Tranquilo como um vulcão, setembro chegou com um restinho de inverno que mais parecia uma sauna ao ar livre. Com temperaturas elevadas, o fim da estação tipicamente fria logo deu lugar à elegância da primavera – e nos fez lembrar de que, infelizmente, nem tudo são flores na vida. Entre erupções vulcânicas e medo de tsunamis, talvez nada tenha assustado tanto os brasileiros quanto os atos antidemocráticos que escancararam a fragilidade de nossa recente democracia. Mantendo-se firme ao lado da Cultura, e não permitindo que esses absurdos sejam esquecidos, o Persona respeitosamente introduz a nona edição do Nota Musical.
Se, no fim de agosto, Kanye West bateu recordes na Apple Music com o álbum Donda, é verdade que ele também viu essa conquista durar pouco. Com Certified Lover Boy, lançado no comecinho de setembro, Drake assumiu a posição de seu rival, garantindo o posto de álbum mais ouvido na plataforma nas primeiras 24h em 2021. Apesar dos números elevados, esse projeto se mostrou ambicioso demais, e embora alcance seus pontos altos, é um disco que peca pelo excesso de ideias. De qualquer forma, nada deslegitima o sucesso do trabalho imersivo – e cheio das dores – de Drake.
Mergulhando igualmente em si mesma, Liniker lançou o primeiro álbum solo da carreira. Repleto de referências musicais, Indigo Borboleta Anil é um bom primeiro passo para a nova etapa da cantora, que obteve inclusive o reconhecimento de verdadeiras lendas nacionais, como Milton Nascimento. E se estamos falando de trabalhos bem sucedidos ao se assumirem pessoais, não podemos deixar de mencionar o disco Dai a Cesar o que é de Cesar. Abordando do racismo à religião, o primeiro álbum de Cesar Mc é, com certeza, uma estreia muito notável para o rap nacional.
Ainda em solos brasileiros, Gaby Amarantos fica responsável por um dos melhores álbuns nacionais do ano. Com parcerias invejáveis, como Elza Soares, Alcione e Ney Matogrosso, Purakê extrapola o tecnobrega ao reunir novos sons da Região Norte do Brasil. Enquanto isso, no Nordeste, observamos diariamente uma das maiores polarizações da atualidade: com incontáveis fãs e haters na internet, Juliette entrega doçura, leveza e origem paraibana em seu primeiro EP, mostrando que, fora do BBB, ela pode viralizar com uma inusitada relação entre preconceito e farinha. Já Luana Flores, também da Paraíba, funde tradição e inovação em Nordeste Futurista, um excelente Extended Play de estreia.
Misturas sonoras e experimentalismos, aliás, estão por toda parte. Em The Dune Sketchbook, por exemplo, Hans Zimmer aprofunda os trabalhos musicais desenvolvidos para a nova adaptação cinematográfica de Duna, chegando a criar inclusive uma espécie de som de outra galáxia. Ao mesmo tempo, Lady Gaga torna o universo de Chromatica irregular, sem deixar, contudo, de executar, ao lado de BloodPop, uma curadoria diversificada e rica para Dawn of Chromatica. O álbum de remixes tem, por sinal, um de seus auges em Fun Tonight, colaboração com a nossa Pabllo Vittar.
Mas a Mother Monster não foi a única a realizar grandes curadorias no mês. Comemorando os 30 anos de The Black Album, a banda Metallica lançou o disco The Metallica Black List, marcado por números colossais e diversas releituras das faixas do clássico, em uma reunião de artistas e bandas para todos os gostos. Embora seja um pouco inusitado, um desses nomes é J Balvin, que também se destacou em setembro ao lançar José, o sétimo álbum de estúdio da carreira. Com mais de 20 participações especiais, o CD de tom intimista do embaixador global do reggaeton conquistou um bom desempenho no agregador de notas Metacritic, além de razoáveis reproduções no Spotify.
Falando em rankings, quem também se sobressaiu no mês foi a rapper LISA. Depois de 5 anos em cena com o grupo BLACKPINK, ela finalmente estreou sua carreira solo com o single LALISA. Faixa-título do álbum ainda inédito, a canção alcançou o surpreendente segundo lugar na Billboard Global 200. E entre hits e polêmicas, não podemos esquecer que Lil Nas X deu à luz o tão aguardado MONTERO. Colaborando com grandes nomes da Música, como Elton John, Kanye West e Miley Cyrus, o atual ícone da comunidade LGBTQIA+, e promessa para o futuro do rap, se mostrou bem eclético em seu disco de estreia.
Nessa importante valorização da diversidade, Phoebe Bridgers e a banda MUNA vivem um romance queer em Silk Chiffon. O single ganhou um videoclipe baseado no filme Nunca Fui Santa, de 1999, demonstrando que os anos 90 ainda estão em alta. Prova disso é também The 90s, de FINNEAS, canção que fará parte do álbum de estreia Optimist. Nela, o irmão de Billie Eilish canta as saudades de um mundo sem internet e com esperança no futuro, retrato explícito desse tempo passado.
Além disso, quase na mesma atmosfera, Radiohead transporta todo mundo para os anos 2000 com If You Say the Word, primeira música inédita do vindouro CD KID A MNESIA, edição especial que comemora os aniversários de duas obras clássicas da banda. Mas as novidades para os fãs de rock não param por aí. Oasis atacou em dose dupla, dando pistas do futuro álbum ao vivo Oasis Knebworth 1996 ao lançar os registros das canções Live Forever e Champagne Supernova, ambos presentes no disco. No entanto, como todo gênero musical, algumas decepções foram inevitáveis, e a culpa agora é da banda norte-americana Imagine Dragons. Em Mercury – Act 1, primeira parte de uma obra dividida em dois álbuns, o que encontramos é um trabalho sem coesão, confuso e diferente dos discos anteriores.
Mas para quem gosta dessas viagens ao passado, ouvir as novidades dos veteranos talvez seja uma boa escolha. Sendo assim, depois da dupla Lady Gaga e Tony Bennett, com o single Love For Sale, um dos maiores destaques de setembro é com certeza a volta do ABBA. Após 40 anos ausente, o grupo pop sueco retorna com as canções I Still Have Faith In You e Don’t Shut Me Down, anunciando um álbum novo e um show especial. Não bastasse tamanha alegria, aqui no Brasil, Caetano Veloso chega com Anjos Tronchos, primeiro gostinho de um disco de composições inéditas – o ainda aguardado Meu Coco – desde 2012.
Além desses retornos, uma junção inesperada de nomes grandiosos da Música brasileira foi uma das belas surpresas do mês. Edi Rock, Ney Matogrosso e Linn da Quebrada regravaram o clássico Nada Será Como Antes para a trilha sonora da nova temporada de Segunda Chamada, e o resultado desse encontro está bem interessante. Ainda para as telinhas, St. Vincent presenteia o mundo com três canções originais, dentre outras faixas, na trilha sonora de The Nowhere Inn. Cynthia Erivo, por sua vez, lança Ch. 1 Vs. 1, seu primeiro disco completamente autoral, que transita entre pop, soul, R&B e gospel – e reforça o lado cantora da artista indicada a Melhor Atriz em Série Limitada ou Antologia ou Telefilme no Emmy 2021.
Na mesma linha, o astro de Teen Wolf Tyler Posey estreia como artista solo no EP Drugs, trabalho no qual narra o uso exagerado e sua consequente luta contra as drogas. Já Alexa Demie, famosa por seu papel em Euphoria, dá seus primeiros passos no mundo da Música com o single Leopard Limo. E avançando no processo de recuperação de seus direitos autorais, Taylor Swift lança oficialmente a nova versão de Wildest Dreams, hit do álbum 1989, de 2014, que já tinha aparecido na trilha do filme Spirit: O Indomável. Igualmente no universo audiovisual, mas agora nos games, mxmtoon lança true colors, obra que faz parte da trilha sonora do jogo Life is Strange, e é formada por dois covers e duas composições originais.
Sendo a vida estranha ou não, é bom poder aproveitá-la. E Alicia Keys faz isso muito bem em LALA, sua parceria com Swae Lee. Criando um clipe luxuoso para o single, a cantora esbanja alegria em uma festa invejável. Algumas celebrações, no entanto, são um pouco macabras. É o caso de Charli XCX, que dança no funeral do próprio namorado no vídeo de Good Ones, música que narra o processo de acostumar-se com relacionamentos ruins. E falando em dança, é impossível não mencionar a nova canção de Glass Animal. Em I Don’t Wanna Talk (I Just Wanna Dance), a banda britânica não só aparece nas paradas da Billboard, como também cria uma atmosfera totalmente dançante, psicodélica e elétrica.
Numa onda de tantos festejos, os detalhes mais sutis da vida também garantem seus espaços especiais. Em Te Ao Mārama, Lorde dá continuidade à fase mais iluminada de sua carreira, regravando algumas faixas de Solar Power em Maori, a língua nativa da Nova Zelândia – país onde a cantora nasceu e cresceu. Já Lana Del Rey se afasta das redes sociais para focar na Música, mas não sem antes deixar um presentinho para os fãs: Arcadia, single presente no ainda tão aguardado álbum Blue Bannisters, ganhou um clipe dirigido pela própria artista. E em Angel Baby, sua mais recente balada, Troye Sivan tem o coração completamente tomado por uma paixão avassaladora.
Infelizmente, os amores estonteantes nem sempre são eternos ou duradouros. E Kacey Musgraves sabe bem disso. Após o sucesso e aclamação de Golden Hour, a cantora norte-americana vencedora do Grammy retorna com star-crossed, seu quarto álbum de estúdio. Influenciado pelo divórcio entre a artista e o músico Ruston Kelly, o trabalho foi até mesmo descrito como “uma tragédia moderna em três atos”. Aliás, nesse clima de traumas e outros elementos extremamente particulares, a rapper Little Simz se destaca ao lançar o disco Sometimes I Might Be Introvert, trabalho que pode vir a ser classificado como um dos melhores CDs do mês, ou até mesmo do ano.
Se algumas pessoas têm sorte disco após disco, outras não são tão queridas pelo destino. Ao lançar gg bb xx, o quarto álbum de estúdio da banda, LANY cai numa criação genérica e repetitiva, entregando uma obra um pouco frustrante. Ao mesmo tempo, alguns trabalhos, antes de serem bons ou ruins, são apenas totalmente inesperados. Foi o que aconteceu com o EP YELLOW TAPE, de ZAYN. Lançado sem qualquer aviso, e fora das plataformas oficiais de streaming, as três novas músicas do ex-One Direction mergulham no rap, entregando letras profundas, marcadas por indiretas e algumas questões particulares.
