Da ficção da Pixar aos documentários da Netflix, da comédia de Taika Waititi ao drama de Ryûsuke Hamaguchi, fomos presenteados com produções nacionais e internacionais para os amantes da Sétima Arte em Março de 2022. Tudo isso regado com a cobertura do caótico Oscar e muitas outras movimentações nas premiações de Cinema. Teve de tudo, mas não se estresse a ponto do panda vermelho se libertar! Entre a cozinha de Sebastian Stan, a caverna de Robert Pattinson e os aposentos nobres de Jonathan Bailey, o Cineclube de Março esmiuça a TV e o Cinema do Mês da Mulher.
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Os Melhores Filmes de 2021
Não poderíamos terminar o Melhores do Ano sem falar do setor que retomou os seus dias de glória em 2021: o Cinema. Após a paralisação completa das salas ao redor do mundo em 2020, em decorrência da pandemia de covid-19, o audiovisual precisou se readaptar. Com isso, ano passado foi o momento de observar o efeito da ascensão dos streamings, assim como o retorno da sagrada experiência de subir as escadas para sentar em uma poltrona aconchegante e comer pipoca fresquinha enquanto assiste ao mais novo lançamento cinematográfico na telona.
Cineclube Persona – Fevereiro de 2022
Fevereiro se despediu de nós em clima de Carnaval e de expectativa pela nova versão do Cavaleiro das Trevas nos cinemas, desta vez estrelada pelo maravilhoso Robert Pattinson. Com a polêmica cerimônia do Oscar no horizonte e a disputa entre os longas cada vez mais acirrada, o entretenimento variou: de filmes de terror de qualidade duvidosa a mais séries adolescentes produzidas pela Netflix, passando pelos dramas intensos da HBO e novas obras dentro de franquias consagradas, mas sem esquecer dos trabalhos inéditos de cineastas conhecidos. No mês mais curto do ano, o segundo Cineclube de 2022 te convida a ficar por dentro do que rolou no mundo do entretenimento ao longo desses 28 dias.
Estante do Persona – Fevereiro de 2022
Fevereiro oficializou uma tradição do Clube do Livro: se no começo não passava de um mero acaso, cinco meses depois, os membros da Editoria não conseguiram mais negar que são as autoras que dominam nossas leituras em grupo. Com o Mês da Mulher em mente, a decisão pela obra da segunda rodada do ano não poderia ser diferente. A escolhida? Carolina Maria de Jesus e seu impactante Quarto de despejo.
Contemplando, também, o mês de aniversário da escritora, o Clube mergulhou em sua primeira história não-ficcional, e uma das produções mais doloridas lidas em conjunto até então. Publicado em 1960, o livro foi um achado do jornalista Audálio Dantas, que se deparou com Carolina e seus diários ao reportar o cotidiano da favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Por sorte, Dantas reconheceu o poder daquela documentação e revelou ao mundo o simples, mas potente, dom da autora de contar sua história. Da vida de Carolina Maria de Jesus, nasceu Quarto de despejo: Diário de uma favelada.
No encontro único de Fevereiro, os membros do projeto literário do Persona se chocaram com os relatos crus e cruéis da obra. Também, exercitaram seu entendimento das vivências do outro, investigaram o título do trabalho, se impressionaram com a figura articulada e à frente de seu tempo que foi Carolina, além de discutirem o valor das narrativas não-ficcionais. De acordo, o Clube compreende que a importância de uma história verídica é documentar e fazer entender a realidade de quem escreve.
Depois de se surpreenderem com as similaridades das Pessoas normais com nosso mundo, os membros mergulharam na vida real, de fato. Firme e forte em suas leituras, renovadas no mês dedicado a Quarto de despejo, o Persona continua empenhado em expandir seu escopo de gêneros e obras.
Nisso, o projeto aproveitou o gás dos encontros mensais e emplacou a renovação da colaboração com a Companhia das Letras: agora, o projeto ganha o crachá de Parceria Fixa. Enquanto os próximos conteúdos do mundo literário não chegam, o Estante do Persona segue com seus comentários e com as Dicas do Mês, de obras escritas exclusivamente por autoras, em homenagem ao Mês da Mulher.
