Sempre queremos que a vida siga a linha pontilhada. A plataforma de streaming da Netflix acertou ao investir, no mês de novembro, em Entrelinhas Pontilhadas, a animação italiana com o nome original Strappare lungo i bordi. Com as funções de diretor e roteirista da série, o cartunista Michele Rech, mais conhecido como Zerocalcare, nasceu em Arezzo (Itália), e, mais tarde, mudou-se para Rebibbia, um bairro popular de Roma, no qual estabeleceu uma conexão inextricável. Alicerçado nisso, surgem suas primeiras obras em quadrinhos, como La profezia dell’Armadillo, traduzido para A profecia do tatu, que deu origem ao live action e, agora, consequentemente, à animação.
“Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” – Gênesis 3:19. Muitas coisas são capazes de nos cegar. Amor. Raiva. Medo. Fé. Há tempos a busca por verdades absolutas, que acalentam as vidas humanas, desencadeiam na criação de mitos e religiões. Mas e quando eles ultrapassam seus objetivos fundamentais e obstruem nossas noções de bem e mal? E quando afetam nossos valores, princípios… Nossa humanidade? Esses são alguns dos questionamentos abordados em Missa da Meia-Noite, série de horror original da Netflix, lançada em 24 de setembro de 2021.
Que soem os sinos natalinos, pois dezembro bateu à porta e já se retirou. No saudoso mês que finaliza um conturbado 2021, o Cineclube se reúne pela última vez no formato atual para debater cada um dos lançamentos audiovisuais dos tempos de Papai Noel. Entre a seleção frutificada do Persona, você encontra candidatos ao careca dourado, séries de prestígio e uma porção de dicas imperdíveis.
Mas, antes de dar início aos trabalhos, é hora de lamentar a morte de Betty White, uma das damas da TV, a Garota de Ouro que, aos 99 anos, se despediu do mundo, deixando-o menos feliz. A menos de vinte dias de seu centenário, a vencedora de 5 Emmys partiu em trinta e um de dezembro. Conhecida pelo humor sagaz e por papéis em Golden Girls, The Mary Tyler Moore Show e A Proposta, Betty viverá para sempre no céu das estrelas.
Como virou costume, dezembro é sinônimo de enxurrada de lançamentos da Netflix. Lá, pudemos conferir a força de Ataque dos Cães, o retorno de Jane Campion ao Cinema e um dos queridinhos do ano. Com chance de brilhar no Oscar, o filme coloca Benedict Cumberbatch, Kodi Smit-McPhee, Kirsten Dunst e Jesse Plemons em papéis desafiadores e muito distintos do comum da indústria.
Ainda no Tudum, quem estourou foi Adam McKay e seu recheado Não Olhe para Cima. Com Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence liderando um elenco grande demais para esse texto de abertura, a comédia satírica caiu na graça da audiência, alavancando números de exibição e escalando o pódio de mais vistos do catálogo vermelhinho.
Na mesma moeda, A Filha Perdida transformou as palavras de Elena Ferrante em um visual pitoresco e nada convidativo, iluminado pela visão da diretora estreante Maggie Gyllenhaal e pela performance raivosa de Olivia Colman. O italiano Paolo Sorrentino também foi prestigiado com A Mão de Deus, um longa de amadurecimento com toques biográficos que já havia ganhado destaque no Festival de Veneza.
Larissa Manoela virou médica em Lulli, Sandra Bullock e Viola Davis encararam um drama carregado em Imperdoável e o período de festas finalmente sorriu para a comunidade LGBTQIA+ em Um Crush para o Natal. Na casa do vizinho, Nicole Kidman saiu vitoriosa no papel de Lucille Ball, estrelando Apresentando os Ricardos, o grande candidato do Amazon Prime Video para o Oscar.
Quando o assunto é a temporada de premiações, dezembro esquentou as disputas. O contido (mas insuperável) Mass chegou às plataformas de aluguel, debatendo temas sensíveis e com um quarteto principal digno de todas as honrarias da Arte. É sério, os protagonistas exprimem emoções dificílimas e merecem mais destaque do que vem recebendo: se Reed Birney, Jason Isaacs, Martha Plimpton ou Ann Dowd estiverem lendo este Cineclube, saibam que aqui no Persona o prêmio é de vocês.
