A Dama e o Vagabundo segue a sina de A Bela e a Fera

Com poucas mudanças em relação ao filme original, o remake ainda possui tempero o bastante para cativar o público (Foto: Reprodução)

Maju Rosa

Quem é que não gosta de um amor clichê? Acompanhar em duas horas o desenvolvimento de desconhecidos que se tornam amigos e se apaixonam é uma reconfortante dose de fuga da realidade. Narrativas românticas são um coringa em qualquer obra, ela pode ser protagonista ou secundária, mas sempre conquistará seguidores que depositam suas esperanças para que o final feliz aconteça. E está enganado quem acredita que a trajetória cativante acontece apenas no universo humano! A Dama e o Vagabundo, que foi originalmente lançado pela Disney em 1955 e transformado em live action ano passado, já retratava o amor inesperado… Entre cães.

O filme conta a história de Lady, uma Cocker que foi adotada por um casal jovem e passa a ser o centro das atenções da família. Após receber sua licença (espécie de documentação que indicava um cão de família, não sendo alvo das carrocinhas da cidade que buscavam por cães vira-latas), a cachorrinha acredita ser firmada como a única fonte de felicidade da casa. Lady permanece com esse sentimento até que sua dona engravida.

Então, ela é avisada por um cachorro vira-lata malandro que passava pelo bairro sobre como os bebês tornavam a existência dos animais de estimação cada vez mais apagada. Vagabundo é um cão ligeiro, sempre fugindo de ir pro canil, ele goza de sua liberdade e defende que essa é a melhor forma de viver. Durante uma hora e dezesseis minutos de A Dama e o Vagabundo, seguimos a dupla e sua trajetória de conflitos entre o pedigree e a vida nas ruas, e como seus universos se fundem.

O início da paixão de Lady e Vagabundo, que protagonizaram uma das cenas mais famosas do cinema (Foto: Reprodução)

Os estúdios Disney começaram sua trilha de live actions em 1996, com o remake de 101 Dálmatas (1961), um dos melhores da empresa, a interpretação de Glenn Close como Cruella De Vil conseguiu marcar tanto quanto a personagem original, dublada por Betty Lou Gerson. É claro que não ficou por aí, nos últimos 24 anos fomos apresentados a filmes como Alice no País das Maravilhas (2010), Malévola (2014), Mogli – O Menino Lobo (2016), O Rei Leão (2019) e Aladdin (2019).

Em 2020, chegou ao Brasil o live action de A Dama e o Vagabundo (2019) junto ao serviço de assinatura streaming exclusivo da Disney e suas afiliadas, o Disney+. O remake do romance canino, dirigido por Charlie Bean, é um pouco mais longo em comparação ao original, mas não propõe muitas mudanças ao roteiro de 1955. Seguindo a mesma linha de A Bela e a Fera (2017), que deu uma repaginada no longa de 1991, que agradou muitos, mas também desagradou espectadores, o filme é praticamente uma cópia fiel de sua inspiração.

O live-action de A Bela e a Fera foi alvo de opiniões controversas por ser detalhadamente fiel à animação de 1991 (Foto: Reprodução)

Na produção de 2019 houve um cuidado maior em aprofundar um pouco mais a história de Vagabundo (Justin Theroux). Enquanto somos apresentados à Lady (Tessa Thompson) da mesma forma que originalmente, o filme nos mostra uma das fugas do macho, mas diferente da animação, em que o vira-lata é amado por todos (menos pelo homem da carrocinha), ele é expulso pelo dono da oficina em que costuma dormir. 

Nessa fuga, ele acaba chegando ao bairro de classe alta em que Lady mora, e ao visualizá-la de longe, se perde admirando a cachorrinha através de uma cerca no quintal vizinho, até que ela expõe sua incerteza sobre como seus donos estão a tratando. O vira-lata aconselha ela, que não sabia que sua dona está grávida, e não com muitos gases, como cita em uma de suas lamúrias. É válido lembrar que a protagonista nunca teve contato com cães de rua, e quando descobre que é Vagabundo que a está aconselhando ao invés de seu amigo, expõe seu desagrado para com o invasor.

Quando o bebê entra, o cachorro tem que sair

Na animação de 1955, Vagabundo é bem específico ao explicar as dificuldades que surgem na vida de um cachorro quando a família tem um bebê, criando um dúvida sobre ele já ter tido donos ou não, porém ela nunca é sanada durante o filme, que prioriza focar na evolução de Lady. Foram precisos alguns anos para descobrirmos que o vira-lata já teve sim uma família, mas quando a esposa de seu dono deu a luz à uma criança, ele deixou de ser o centro da casa e foi abandonado. Apesar de aparentar ser um detalhe, preencher essa lacuna no remake foi um tempero a mais que o filme original precisava, uma explicação clara do porquê o cão abominar a ideia de manter-se fiel a uma família.

O romance se estende com fofura, um prato cheio para os amantes de animais, mas um prato frio pros que odeiam os falantes. É sério, se você ficou incomodado com a boca dos cachorros em Perdido pra Cachorro (2008), esteja preparado para o mesmo. As cenas foram muito bem dirigidas, e o clássico prato de macarrão com almôndegas marca presença. O live-action de A Dama e o Vagabundo não inova, mas ainda é um conforto ao coração de quem assiste.

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