Amor e Monstros: uma extraordinária aventura em um mundo apocalíptico

Foto promocional do filme Love & Monsters. No centro é possível ver Dylan O'brien, homem branco de cabelo curto e preto, segurando uma arma nos ombros e olhando para a frente. Em baixo dele há a imagem dos outros três personagens principais. Na ordem, da esquerda para a direita, estão: Um homem branco de barba, roupas verdes e chapéu escuro; Uma mulher de ascendência asiática, regata verde e cabelo preto preso; Uma garota criança branca de cabelo preto solto, segurando um arco e flecha. No fundo há um carro abandonado, um telão e um poste com vários fios.
Amor e Monstros, protagonizado por Dylan O’Brien e disponível na Netflix, foi indicado ao Oscar 2021 de Melhores Efeitos Visuais (Foto: Netflix)

Mariana Chagas

Até onde o amor é capaz de levar alguém? Alguns saem do avião em direção ao trabalho dos sonhos para ir atrás de seu amado, como Rachel em Friends. Na fantasia de Sarah J. Maas, o amor motiva Feyre a subir a montanha e encarar sua maior inimiga. Em Romeu e Julieta, ele guia o encontro do casal com a morte. E, no filme Amor e Monstros, esse sentimento que é tão confuso, mágico e poderoso leva Joel Dawson a encarar um mundo pós-apocalíptico e seres gigantes, apenas para tentar achar a garota que ele ama.

Não é a primeira vez – e muito menos a última – que o fim do mundo é utilizado como plot para obras cinematográficas. Love & Monsters, porém, escolhe seguir um caminho diferente e usar a tragédia de uma forma cômica. O famoso ‘é melhor rir para não chorar’. E mesmo com as partes tensas e tristes, a maioria das cenas garantem que o público, antes de tudo, se divirta assistindo. E é por isso que a escolha de ter Dylan O’Brien como protagonista foi tão perspicaz.

O ator norte-americano ganhou destaque em Teen Wolf. O seu papel foi tão querido que, mesmo sendo um personagem secundário, ele era, e ainda é, o mais amado da série. Isso porque a naturalidade de Dylan em fazer cenas engraçadas torna impossível de não rir quando ele aparece nas telas. E tal habilidade era necessária para quem quer que fosse dar vida a Joel Dawson. Sem plots muito inovadores, quem prende o público durante os 109 minutos da história é o fofo do protagonista.

Cena do filme Love & Monsters. Dylan O'brien, homem branco de cabelo escuro curto, está de pé segurando uma arma. Ele veste calça e blusa verde escura, e uma jaqueta vermelha por cima. No fundo há troncos de árvores. Ele olha para o lado direito da imagem, o rosto machucado com uma expressão assustada.
O’Brien dá vida à outro personagem encantador (Foto: Netflix)

Logo no começo, dá pra perceber que o nosso herói não é muito bem um herói, pelo menos inicialmente. Dentro do seu grupo, suas atividades se resumem a cozinhar. E é isso. Joel é medroso e não tem jeito com armas, nem nada que possa realmente ajudar na segurança da casa improvisada deles. Mas ele tem algo que, talvez, seja ainda mais importante do que tudo isso: um motivo. Sua namorada, por quem ele se apaixonou antes do fim do mundo, continuou em seus pensamentos mesmo tantos anos depois. E em um súbito momento de coragem – ou talvez loucura – ele decide que irá percorrer os 130Km que o separam dela. Sozinho.

Os parceiros de Joel não acreditam de primeira, mas quando percebem que o garoto não está de brincadeira, se despedem com uma certeza de que ele não iria voltar vivo. Afinal, como ele poderia em um mundo tomado por criaturas mortais? Mas nada disso impede o protagonista. Então, mesmo sem ter noção nenhuma do que está fazendo, ele começa sua jornada. A forma confusa, porém firme, com que Joel segue seu caminho é adoravelmente boba e super fofa. Então torcemos para que dê certo, mesmo com as probabilidades altíssimas de dar tudo muito, muito errado.

Cena do filme Love & Monsters. A atriz Jessica Henwick, mulher asiática, está sentada, olhando para o lado direito da imagem. Ela tem seu cabelo escuro solto e veste uma regata cinza. Em uma cadeira de madeira, ela encosta o braço na mesa a sua frente que está repleta de objetos. No fundo da imagem há um armário cinza. A foto é iluminada por uma luz de tom amarelado.
Jessica Henwick interpreta Aimee, o grande amor de Joel (Foto: Netflix)

Em um dos momentos iniciais de Amor e Monstros já temos o primeiro embate do jovem com um monstro. E quando ele é salvo por um aliado improvável, conhecemos quem viria a se tornar um dos personagens principais: Boy. Ainda que seu nome signifique garoto, Boy é um cachorro. O animal parece ter uma instantânea conexão com o protagonista, e se junta a ele em sua aventura. Os momentos mais emocionantes da obra acontecem, na verdade, por conta dessa relação. Toda vez que eles se separam ou correm perigo, o abraço que dão ao se reencontrarem vivos é de deixar os olhos lacrimejando. Mais do que nunca, o cachorro é, de fato, o melhor amigo do homem.