Aliás, lançamento inusitado foi o que não faltou no mês. Entre o EP Take a Stand (The Noam Chomsky Music Project) – homenagem ao linguista norte-americano Noam Chomsky – e a aparição da mãe de Beyoncé no clipe do primeiro single solo oficial de Chlöe, Have Mercy, o maior destaque dentre as surpresas de setembro pode ter sido facilmente Life of the Party, colaboração entre Kanye West e Andre 3000. Se essa faixa foi um dos descartes do álbum Donda, Drake achou uma boa ideia vazá-la em um programa de rádio. Aumentando a rivalidade entre os rappers, Kanye West logo deu sua resposta, compartilhando publicamente o endereço de Drake.
Mas os ecos do famigerado álbum lançado no fim de agosto não param por aí. Baby Keem, que também fez parte do disco, agora reúne seu primo Kendrick Lamar e Travis Scott no álbum The Melodic Blue. Apesar de novato, os passos de Keem têm se mostrado tão dignos quanto os de muitos veteranos. E por falar em veteranos, aqui no Brasil, Manu Gavassi inova em sub.ver.si.va – segundo single de seu quarto álbum de estúdio, previsto para sair em novembro – ao gravar, para essa música, um clipe somente em filme, sem versões digitais.
Já Anitta se tornou a primeira artista brasileira a se apresentar no VMA. Com uma performance simples e breve, marcada por uma parceria com o Burger King e muito playback, a nossa girl from Rio teve seus merecidos momentos de brilho. E embora tenha começado há menos tempo, Pabllo Vittar arrasou no clipe de Bang Bang. Homenageando a artista Mylla Karvalho, a drag queen mais popular do mundo entregou muita coreografia no vídeo dirigido por Vinícius Cardoso – e o mais recente foco dentro de seu último álbum, Batidão Tropical.
Fazendo uma cobertura cautelosa e bastante ampla do que rolou no mundo da Música no nono mês de 2021, o Nota Musical reúne os melhores e piores lançamentos musicais de Setembro. Compromissados com a valorização da Arte e de informações e dados de qualidade, a Editoria e os Colaboradores do Persona tentam trazer um pouco de respiro a quem (sobre)vive no Brasil de 2021, já que falar de Cultura nesta terra devastada é, ao mesmo tempo, luta e resistência.
CDs
Kacey Musgraves – star-crossed
O casamento de Kacey Musgraves com o artista country Ruston Kelly rendeu bons frutos musicais no passado. Afinal, toda a concepção do premiado Golden Hour se presta ao papel de reviver boas memórias e chorar de felicidade frente a esse encontro tão divino quanto o amor. Em canções como Space Cowboy e Happy & Sad, a cantora evoca tons melancólicos, mas extremamente doces, para se debruçar sobre a forma mais pura do romanticismo. Agora, alguns anos e um Grammy de Álbum do Ano depois, Musgraves retorna com star-crossed, seu disco de divórcio.
A capa nada inspirada esconde o potencial melodramático do CD, que embora não alcance os picos de qualidade da hora dourada, ainda se mantém como uma forte e potente adição à discografia da artista, que canta um country pop arrependido e flerta com a ideia de superação e raiva. Acompanhado de um longa-metragem temático, star-crossed despe Kacey Musgraves de uma porção de concepções que a vida de casada e de esposa colocaram sobre ela, que escreve letras carregadas de espontaneidade e amargura.
A divisão em três atos vai de encontro à aura mais cinematográfica da produção, enquanto as canções se destacam pela produção menos harmônica. justified, um dos singles de divulgação, oferece o melhor da cantora: a visão nada bidimensional de um mundo e um coração em constante ebulição, ao passo que good wife, camera roll e if this was a movie.. mergulham no que ela viveu no matrimônio. Menos rebuscado que o esperado depois de um titã como Golden Hour, Kacey Musgraves faz de star-crossed um passo sóbrio e realista em uma carreira recheada de momentos memoráveis. – Vitor Evangelista
Lil Nas X – MONTERO
Acumulam-se as glórias de Lil Nas X em seu enfim lançado – graças a Deus – primeiro álbum de carreira. Para começar, MONTERO debutou em 2º lugar na Billboard Hot 100 e agora conta com 11 de suas 15 músicas na lista. Como se não bastasse, o rapper está com ótimas reviews no The Guardian, The New York Times e com uma nota 7.1 pela Pitchfork. Esse amontoado de conquistas não é nada por acaso: Lil Nas X é uma alma autêntica e desprendida de quaisquer amarras sociais do mundo da Música.
É difícil formar qualquer opinião sobre MONTERO sem ter uma de suas músicas cantarolando por vontade própria dentro da cabeça. O pop-rap presente é uma união do útil ao agradável, melhorado ainda mais em melodias tão viciantes quanto THATS WHAT I WANT – clipe que inclusive conta com o ganhador do Emmy, Billy Porter. O mais interessante é que as letras de Lil Nas mostram o preço de desbravar o mundo com amor próprio e encontrar monstros por toda parte, por isso suas rimas falam sobre temas como racismo, sua sufocante autocrítica e homossexualidade.
Além disso tudo, seu álbum é praticamente um presente de liberdade. As faixas transitam nos gêneros musicais – afinal nem há motivo para as limitações da Indústria, e há tanta profundidade em DEAD RIGHT NOW quanto há uniformes rosa pink no clipe de INDUSTRY BABY. As participações ilustram a mesma coisa: de Doja Cat a Elton John, não há restrição para compor a obra de Lil Nas X. Seu trabalho é um começo estrondoso assim como é sua forma de encarar o mundo. MONTERO é um bordado de diferenças, musicais ou não, e ainda bem. – Nathália Mendes
Liniker – Indigo Borboleta Anil
Quando o assunto é Música brasileira, uma das certezas que nos vem à mente é a de que toda espera é válida para os lançamentos da cantora Liniker. Isso se confirma em Indigo Borboleta Anil, primeiro álbum solo da artista depois da separação da banda Liniker e os Caramelows. Como aguardado, o disco que contemplamos é repleto de lirismo – e a canção Vitoriosa é um exemplo perfeito dessa entrega inventiva legítima. Já o encanto da novidade surge justamente na reelaboração e renovação dessa poesia típica. Além do mais, é inegável que a voz de Liniker abraça o coração de quem a escuta, e isso dá ainda mais forças ao novo CD.
Com 11 faixas, que transitam dos costumeiros soul e R&B a diversos outros gêneros, como samba-rock, samba-enredo, pagode, jazz e MPB, Indigo Borboleta Anil é um “álbum de afirmação que soa essencialmente autoral”, como bem afirmou o jornalista Mauro Ferreira. Ou mesmo “um disco de amor próprio, em que precisei entrar em mim e me reconectar com tudo de uma forma muito íntima. Tive que cuidar da minha criança interior e ainda estou cuidando”, conforme revelou Liniker à Folha de S.Paulo. Para um zelo tão delicado, nada melhor do que companhias especiais. A solução? Juntar-se a Milton Nascimento em Lalange, que, além de ser uma das melhores canções do CD, aborda exatamente essa tentativa de reaproximação da infância.
Fato é que, Antes de Tudo, “eu só não posso mais me ver assim/cada vez mais distante de mim”, canta Liniker. Inegavelmente dotada de excelentes qualidades artísticas, a cantora está cansada de “ser reduzida ao fato de ser uma mulher transgênero”. E com razão, pois o valor estético de suas criações também merece o destaque que sua figura recebe. Afinal, não é qualquer um que transforma o mundo inteiro em poesia, inclusive a relação que mantemos com nossos cães – ato admirável, embora presente em uma faixa não tão grandiosa, como Clau. Em síntese, o que o novo álbum de Liniker nos mostra é que, dela, podemos esperar de tudo, mas nunca o confortável e monótono mais do mesmo. – Eduardo Rota Hilário
Drake – Certified Lover Boy
Certified Lover Boy chega como um álbum referencial à carreira de Drake. No texto de apresentação do disco no Apple Music, o músico escreve que se trata de “uma combinação de masculinidade tóxica e aceitação da verdade, que é, inevitavelmente, de partir o coração”. Nessa viagem de 1 hora e 26 minutos, passamos por momentos marcantes diante de um indivíduo complexo e indeciso, mas que preza pela honestidade. A capa do álbum, de autoria do artista britânico Damien Hirst, sugere um tipo de ironia que não é encontrada em nenhuma canção, e soa como uma ideia esquisita que foi levada a sério. De modo geral, o CD parece algo frustrante — em mais de um sentido. Tanto por sua estrutura confusa e embaraçada, com diversas ideias jogadas nas 21 faixas cujo motor inicial são os sentimentos de Drake, quanto pela ideia oculta do álbum, que ressoa nesses sentimentos frustrados do próprio artista.
Em algumas canções, sentimos que estamos diante de algo excelente, ao mesmo tempo que não conseguimos dizer o que falta — esse sentimento que percorre nossos ouvidos talvez seja uma comparação natural entre outros álbuns de Drake. As músicas não são ruins, mas lembram coisas feitas de modo muito mais agradável e interessante em trabalhos anteriores do rapper. Em outros momentos, como nas faixas IMY2 (with Kid Cudi) e N 2 Deep, Certified Lover Boy soa arrastado, cansativo, muito conceitual e até mesmo sem interesse no que tem a dizer. Na primeira — e possivelmente melhor — faixa do álbum, Champagne Poetry, Drake creditou John Lennon e Paul McCartney, pois utilizou fragmentos da canção Michelle. Ao decorrer de todo o CD, o artista tem poucos momentos de brilho, e um deles é em No Friends In The Industry, onde o músico parece falar diretamente com Kanye West.
A canção Way 2 Sexy (with Future & Young Thug) — que ganhou um videoclipe tosco e sexista —, quando lançada como single, enganou muito bem. Com o lançamento da faixa e a divulgação da capa do disco, talvez uma jogada de marketing, esperamos por um disco irreverente, mas o que encontramos é Drake à beira do choro. O álbum se encerra com The Remorse, um círculo perfeito para quem iniciou essa viagem com uma voz ressoando um singelo “I love you”. Com um piano à mostra, a faixa é quase um atestado de arrependimento pela fama, uma espécie de culpa carregada em decorrência do esquecimento de suas origens, na qual o músico entoa “It’s hard when the memories start to fade away”. Em Certified Lover Boy, enxergamos Drake como alguém visivelmente machucado, que te chama para uma noite de bebedeira e conta aos poucos sobre o que incomoda. Mas, sem saber o que quer, é alguém que prefere chorar sozinho. – Bruno Andrade
Yebba – Dawn
É difícil acreditar que Yebba esteja fazendo sua estreia musical apenas agora. A artista que existe em Abbey Smith é um prodígio declarado há pelo menos cinco anos, criando seu nome na Música ao aparecer junto das assinaturas de artistas como PJ Morton (com quem ganhou um Grammy em 2019), Mark Ronson, Sam Smith e Ed Sheeran, figurando tanto na interpretação, com seu timbre muito bem referenciado pelo soul, R&B e folk, quanto nos créditos das composições, com suas letras muito bem trabalhadas pela sua profundidade emocional.