Cineclube Persona – Janeiro de 2022
O Cineclube e seu irmão Nota Musical vieram ao mundo, da maneira que vocês conhecem hoje, em fevereiro de 2021. Isso significa dizer que ambos são aquarianos – o signo mais inventivo e que está sempre ligado a tudo o que acontece. Para quem nos acompanhou durante o segundo ano pandêmico, fica claro que nossos mensais fizeram jus às características, trazendo tudo que aconteceu de melhor e de pior no mundo da cultura. Mas, com sua volta completa em torno do sol, chegou o momento de exercer seus maiores atributos: revolução e coletividade.
Quando nos encontramos pela última vez no mês do bom velhinho, o Persona trazia textos individuais sobre “candidatos ao careca dourado, séries de prestígio e uma porção de dicas imperdíveis.”. Agora, os cinéfilos da Editoria se reúnem para idealizar e desenvolver as pautas do mês, enquanto um único personer fica responsável por colocar a mão na massa e dar forma ao trabalho conjunto. As regras continuam as mesmas: entra na curadoria o que foi lançado nas salas ou nos streamings. Quando o assunto são séries, as que aparecerem aqui devem ser transmitidas por completo no mês, ou finalizar a exibição da temporada.
Cineclube Persona – Dezembro de 2021
Que soem os sinos natalinos, pois dezembro bateu à porta e já se retirou. No saudoso mês que finaliza um conturbado 2021, o Cineclube se reúne pela última vez no formato atual para debater cada um dos lançamentos audiovisuais dos tempos de Papai Noel. Entre a seleção frutificada do Persona, você encontra candidatos ao careca dourado, séries de prestígio e uma porção de dicas imperdíveis.
Mas, antes de dar início aos trabalhos, é hora de lamentar a morte de Betty White, uma das damas da TV, a Garota de Ouro que, aos 99 anos, se despediu do mundo, deixando-o menos feliz. A menos de vinte dias de seu centenário, a vencedora de 5 Emmys partiu em trinta e um de dezembro. Conhecida pelo humor sagaz e por papéis em Golden Girls, The Mary Tyler Moore Show e A Proposta, Betty viverá para sempre no céu das estrelas.
Como virou costume, dezembro é sinônimo de enxurrada de lançamentos da Netflix. Lá, pudemos conferir a força de Ataque dos Cães, o retorno de Jane Campion ao Cinema e um dos queridinhos do ano. Com chance de brilhar no Oscar, o filme coloca Benedict Cumberbatch, Kodi Smit-McPhee, Kirsten Dunst e Jesse Plemons em papéis desafiadores e muito distintos do comum da indústria.
Ainda no Tudum, quem estourou foi Adam McKay e seu recheado Não Olhe para Cima. Com Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence liderando um elenco grande demais para esse texto de abertura, a comédia satírica caiu na graça da audiência, alavancando números de exibição e escalando o pódio de mais vistos do catálogo vermelhinho.
Na mesma moeda, A Filha Perdida transformou as palavras de Elena Ferrante em um visual pitoresco e nada convidativo, iluminado pela visão da diretora estreante Maggie Gyllenhaal e pela performance raivosa de Olivia Colman. O italiano Paolo Sorrentino também foi prestigiado com A Mão de Deus, um longa de amadurecimento com toques biográficos que já havia ganhado destaque no Festival de Veneza.
Larissa Manoela virou médica em Lulli, Sandra Bullock e Viola Davis encararam um drama carregado em Imperdoável e o período de festas finalmente sorriu para a comunidade LGBTQIA+ em Um Crush para o Natal. Na casa do vizinho, Nicole Kidman saiu vitoriosa no papel de Lucille Ball, estrelando Apresentando os Ricardos, o grande candidato do Amazon Prime Video para o Oscar.
Quando o assunto é a temporada de premiações, dezembro esquentou as disputas. O contido (mas insuperável) Mass chegou às plataformas de aluguel, debatendo temas sensíveis e com um quarteto principal digno de todas as honrarias da Arte. É sério, os protagonistas exprimem emoções dificílimas e merecem mais destaque do que vem recebendo: se Reed Birney, Jason Isaacs, Martha Plimpton ou Ann Dowd estiverem lendo este Cineclube, saibam que aqui no Persona o prêmio é de vocês.
Wes Anderson continua sua saga de simetria e paz com A Crônica Francesa, enquanto o Disney+ oferece o absoluto The Rescue, documentário realizado pelos responsáveis por Free Solo. Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City saciou a sede dos fãs da franquia, mas não foi além do básico, e Zoey’s Extraordinary Christmas deu fim a jornada da ruiva.
