms)

The Man Who Sold His Skin (الرجل الذي باع ظهره, Kaouther Ben Hania)

Concorre em: Filme Internacional

A indicação do selecionado da Tunísia é uma das surpresas da seleção do Oscar 2021. Vindo de uma ótima recepção no Festival de Veneza de 2020 (onde concorreu às principais categorias da mostra Orizzonti, vencendo em Melhor Ator), O Homem que Vendeu sua Pele garantiu seu lugar na disputa de Melhor Filme Internacional mesclando reflexões sobre cultura, política, sociedade, ética e arte, numa demonstração grandiosa do potencial da diretora Kaouther Ben Hania. 

O filme acompanha Sam Ali (Yahya Mahayni), um jovem sírio que migrou de seu país para escapar da guerra. Desamparado, ele recebe uma proposta para transformar seu corpo numa obra de arte e enxerga nisso uma oportunidade para finalmente alcançar sua liberdade, mas logo suas escolhas originam algumas de suas principais agonias. 

O Homem que Vendeu Sua Pele é uma das obras mais contemporâneas numa seleção que memora décadas passadas em suas principais categorias. Mesmo que não esteja próximo de arrematar o prêmio, a obra é digna de reconhecimento, especialmente por conta do trabalho de Ben Hania, uma incentivadora assídua do trabalho de mulheres no Cinema fora do eixo Estados Unidos-Europa, notada num ano recorde de mulheres indicadas ao Oscar. – Raquel Dutra


Cena do curta The Present. Nela vemos pai e filha sentados dentro de uma van. Ambos de pele clara, a filha usa um casaco vermelho e apoia a cabeça no braço do pai.
The Present, curta palestino, venceu o BAFTA de Melhor Curta-Metragem Britânico (Foto: Philistine Films)

The Present (الهدية, Farah Nabulsi)

Concorre em: Curta-Metragem em Live Action

The Present, curta palestino, conta a história de um pai e sua filha que precisam cruzar a fronteira entre a Cisjordânia e Israel para comprar uma geladeira nova e ir ao mercado. Apesar da trama aparentemente simples, aqui Farah Nabulsi desenvolve as questões políticas já conhecidas e a forma abusiva com que as autoridades militares israelenses tratam os cidadãos palestinos.

Saleh Bakri e Maryam Kanj interpretam suas personagens de forma sensível e assertiva, e mostram diretamente ao espectador a agonia diária dos residentes da Palestina que apenas querem sobreviver, e realizar tarefas básicas do dia a dia. The Present é o primeiro curta palestino a ser indicado na categoria, e se vencer, será a primeira produção do país a receber uma estatueta do Oscar. – Jho Brunhara


Cena do documentário Time. A imagem apresenta apenas o rosto de Fox Rich, principal personagem do filme, através de um espelho. Ela está se observando, com uma expressão alerta e séria. Ela é uma mulher negra, usa maquiagem no contorno dos olhos e seus cabelos estão alisados. No lado esquerdo da imagem, a moldura do espelho corta o reflexo de seu rosto. A imagem está em preto e branco.
Time é a primeira nomeação em uma grande premiação de Cinema da diretora Garrett Bradley, que também trabalhou na minissérie indicada ao Emmy Olhos que Condenam (Foto: Amazon Prime Video)

Time (Idem, Garrett Bradley)

Concorre em: Documentário

História, relevância, repercussão, técnica, simpatia, coesão, sentimento e informação. Time tem tudo o que um favorito ao Oscar de Melhor Documentário precisa, e porque ele não é a produção mais provável de abocanhar a estatueta da categoria eu também não sei. O filme do Amazon Prime Video aborda numa ótica pessoal um dos temas mais urgentes da América que já foi reconhecido pela Academia através de outro documentário indicado em 2017.

Estamos falando de um filme bem distribuído, estamos falando de uma história próxima, sensível e com personagens envolventes, estamos falando da política de encarceramento em massa e estamos falando de A 13ª Emenda, da renomada Ava DuVernay. Com esses elementos, é fácil entender a razão da indicação, e é difícil entender o motivo de tudo isso muito provavelmente passar em branco mais uma vez pelo Oscar.

Outro aspecto favorável é o histórico da jovem diretora Garrett Bradley, que venceu o prêmio de Direção em Documentário e concorreu ao Grande Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Sundance em 2020. Time também marcou presença nas principais categorias do Critics Choice Documentary Awards, uma das premiações mais importantes do gênero, mas sua brilhante caminhada não foi o suficiente para alavancar a corrida ao Oscar, que tem se comportado de forma duvidosa com seus documentários. – Raquel Dutra


O curta infantil encantada todas as idades com sua fofura (Foto: Disney+)

Toca (Burrow, Madeline Sharafian)

Concorre em: Curta-Metragem de Animação

Animação e Disney são quase sinônimos, tendo seu carro-chefe nos desenhos, as produções sempre deixam o nome na temporada de premiações. Para 2021, além do estrondoso sucesso de Soul que está ganhando todos os doces da festa, os estúdios Pixar trouxeram Toca. Programada pra ser a animação exibida no cinema momentos antes do longa, teve seu lançamento direto no Disney+ por conta da pandemia.