Agora, ela lança Dawn, seu primeiro disco que engloba todas as suas experiências das andanças pela indústria nos últimos anos em combinação às suas vivências pessoais, nada levianas, diga-se de passagem. Aos 26 anos, a artista que aprendeu a cantar numa igreja pastoreada pelo pai em Memphis processa o fato de ter visto o início de sua carreira acontecer ao mesmo tempo em que viveu o suicídio da mãe, homenageada no título do disco, que além de representar o amanhecer de Yebba, carrega o nome de sua matriarca. Assim, Dawn é uma experiência profunda e perfeitamente referenciada e executada, o que, ao contrário do que pode parecer, não faz do disco algo mais ou menos digerível.
Yebba tem sua própria essência, expressa nas referências do jazz que criam a diversão de Boomerang; no toque de gospel que aparece em Distance; na beleza do folk que faz October Sky e que se aproxima da Música clássica ao mesmo tempo em que flerta com o pop em All I Ever Wanted; e nos gracejos dos anos 70 de Stand, que reverberam em Far Away, colaboração com A$AP Rocky e um dos melhores destaques do disco. Os (muitos) destaques, no entanto, servem só como apelo para que Dawn seja compreendido e apreciado em sua totalidade – Raquel Dutra
Cesar Mc – Dai a Cesar O Que É de Cesar
“Defenda os direitos dos pobres e dos necessitados. Mas lembrem-se, dai a Cesar o que é de Cesar e dai a Deus o que é de Deus. Amém”. Essa é a frase intro de Dai a Cesar O Que É de Cesar, música de mesmo nome do primeiro álbum de Cesar Mc. E daqui em diante, rimas inteligentes e versos de muita força compõem uma obra extremamente autêntica e pessoal para falar de racismo, pobreza, luta, religião e conflitos internos.
Cesar não sabe cantar love song– e isso ele mesmo quem diz em Antes Que A Bala Perdida Me Ache, música com Emicida e Jaddy. Mas não cantar como o L7 é justamente o que o fez criar uma obra bem feita. Seu álbum começou a desenhar quem ele é, como rapper e ser humano. Ele aborda desde a sua crença religiosa, como no fato de a quantidade de faixas do disco ser a mesma de dias em que a Bíblia diz que Deus criou a Terra, até o beat calmo e a letra conflituosa de Navega, que o coloca no abismo entre fé e sofrimento.
Apesar do conteúdo das rimas nem sempre ser aprofundado, uma autobiografia assim tende à repetição, ou seja, Cesar apenas colocou o pé no mundo da Música. Assim, complementado por um bom trabalho audiovisual em videoclipes e visualizers, Dai a Cesar O Que É de Cesar evidencia a pessoalidade que começou em Canção Infantil: sua música se ouve chorando. Obrigada pela obra de arte, Cesar Mc, ela é que deveria estar na Billboard Hot 100. – Nathália Mendes
Vários Artistas – The Metallica Blacklist
245 minutos de música. 67 bandas e artistas. 53 faixas. 12 versões de Nothing Else Matters. São alguns dos números surpreendentes da recente compilação organizada pelo Metallica para comemorar os 30 anos de The Black Album, o disco de maior sucesso comercial da banda. Nomes consagrados do metal e do rock, somando se ao pop passando pela música eletrônica e jazz, foram convocados para apresentar as suas próprias versões de suas canções favoritas do álbum, formando uma estratosférica salada musical aleatória de um dos maiores dream teams que a indústria Musical já concebeu.
Mac DeMarco, Ghost, Rina Sawayama, St. Vincent, J Balvin, Phoebe Bridgers, Miley Cyrus, Elton John e Kamasi Washington são apenas alguns dos nomes a serem destacados, compondo uma lista para agradar a todos os gostos. Não é um trabalho para ser ouvido de uma vez, e até apreciar o disco em ordem parece uma tarefa estranha considerando a enorme quantidade de versões das mesmas canções que se repetem ao longo da compilação. A dica é ir atrás das versões dos artistas de sua preferência para ver qual foi a leitura deles sobre as canções clássicas do Metallica. Muitos acabaram se prendendo demais às versões originais pouco trazendo de novo, mas a longa duração também dá espaço para releituras originais e surpreendentes. Para fãs de Metallica ou não, aqui tem música para todos os gostos. – João Batista Signorelli
The Band CAMINO – The Band CAMINO
Mesmo sem criatividade para o nome, o álbum homônimo da banda The Band CAMINO chega cheio de energia. O som do trio estadunidense formado por Garrison Burgess, Jeffrey Jordan e Spencer Stewart traz um indie rock bem misturado, em que, mesmo quando as 14 faixas ou bagunçam estilos ou ficam iguais demais, as letras confessionais, nuas e cruas, chamam a atenção.
Enquanto EVERYBODYDIES (a melhor do álbum, diga-se de passagem), 1 Last Cigarette Know It All puxam mais para o rock e lembram bandas como All Time Low e a era de ouro da The Maine, outras, como I Think I Like You (também no pódio do disco), Just A Phase e Underneath My Skin exploram os indies à la lovelytheband, COIN e os trabalhos mais recentes da Bad Suns. Dentro do seu próprio nicho, The Band CAMINO diversifica. – Vitória Lopes Gomez
Japanese Breakfast – Sable (Original Video Game Soundtrack)
2021 foi o ano de Michelle Zauner. Nele, a coreano-americana provou sua versatilidade transitando entre as memórias em seu best-seller, Crying in H-Mart, à tentativa de superar a dor sobre a perda da mãe no aclamado Jubilee. No seu mais recente projeto, contudo, Zauner ultrapassa as angústias do passado nas quais estava submersa para adentrar uma nova dimensão fantasiosa. Trata-se da trilha sonora original de Sable, um jogo independente de exploração inspirado pelo universo imaginário de Star Wars e pelas ilustrações do quadrinista francês Moebius, pseudônimo de Jean Giraud.
Composto por 32 canções, a narrativa é guiada pelo processo de amadurecimento da protagonista ao longo de sua jornada no jogo. Logo na primeira faixa, Zauner nos cumprimenta sugerindo que encontremos um caminho, encontremos um Sol, dando sequência ao incrível Glider. Numa crescente instrumentalização dos sons de sintetizadores borbulhantes e utópicos, experienciamos um efeito expurgatório único: Sable anseia por liberdade diante da imensidão do mundo ao seu redor. Assim, somos absorvidos pela realidade do jogo, sendo possível visualizar a areia, sentir o calor do deserto, o frescor do vento tocando o rosto na decolagem de uma nave ou até mesmo o aumento dos batimentos cardíacos da personagem.
No restante da trilha quase não há vocais, predominando a ambiência sonora. São tons suaves mesclados entre o eletrônico dos sintetizadores ao acústico do piano, percussão e violão, que criam loops infinitos que se dissipam intencionalmente no fundo. Sable não é um álbum feito para a escuta ativa, mas sim para a intensificação da experiência virtual no jogo, e nisso, ele se excede. – Ayra Mori
Natalie Imbruglia – Firebird
Seis anos após seu último disco, a cantora australiana Natalie Imbruglia voltou este mês com Firebird, um trabalho que reflete a busca para superar o bloqueio criativo que a impediu de prosseguir com sua carreira. Firebird é um álbum plural e upbeat sobre recomeços e independência, fruto de ideias e emoções intensas.
Firebird alça voo com canções como Nothing Missing e On My Way, conquistando imediatamente com sua mistura intoxicante de indie pop e disco. Em faixas mais lentas, tais como Just Like Old Times e Dive to the Deep, o que nos conquista é sua sensibilidade e vulnerabilidade ao cantar sobre as partes de si mesma que mais dificultaram o processo de criação do novo álbum. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Low – HEY WHAT
Afastar os excessos, diminuir os arranjos e contrapor duas vozes, a fim de obter um som equilibrado. A premissa de Low sempre foi essa: o mínimo é mais. Mas conforme os anos passaram, a dupla Mimi Parker e Alan Sparhawk foi percebendo que, talvez, fosse interessante explorar elementos que não estavam ao alcance no início, e distanciar-se um pouco do minimalismo puro. Muito diferente de I Could Live In Hope (1994) — um excelente disco estreante —, a dupla agora caminha pelo rock industrial em seu 13º trabalho, HEY WHAT, álbum que chegou às plataformas em 10 de setembro de 2021, e mostra como eles ainda sabem o que estão fazendo.
Sejamos honestos: Low nunca fez um álbum ruim, e não seria diferente agora. Flertando há tempos com o gênero popularizado pelo Nine Inch Nails de Trent Reznor, HEY WHAT traz uma continuidade ao antecessor, Double Negative (2018). No novo disco, há momentos de repetição de uma única palavra em espécie de loop, com muitos ruídos em volta, algo que traz lembranças do shoegaze de My Bloody Valentine. De forma geral, Parker e Sparhawk parecem explorar o caos como resultado ao ruído total, emparelhando diversas camadas de instrumentos e sons para mostrar um tipo de isolamento muito comum atualmente, no qual somos submetidos devido à enxurrada de publicidade cotidiana. Como Sparhawk disse em entrevista, eles querem fazer “novos buracos na possibilidade da música”.
A faixa White Horses, nossa porta de entrada nesse projeto, anuncia em toda sua aura obscura que a dupla pretende reformular a concepção de rock que se tem atualmente, com repetições devastadoras de guitarra. Em Days Like These, que soa no início como uma música gospel, temos um início aconchegante e um fim cósmico, onde ouvimos repetidas vezes a palavra “Again”, talvez um sinal de que Dias Como Estes são sempre iguais, ainda mais considerando os tempos pandêmicos. Já There’s a Comma After Still soa como um sinal de rádio interceptado, algo sombrio e misterioso, praticamente um interlúdio. More, a melhor faixa do disco, está escondida no final, e é composta por Parker entoando que deveria ter pedido mais do que tem, enquanto Sparhawk sustenta o backing vocal. Ao longo de 46 minutos caóticos, Low aponta para HEY WHAT como um desastre premeditado. – Bruno Andrade
Gaby Amarantos – Purakê
O amor nunca sai de moda. Um dos motores de Purakê, segundo álbum da carreira de Gaby Amarantos, é esse sentimento universal que aparece multifacetado ao longo das 13 poderosas faixas que compõem o novo disco da cantora paraense. Variando, no gênero, da sofrência ao tecnobrega e, na temática, da entrega à desilusão, o amor sem dúvidas se eleva com a relevância de uma verdadeira lista de colaborações dos sonhos: Elza Soares, Alcione, Dona Onete, Luedji Luna, Liniker, Ney Matogrosso, Urias e Jaloo são apenas alguns dos nomes que aparecem no CD.