Dezembro também mostrou ao mundo Belfast, projeto do coração de Kenneth Branagh que é um dos favoritos da temporada. Entretanto, o visual arrojado e o elenco alinhado não são o bastante para justificar o amor prematuro pelo filme. No fim, o diretor emula emoções da infância, mas não as ordena para que o público sequer se interesse pelas reviravoltas.
Quem conquistou o carinho do espectador foi Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Com a expectativa de finalizar a primeira trilogia de Tom Holland na Marvel, o longa dirigido por Jon Watts brinca com as chances do destino mas acerta na loteria ao jogar todas suas fichas na nostalgia e no apreço pelo ontem. O saldo é positivo, por mais que a dominação do aracnídeo no mercado sinalize mais uma das mazelas de um monopólio como a Disney.
A situação ficou tão pesada que o lançamento do Cabeça de Teia acabou com a distribuição de Amor, Sublime Amor, o remake de West Side Story que Steven Spielberg aguardou muitos anos para finalmente rodar. A clássica história, vencedora de dez Oscars nos anos sessenta, foi repaginada e se justifica. Podem anotar: Ariana DeBose, a nova Anita, tem tudo para seguir os passos de Rita Moreno e colocar uma estatueta de Atriz Coadjuvante em sua estante no fim de março.
Quando o assunto é repeteco, Matrix Resurrections dribla qualquer sinal de desgaste. O retorno da franquia, 18 anos depois do terceiro capítulo, conta apenas com a direção de Lana Wachowski, mas não deve nada às sequências de 2003. Claro que o filme de 1999 continua insuperável, afinal, depois de revolucionar a linguagem do Cinema, as Irmãs mais talentosas da ficção científica não operam milagres. Dessa vez, Neo e Trinity retornam em um ambiente familiar, mas distorcido. Resta a eles despertar e botar para quebrar.
Na TV, o mês foi menos turbulento. A segunda temporada de Canada’s Drag Race remendou os buracos de 2020 e brilhou, coroando uma das vencedoras mais completas da franquia. O novato Queen of the Universe inovou ao unir drag e Música, dando o prêmio, o prestígio e um cheque de 250 mil dólares para a brasileira Grag Queen. Na Netflix, os Fab 5 se reuniram na sexta temporada de Queer Eye, curando o mundo de todos seus males.
Hailee Steinfeld trabalhou bastante, encerrando a terceira e última temporada da preciosa Dickinson na Apple TV+. Além de trampar como poetisa, a artista viveu Kate Bishop em Gavião Arqueiro, produção do Disney+ que dá continuidade a Fase 4 da Marvel e finalmente injeta personalidade no carrancudo Vingador vivido por Jeremy Renner. Perdidos no Espaço deu adeus, assim como a longeva e lucrativa La Casa de Papel (agora nos resta um spin-off do Berlim e um remake sul-coreano).
The Witcher trouxe de volta o charme de um Henry Cavill de cabelos prateados, A Roda do Tempo não transformou o carisma de Rosamund Pike em uma história cativante e Gossip Girl deu fecho a um ano inicial promissor. No HBO Max, Landscapers colocou Olivia Colman em pele de assassina, Mindy Kaling criou a envolvente The Sex Lives of College Girls, e Succession acabou com qualquer chance de dormirmos tranquilos depois dos capítulos de domingo à noite.
Dezembro de 2021 ainda nos levou para Paris com a Emily, anunciando que a jornada da estadunidense foi renovada para mais dois ciclos. Doa a quem doer, o mês vermelho, verde e cheio de ho ho ho trouxe conteúdo à beça. Agora, pelo olhar apurado da Editoria, o Persona te convida a navegar pelos comentários individuais do Cineclube pela última vez.
Cineclube Persona – Novembro de 2021
Se outubro foi um mês marcado por produções macabras e o clima sombrio e festivo de Halloween, novembro é uma volta à normalidade relativa, com várias obras para apetecer qualquer tipo de gosto. Conforme os grandes lançamentos chegam para começar a campanha para a próxima temporada de premiações, o Persona está aqui para recapitular os destaques mais importantes do mês no Cinema e na TV através do Cineclube de Novembro.