Wes Anderson continua sua saga de simetria e paz com A Crônica Francesa, enquanto o Disney+ oferece o absoluto The Rescue, documentário realizado pelos responsáveis por Free Solo. Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City saciou a sede dos fãs da franquia, mas não foi além do básico, eZoey’s Extraordinary Christmas deu fim a jornada da ruiva.
Dezembro também mostrou ao mundo Belfast, projeto do coração de Kenneth Branagh que é um dos favoritos da temporada. Entretanto, o visual arrojado e o elenco alinhado não são o bastante para justificar o amor prematuro pelo filme. No fim, o diretor emula emoções da infância, mas não as ordena para que o público sequer se interesse pelas reviravoltas.
Quem conquistou o carinho do espectador foi Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Com a expectativa de finalizar a primeira trilogia de Tom Holland na Marvel, o longa dirigido por Jon Watts brinca com as chances do destino mas acerta na loteria ao jogar todas suas fichas na nostalgia e no apreço pelo ontem. O saldo é positivo, por mais que a dominação do aracnídeo no mercado sinalize mais uma das mazelas de um monopólio como a Disney.
A situação ficou tão pesada que o lançamento do Cabeça de Teia acabou com a distribuição de Amor, Sublime Amor, o remake de West Side Story que Steven Spielberg aguardou muitos anos para finalmente rodar. A clássica história, vencedora de dez Oscars nos anos sessenta, foi repaginada e se justifica. Podem anotar: Ariana DeBose, a nova Anita, tem tudo para seguir os passos de Rita Moreno e colocar uma estatueta de Atriz Coadjuvante em sua estante no fim de março.
Quando o assunto é repeteco, Matrix Resurrections dribla qualquer sinal de desgaste. O retorno da franquia, 18 anos depois do terceiro capítulo, conta apenas com a direção de Lana Wachowski, mas não deve nada às sequências de 2003. Claro que o filme de 1999 continua insuperável, afinal, depois de revolucionar a linguagem do Cinema, as Irmãs mais talentosas da ficção científica não operam milagres. Dessa vez, Neo e Trinity retornam em um ambiente familiar, mas distorcido. Resta a eles despertar e botar para quebrar.
Na TV, o mês foi menos turbulento. A segunda temporada de Canada’s Drag Race remendou os buracos de 2020 e brilhou, coroando uma das vencedoras mais completas da franquia. O novato Queen of the Universe inovou ao unir drag e Música, dando o prêmio, o prestígio e um cheque de 250 mil dólares para a brasileira Grag Queen. Na Netflix, os Fab 5 se reuniram na sexta temporada de Queer Eye, curando o mundo de todos seus males.
Hailee Steinfeld trabalhou bastante, encerrando a terceira e última temporada da preciosa Dickinson na Apple TV+. Além de trampar como poetisa, a artista viveu Kate Bishop em Gavião Arqueiro, produção do Disney+ que dá continuidade a Fase 4 da Marvel e finalmente injeta personalidade no carrancudo Vingador vivido por Jeremy Renner. Perdidos no Espaço deu adeus, assim como a longeva e lucrativa La Casa de Papel (agora nos resta um spin-off do Berlim e um remake sul-coreano).
The Witcher trouxe de volta o charme de um Henry Cavill de cabelos prateados, A Roda do Tempo não transformou o carisma de Rosamund Pike em uma história cativante e Gossip Girldeu fecho a um ano inicial promissor. No HBO Max, Landscapers colocou Olivia Colman em pele de assassina, Mindy Kaling criou a envolvente The Sex Lives of College Girls, e Succession acabou com qualquer chance de dormirmos tranquilos depois dos capítulos de domingo à noite.
Dezembro de 2021 ainda nos levou para Paris com a Emily, anunciando que a jornada da estadunidense foi renovada para mais dois ciclos. Doa a quem doer, o mês vermelho, verde e cheio de ho ho ho trouxe conteúdo à beça. Agora, pelo olhar apurado da Editoria, o Persona te convida a navegar pelos comentários individuais do Cineclube pela última vez.
Quando as canções natalinas não preenchem mais o ambiente e Mariah Carey libera o topo das paradas musicais, é sinal de que o último mês do ano acabou. Ao longo dos últimos 12 meses, o Persona acompanhou cada movimento do mundo da Música nas edições do Nota Musical, e para encerrar o ciclo embalado pelas mais diversas trilhas sonoras de 2021, é hora de ouvir o que o mês de dezembro tem a nos dizer.