É Jaloo quem assina, inclusive, a direção musical e produção do disco que fortalece Gaby enquanto compositora. Com nome inspirado em um peixe elétrico da Amazônia, Purakê emerge entre sereias e rios, misturando o atual cenário artístico da região Norte do Brasil com um projeto criativo – ambicioso e inovador, diga-se de passagem – de futuro. Indo além da própria musicalidade, a rainha do tecnobrega também preparou, com muito cuidado, a parte visual de suas criações, investindo bastante em videoclipes e em um conjunto de lyric visualizer. No fim, esse combo primoroso é prova inegável de que, além de notória figura pública, Gaby Amarantos é uma excelente artista. – Eduardo Rota Hilário
Hans Zimmer – The Dune Sketchbook (Music from the Soundtrack)
Podem anotar: Hans Zimmer estará entre os cinco indicados a Melhor Trilha Sonora Original no Oscar 2022, e não vai ser pela trilha da sequência de O Poderoso Chefinho nem do próximo filme do Zack Snyder. As peças que levarão o compositor à temporada de premiações a partir do final deste ano ganham em The Dune Sketchbook sua versão estendida, onde o compositor expande as ideias trabalhadas na trilha original, oferecendo um mergulho ainda mais profundo na atmosfera e nas ambientações sonoras de Duna. Saindo de sua zona de conforto, o compositor entrega um trabalho magistral, com uma enorme brecha para experimentar com a Música como nunca tinha feito antes.
O resultado é uma obra com alguns traços característicos da Música de Zimmer, outros remetendo à Música do Oriente Médio, mas com uma predominante sensação de ser uma obra genuinamente alienígena, o que é reforçado pelos coros em idioma fictício, e por instrumentos de timbres misteriosos, provável fruto de uma combinação de sons aos moldes do processo de criação do grunhido do Chewbacca. É onírico, estranho, e impactante. Se Hans Zimmer queria nos tirar deste mundo e nos transportar para outra galáxia com sua Música, pode ter certeza de que ele conseguiu. – João Batista Signorelli
Nala Sinephro – Space 1.8
Flutuar. Flutuar pelo vazio de olhos fechados, num universo sereno onde tudo parece estar em perfeito equilíbrio, em paz. Evocando essas sensações, Nala Sinephro, de fato, cria suas próprias realidades cósmicas no álbum de estreia, Space 1.8, dividido por oito faixas complementares entre si, que vão de Space 1 à Space 8. Prodígio da Música, Sinephro se encantou com a harpa aos 16 anos, quando aprendeu a tocar sozinha o instrumento em meio aos estudos de jazz durante às noites. E mais uma vez evidenciando seu amadurecimento precoce, a musicista belga-caribenha de apenas 22 anos concebe uma obra minuciosa e extremamente elegante que aparenta ser feita por alguém com vasta experiência musical.
Conduzido por uma radiação etérea única, Space 1.8 foi produto da colaboração de um conjunto rotativo de músicos que compõem a dinâmica cena do jazz atual no Reino Unido. Destacam-se, majoritariamente, nomes de pessoas pretas e filhos de imigrantes – tal qual a própria Sinephro –, como Reed Nubya Garcia, James Mollison (Ezra Collective), o saxofonista Ahnansé e a guitarrista Shirley Tetteh, todos com atuação de peso. Contudo, divergindo dos ritmos afro-caribenhos de seus colegas, Sinephro cria uma ambiência quase imaterial através do uso de sintetizadores e dos solos de harpas simultaneamente transcendentais, sutis e misteriosos.
A experiência tecida por Sinephro ao longo dos 44 minutos é totalmente sinestésica. Os sons despertam texturas, que despertam cores, que despertam formas, que despertam sensibilidades. Cada faixa constitui um novo cosmos que não se interligam, mas se encaixam perfeitamente umas com as outras. Mesmo em momentos de silêncio de Space 2, as sensações são afloradas, quando, de repente, uma canção que era calma deixa de ser quieta numa crescente instrumentalização do saxofone com o apoio de percussões cintilantes. Gravado em um momento delicado de recuperação de uma doença grave, Space 1.8 volta-se para o interior, como um mergulho no vácuo do espaço, atingindo, assim, um plano superior. E esse é o brilhantismo de Sinephro. – Ayra Mori
Poppy – Flux
A dificuldade de encaixar a artista e webcelebridade Poppy numa só categoria parece ser exatamente o objetivo de sua apresentação enigmática. Apenas um ano após o incendiário I Disagree, o novo trabalho da cantora apresenta uma personalidade em constante mudança e transformação, que parece se deliciar no movimento mais do que ansiar pela chegada.
Em poucas palavras, Flux simplesmente arrebenta do início ao fim: com influências de nu metal e grunge, Poppy tece nove faixas de pura e absoluta expressão em constante fluxo, abraçando por completo suas novas emoções. Ouça enquanto é tempo, porque se há uma coisa que sabemos, é que não vai demorar para que ela mude de novo. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Sufjan Stevens e Angelo De Augustine – A Beginner’s Mind
Depois de se aventurar com os eletrônicos densos de The Ascension e se jogar nos sons ambientes de Meditations à Convocations, Sufjan Stevens retorna às raízes folk nas quatorze faixas do mais recente A Beginner’s Mind, junto de Angelo De Augustine. A colaboração foi resultado de um período no qual ambos estavam hospedados em uma cabana no interior de Nova York. E encabeçados pelo conceito zen budista shoshin – ou seja, a aceitação de uma “mente iniciante” –, as sessões musicais foram inspiradas em filmes específicos que os colegas assistiram durante a estadia meditativa, permeando gêneros diversos que vão desde A Malvada à A Noite dos Mortos-Vivos e até Asas do Desejo.
Quase totalmente composto, arranjado e produzido pela dupla – com exceção do coro de fundo de Melissa Mary Ahern em Lacrimae, além do baixo e bateria que acompanham Back to Oz –, o novo álbum parece representar um afrouxamento criativo de Stevens em relação ao perfeccionismo da execução de seus projetos passados. Há quem instintivamente compare A Beginner’s Mind com o inigualável Carrie and Lowell, porém suas qualidades líricas são completamente diferentes. Aqui, ambos se livram dos julgamentos, aceitando o processo colaborativo como aprendizes e entregando ao público um cristal bruto, mas, ainda assim, um cristal (e que cristal).
Todas as faixas se destacam no álbum, principalmente quando as vozes de ambos se colidem angelicalmente, fundindo-se de forma que, em alguns instantes, é impossível dizer quem é quem. Os vocais agudos de Stevens se complementam soberbamente com os mais baixos de De Augustine, tudo acompanhado de uma instrumentação delicada que põe em foco as vozes dos musicistas. Se o paraíso tivesse uma trilha sonora, a pseudo orquestra criada em A Beginner’s Mind certamente entoaria os céus. – Ayra Mori
Imagine Dragons – Mercury – Act 1
As 13 faixas de Mercury – Act 1, primeira parte de uma obra musical dividida em dois álbuns, não são coesas nem entre si, nem com o estilo dos outros 4 álbuns do Imagine Dragons. As características que marcam o rock moderno da banda são realçadas em algumas excelentes faixas, como Wrecked e Follow You, que partilham da essência de Radioactive em batidas fortes, vocal afiado e uma melodia que segura um pop rock. No entanto, outras músicas de Mercury são completamente diferentes do que a banda normalmente canta – assumindo até uma estranhíssima pegada good vibes em It’s Ok.
De maneira geral, a primeira parte do novo trabalho do Imagine Dragons é dispersa e incoerente. A letra profunda de Giants, que aborda violentamente a luta pela sobriedade e o uso de drogas, se perde em meio à faixas que arranham a superfície do vocalista Dan Reynolds e sua saúde mental, sexualidade e vida pessoal, assumindo irritantemente uma melodia feliz demais. Em meio ao trabalho do produtor Rick Rubin em forçar a banda a se abrir profundamente, Mercury – Act 1 se tornou uma confusão de emoções que flutua por estilos musicais demais. – Nathália Mendes
LANY – gg bb xx
Se você acha que não conhece LANY, basta voltar para as playlists de 2017 onde ILYSB era presença obrigatória. A banda de Paul Jason Klein, Charles Leslie Priest e Jake Clifford Goss, que está conquistando seu espaço na indústria há anos, acaba de lançar seu quarto álbum de estúdio, gg bb xx. É uma pena, então, que tenham deixado bastante a desejar.
Com 12 faixas, o disco é genérico e repetitivo. As letras fracas sobre relacionamentos e términos se transformam em mais do mesmo, juntamente ao pop monótono da banda, que pode ser encontrado em qualquer canção do Lauv. Mesmo sem uma história que ligue todas as partes do álbum, gg bb xx não é, necessariamente, ruim. É apenas raso, não permitindo seus ouvintes a realmente se afundarem na obra. – Mariana Chagas
Gabriel de Almeida Prado – Não Aceito Ser Um Só
É raro encontrar um artista capaz de ter o mesmo nível de intimidade e engenhosidade com as palavras e com as notas musicais, e Gabriel de Almeida Prado é certamente um deles. Seu novo disco Não Aceito Ser Um Só é carregado de engenhosas canções, que passeiam com enorme naturalidade pelos gêneros musicais e comprova ainda mais a sua pluralidade. Afinal, para que ser só poeta ou músico quando se pode ser os dois?
Desde os anúncios apocalípticos de O fim está próximo à estranha sensualidade de Kama Fruta, o álbum esconde uma surpresa a cada faixa, seja no clímax extasiante de O beijo, ou nas ironias de Papo de morto. Com belos acompanhamentos visuais minimalistas para todas as suas canções, além de diversas colaborações com Siba, Pascoal da Conceição, dentre outros, Não Aceito Ser Um Só é rico em sua estética e sua semântica. É uma realização que deixa claro que Gabriel de Almeida Prado, mesmo que ainda esteja em seu segundo disco, já é um artista plenamente formado. – João Batista Signorelli
Vários Artistas – Aldir Blanc Inédito
Homenagens póstumas são sempre um risco, mas a gravadora Biscoito Fino acertou em cheio ao planejar um tributo a Aldir Blanc. Vítima da covid-19 e uma das perdas inestimáveis de 2020, o inigualável letrista brasileiro vive eternamente nos clássicos e, agora, também em composições inéditas. Aldir Blanc Inédito é, com certeza, um mar de poesia do início ao fim – e um bom exemplo de que composições mais elaboradas podem perfeitamente ser populares. Sem qualquer espanto, a abertura do disco é de João Bosco, parceiro de longa data do compositor magistral.