Além de Boy, Clyde Dutton (Michael Rooker) e  Minnow (Ariana Greenblatt) aparecem como parceiros de viagem de Joel. O caçador experiente e a garotinha corajosa são uma dupla apaixonante. Eles zombam da falta de habilidade do protagonista, mas o ajudam a aprender como sobreviver entre os diversos perigos do mundo pós-apocalíptico. E entre as noites mal dormidas, fuga de monstros e provocações entre os personagens, nasce uma amizade bela e verdadeira entre os quatro aventureiros. No meio de todas as lições que Joel aprendeu com seus novos companheiros, talvez a mais valiosa seja a importância de ter alguém para lhe dar a mão em um momento de vulnerabilidade. Clyde e Minnow são, no final das contas, os heróis do nosso herói.

Cena do filme Love & Monsters. O ator Dylan O'brien, homem branco de cabelo escuro curto, está deitado na grama, olhando para o lado direito da imagem com uma feição assustada. Ele veste blusa azul, jaqueta vermelha, calça jeans e uma bolsa bege. Em cima dele está um cachorro preto de porte médio, também olhando para a direita. No fundo é possível ver construções de madeira abandonadas e árvores.
Dylan conta em entrevista que as cenas gravadas com os cachorros foram algumas das mais divertidas que teve de gravar (Foto: Netflix)

Dos mesmos produtores de Stranger Things, Shawn Levy e Dan Cohen, o filme tem cenas que seguem o mesmo estilo da série da Netflix. Quando a iluminação fica mais fria e vem o silêncio típico que antecipa um momento de susto, em algum lugar no meio de toda tensão surge um comentário ou acontecimento que traz alívio cômico. Por mais clichê que seja, há algo delicioso nessa combinação de medo e risada que Amor e Monstros traz diversas vezes durante o percurso.

Os efeitos visuais são outro elemento que garantiram a qualidade do longa. Sendo os monstros uma parte primordial da história, era necessário que fizessem justiça ao seu papel de destruidores da população. E graças ao projeto admirável da equipe de 145 pessoas que trabalhou no filme, ele foi indicado ao Oscar 2021 na categoria de Melhores Efeitos Visuais, disputando o prêmio com grandes nomes da indústria cinematográfica de 2020, como Tenet e O Céu da Meia-Noite. Tal indicação em Best Visual Effects foi motivo de comemoração para os fãs de Dylan O’Brien, que subiram no Twitter a hashtag PROUD OF DYLAN para celebrar.

Cena do filme Love & Monsters. Em um sofá laranja, Dylan O'brien está sentado. Homem branco de cabelo escuro curto, ele veste blusa azul, jaqueta vermelha e calça jeans. O jovem olha para baixo, e tem o seu rosto iluminado pela luz que sai do robô ao seu lado. O robô é laranja e amarelo, do mesmo tamanho de Dylan.
A atuação de Dylan na cena com a robô é, talvez, a mais emocionante de todo o filme (Foto: Netflix)

E depois de toda a luta de Joel, ele é compensado quando finalmente encontra o seu destino. Os últimos minutos do filme dirigido por Michael Matthews são um tanto corridos e por vezes até confusos, mas é no meio da bagunça que é possível ver a evolução do jovem. Se ele começou como um personagem inocente e um até mesmo tolo, a sua decisão que serviu como estopim para a aventura o transformou em um verdadeiro herói. Não tem como negar que o garoto é valente e mereceu completamente o seu lugar como protagonista.

Na obra dos roteiristas Brian Duffield e Matthew Robinson, Joel aprendeu diversas lições durante seu caminho, e no final ele ensina uma também. Para todos os sobreviventes, ele passa um recado: vale a pena se arriscar. Que não precisam deixar de ter medo, mas conseguirem superar este sentimento e saírem de seus esconderijos para viver no mundo tão belo e vasto que existe do lado de fora. A mensagem, apesar de passada na ficção, serve para todos que assistirem o filme. Cada um tem seus terrores dos quais se escondem, mas o que nos espera do outro lado sempre valerá a pena. Até mesmo em um mundo de amor e monstros.

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