Eternos chegou no início do mês para bagunçar a fórmula da Marvel. Sob a direção íntima e minimalista da vencedora do Oscar Chloé Zhao, o longa introduz no MCU uma família disfuncional de seres imortais, deuses celestiais zangados e até mesmo um certo caçador de vampiros. Outra família superpoderosa que deu as caras foram os Madrigal, de Encanto, a nova animação musical da Disney com canções de Lin-Manuel Miranda, que realmente nos encantou com sua narrativa sensível e emocionante. A mente por trás de Hamilton também explodiu com o musical tick, tick… BOOM!, no qual ele fez sua estreia na direção cinematográfica, contando a história do compositor Jonathan Larson, vivido por um Andrew Garfield estonteante.
Continuando no mundo dos musicais, Querido Evan Hansen entregou uma adaptação decente de seu enredo premiado e controverso, mas não fez nada para revisar sua mensagem problemática e seus números estáticos. Por outro lado, Annette, o musical experimental de Leos Carax (que lhe rendeu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes), deu as caras no Brasil por meio da MUBI, entregando um Adam Driver lindo e homicida.
De Cannes, também veio Benedetta, o longa polêmico de Paul Verhoeven que conta sobre o caso de amor lésbico entre duas freiras italianas. E se teve algo que não faltou em novembro, foi Adam Driver: o ator estrelou duas produções de Ridley Scott: O Último Duelo, um épico medieval sob a perspectiva de uma mulher tentando recuperar sua própria voz, e Casa Gucci, que conta com Lady Gaga claramente à procura de um Oscar por seu sotaque no papel da matriarca da família por trás da luxuosa marca italiana.
Outras atuações notáveis em cinebiografias que tivemos esse mês foram Jessica Chastain, carregada de maquiagem no papel da televangelista titular em Os Olhos de Tammy Faye, e Kristen Stewart, no aclamado Spencer dando sua voz singular à Princesa Diana na fábula do diretor Pablo Larraín. No bem humorado The Electrical Life of Louis Wain, Benedict Cumberbatch interpreta um artista atormentado com seu já característico charme inusitado, enquanto Will Smith dá as caras em King Richard: Criando Campeãs, lançado no HBO Max americano, onde faz o pai e treinador das irmãs Williams.
Entre os maiores lançamentos da Netflix, brilhou Alerta Vermelho, o filme mais caro já produzido pelo streaming, responsável por juntar Dwayne “The Rock” Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot em uma trama de roubo formulaica. A comédia romântica Um Match Surpresa veio para romantizar o catfishing e faz pouco além disso, mas o aguardado e sangrento western Vingança & Castigo revitaliza o gênero e reúne um elenco de peso marcado por nomes como Regina King, Idris Elba e Lakeith Stanfield.
No Cinema nacional, não podemos deixar de falar de Marighella, primeiro filme dirigido por Wagner Moura que na verdade estreou em 2019 no Festival de Berlim, onde foi ovacionado de pé. Por conta da pandemia e até mesmo censura, ele só foi lançado nas salas de cinema brasileiras e no Globoplay em novembro deste ano, contando a história dos últimos anos do deputado e ex-guerrilheiro Carlos Marighella (interpretado por Seu Jorge).
Também no âmbito das produções brasileiras, o longa 7 Prisioneiros, antes cotado para representar o Brasil na disputa pelo Oscar, logo se tornou um dos filmes em língua não-inglesa mais vistos da Netflix. Num suspense brutal que escancara as realidades sociais do trabalho escravo no Brasil, a produção de Alexandre Moratto conta com Rodrigo Santoro e Christian Malheiros em seu elenco.
A estreia de Halle Berry na direção com o brutal Bruised só foi efetivamente lançada pelo streaming esse mês, após ter estreado no Festival de Toronto no ano passado. Além dela, Rebecca Hall também faz sua estreia por trás das câmeras com o drama Identidade, estrelado por Tessa Thompson e Ruth Negga, que traz uma das surpresas mais positivas da plataforma este ano. Enquanto isso, Finch cimenta a parceria entre Tom Hanks e Apple TV+ com um longa pós-apocalíptico dirigido por Miguel Sapochnik, conhecido por comandar alguns dos episódios mais badalados de Game of Thrones.