Já em relação aos destaques do CD, podemos listar, em primeiro lugar, Palácio de Lágrimas, tendo em vista que a junção de Aldir Blanc e Maria Bethânia é um caminho direto para experiências sublimes e uma total transcendência. Voo Cego, por sua vez, nos arrepia e coloca na boca de Chico Buarque metáforas estonteantes. Ao mesmo tempo, Navio Negreiro, gravada por Leila Pinheiro e Guinga, relembra um passado que muitos brasileiros perversamente tentam ignorar ou amenizar: o período da escravidão. Por fim, Ator de Pantomima e Virulência, cantadas por Sueli Costa e Alexandre Nero, respectivamente, dialogam diretamente com o recente desgoverno presidencial e a atual tragédia pandêmica. Fato é que, desta nova coletânea, ainda extrairemos novidades por muito tempo. – Eduardo Rota Hilário
Art School Girlfriend – Is It Light Where You Are
Descrever o segundo álbum da cantora Art School Girlfriend, Is It Light Where You Are, como “pessoal” e “intimista” seria redundante com a proposta do trabalho. Como a própria cantora revelou, o projeto foi escrito logo após o fim de um relacionamento de longa data, quando ela mal podia levantar da cama, e serviu como um meio de documentar o período.
O diário de término de Art School Girlfriend, nome artístico de Polly Mackey, tem seus altos e baixos, assim como o momento pelo qual ela passa no disco. As 10 faixas do álbum se alternam entre provocar respiros e sufocos, e a liricidade da cantora, multi-instrumentista e produtora é embalada ora por picos de energia, ora pela monotonicidade. Com sonoridades que vão das mais dispersas e atmosféricas, às mais densas ou claustrofóbicas, Is It Light Where You Are reflete e provoca uma bagunça de sensações. – Vitória Lopes Gomez
Odd Beholder – Sunny Bay
Projeto musical de veias synth-pop encabeçado pela suíça Daniela Weinmann, Odd Beholder volta-se para a natureza em seu segundo álbum. Contrário ao projeto inaugural da carreira, All Reality Is Virtual – que tratava sobre temas globais de digitalização e coleta de dados não confiáveis –, em Sunny Bay, a artista age como mediadora da negociação entre o real e o surreal. Aqui, o foco é o íntimo, seja ele concreto ou seja ele um devaneio, numa revisão das ideias românticas associadas à paisagem natural como espaço de escapismo e alienação.
Segundo Weinmann, a concepção de Sunny Bay foi aflorada pela pandemia. Isto é, forçada ao isolamento, Odd Beholder foi inevitavelmente obrigada a refletir acerca de quem ela é e de quais são seus desejos sobre o mundo. Olhando para si mesma, ela permite que a música adquira forma por conta própria através do uso suave da voz e dos sintetizadores estranhamente polidos e esdrúxulos, sincronicamente. Assim, as texturas sônicas presentes em todas as dez faixas acabam criando uma experiência cinematográfica singular, pavimentando um caminho interessante para o próximo trabalho de Weinmann. – Ayra Mori
Iron Maiden – Senjutsu
Mesmo que adentrando a terceira idade, Bruce Dickinson e companhia não dão sinais de que irão parar tão cedo. Seis anos depois do aclamado The Book of Souls, o Iron Maiden volta com Senjutsu, mantendo-se fiel à sua proposta artística, e sua identidade visual e sonora, trazendo mais uma capa aterrorizante e longas faixas com mais de 10 minutos de duração.
Entre momentos obscuros ou energéticos, os 81 minutos do disco são carregados de um heavy metal clássico, energético, mas por vezes pouco inventivo. Senjutsu entrega exatamente aquilo o que se espera de um lançamento do Iron Maiden, o que, pelo visto, está dando certo para eles: o disco estreou na terceira colocação na Billboard 200, a melhor colocação na história da banda. – João Batista Signorelli
Don Diablo – FOREVER
O trabalho que o DJ holandês Don Diablo tem criado, desde que a pandemia o deixou fora dos palcos, é uma inovação artística. O novo álbum FOREVER segue verdadeiramente seu future house e compõe mais uma peça para uma obra futurista. Entre as suas 21 faixas, o disco apresenta músicas agradáveis e viciantes, como Hot Air Balloon e Stay Awake, enquanto Into The Unknown ilustra sua experiência musical revolucionária na cripto-arte, tudo isso sem que os sintetizadores te dêem dor de ouvido.
Diablo criou o primeiro show em NFT – um token único de registro criptografado – da história: Destination Hexagonia, uma obra digital que custou milhares de dólares para ser produzida e comprada. Agora com FOREVER, ele mostra parcerias vocálicas que dão dimensão e fluidez ao disco. Tears For Later, Too Much To Ask e Kill Me Better, colaborações com Galantis, Ty Dolla $ing e Trevor Daniel, respectivamente, mostram que Don Diablo soube se equilibrar entre a estética futurista e a playlist de um rolê. – Nathália Mendes
Dead Sara – Ain’t It Tragic
Três anos depois do EP Temporary Things Taking Up Space e seis anos desde o último álbum, Pleasure to Meet You, a banda de rock alternativo Dead Sara voltou com seu terceiro disco, Ain’t It Tragic. Marcado pela guitarra de Siouxsie Medley e os vocais característicamente roucos de Emily Armstrong, o novo trabalho do grupo de Los Angeles ainda sofre pela falta do baixista Chris Null, mas se estabelece seu novo som melhor do que o EP anterior.
Toda faixa de Ain’t It Tragic parece estar ligada no 220, exibindo o potencial caótico de seus músicos nas letras e nas melodias. Até mesmo Starry Eyed e Losing My Mind, algumas das faixas mais lentas, carregam uma intensidade quase intimidadora. Algumas vezes, esse entusiasmo cansa um pouco, mas o grupo faz o longo tempo entre seus lançamentos valer a pena, dando tudo de si para que o disco supere as expectativas de seus fãs. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Mild High Club – Going Going Gone
Talvez o mais engraçado de ter contato com Mac DeMarco é que qualquer coisa vagamente lo-fi nos faz lembrar dele. Não é diferente no novo álbum de Mild High Club, grupo liderado por Alexander Brettin, cujas referências vão do soft rock, passam pelo lo-fi, dão um ‘olá’ à bossa nova e chegam no psicodélico. Em Going Going Gone, o projeto avança por caminhos pouco desvendados nos dois álbuns anteriores, com Brettin explorando novos timbres e dando espaço à nostalgia.
Mild High Club possui uma sonoridade setentista, com influências nítidas do jazz. As canções de Going Going Gone lembram, com frequência, trabalhos de Tame Impala, sob o domínio dos sintetizadores e mantendo as guitarras como coadjuvantes. Na faixa A New High, a artista Samira Winter, nascida no Brasil mas radicada nos Estados Unidos, participa cantando melodicamente em português, e transforma a canção em uma espécie de homenagem à Garota de Ipanema, transbordando em referências à Música brasileira. Há muita coisa acontecendo aqui, mas de forma brilhantemente acessível e coordenada. – Bruno Andrade
J Balvin – José
É hora de conhecer a fundo um dos maiores artistas latino-americanos do momento. Em José, seu sétimo álbum de estúdio autointitulado, J Balvin descasca sua vida, história, sentimentos, família, amizades, trabalho e carreira com fidelidade ao gênero que o levou ao estrelato mundial e sem economizar na produção do disco que descasca sua figura enquanto artista. Mas os objetivos de um álbum de 24 faixas são ambiciosos, e nem o embaixador do reggaeton consegue driblar o caminho fadado à repetição num CD tão longo de um gênero que tem uma identidade tão marcada.
Entretanto, isso não parece incomodar J Balvin, que está confortável como nunca no mais puro reggaeton em Te Acuerdas de Mí, uma faixa antes de dar suas caras como hitmaker em In Da Getto. E ele sabe o momento de minimizar as referências de suas raízes para dar lugar à outros elementos. Lembrando dos que buscam algo diferente, José traz a vibrância rítmica e a poesia falada de Perra, e o toque de synth-pop que ao mesmo tempo traz melodias levemente acústicas em Querido Río.
A mistura das faixas confirma que o single precursor 7 de Mayo segue como a assinatura do disco, cujo triunfo está em suas experimentações e composições, como o artista entrega desde o início ao abrir o álbum com F40. Em letras que abordam sua intimidade familiar, sentimentos profundos e reflexões sobre o mundo junto de nomes como Skrillex, KAROL G, Myke Towers, Dua Lipa, Khalid, Tokischa e Bad Bunny, José forma um trabalho condizente ao artista que J Balvin é. – Raquel Dutra
Vários Artistas – I’ll Be Your Mirror: A Tribute to the Velvet Underground and Nico
O disco de estreia da banda encabeçada por Lou Reed, The Velvet Underground and Nico, é muito mais do que o “álbum da banana”: é uma das pedras fundamentais do rock, e um dos precursores de tantos gêneros musicais que dele derivariam, do punk ao indie. Regravá-lo faixa a faixa foi o objetivo deste último projeto do falecido produtor e colega de longa data de Lou Reed, Hal Willner.
Reunindo artistas que vão de Kurt Vile a Iggy Pop, I’ll Be Your Mirror espelha as faixas do material-fonte, ora preservando o espírito das canções originais, como em There She Goes Again, por King Princess, ora o distorcendo completamente, como em All Tomorrow’s Parties, por St. Vincent com Thomas Bartlett, mantendo ao menos, o espírito inovador e experimental tão característico do Velvet Underground. Destaques para a interpretação misteriosa de Venus in Furs por Andrew Bird e Luciuis, e a bela leitura por Sharon Van Etten de Femme Fatale. – João Batista Signorelli
St. Vincent – The Nowhere Inn
A enigmática e magnética St. Vincent existe quando Annie Clark sobe ao palco. Procurando se desnudar da misteriosa persona criada por ela, a cantora, compositora e multi-instrumentista americana se propôs a revelar sua verdadeira identidade no pseudodocumentário The Nowhere Inn, dirigido por Bill Benz e estrelado e escrito por ela e a amiga Carrie Brownstein. Só que quando o real e o puramente artístico destoam, as duas facetas de Annie se confundem em um mocumentário satírico, colorido e cheio de humor.
Menos de seis meses depois de seu último projeto, o pessoal Daddy’s Home, a estreia do longa foi acompanhada do lançamento de sua trilha sonora, disponibilizada em um álbum homônimo. Assim como o seu irmão cinematográfico, The Nowhere Inn é imersivo e envolvente, com as canções de St. Vincent misturadas aos instrumentais extasiantes. E escutar o álbum depois de assistir ao filme torna ambos os produtos ainda mais sensoriais e inebriantes. – Vitória Lopes Gomez
Little Simz – Sometimes I Might Be Introvert
“Simz, a artista, ou Simbi, a pessoa?”. Depois de um tempo na mira dos holofotes, é comum ouvir as queixas dos artistas de que sua própria identidade desaparece. Em tempos de invasão global da privacidade e uma enxurrada diária de informações, há certa dificuldade em não se sentir um intruso no mundo. Elencando a guerra como motor das sociedades atuais — guerras pessoais e contra o sistema —, passando por rachaduras familiares, racismo, machismo e violência policial, Little Simz tenta encontrar sua própria essência no fabuloso e conceitual Sometimes I Might Be Introvert. A ideia de duplo está presente ao longo das 19 faixas do álbum. O título funciona como um acrônimo de Simbi — apelido de Simbiatu, nome da pessoa por trás de Little Simz —, e durante as 10 primeiras canções, ouvimos sua versão melancólica e revoltada, clamando por justiça.
