“Ás vezes eu olho para as pessoas e tento senti-las […], imagino o quão profundamente elas se apaixonaram ou por quanto sofrimento elas passaram” (Foto: Annapurna Pictures)Leticia Stradiotto
Estamos cansados de saber sobre o avanço da influência artificial e seus impactos na realidade cotidiana – não soa incomum se apaixonar por alguém que conhecemos através de uma tela virtual. Por mais que pareça a um primeiro olhar, o filme Elanão foca na evolução tecnológica e seus efeitos nas interações humanas. De fato, o diretor Spike Jonze deu vida a um romance entre humanos e máquinas, mas ao finalizar a experiência da obra, é possível notar que esse não é o seu tema principal. Her (no original) nada mais é do que um retrato subjetivo da solidão, sentimento esse compartilhado por todo e qualquer ser humano.
Tristeza ao lembrar que, um dia, Beyoncé utilizou os palcos do VMA’s para anunciar a gravidez de Blue Ivy (Foto: FilmMagic)
Clara Sganzerla e Guilherme Machado Leal
Para uma geração, o MTV Video Music Awards foi um grande acontecimento. Mobilizou votações, foi palco de grandes anúncios e era uma das premiações mais aguardadas do ano, sendo prestigiada por diversos nomes de peso da indústria musical. Madonna, Michael Jackson, Whitney Houston, Spice Girls, Britney Spears, Eminem, Beyoncé, Lady Gaga e diversos ícones se apresentaram no palco ao longo das décadas, disputando as estatuetas do Homem na Lua e fazendo história em Nova York ou Los Angeles. No entanto, ao olharmos para o presente, não podemos afirmar que o evento tem o mesmo brilho, mas, aos trancos e barrancos, tenta recuperar os tempos de glória de um passado não tão distante.
PRISM debutou no topo da Billboard Hot 200 em 2013 (Foto: Ryan McGinley)
Nathalia Tetzner
Segundo a ciência, o arco-íris é explicado pela refração, dispersão e reflexão da luz solar por gotículas de água presentes na atmosfera. Já para os supersticiosos, o arco luminoso pode significar prosperidade e abundância, tal qual a história clássica do duende e o pote de ouro. Porém, nos versos de Katy Perry, a magia está no Double Rainbow, algo que você somente seria capaz de testemunhar uma vez na vida.
Mas, afinal, se a misticidade determina que a duplicidade do fenômeno físico pode ocorrer uma única vez ao longo da trajetória de uma pessoa, quantas vezes é possível se alcançar o topo do mundo? Contrariando as estatísticas de discos que são amaldiçoados pelo sucesso estrondoso do anterior, PRISM (2013) refratou todas as cores de Perry ao colocá-la no caminho certo para encontrar a recompensa dourada novamente em sua carreira.
O longa-metragem é um dos melhores de 2023 e precisa da sua atenção (Foto: Sony Pictures)
Guilherme Machado Leal
Estrelas de Hollywood e o incrível percurso de uma montanha-russa são o combo perfeito para se estudar a trajetória da carreira de um ator. Todos, sem exceção alguma, possuem seus altos e baixos, períodos em que são muito requisitados e tempos sombrios nos quais são esquecidos. Tal caminho, inerente à fama, também encontrou a atriz Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes). A nossa eterna Katniss Everdeen, que já foi o talento mais bem pago por dois anos seguidos, se afastou dos holofotes para se concentrar na maternidade. No entanto, após ler o roteiro de um certo filme, a ganhadora do Oscar decidiu retornar ao mundo da atuação. Afinal, o que em Que Horas Eu Te Pego? a colocaria de volta às telonas?
Oldeuboi ganhou o Grand Prix do Festival de Cannes de 2004 (Foto: Show East)
Nathalia Tetzner
No cativeiro de Oh Dae-su (Choi Min-sik), papéis de parede repetidamente estampados com favo de mel, uma televisão de tubo em ótimo estado e um gás capaz de fazer adormecer compõem o cenário desconcertante. O quarto nunca é invadido pela luz natural, gotas de chuva ou o barulho da cidade, mas é penetrado por uma câmera de Cinema condicionada à perspectiva restrita do personagem, sufocando o espectador junto dele. Em 2003, o diretor sul-coreano Park Chan-wook lançou ao mundo a sua interpretação da série de mangá japonesa Old Boy (1996-1998) que, com uma paleta de tons verde, vermelho e roxo, se propôs a retratar a enorme prisão que acorrenta a sociedade e, principalmente, ocasionou o mais belo trauma geracional com um plot twist digno de calafrios.