A peça The Humans se faz de base para o novo drama da A24, que comove ao revelar a empatia entre as personagens e a audiência, com um elenco encabeçado por Steven Yeun e Beanie Feldstein. Para aqueles que procuravam diversão para a família toda, a adaptação de Clifford, o Gigante Cão Vermelho veio para comemorar o espírito natalino em grande estilo. Da mesma forma, Ghostbusters: Mais Além ressuscita a franquia clássica do Cinema através da introdução de uma nova geração de caça-fantasmas, dessa vez sob a tutela de Paul Rudd.
Junto com o lançamento de Red (Taylor’s Version), Taylor Swift também fez sua estreia na direção com All Too Well: The Short Film, curta inspirado no seu relacionamento com o ator Jake Gyllenhaal e marcado por mágoas que inspiraram o disco – e sua regravação. Também tratando de relacionamentos nem tão saudáveis regados por música boa, o britânico Edgar Wright retorna para a direção com Noite Passada em Soho, uma viagem psicodélica e intoxicante por uma das partes mais famosas e sinistras de Londres, explorando o fino véu entre o passado e o presente através da dinâmica entre Thomasin McKenzie e Anya Taylor-Joy.
Manu Gavassi fez sua estreia no Disney+ com o álbum visual GRACINHA, uma história fantástica e metalinguística sobre a própria arte. A cantora Adele também deu as caras ao final do mês com Adele One Night Only, um espetáculo exclusivo que precedeu o lançamento de seu novo disco, 30.
Agora passando para a Televisão, se por um lado a Netflix acertou em cheio com Arcane, a prequel animada do jogo League of Legends distribuída em três atos, Cowboy Bebop marca mais uma das tentativas fracassadas de traduzir animes para live-action. Enquanto Arcane exibia todo o potencial de animações com cores e sons vibrantes elevando sua narrativa explosiva, a adaptação da obra seminal de Shinichiro Watanabe peca por seu apego cego à estética do original, entregando uma temporada truncada e não mais regida pelo espírito livre e despreocupado do jazz. A tesuda e bem humorada Big Mouth seguiu impecável por sua quinta temporada, mas já parece aquecer para o possível final da série.
Duas adaptações de quadrinhos da DC Comics terminaram em novembro: ao passo que a estética surrealista de Patrulha do Destino floresceu no HBO Max após o encerramento do streaming exclusivo da DC, Stargirl teve que dar jeito nas mãos da CW, canal responsável pelo Arrowverso. Apesar de plataformas diferentes, ambas as séries conseguiram reforçar suas melhores qualidades em seus novos anos, garantindo renovações para 2022.
Já na Apple TV+, a aguardada adaptação dos célebres livros de ficção científica de Isaac Asimov encerrou sua primeira temporada com resultados mistos: embora Fundação certamente tenha os visuais para construir as bases de seu mundo organicamente, sua narrativa peca ao falhar com a visão de seu autor. A nova versão do Boneco Assassino surpreendeu e deliciou os fãs de longa data da franquia, em uma sequência comandada por seu criador, Don Mancini, e que respeita o legado queer e disruptivo de Chucky. O spin-off britânico de Drag Race terminou sua nova temporada premiando sua participante mais nova até hoje. A premiada antologia American Crime Story também retornou com Impeachment, temporada que focou no escândalo sexual entre o presidente americano Bill Clinton e Monica Lewinsky.
E assim, a Editoria do Persona chega na 11ª edição do Cineclube. Entre os prenúncios de Natal, vislumbres do Oscar 2022 e inspirações musicais no meio audiovisual, te convidamos a pegar o balde de pipoca para voltar ao cinema (seguindo sempre as normas de segurança, claro) e percorrer conosco cada um dos destaques do Cinema e da TV no mês de Novembro de 2021.
Cineclube Persona – Outubro de 2021
Outubro é o mês mais amado pelo Persona. Cheios do espírito macabro do Halloween, agitamos nossas produções com o Mês do Horror e cobrimos com afinco a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Como comentar sobre tudo isso ainda é pouco, nós também demos vida ao Clube do Livro e as indicações da Estante do Persona. Para fechar nosso mês favorito com chave de ouro, chegamos para comentar as novidades da TV e do Cinema no Cineclube de Outubro.
Foram 31 dias recheados de lançamentos esperados. Começando com sequências do Terror para honrar o mês, Halloween Kills: O Terror Continua tenta dar sentido para as matanças de Michael Myers, mas garante a continuação da franquia graças aos atos horrendos do protagonista. Quem também voltou pela Paramount+ foi Atividade Paranormal 7, com traços da história original e inovando sua narrativa. Já a aposta da Netflix, Tem Alguém Na Sua Casa, degringolou como mais uma trama conhecida de jovens tentando descobrir a identidade do assassino.