Porém, depois de The Rapper That Came To Tea – Interlude — interlúdio narrado por Emma Corrin, atriz que interpreta Lady Di em The Crown —, somos apresentados a uma outra Simz, mais extrovertida e que se opõe deliberadamente àquela pessoa mais reflexiva que havíamos conhecido (talvez essa seja Simz, a artista). Nessa nova fase do disco, a cantora inicia Rollin Stone lembrando do momento que esteve em São Paulo — na ocasião, ela se apresentou no Popload Festival — e traz as versões mais alegres do CD, evidenciando que seu lado pessoal não é considerado tão interessante para ser consumido, pois a indústria espera uma oferta ilimitada de alegria e entretenimento. Então, em Little Q, Pt. 2, Simz narra de forma pessoal uma experiência de esfaqueamento, trazendo lembranças da própria infância. Já em Point and Kill, canção que traz a parceria de Obongjayar, ouvimos um afrobeat, marcando novamente as origens da artista, que é filha de pais nigerianos e descendente dos iorubás.
Em Introvert, a melhor faixa do álbum, somos direcionados para dois problemas antigos que ganham repercussão em quase todas as canções: o racismo e o machismo. Simz entoa que é uma mulher negra e tem orgulho disso, e oscila entre o underground e o erudito, trazendo à melódica e combativa voz da rapper arranjos orquestrais e um clima apocalíptico. Através de um enorme panorama social, no qual somos apresentados a frações sistêmicas no modo de vida contemporâneo, lembramos da literatura combativa de Angela Davis, Bernardine Evaristo, Bell Hooks e Toni Morrison, visto que a letra retrata conflitos psicológicos e sociais, e a busca pela origem desses problemas como algo vazio de significado, considerando as fronteiras entre eles um borrão difícil de entender. No clipe da música, há uma mistura de imagens de guerras em preto e branco e jovens negros fugindo da polícia, elucidando ainda mais a urgência de se entender de onde vem tudo isso. Esqueça o Kanye, esqueça o Drake. Há uma guerra em curso, interior e exterior, e Little Simz parece ter consciência disso. – Bruno Andrade
Cynthia Erivo – Ch. 1 Vs. 1
Atriz, cantora e compositora premiada, Cynthia Erivo é dona de talentos incontáveis. Vencedora de um Daytime Emmy, um Grammy e um Tony, além de indicada duas vezes ao Oscar, é impossível falar da inglesa sem citar suas conquistas. Lançando o álbum de estreia, intitulado Ch. 1 Vs. 1, Erivo mergulha nos dilemas pessoais emergidos durante o isolamento social, declarando: “Esta é provavelmente uma das primeiras vezes que vou conseguir ser apenas eu mesma, e ser eu mesma plenamente.”
Produzido em meio à pandemia, o registro conta com parcerias de veteranos do R&B, incluindo a produção de Harold Lilly (um dos compositores de Beyoncé) e Jack Splash (parceiro de Alicia Keys). No decurso das doze faixas, Erivo se revela ao mundo através da poderosíssima voz que expelem seus sentimentos mais pessoais sobre amor, relacionamentos familiares conturbados, ou ainda quanto às injustiças sociais. Entretanto, devido exatamente à potência dos vocais da Grammy winner, tanto a composição do disco, quanto a sonoridade cheia de nuances do soul, são ofuscadas pelo vozear de Erivo, não atingindo os mesmos níveis.
Integrando os destaques do álbum, está o enérgico The Good, acompanhado de um caloroso videoclipe protagonizado pela própria Erivo. Explorando as facetas do amor sáfico entre duas mulheres pretas, o single traz uma perspectiva positiva e não fetichizada da intimidade e adversidades enfrentadas num relacionamento fadado ao fim. Aqui, o ritmo da percussão e do teclado vibrante cativam. Assim, Ch. 1 Vs. 1 é um álbum agradável, simples. Mais uma vez, o poder de Erivo está em sua voz. – Ayra Mori
Baby Keem – The Melodic Blue
O primeiro álbum de Baby Keem estava cercado por muitos rumores. Segundo eles, qualquer atenção midiática na estreia do rapper ocorreria pelo artista ser primo de Kendrick Lamar. Mas o fato é que The Melodic Blue foi lançado, e Keem entregou um álbum emocionante, porém nada brilhante. Com marcas visíveis de uma estreia inocente, apadrinhada por um dos grandes nomes do gênero, o disco tenta mostrar ao longo das 16 faixas o motivo de tanto hype, construindo canções sem coesão e elencando Keem como um indivíduo que vai além da participação especial em Donda (2021).
O cantor tem consciência do peso de sua árvore genealógica. Como anunciado na canção range brothers (with Kendrick Lamar), “os sapatos que eu calço são enormes” — e de fato são. Lamar é o primeiro rapper da história a receber um Pulitzer, e é um dos grandes titãs da indústria musical. Mesmo silenciosamente, é difícil negar a influência. Em family ties (with Kendrick Lamar), o artista abraça seus laços familiares e faz uma reverência a Lamar, deixando a música marcada por um apelo íntimo, e traçando uma espécie de limiar entre o rap e o trap. Enquanto isso, nas canções gorgeous — mesmo nome de uma música de Kanye West, mas que parece uma versão estranha de Post Malone — e hooligan, Keem evoca cenários de violência.
Em issues, talvez a melhor do projeto, há uma faceta melancólica e corajosa, que lembra os problemas mais íntimos do músico e de sua família, mas que não passa de algo isolado em todo o CD. A verdade é que aquilo que sempre saudamos em álbuns de rap não funciona aqui. Baby Keem faz experimentações em todas as faixas, com alusões a outros artistas do gênero — Drake, Kanye, 50 Cent —, mas esse gesto em The Melodic Blue, mesmo sendo um álbum de estreia, mostra somente a confusão de alguém que ainda não decidiu o que fazer. – Bruno Andrade
Alessia Cara – In The Meantime
Em seu terceiro álbum de estúdio, In The Meantime, Alessia entrega o melhor trabalho de sua premiada carreira ao discutir sobre as dualidades que cercam nossa existência. Através de sua composição, ela dá nomes aos fantasmas que assombram sua mente, à procura de se libertar deles ou ao menos fazer com que aqueles que compartilham das mesmas mazelas sintam-se menos sozinhos.
Mas além do seu relacionamento consigo mesma, Alessia também triunfa ao analisar os sentimentos conflitantes de se relacionar com alguém. Desde a angústia de não saber se é melhor ficar sozinha ou se apaixonar até as mentiras convenientes de um término, ela passeia com naturalidade através de ritmos e gêneros musicais. Inclusive, há dois agrados para os fãs brasileiros: Bluebird e Find My Boy possuem forte influência da bossa nova e citam o Rio de Janeiro em suas letras.
Ao deixar de lado o tom professoral e otimista que marcou sucessos anteriores como Scars to Your Beautiful e Wild Things, Alessia termina a transição iniciada em The Pains of Growing. Com tanta honestidade ao narrar as dores da vida, é muito mais fácil acreditar quando ela diz que dias melhores virão. Assim, o fardo de ser um modelo exemplar é substituído por algo muito mais poderoso: a vulnerabilidade. – G. H. Oliveira
José González – Local Valley
Se você já assistiu A Vida Secreta de Walter Mitty (2013), dirigido e protagonizado por Ben Stiller, deve conhecer José González, pois a música tema do filme foi composta por ele. O artista sueco-argentino surge com Local Valley, seu quarto álbum de estúdio — em uma carreira que já soma 18 anos —, e parece ser a síntese do que seria a mistura perfeita entre Elliott Smith e Nick Drake.
Segundo González, o nome do disco surge da concepção que ele possui do mundo, conforme disse em entrevista. “Eu vejo o mundo, esta terra, este planeta, como nosso vale local. Eu o vejo como o nosso pequeno ‘Pálido Ponto Azul’, como Carl Sagan disse. Quando você se aproxima do universo, este lugar em que vivemos se torna muito pequeno. Então, essa é uma das maneiras que eu penso sobre o título, especialmente em uma canção como Visions”.
O disco é o primeiro trabalho do artista que utiliza efeitos computadorizados, algo mais evidente na faixa Swing. Nessa música, o lado folk do artista é praticamente deixado de lado, e há muitas semelhanças com os trabalhos de Jack Johnson. José González não é o tipo de artista que exige atenção. Ele toca e canta por paixão, e se você gosta de folk, ou se apenas é chegado no clássico voz e violão, a porta estará aberta. – Bruno Andrade
X Ambassadors – The Beautiful Liar
No terceiro álbum de estúdio da X Ambassadors, The Beautiful Liar, a banda aderiu aos áudio-dramas. A surpresa com o conceito vem logo na primeira faixa, CHAPTER ONE: Sleeping Giant, em que uma narração apresenta o projeto e indica a divisão das faixas em capítulos. O quarteto não conta uma história nos mínimos detalhes, mas o duplo sentido das letras, que poderiam ser tanto sobre uma personagem ficcional quanto sobre os membros da banda, é imaginativa e subjetiva por se encaixar em mais de um contexto.
Durante o álbum, porém, a mistura de canções e narrativa se perde. Se CHAPTER TWO: Enter The Shadows quebra a sequência musical, mas serve como um bom interlúdio, a dobradinha de Theater of War e —A BRIEF WORD FROM OUR SPONSORS—, faixas dedicadas à contextualização do áudio-livro, tentam ser imersivas, mas mais interrompem e quebram o ritmo do que acrescentam à proposta.
Ainda assim, mesmo que ofuscado pelas pausas, o som contagiante da X Ambassadors tem seus momentos de glória: o vocal potente de Sam Harris e as pulsantes linhas de baixo se destacam, e as dançantes My Own Monster e Love Is Death se sobressaem. Ao final, The Beautiful Liar tenta criar uma experiência maior do que a musical, mas talvez se saia melhor como um áudio-livro, mesmo. – Vitória Lopes Gomez
Bemti – Logo Ali
Dizem que não se deve julgar um livro pela capa, e isso se estenderia também aos discos, mas o segundo álbum de estúdio de Bemti é uma exceção à regra. Com uma “reinvenção expandida” maravilhosa da obra O Derrubador Brasileiro, de Almeida Júnior, Logo Ali conquista corações desde sua porta de entrada. E nada aqui é por acaso, já que os dois artistas, apesar de distantes no tempo, partilham de alguns elementos do universo caipira, estabelecendo diálogos pelo menos indiretos entre si.
