O mundo nunca foi tão caótico e subversivo quanto nas ruas e bares de Los Angeles em plenos anos 70. Se você estivesse procurando um bom lugar para curtir um som, se drogar ou tentar virar uma estrela internacional, era para lá que você se dirigia. E foi na cidade das estrelas que nasceu uma das maiores bandas de rock ‘n roll que o mundo já havia conhecido: Daisy Jones & The Six. Apesar do premiado e polêmico grupo só poder ser encontrado nas 360 páginas escritas por Taylor Jenkins Reid e traduzidas por Alexandre Boide, sua música e trajetória ecoam por um bom tempo na cabeça dos leitores, e passamos a desejar que tudo não fosse apenas ficção.
No longínquo ano de 2006, um jornalista cazaque recebia a missão de gravar um documentário em solo americano, com o intuito de trazer costumes e conhecimentos de uma nação “mais avançada” para seu país natal. No entanto, digamos que os resultados não saíram conforme o esperado. Em Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, que só foi lançado no Brasil em 2007,nosso querido jornalista, mais conhecido como Borat Sagdiyev, sofreu algumas represálias diante o fracasso nacional da produção, desde humilhação em público, cassação de seu direito jornalístico e até o sentenciamento à prisão perpétua nos gulags do Cazaquistão.
(In)felizmente, suas missões não pararam por aí. Borat: Fita de Cinema Seguinte, fruto da Amazon Prime Video, vem, em 2020, nos mostrar o porquê do personagem interpretado – ou melhor dizendo, vivido – por Sacha Baron Cohen precisar viajar para os EU e A novamente, dessa vez para aproximar seus líderes ao glorioso McDonald Trump: o responsável por restaurar todos os valores do americano de bem. E, mais uma vez, lá ia nosso esquisito repórter em direção as terras ianques, levando consigo o Ministro da Cultura, Johnny the Monkey – exatamente, um macaco – como presente para aproximar os dois países em níveis diplomáticos.
A pandemia, que descarrilou a indústria do entretenimento, fez um estrago estrondoso no cinema. A TV, entretanto, conseguiu segurar as barras e teve até a premiação do Emmy meio virtual, meio presencial, mas inteiramente inovadora. Lá, Schitt’s Creek fez história: a única série a vencer todas as 7 categorias principais de comédia. Junto do hit canadense, Zendaya venceu Melhor Atriz em Drama, se tornando a ganhadora mais jovem da categoria. No campo das minisséries, narrativas fortes com enfoque em figuras femininas ditaram o tom. Teve a heroica avalanche de Watchmen, a comovente Nada Ortodoxa e a avidez de Mrs. America.
Fora dos prêmios, O Gambito da Rainha se tornou a minissérie mais assistida da história da Netflix. A série da enxadrista Beth Harmon, papel taciturno de Anya Taylor-Joy, é parte do panteão de 2020. O streaming muito se beneficiou das pessoas estarem trancadas em casa: os números de acesso e visualizações estouraram a boca do balão. Dark se encerrou com a maestria que prometeu, e The Crown finalmente nos mostrou a Lady Di. Na HBO, Michaela Coel retornou mais poderosa que o de costume com I May Destroy You, um soco no estômago empacotado em 12 episódios quase autobiográficos, discutindo o valor do consentimento e as consequências do abuso.
Steve McQueen encontrou na Amazon o lar para sua poderosa Small Axe, antologia de filmes que lidam com racismo e luta por direitos, obras de vital importância nesse momento político em que vivemos. O sucesso foi tanto que uma porção de sindicatos da crítica está premiando Small Axe como Melhor Filme de 2020 (vai entender). Aqui no Brasil, a Rede Globo mostrou serviço produzindo, à distância, a antologia Amor e Sorte e o especial Plantão Covid, parte da fantástica Sob Pressão. Com todo esse parâmetro em mente, a Editoria do Persona se reuniu com nossos colaboradores para elencar o que de melhor a televisão nos ofereceu em 2020.
Em Esquadrão Suicida (2016), Dexter Tolliver questiona o que aconteceria se o Superman resolvesse arrancar o teto da Casa Branca e levar o presidente embora. Até então, conhecendo o Homem de Aço, nós sabemos que é um cenário pouco provável, afinal, ele sempre esteve do nosso lado. Mas e se não estivesse? Como seria viver em um mundo com uma criatura tão poderosa e tão descontrolada ao mesmo tempo? A segunda temporada de The Boys, série da Amazon Prime Video, conseguiu nos dar doses cavalares dessa sensação assustadora ao amadurecer ainda mais o Capitão Pátria, uma versão insana e desequilibrada do último filho de Krypton.
Depois de 11 anos contando a história de três famílias ligadas pelo magnata dos armários Jay Pritchett (Ed O’Neill), Modern Family chega a seu fim. Criada por Steven Levitan e Christopher Lloyd, a obra de comédia da ABC surgiu em associação com a Twentieth Century Fox Television e está nos streamings da Globoplay, Amazon Prime e Netflix (exceto pela última temporada, da qual vamos falar agora).
Os anos 10 encurtaram as grandes séries da década passada. Com a chegada do streaming e da degustação on demand, os seriados passaram a ser diminuídos ao máximo, tudo isso para caber numa maratona de fim de semana ou, simplesmente, para não se tornarem enfadonhos. Chegando à seu 3º ano, a premiada e deliciosa The Marvelous Mrs. Maisel já trilha um caminho de despedidas. Ao explorar a turnê nacional de Midge (Rachel Brosnahan), a produção da Amazon emociona, não se vê acuada a tocar em pontos sensíveis e, a cereja do bolo, não cansa de inovar.