Barry chegou ao fim em uma nota fria, dura e irônica, que garantiu o lugar da série na corrida pelo Emmy 2023 (Foto: HBO Max)
Giovanna Freisinger
A quarta e última temporada de Barry responde às perguntas existenciais levantadas pela obra até então e leva a história, que parecia estar em uma rua sem saída, ao seu desfecho. Seus momentos finais a consolidam como uma das melhores produções de televisão dos anos recentes. Os fãs da série estão na torcida para que esse seja o ano em que ela finalmente conquiste o título de Melhor Série de Comédia no Emmy2023, após três indicações nesta categoria, mas nenhuma vitória até então. O obstáculo é a concorrência pesadíssima da categoria, com Abbott Elementary, A Maravilhosa Sra. Maisel, Jury Duty, Only Murders in the Building, Ted Lasso, The Beare Wandinha.
boygenius é o grupo que queríamos e precisávamos (Foto: Interscope)
Guilherme Veiga
O três, seja na numerologia ou não, é cheio de significados. A representação da trindade paira desde a Igreja Católica até mesmo à triforce de Zelda e carrega com si uma enorme carga, explicada ou não. Ele também simboliza um novo caminho, em que, na melhor de três, a inserção de um terceiro elemento ultrapassa a tirania do um e traz um novo horizonte para o impasse do dois. Da mesma forma em que juntamente significa o fechamento, quando é nesse conjunto ímpar que a maioria dos arcos, seja na literatura ou no audiovisual, se arranja em trilogias.
Na Música, porém, é difícil algo que fuja da unidade. Você deve estar pensando agora em milhares de bandas ou groups, estes últimos impulsionados pelo K-pop. Sim, eles existem, mas é de se analisar que, no caso das bandas, elas são personificadas muitas vezes em seu frontman e, com os boy ou girl groups, a persona criada para seus integrantes é tão forte que, às vezes, ultrapassa a própria organização da qual fazem parte. No entanto, é mais uma vez no três que as coisas funcionam de modo diferente.
É dessa arrumação que surgiu o termo power trio, popularizado na década de 1960 e que difundiu a formação guitarra, baixo e bateria. Na lógica de que três cabeças pensam melhor do que uma, surgiram grandes nomes desde Nirvana à Tribalistas e, nesse sentido, o trio composto por Phoebe Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus já mostrou a que veio em seu primeiro disco, the record.
O primeiro livro de Micheliny Verunschk pela Companhia das Letras foi mais uma das leituras escolhidas para o Clube do Livro do Persona (Foto: Companhia das Letras)
Enzo Caramori
“Arre!”
Mesmo que em um deserto, morro ou tomada de construções e blocos de concreto, toda cidade já foi uma floresta. Uma floresta que não se classifica em biomas, espécies de animais e plantas, mas sim em um espírito. A floresta é um nome próprio: um ser gigante e elegante que não apenas oferece minérios, inhames e corpos de rios – além do seu próprio. É um espaço de conhecimento, visão e mundo, que invade até mesmo, no livro O som do rugido da onça, a Literatura.
Lorde não era hipertensa para ficar aguentando músicas sem sal, então decidiu criar sua própria receita com Pure Heroine (Foto: Universal Music)
Ana Cegatti
Uma parede clara e uma camisa branca são componentes clássicos de vídeos gravados por subcelebridades que tentam se desculpar por algum erro. No entanto, a neozelandesa Ella Marija não usou tais componentes no clipe de Royals para limpar alguma defecação, mas para jogá-la no ventilador. Há uma década, as rádios anunciavam a transformação de Ella em Lorde e ecoavam melodias que fizeram da onda alternativa da época um tsunami. Naquele momento, a indústria musical precisava fazer uma escolha: se afogar ou aprender a surfar. Lançado pela Universal Music e produzido por Joel Little, Pure Heroine é um álbum que nunca precisou pedir desculpas, já que Lorde jamais sentiria remorso por um erro tão ingênuo: amar demais.
Nosso Sonho esteve entre os cotados para representar o Brasil como Melhor Filme Internacional no Oscar 2024 (Foto: Manequim Filmes)
Vitória Gomez
Se o Cinema é um modo divino de contar a vida, as cinebiografias são a vida passando na frente dos nossos olhos. No entanto, assim como acontece com os documentários, realidade e ficção se misturam e o ponto de vista sempre se sobressai. Por que não usar isso a seu favor? É o que Nosso Sonho: A História de Claudinho e Buchecha faz: o longa-metragem que reconta a trajetória da maior dupla de funk nacional abraça de vez o sentimento e mostra que, por trás das coreografias inusitadas e das letras contagiantes, o que prevalecia era a amizade entre os dois.