Liricamente, Logo Ali é uma obra também muito sensível e bela. Com destaque para Canto Cerrado, faixa na qual Bemti canta “não vou respirar sem poesia”, as composições desse disco têm, ao mesmo tempo, traços de inspiração e preocupação estética. Já em relação às colaborações do CD, um dos pontos numericamente mais altos é, com certeza, Catastrópicos!, parceria com Jaloo disponível nas plataformas digitais desde novembro de 2020. Com uma abertura que remete às chegadas da vida, e um encerramento que alude às partidas, Logo Ali simboliza explicitamente a excelência artística de Bemti. – Eduardo Rota Hilário
The Felice Brothers – From Dreams to Dust
Desde 2007 na estrada, o projeto familiar formado pelos irmãos Felice (Ian e James) é um dos suspiros do folk atualmente, mesclando elementos do country e até mesmo do indie. Em meio às diversas referências citadas nas letras — de Jean Claude Van Damme e Kurt Cobain a Clube da Luta e Dostoiévski —, From Dreams to Dust, oitavo álbum de estúdio de The Felice Brothers, é uma epopeia sobre os humanos, a vida e o fim, seja ele qual for.
Não surpreende que Ian Felice (vocalista e guitarrista) tenha lançado, em 2017, um livro em edição limitada de seus poemas, além de ter outro livro de poemas com lançamento previsto para 2022. Como principal compositor dos The Felice Brothers, Ian traz várias referências literárias, cultivando o discurso falado em contraste com as pausas melódicas — algo muito similar ao que Bob Dylan faz em Hurricane —, em um estilo de fluxo da consciência. Na canção We Shall Live Again, ouvimos referências ao filósofo alemão Hegel e ao escritor francês Marcel Proust, enquanto Inferno trata-se de uma referência à obra de Dante Alighieri.
Em Jazz on the Autobahn, somos transportados ao sentimento de apocalipse iminente, algo apontado, no fim, como um vazio. A verdade é que o álbum soa como a trilha sonora gótico-sulista de um livro de William Faulkner, cuja sobriedade obscura dá a entonação para um disco transcendente. Porém, mesmo cheio de méritos, o CD ainda soa como uma cópia de Dylan, Neil Young e The Band. – Bruno Andrade
Colleen Green – Cool
É fato que referenciar o passado é uma das tendências mais fortes na Música dos últimos dois anos. Mas surfar nessa onda e soar é original não é pra todo mundo. E Colleen Green não é todo mundo, como prova em seu quarto álbum de estúdio. Em Cool, a artista californiana sabe usar suas influências para criar seu som que existe entre o rock e o pop punk, construindo a trilha perfeita para uma história coming-of-age dos anos 2000 concretizada nos cinemas de 2021. Se isso pudesse existir.
É com essa habilidade que ela nos recebe ao disco através de Someone Else, que volta a aparecer em It’s Nice to Be Nice e How Much Should I Love a Husband?. O ponto fraco de Cool se mostra em refrões fracos e repetitivos como os de You Don’t Exist, mas longe da vontade de criar músicas chiclete, Green mostra muita personalidade em suas melhores e mais ousadas experimentações, vide Highway. E é perceptível através das 10 faixas do disco que Colleen se encontra mesmo é Colleen em meio a conversa que seus solos de guitarra mantêm com a bateria, naquela harmonia entre melodia e ritmo que só o rock tem. – Raquel Dutra
Lady Gaga – Dawn of Chromatica
Gaga, ou pelo menos BloodPop® e seu time, sabem como aproveitar o burburinho da internet e fazer os admiradores do pop e hyperpop surtarem de animação. Dawn of Chromatica é um CD de remixes do disco lançado pela cantora no ano passado, o Chromatica. Assinado por um montão de promissores artistas talentosos, a coletânea quebra a maldição do Club Future Nostalgia e a sonoplastia do Programa do Ratinho de Blessed Madonna, e entrega um projeto de remixes que transborda astúcia e reworks fenomenais.
Cada canção brilhou de uma forma diferente, algumas tão boas quanto as originais, outras nem tanto. E sim, Pabllo Vittar não só salvou a bomba Fun Tonight como colocou uma sonoridade 100% brasileira no DOC. Gaga pode não ter sido a mente comandante do projeto, mas, sinceramente, ela nem precisa. Praticamente todos os artistas convidados foram, de alguma forma, influenciados pela revolução sonora e estética que a cantora causou no início dos anos 2010. E, agora, somos nós que colhemos os belos e saborosos frutos. – Jho Brunhara
EPs
Ezra Furman – Sex Education: Songs from Season 3
Que Sex Education é a melhor série da Netflix, todo mundo já sabe. O que ainda pode ser um mistério é a existência desse EP, meio folk, meio pop, cantado por Ezra Furman, que apresenta canções da terceira temporada da aventura de Otis e Ruby e cia. Com apenas 5 faixas (algumas novas e outras reaproveitadas pela artista), o trabalho expande a vibe acolhedora e gentil do seriado e conforta quem não reservou a pauta para texto solo e ainda assim quer falar sobre o que rolou em Moordale esse ano.
Don’t Turn Your Back on Love, sucesso de 2011, repete a fórmula de Sex Ed e faz brotar aquela vontade de viver um romance na adolescência e poder se identificar ainda mais com as tramas da telinhas. Mysterious Power dá vontade de socar o travesseiro e depois abraçá-lo forte, enquanto Trans Trauma serve como trilha de Cal (Dua Saleh), personagem não-binárie que entra no ano 3 e enriquece ainda mais o escopo narrativo da criação de Laurie Nunn.
Para quem ama de paixão Aimee, Maeve, Adam, Eric, Jean, Ola, Liv, Lily e, é claro, a melhor personagem de 2021, Ruby, ouvir o EP de Furman vai causar um efeito colateral irremediável: ligar na Netflix e dar play na série tudo de novo. Com a quarta temporada confirmada, dedos cruzados para que mais músicas cheguem no mesmo pacote. – Vitor Evangelista
Wilczynski e Ian Urbina – Take a Stand (The Noam Chomsky Music Project)
Não, Noam Chomsky não resolveu largar a academia e virar produtor musical. O renomado linguista e ativista de 92 anos, é, na verdade, não apenas homenageado por Wilczynski e Ian Urbina, produtores deste EP, como também por mais de 50 artistas do mundo inteiro, reunidos em um ambicioso projeto musical, o The Noam Chomsky Music Project. A partir de trechos extraídos de gravações de palestras e aulas, o projeto tem como objetivo celebrar e ampliar a voz do pensador, com diversos lançamentos que abarcam os mais variados gêneros musicais, da Música clássica à eletrônica.
Aqui, a voz de Chomsky é integrada a batidas lo-fi hip hop, enquanto ouvimos algumas de suas falas sobre solidariedade e críticas ao governo estadunidense. A tranquilidade da música é uma combinação certeira com o modo de falar calmo do intelectual. Pode ser uma interessante escolha de trilha sonora para estudos, seja dos escritos de Chomsky ou não, enquanto ele nos convida a entender “o que está acontecendo no mundo” e “reconhecer os padrões”. – João Batista Signorelli
Big Freedia – Big Diva Energy
Depois de repaginar a canção atemporal Judas, de Lady Gaga, no álbum Born This Way: Reimagined, a rapper Big Freedia ainda tem muito potencial criativo para compartilhar com o mundo neste ano. Trilhando um caminho aparentemente certeiro, ela lança o EP Big Diva Energy, composto por seis faixas bem atrativas e interessantes. Not Today, a primeira delas, conta com a participação de Jake Shears e Anjelika “Jelly” Joseph, e tem, sem dúvidas, muita chance de arrasar nas pistas de dança.
Já Platinum, a mais reproduzida no Spotify, não quer saber de “tempo ruim”. Com uma narrativa que convoca todos à ação e ao sucesso, essa faixa está repleta de cintilância: “cegue-os com seu brilho”, canta Big Freedia. De modo geral, todas as canções do EP são agitadas e capazes de levantar pelo menos um pouco o nosso astral. O título do trabalho, por sua vez, não poderia ser outro, já que a energia de uma grande diva invade os poros de quem o ouve – e paira no ar a sensação de que qualquer um pode ser uma estrela. – Eduardo Rota Hilário
Julien Baker – Little Oblivions (Remixes)
Porta-voz de uma geração que cresceu sendo LGBTQIA+ em um universo cristão fervoroso do sul dos Estados Unidos, Julien Baker exprime como ninguém as consequências da repressão na adolescência. Sobrevivente do vício, a cantora e compositora de 25 anos carrega consigo uma série de registros marcados pela nudez dos versos cortantes, tanto em projetos solos – como no inaugural Sprained Ankle –, quanto no aclamado supergrupo boygenius, formado junto de Lucy Dacus e Phoebe Bridgers. Nelas, a crueza vocal e instrumental de Baker amplifica a composição dolorosa das letras, e ela nos machuca.
Após o terceiro e mais recente álbum, Little Oblivions, Baker aperfeiçoou seus dotes como musicista, amadurecendo a sonoridade simplista para a de uma banda completa, ainda que tocando quase todos os instrumentos sozinha. E na remixagem de Little Oblivions, as faixas destaque ganham novas dimensões por diferentes artistas: Half Waif, Helios, Gordi, Jesu e Thao. Na produção alternativa das versões originais, Baker deu liberdade criativa total aos colaboradores. Desse modo, a integridade da composição foi mantida, porém, com novos arranjos, texturas e profundidade que, de certa forma, antes pareciam faltar. – Ayra Mori
Juliette – Juliette
Juliette saiu da casa mais espiada do Brasil diretamente para dentro dos estúdios. Quando a vencedora do prêmio de 1 milhão e meio de reais soltou a voz no programa, seu talento conquistou muito interesse da indústria musical, que percebeu o potencial da paraibana.
Mas na hora de por em prática, poderia ter sido melhor. As seis músicas que compõem o seu EP de estreia levaram uma equipe grande até demais para escrever letras rasas e repetitivas. Não dá para negar, porém, que a produção carrega uma batida gostosa do forró, que combinado ao tom leve de Juliette, deixa o disco bem agradável de se ouvir.
A favorita da casa começou sua carreira musical numericamente bem. Batendo o recorde de melhor estreia nacional da história do Spotify Brasil, dá para esperar que este não seja um projeto único. Com um pouco mais de tempo – e esforço – um álbum de estreia da nova cantora tem de tudo para ser muito bom. – Mariana Chagas
ella jane – THIS IS NOT WHAT IT LOOKS LIKE!
ella jane já começou a carreira acertando. Um ano depois de sua estreia na Música, com seis singles e muitos elogios para a conta, a cantora de 19 anos lançou seu primeiro EP, THIS IS NOT WHAT IT LOOKS LIKE!. O trabalho inclui canções escritas em diferentes momentos da vida da artista, desde os 16 anos, passando pela sua adolescência no Ensino Médio até o início da sua trajetória musical.