Que o ano apelidado de 2020.2 seria repleto de ironias, nós já sabíamos. Mas quando Olivia Rodrigo explodiu suas decepções românticas nos ouvidos do mundo inteiro com o maior hit de 2021 logo em janeiro, ninguém poderia imaginar que terminaríamos o ano em dezembro ouvindo o outro lado da história. O trio de canções Crisis / Secret / Set Me Free parece ser a maneira que Joshua Bassett encontrou para se livrar das maldições liberadas por drivers license, e deixar a confusão com a nova estrela pop no passado.
Enquanto alguns aproveitaram dezembro para resolver suas últimas pendências do ano, outros usaram o mês para iniciar novos projetos e vislumbrar 2022. Este é o caso de Angèle, a artista belga que ganhou repercussão global depois de cantar Fever junto de Dua Lipa, e seu segundo disco, Nonante-Cinq. Em um synth-pop gracioso, fresco e melancólico, Angèle mostra o porquê é um dos nomes francófonos mais populares da atualidade – e porque pode ir muito além disso.
Na mesma direção, Arca continua com sua música ambiciosa e intensa. Em dezembro, a venezuelana indicada ao Grammy colocou no mundo não um, não dois, não três, mas quatro discos, que dão sequência ao seu aclamadíssimo KiCk i. Os admiradores de SASAMI também têm material para iniciar o novo ano, já que a promessa do metal norte-americano continua a preparar o lançamento de seu segundo disco, que vai suceder sua estreia homônima muito bem recebida pela crítica, com o singleSay It.
Falando nos jovens, a estreia de No Rome, pupilo de Matty Healy, o frontman do The 1975, é parada obrigatória dos textos abaixo. O artista filipino começou a espalhar suas canções lo-fi pelo SoundCloud e hoje ecoa por aí o que ele chama de “shoegaze R&B” em It’s All Smiles, contando com a produção mais famosa da Música alternativa contemporânea. Outro destaque é a nova música de Ruel, que reflete sobre amadurecimento em GROWING UP IS ____. Enquanto isso, SZA terminava o ano com raiva de alguém e Khalid embarcou em uma viagem suave.
A atmosfera retrospectiva de dezembro também nos levou à memória daquele fatídico 29/12/2001, que levou a voz mais marcante do rock brasileiro alguns dias depois da data destinada à celebrar a sua vida. Cássia Eller é dona de uma presença muito poderosa para desfazer-se entre nós, e os 20 anos de sua morte e 59 de vida foram marcados por Espírito do Som. Ainda resgatando a memória da Música brasileira, nos lembramos de que completaremos 40 anos sem uma das nossas maiores estrelas. A inauguração das homenagens ao legado da eterna Elis Regina começou através do lançamento de Elis, essa saudade, disco que reúne gravações feitas pela artista entre 1979 e 1981.
Mas hoje, temos o prazer de apreciar e valorizar Maria Gadú. Um dos principais nomes da MPB contemporânea completou 35 anos no último dia 4 e celebrou a data através de Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, álbum que traz regravações de grandes sucessos da Música Popular Brasileira e principais influências para a identidade musical da artista. Já para a banda de destaque no pop-rock brasileiro atual, falar de memórias é só mais um pretexto para manifestar sua típica descontração. É que o terceiro álbum da Lagum segue naquele antro de sinceridade, ironia e irreverência, características fortes da música do grupo mineiro.
Um dos maiores fenômenos pop contemporâneos no Brasil também tomou parte das comemorações de dezembro. Pabllo Vittar encerrou um ano de ouro em 2021, marcado pelo sucesso de Batidão Tropical, com I AM PABLLO, seu primeiro registro ao vivo, que ficou responsável por iniciar as celebrações de seus meteóricos cinco primeiros anos de carreira. Lá fora, o aniversário foi de 5 Seconds of Summer, que exatos 10 anos depois de seu primeiro show, festejou seus 10 anos de existência com a canção 2011, que relembra a história e reverência a amizade do quarteto australiano.