Ainda para os amantes do gênero slasher, o remake de Slumber Party Massacre acabou com os problemas do filme original e expandiu com irreverência a sua trama clássica dos anos 80. Com o mesmo sucesso, American Horror Story: Double Feature gastou tempo dividindo a décima temporada em duas histórias distintas, e foi destaque ao conquistar a aprovação total da crítica na primeira delas.
Enquanto isso, o Amazon Prime Video investiu mais na antologia de terror Welcome to the Blumhouse e trouxe ao mundo O Bingo Macabro e A Mansão, que deixaram os sustos de lado para trabalhar a relação entre a trama e seus personagens. Outro longa entre os lançamentos é Madres, Mães de Ninguém, com sua narrativa dramática e inspirada em fatos reais. O longa de Ryan Zagoga captura os horrores dos imigrantes mexicanos recém-chegados aos Estados Unidos, por isso merecia um desenvolvimento como drama dedicado.
Sucessos da Netflix, Você e Maid, também partilham dessa pegada dos terrores da realidade com protagonistas femininas arrebatadoras. A terceira temporada de Você amadureceu seus conflitos e mostrou como psicopatas brincam de casinha, enquanto a estreia de Maid causou exaustão emocional pela sua trama complexa que fala de pobreza, trauma e agressão.
Outras queridinhas da plataforma tudum que lançaram novas temporadas foram Sintonia e On My Block. Coproduzida pelo KondZilla, Sintonia segue na sua caminhada em mostrar como o poder funciona dentro das favelas brasileiras. Por outro lado, o quarteto do subúrbio de Los Angeles se despediu com fraqueza, pois a última temporada de On My Block empobreceu os desfechos de seus personagens.
Para os fãs de Round 6, My Name é a nova produção sul-coreana de grande destaque. Além da performance de Han So-hee como protagonista, a narrativa equilibrou ação e sensibilidade estando entre uma organização criminosa e a polícia. Os Muitos Santos de Newark também trabalhou a temática de organizações poderosas ao contar a vida de Tony Soprano antes de ser chefe da máfia italiana. No entanto, nenhuma das produções acima fez tanto sucesso quanto a primeira temporada de Only Murders in the Building na mistura perfeita de um elenco brilhante, humor e mistério.
No gênero de Ação, o grandioso 007 – Sem Tempo Para Morrer era o mais esperado. Depois dos 15 anos de Daniel Craig e seu James Bond, a aposentadoria chegou em um filme empolgante, emotivo e explosivo que fez jus à saga. Duna também deu o que falar com Zendaya, Timothée Chalamet e Oscar Isaac no elenco. Baseado no livro homônimo de Frank Herbert, o longa exibiu a disputa de poder no universo intergalático à altura da obra. E como não poderia faltar a parceria Marvel e Sony, Venom: Tempo de Carnificina foi um recorde nas bilheterias brasileiras. Com Tom Hardy protagonizando o segundo filme ao lado de seu amigo alienígena, Venom 2 ficou entre ser engraçado e superficial.
As expectativas foram grandes na TV para a segunda temporada do premiado Ted Lasso. Seus episódios mais longos investiram ainda mais nos seus personagens, conseguindo marcar outros 3 pontos e ter um segundo volume ainda mais fenomenal. Quem também encantou foi a sitcom Pretty Smart e sua vibe Disney Channel em 2010, contando com a protagonização de Emily Osment – a nossa Lily de Hannah Montana. Com a mesma expectativa, The Walking Dead acendeu a chama da saudade no coração dos fãs de zumbis na primeira parte da sua temporada final.
Caminhando na contramão, a animação Injustiça: Deuses Entre Nós não foi digna dos Maiores Heróis da Terra da DC Comics. No Showtime, The L Word: Generation Q retoma The L Word depois de dez anos mas também segue presa ao passado, e mesmo com sua satisfatória repaginada, não retrata a vida da comunidade LGBTQIA+ nos dias de hoje.