Nos últimos quatro anos, os curtas da Disney levaram a melhor na categoria duas vezes – 2017 com Piper e 2019 com Bao – e estiveram presentes todos os anos. Toca, que representa a Disney esse ano, foi escrito e dirigido por Madeline Sharafian e produzido por Mike Capbarat e faz parte da série de produções SparkShorts: curtas-metragens de animação independentes, criada por funcionários temporários dos estúdios Pixar

Com apenas seis minutos, o short film aquece o coração até dos mais amargurados. A história da coelhinha em busca de um lar e o trabalho conjunto feito em torno disso, é um ombro amigo em tempos tão difíceis. Apesar de ainda ser uma dúvida, não será surpresa alguma se além dos prêmios de Soul, a Disney colocar na prateleira a estatueta de Melhor Curta-Metragem Animado. – Ana Júlia Trevisan


Cena do documentário Uma Canção para Latasha. Nesta imagem, vemos duas garotas negras que aparentam ter 12 anos. A garota da direita está cochichando no ouvido da garota da direita. A garota da direita está com os cabelos soltos e veste camiseta roxa. A menina da esquerda está com os cabelos amarrados e veste camiseta regata branca. Elas estão sentadas uma do lado da outra em uma varanda de uma casa.
O emocionante e belíssimo Uma Canção para Latasha é um dos favoritos na categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem no Oscar 2021 (Foto: Netflix)

Uma Canção para Latasha (A Love Song for Latasha, Sophia Nahali Allison)

Concorre em: Documentário em Curta-Metragem

No dia 16 de março de 1991, em Los Angeles, Latasha Harlins, uma garota negra de 15 anos de idade, foi morta segurando dois dólares após ser falsamente acusada de ter roubado uma garrafa de  suco de laranja que custava um dólar e setenta nove centavos, em uma loja de conveniência. No entanto, não houve justiça, já que a autora do crime recebeu liberdade condicional depois do pagamento de uma multa de 500 dólares e cumprido 400 horas de trabalho comunitário.

O curta-documentário A Love Song For Latasha produz uma conversa entre o passado e o presente por meio do testemunho de Ty, a melhor amiga de Latasha, com o intuito de nos apresentar quem era a jovem que teve sua vida perdida por causa de um suco. Além do emocionante depoimento da melhor amiga, o curta também é construído com ajuda de belíssimas cenas que são compostas por imagens com efeitos VHS, que nos ajudam a teletransportar para os anos 90, e a utilização de animações para recriar as cenas do momento do assassinato de Latasha Harlins, sem explorar a morte de forma gratuita.

 O curta-metragem de 19 minutos, que relata sobre caso que ocorreu 30 anos atrás, possui ainda grande significado para nossa sociedade, pois mostra que por trás de toda estatística de jovens negros mortos, existem pessoas que tiveram seus sonhos interrompidos por causa da cor da sua pele ou classe social. Deve-se ressaltar que ele foi selecionada para participar de 13 dos principais festivais de Cinema dos Estados Unidos da América, como o Tribeca Film Festival e o Sundance Film Festival, e que também já conquistou 5 prêmios. Atualmente está concorrendo na categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem no Oscar 2021 e pode ser visto no serviço de streaming Netflix. – Maria Antonia Soares Roberto


Cena do curta White Eye. À esquerda, Dawit Tekelaeb, um homem negro de cabelos curtos, crespos e preto, está de pé. Dawit está do peito para cima na imagem, de perfil e virado para a direita. Ele usa uma camisa branca e azul, com gola, e um avental por cima. Dawit olha para a direita, na direção de Daniel Gad. Daniel está no canto direito da foto, olhando para baixo. Daniel é um homem branco com cabelos escuros e barba e bigode. Ele usa uma touca preta, jaqueta preta e um agasalho preto por baixo. Ao fundo, desfocado, está uma bicicleta e o cenário de uma rua.
White Eye está indicado na categoria Melhor Curta-Metragem em Live Action (Foto: Eroin Corp.)

White Eye (Idem, Tomer Shushan) 

Concorre em: Curta-Metragem em Live Action

O representante de Israel na categoria, White Eye, é uma experiência visual e social ao longo de seus 20 minutos. Gravado em plano sequência (sem cortes), assistimos um jovem reencontrar sua bicicleta que foi roubada semanas antes. Porém, há um detalhe: ela está presa por uma corrente, e provavelmente está sendo utilizada por outra pessoa. Em primeiro momento, torcemos para que ele possa recuperar o objeto. Mas, ao descobrirmos que ela foi revendida para um trabalhador de baixa renda que a utiliza para levar sua filha à escola todos os dias, o julgamento moral começa a dobrar.