Só estava faltando o encerramento dos 20 anos de carreira de Alicia Keys, perfeitamente concluídos por KEYS. O novo álbum da rainha do neo-soul sucede o colorido ALICIA (2020) com muita ambição: como um disco duplo, 26 músicas as levam de volta às suas origens que construíram o sucesso absoluto de seu primeiro disco em 2001, para desbloquear sua criatividade e reimaginar suas próprias canções. Entre os lados intitulados Originals e Unlocked, o ouvinte de Alicia Keys pode entrar em contato com a cantora, compositora, pianista e produtora que foi um dos maiores fenômenos musicais do século – e que nunca saiu de perto de nós.
Quem também esteve presente foi Black Country, New Road. Enquanto o novo disco da banda britânica, que foi destaques do mês de janeiro, não é lançado, ela aparece aqui com o EPNever Again, apresentando quatro covers inusitados. Também na lista das melhores revelações do ano, Arooj Aftab convenceu até o Grammy com a preciosidade de seu álbum lançado em abril e nos abençoou em dezembro com sua performance no Tiny Desk. E para os brasileiros, a conquista do mês foi ver MC Dricka, que brilhou no lançamento de seu álbum em maio até na Times Square, apresentando o hino Gadinho de Faz Tempo no palco do projeto musical internacional COLORS.
Há sete meses, Luísa Sonza abalava o pop nacional com DOCE 22, e agora, foi vez de encerrar os lançamentos do projeto com ANACONDA *o*~~~. Já em junho, foi a vez de Doja Cat colocar em órbita Planet Her, e em dezembro, a novidade foi o clipe de Woman, o single da vez que aquece sua corrida até as premiações. Na mesma função, está a nova favorita do GrammyBillie Eilish, promovendo sua campanha para Happier Than Ever, com o vídeo de Male Fantasy. A esnobada do ano, infelizmente, foi Lorde, que segue sob o poder do sol desde agosto, e agora traz uma narrativa visual para Leader of a New Regime.
Assim, o que mais teve em dezembro foi presente de fim de ano. A Música brasileira ganhou o lançamento do disco de Elza Soares & João de Aquino, uma releitura de Nara Leão feita por Márcia Tauil, Roberto Menescal e Ana Lélia, e a descoberta de Lucidayz, o projeto solo indie-rock do artista sergipano Samuel Elijah. De fora, Moses Sumney, artista ganês-americano que aparece vez ou outra na trilha de Euphoria, trouxe a experiência espiritual de seu primeiro álbum ao vivo; Katy Perry e Alesso entregaram uma boa canção para uma noite animada; e Art School Girlfriend, pseudônimo da galesa Polly Mackey que apareceu por aqui pela primeira vez em setembro, realizou um tributo a Prince.
Seguindo com os mimos para os sobreviventes de 2021, Tame Impala apresentou a inédita No Choices, introduzindo a edição comemorativa de The Slow Rush, o quarto disco de estúdio da banda, indicado a Melhor Álbum de Música Alternativa no Grammy 2020. Superchunk aproveitou os últimos dias do ano para fazer seu retorno com a canção Endless Summer, e Rostamremixou o seu segundo disco solo. Por último, a maior se fez presente: dois dias antes do Natal, Joni Mitchell presenteou o mundo com um vídeo especial de River, para encerrar a comemoração aos 50 anos de Blue.
Os votos finais do ano partiram de Rodrigo Alarcon, que em Rivotril e a Fé traz uma mensagem descontraída de compreensão para com quem viveu os momentos difíceis dos últimos dois anos. Da mesma forma, Anná e Flaira Ferro refletem resumem o espectro emocional dos últimos dois meses em Ô Ano Doido. E para mais um futuro fevereiro sem Carnaval, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown nos servem música nova pra festejar em casa.
Sobre a vida em sociedade, BK’, como sempre, empresta sua música cirúrgica para analisar as relações que mantemos com o mundo ao nosso redor. A obra da vez é Cidade do Pecado, que traz uma identidade ainda mais urbana para o trabalho do rapper carioca. Precisa de um refresco depois disso? Pois aqui está a dupla Arnaldo Antunes & Vitor Araújo com o paradisíaco Lágrimas no Mar.
Por fim, restou à Mitski aumentar as expectativas para Laurel Hell, seu sexto álbum e um dos mais esperados de 2022 com Heat Lightning. Phoebe Bridgers – também conhecida por aqui como uma das artistas que mais trabalhou em 2021 – deu continuidade à sua tradição anual de direcionar os lucros de seus lançamentos natalinos à instituições humanitárias. A música do ano foi Day After Tomorrow, numa releitura do sucesso de Tom Waits.