E falando de vida real, Diana: O Musical estreou na Netflix mostrando o carisma e inteligência de Lady Di, mas esqueceu do drama necessário para falar de uma das maiores figuras do século XX. Já a coprodução entre Brasil e EUA do HBO Max, O Hóspede Americano, veio com um gosto amargo para contar a Expedição Científica Rondon-Roosevelt. Dando mais ênfase ao lado yankee, a minissérie lembrou a perda dos registros históricos brasileiros no incêndio do Museu Nacional de 2018.
Tentando alegrar nosso espírito, What We Do in the Shadows volta com qualidade para a sua terceira temporada cheia de humor, terror e vampiros malucos. No entanto, se nos confortamos com a comédia da FX, Cenas de um Casamento veio para quebrar de vez nossos corações. Terminando ao som de Chico Buarque, a produção original da HBO é uma obra-prima que mostra um casamento fracassado da forma mais complexa possível.
Enfim, todos esses lançamentos não aliviam a perda de Gilberto Braga para a TV brasileira no mês de outubro. De Escrava Isaura à Babilônia, o talento do escritor deixou um leque de novelas e memórias nas pessoas de todo o país. Uma dedicatória ao legado do dramaturgo e muito mais sobre o que rolou no Cinema e na TV você confere no Cineclube de Outubro de 2021, sob a curadoria da Editoria do Persona e de seus Colaboradores. E deixamos aqui a pergunta mais importante que permeia a memória de um noveleiro digno: Quem matou Odete Roitman?
Estante do Persona – Outubro de 2021
“Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.”
– Carlos Drummond de Andrade
Para poder valorizar cada vez mais a Literatura, parte tão importante e fundamental da cultura do nosso e de qualquer outro país, o Persona começa, agora, a preencher sua própria estante.
O mês de outubro marcou o início do nosso Clube do Livro, formado por membros da Editoria, que tem o intuito de promover a leitura compartilhada e encontros para discussão de alguma obra sugerida. Ao final do mês, o Clube ainda se reúne para montar o Estante do Persona, com um comentário que sintetize as ideias sobre a leitura realizada e uma playlist de músicas que se relacionem com a mesma, além de uma indicação de cada membro sobre algum livro marcante ou que mereça ser compartilhado.
Como primeira leitura, o Clube do Livro teve a honra de poder prestigiar uma das maiores autoras da Literatura brasileira. A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, é narrado em primeira pessoa pela personagem que tem suas duas iniciais presentes no título da obra. Uma mulher, moradora do Rio de Janeiro, que, ao desempenhar a tarefa de limpar o “quartinho dos fundos” de seu apartamento, mergulha em um fluxo de pensamento contínuo simbolizado por um monólogo de reflexões existencialistas, uma das grandes marcas da escrita da autora.
E nada mais simbólico do que estrear essa publicação especial num mês com acontecimentos tão marcantes para o meio literário. Além de no dia 29 de outubro ser celebrado o Dia Nacional do Livro, as semanas anteriores também foram marcadas por grandes eventos. No dia 7, ocorreu a cerimônia de entrega do Nobel de Literatura 2021, que foi concedido ao autor Abdulrazak Gurnah. Nascido na ilha de Zanzibar, atual Tanzânia, em 1948, o escritor é especialista em Literatura pós-colonial e na temática de refugiados, colecionando em sua carreira títulos como Paradise e Afterlives.
Mais ao final do mês, no dia 20, foi realizada a entrega do Prêmio Camões, para a moçambicana Paulina Chiziane. Tão simbólica quanto a vitória de Gurnah, Chiziane é a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, Balada de Amor ao Vento, em que o fez depois da independência. Com a figura da mulher moçambicana e africana no centro de sua escrita, a autora dedica-se a explorar os problemas enfrentados pela mesma no meio social, e tem como uma de suas obras de maior prestígio Niketche: Uma História de Poligamia, em que uma mulher decide conhecer as outras esposas de seu marido.
No clima desse mês repleto de grandes feitos na Literatura, você confere as indicações do Clube do Livro na primeira edição do Estante do Persona.
Annette é um conto de fadas turbulento
Caio Machado
O cinema de Leos Carax sempre teve uma relação íntima com a Música, indo da belíssima caminhada noturna ao som de David Bowie em Boy Meets Girl ao “intervalo” com uma impressionante versão instrumental de Let My Baby Ride em Holy Motors. Nesse sentido, Annette, novo trabalho do cineasta francês exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, extrapola esse laço com a Música de uma forma nada convencional.