Para o dono da bicicleta roubada, recuperar o objeto que um dia pertenceu a ele parecia mais uma questão pessoal do que econômica, a ponto de insistir até o último segundo que ela fosse devolvida, mesmo que através de intervenção da polícia. Para o comprador, que não temos como saber se tinha conhecimento de que era fruto de um roubo, aquela bicicleta tinha uma importância muito maior: era sua forma de locomoção, que permitia que sua filha recebesse educação, e que faria muita falta se a perdesse. 

White Eye não quer discutir se roubar é certo ou errado, ou quem era o verdadeiro dono da bicicleta. O curta parece ter como principal propósito evidenciar a diferença socioeconômica entre as duas personagens, e mostrar que, às vezes, o que é cegamente justo não é certo, e que precisamos levar em conta as condições de vida de cada um e seus privilégios. – Jho Brunhara 


Cena do filme animado Wolfwalkers. À direita, há a personagem Robyn, uma garota branca, de cabelos loiros e olhos azuis, que usa uma blusa verde, calça e capa preta e botas. Em seu cabelo, há folhas de árvore. Robyn está com uma expressão triste, olhando para baixo. Do seu lado direito, está seu falcão Merlyn de pelagem marrom. À sua esquerda, Mebh olha em frente, como em direção a câmera. Ela é uma menina branca, cabelos ruivos e bem armados, repletos de flores no meio. Ela usa um vestido verde e braceletes marrons. As duas sentam em um tronco no alto, em meio a floresta alaranjada.
A amizade belíssima de Mebh e Robyn é um dos pontos altos de Wolfwalkers (Foto: Apple TV+)

Wolfwalkers (Idem, Tomm Moore e Ross Stewart)

Concorre em: Animação

Sim, você sabe que o Oscar de Melhor Animação vai para Soul. Eu sei, a Academia sabe, todo mundo sabe. Mas isso significa que o longa da Disney é irrefutavelmente o melhor entre os indicados? Não necessariamente, e, se você ainda não está convencido, dê uma chance para Wolfwalkers. O longa irlandês de Tomm Moore e Ross Stewart custou 1% do que foi gasto na produção da Pixar e sua indicação ao Oscar 2021 foi uma das mais comemoradas no mundo animado. Recriado a partir de desenhos aquarelados feitos a mão com lápis e papel, a história de Mebh e Robyn chama a atenção pela beleza dos traços, os relacionamentos lindamente construídos e uma narrativa fantasiosa com base no folclore irlandês.

Os cenários da floresta, os lobos e suas transformações produzidos pelo estúdio Cartoon Saloon podem não ser tão refinados quanto os mínimos detalhes de seu maior concorrente, mas possuem um charme único em 2D que pode tranquilamente bater de frente com o monopólio Disney-Pixar que já é conhecido no Oscar. A revolução naturalista liderada por duas garotas contra o fanatismo religioso de um colono faz um apelo em prol da defesa do meio ambiente essencial para adultos e crianças. Inclusive, há brasileiros envolvidos na produção. O quadrinista Eduardo Damasceno e a animadora Tatiana Mazzei integram o time de profissionais talentosíssimos por trás de Wolfwalkers.

Desde que o estúdio animado foi criado em 1999 na cidadezinha de Kilkenny, na Irlanda, ele já acumula 5 indicações ao Oscar. Neste ano, a aventura de Mebh e Robyn não deve passar batido, mesmo que saia de mãos vazias no tapete vermelho. A astúcia e coragem de uma amizade improvável em um contexto mais improvável ainda é uma das peças mais belas da atual temporada de premiações. – Caroline Campos


Imagem do filme Yes-People. Na imagem uma senhora branca de cabelo branco e vestido verde toma uma sopa sentada em uma mesa a frente de seu esposo, homem branco, careca que usa uma regata ao fundo e mexe num rádio. Na mesa, há um jornal, um prato de sopa e 2 canecas. Ao fundo, uma parede vermelha com cartazes.
O ‘sim’ nem sempre constrói situações, às vezes ele é um refúgio da negação (Foto: Hólamói)

Yes-People (Já-Fólkið, Gísli Darri Halldórsson) 

Concorre em: Curta-Metragem de Animação

A animação islandesa indicada na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação no Oscar 2021, Yes-People, fala mais sobre o ser humano do que podemos imaginar. Com diálogos construídos apenas pela palavra ‘sim’, o filme acompanha a rotina de diferentes personagens ao longo de um único dia. Além de todo brilhantismo no enredo, a produção ainda é muito singular em seus traços ao longo de toda obra. Além disso, a palavra ‘sim’ ainda ganha total importância no momento que as personagens, e consequentemente nós, entendemos como ela pode afetar não só nosso dia, mas também nossa vida.

Já-Fólkið também merece todo reconhecimento da Academia quando mostra a representatividade do advérbio, principalmente quando, no último momento, ele é contraposto com seu antônimo, ‘não’. O filme então, quase como uma comédia reflexiva, passa sua mensagem ainda mais a fundo e deixa registrado seu peso em meio aos concorrentes da categoria. – Larissa Vieira

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