Para o ano ou para esse post, se você chegou aqui, merece os parabéns e a nossa bonificação. É hora de colocar os fones para ouvir o último mês de 2021 e apreciar a última edição do Nota Musical como conhecemos hoje. Um novo ciclo está começando, e o Persona guarda muitas novidades para o próximo ano. O que não muda é nosso compromisso com a valorização da Arte, da Cultura e do Jornalismo, que só podem existir se a vida também for preservada. Cuide-se, pois contamos com a sua companhia para um grandioso 2022!
Uma história de glamour, cobiça, loucura e morte. Esse foi o subtítulo dado ao livro que inspirou Ridley Scott a dirigir uma das adaptações mais aguardadas do ano: Casa Gucci. A grife italiana, fundada em 1921, é um majestoso império da Moda e uma das marcas mais valiosas do mundo, cujo nome carrega um grande escândalo. Em 27 de março de 1995, Maurizio Gucci, herdeiro da empresa, foi assassinado a mando de sua ex-esposa Patrizia Reggiani.
Legado e família são os fragmentos mais necessários para entender a estrutura maquiavélica do império Gucci, mas o que chegou aos cinemas em 25 de novembro não se ajusta aos dois poderes. Os direitos para a produção do filme foram comprados em 2006, e de lá pra cá, nomes como Angelina Jolie e Leo DiCaprio foram cotados para os papéis principais. O ano de 2021 finalmente trouxe o filme para as telonas, protagonizado por Lady Gaga e Adam Driver. Mas, para lidar com o longa, é necessário fazer o mesmo processo de periciamento de um delito.
Nas prateleiras das locadoras, centenas de filmes competiam pela atenção dos clientes que estavam procurando algo para assistir, e ninguém se saía melhor nessa briga que Elle Woods (Reese Witherspoon) com seu vestido rosa, chiwawa de coleira, caneta de plumas e, claro, os livros de Direito. A capa que dizia “Legalmente Loira: pelos direitos das patricinhas” estava sempre no topo da seção de comédia romântica buscando chamar o olhar do público feminino colocando o máximo de itens rosa possíveis em 20 centímetros de capa de DVD. E funcionou.
Nos últimos anos, pudemos sentir uma enxurrada de influências oitentistas tomar conta de nossas vidas, indo desde o Cinema até a Moda. O estilo saudosista e a visita aos grandes clássicos do passado mostram apenas como a cultura é cíclica, se utilizando do que já foi criado para inspirar a inovação. Dentre as inúmeras referências que poderíamos coletar dessa grande nostalgia, Curtindo a Vida Adoidado(1986) é uma das mais relevantes, afinal o espírito de Ferris Bueller (Matthew Broderick) ainda se faz presente até mesmo em produções da Marvel. Completando 35 anos em 2021, o longa envelhece como vinho, ganhando cada vez mais nossa devoção.
O que esperar quando dois grandes nomes da cultura pop como Meryl Streep e Anne Hathaway se juntam em um filme? Nada menos que uma produção tão calorosa quanto o inferno. Dirigido por David Frankel e adaptado de um livro de mesmo nome (esse escrito por Lauren Weisberger), O Diabo Veste Prada é um dos maiores marcos de 2006, eternizando a toda-poderosa Miranda Priestly, a jornalista recém-formada Andrea Sachs e os corredores da revista Runaway.
1931, dentro de um internato, se deu o primeiro beijo lésbico reconhecido pela história da Sétima Arte. O título é honra, não dos tímidos beijos trocados por um casal de mulheres arlequinamente dançantes em Le départ d’Arlequin et de Pierrette (1900), da pioneira mãe do Cinema, Alice Guy-Blaché, ou do sex appeal de um beijo sáfico roubado por uma Marlene Dietrich andrógina em Marrocos (1930), mas sim, por direito, de Senhoritas em Uniforme (1931). Marco do audiovisual LGBTQIA+, a produção alemã determinou os destinos da ficção queer ao longo de seus 90 anos, revelando com sensibilidade o florescer do desejo lésbico. E realizado por uma equipe de mulheres, na desobediência, é alcançada a libertação.