Composto por ela de cabo a rabo ao longo de três anos, o EP vira um verdadeiro coming-of-age. jane canta sobre a insegurança de crescer e tomar decisões em AUGUST IS A FEVER, desabafa sobre a depressão pelo qual passou no colegial em Thief, e expressa a dor de se afastar de alguém próximo em The City. Em uma faixa iniciada quando a artista tinha 16 anos e finalizada aos 19, bored&blind, ela ainda lembra de um amor platônico e reflete sobre como lidava com isso quando mais jovem, em uma evolução tanto pessoal, quanto musical.
As vulneráveis, nostálgicas e íntimas composições são, definitivamente, o ponto forte de ella jane. Unidas a uma sonoridade ora eletrizante, ora reconfortante, entre um indie e um pop que transcendem um só rótulo, THIS IS NOT WHAT IT LOOKS LIKE! encapsula o sentimento de juventude e de amadurecimento. – Vitória Lopes Gomez
mxmtoon – true colors (from Life is Strange)
Além de dar voz à protagonista de Life is Strange: True Colors durante as sessões de canto do jogo, a cantora Maia, conhecida pelo nome artístico mxmtoon, também gravou duas músicas originais para a produção, que foram incluídas em um EP junto com os outros dois covers presentes no título da Deck Nine Games. Com a mistura característica entre indie pop e folk da artista, o clima casual do projeto conquista mesmo quem ainda não jogou o game, e inspira sua história tanto quanto é inspirado nela.
Com apenas quatro músicas, é fácil ouvir true colors repetidamente, absorvendo lentamente as novas letras de Maia e apreciando suas reinterpretações de Radiohead e Violent Femmes. Particularmente na agitada blister in the sun, a cantora troca o violão da original por um arranjo mais eletrônico e upbeat, criando uma composição singular e cativante. Similarmente em creep, a melodia clássica é mantida, mas reflete as inspirações menos roqueiras da artista.
As outras duas canções originais, que tocam nos créditos finais do jogo, refletem mais da história de Alex Chen e sua busca pela verdade em Haven Springs, marcadas pelo tema de abandono e luto. Mas o tom pessoal que a cantora dá a elas emociona por si só, criando uma narrativa curta, mas impactante. – Gabriel Oliveira F. Arruda
ZAYN – YELLOW TAPE
Todos tem os seus surtos de madrugada, e com ZAYN a coisa não é diferente. Surpreendendo os fãs e sem dizer uma palavra sequer, na noite do dia 13 de setembro o cantor postou um link que dava acesso a três faixas inéditas. Sem divulgar no Spotify ou qualquer outra plataforma oficial, as músicas são um verdadeiro segredo para apenas seus fãs e ouvintes mais fiéis, aqueles que o acompanham em suas redes sociais.
Em YELLOW TAPE, nada é mantido privado. O primeiro a fugir da One Direction canta sobre ser pai, manda indiretas – bem diretas – para Kanye West, e não tem medo de ser polêmico. Se o projeto com GRIMEZ, BELIEVE ME e 47 11 vai se tornar algo oficial ainda não sabemos, mas por enquanto, dá para aproveitar o rap e mergulhar em suas letras profundas: “Minha saúde mental está chegando ao nível de Deus, não quero dizer que sou um deus, mas 47 [vítimas sul-asiáticas] do 11 (de setembro) sempre estão comigo”. – Mariana Chagas
Luana Flores – Nordeste Futurista
O Brasil ainda é território muito fértil para novas sonoridades, e só não percebe ou discorda disso quem fica preso a saudosismos limitantes. Diante dessa efervescência criativa, um dos nomes que se destacam pela qualidade artística é, com certeza, o de Luana Flores. Beatmaker, DJ, percussionista, cantora e compositora, Luana lança o primeiro EP da carreira, Nordeste Futurista, mesclando atmosfera tecnológica e tradição cultural como ninguém. Essa proposta ousada é nítida desde Eu Vem, faixa de abertura que reúne a mestra cirandeira Vó Mera com a própria avó da artista.
Um dos destaques do Extended Play talvez esteja em No Mei dos Mato, colaboração com Leticia Coelho e uma das canções mais festivas do trabalho. Surpreende-se, no entanto, quem espera por uma obra limitada a experimentações musicais. Isso porque, em Suspendemos o Céu, uma declamação poética invade deliciosamente nossos ouvidos. Não parando por aí, a cantora paraibana está atenta a todo tipo de esfera durante o período pandêmico: “o que tenho feito é usar as redes sociais a meu favor”. Seja no espaço físico ou digital, Luana Flores sem dúvida merece cada vez mais os holofotes do sucesso. – Eduardo Rota Hilário
Rosie Lowe – Now, You Know
Dois anos após o aclamado YU, a cantora Rosie Lowe voltou de surpresa com a mixtape intitulada Now, You Know, outro trabalho que desafia categorizações e ecoa os sentimentos da artista ao longo de nove faixas deliciosamente distintas entre si. Embora curtas, cada uma delas evoca uma expressão diferente no ouvinte, se encaixando como peças diferentes de um quebra-cabeças.
Mesmo com canções tão diferentes entre si, é extremamente fácil ouvir o EP como uma única música de 17 minutos, entrando e saindo de foco com diversos interlúdios, mas nunca com pressa para terminar. Lowie se delicia nessas curtas pausas entre as canções, entregando melodias inventivas e marcantes. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Girl K – Girl K Is For the People
O grupo de Chicago Girl K referencia no EP mais recente, Girl K Is For the People, o rock da década de 80, carregando ao longo do projeto muito sintetizador, cores neon e globo espelhado. Formado pela vocalista Kathy Patino, o baterista Tony Mest, o baixista Alex Pieczynski e o guitarrista Kevin Shepard, o quarteto traz consigo referências potentes, mas não cai no mero revivalismo, soando como uma banda de seu tempo.
Integrado por seis músicas, Girl K Is For the People é um EP agradável de se ouvir. O vocal enérgico de Patino somado a instrumentação equilibrada das canções confere um clima dinâmico a elas, quase como se participássemos de uma performance ao vivo, com toques que evocam o estilo de Pixies. Contudo, vimos as mesmas alusões repetidamente em obras de Jessie Ware à Dua Lipa, e na crescente efervescência da nostalgia oitentista, cada nova alusão ao período parece cansar. Nesse caso, não é diferente. – Ayra Mori
Tyler Posey – Drugs
Tyler Posey começou a carreira cedo e já é um nome mais do que conhecido. Apesar de ter feito sua fama como ator, o astro de Teen Wolf também tem experiência no ramo musical e passou por bandas como Lost in Kostko, PVMNTS e Five North, com quem lançou um álbum em 2020. Agora, Posey se aventura como artista solo pela primeira vez e inaugura a nova fase com o lançamento do EP Drugs.
O pop punk anima as 7 faixas do trabalho e é impossível não perceber ou comparar a sonoridade do EP à maior referência do cantor: sua banda favorita, blink-182. As composições autorais são embaladas pelas baterias agitadas e pelas linhas de guitarra divertidas, enquanto o artista entoa sobre o abuso de drogas, depressão, a sua jornada de sobriedade e as dificuldades que enfrenta atualmente. Cheio de personalidade, Drugs é o produto e o diário de Tyler Posey. – Vitória Lopes Gomez
María Isabel – i hope you’re very unhappy without me
Com herança dominicana no sangue, a cantora María Isabel surgiu com Stuck in the Sky, onde demonstrava uma qualidade de compositora invejável. Agora, ela lança o EP i hope you’re very unhappy without me, munida de canções calmas e a ideia de um término amoroso.
A abertura se dá com Left Alone, onde Isabel arranca sangue com o soco de “eu não posso amar nós dois” e um gancho delicioso, que se estende por toda a duração da faixa. No Soy Para Ti une reggaeton e R&B, e Lost In Translation pisa no freio, com vozes esganiçadas dando o tom do restante do trabalho.
Baby… clama por atenção, Back of My Mind esbanja simpatia e, ao longo dessas 8 músicas, María Isabel mostra a que veio. Para o futuro, ela já anunciou uma turnê nos Estados Unidos, onde finalmente vai poder cantar ao vivo as belas poesias que transformou em canções. – Vitor Evangelista
Lorde – Te Ao Mārama
“Uma celebração do mundo natural, uma tentativa de imortalizar os sentimentos profundos e transcendentes que tenho quando estou ao ar livre” é como Lorde define Solar Power. Assim sendo, mesmo em meio aos novos elementos e identidades que a nova era da artista nos apresentou, sua última ação no que diz respeito ao seu novo lançamento é determinada na essência do que ela acredita, exatamente do jeito que o trabalho de Lorde sempre foi.
É o que o EP Te Ao Mārama nos diz – mais uma vez – ao trazer algumas das canções de Solar Power entoadas em Maori, língua da população nativa indígena da Nova Zelândia. Os frutos do novo projeto são muito bem destinados, e todos os lucros do EP serão doados para duas importantes instituições do país: a Forest and Bird, que trabalha pela conservação ambiental local, e Te Hua Kawariki Charitable Trust, que realiza trabalhos educacionais em determinadas regiões da Nova Zelândia.
Entre as reflexões de Lorde sobre a vida no país, seu amadurecimento e sentimentos diante do mundo que sustentam Te Ara Tika/The Path e Te Ao Mārama/Solar Power, a artista parece se conectar de forma ainda mais profunda com suas raízes e sua identidade. Mas é através das traduções de Mata Kohore/Stoned at the Nail Salon, Hine-i-te-Awatea/Oceanic Feeling e Hua Pirau/Fallen Fruit que Lorde cria o micro universo perfeito, na coexistência da valorização cultural de seu país e de seus artistas locais, e da manifestação da sua capacidade análitica do mundo globalizado de hoje. – Raquel Dutra
Músicas
Radiohead – If You Say the Word
Em 2000, com o lançamento de Kid A, o Radiohead mostrou sua ambição e norteou seus próximos passos. Um ano depois, o lançamento de Amnesiac revelou que as sessões foram tão inspiradas e proveitosas que renderam dois álbuns, pois o disco é composto por músicas que seriam majoritariamente b-sides de Kid A. Em comemoração conjunta dos 20 anos dos dois álbuns, KID A MNESIA foi anunciado para novembro, e If You Say the Word é a primeira inédita divulgada.
Depois de OK Computer, disco de 1997 que se tornou um dos marcos da Música contemporânea, o Radiohead começou a deixar de lado as guitarras marcantes de Jonny Greenwood, passando a apostar em sons mais computadorizados, e valorizou ainda mais os sintetizadores que deram as caras em 1997 – isso tudo sem deixar de lado a melancolia generalizada do grupo. Como uma espécie de palácio da memória, a faixa If You Say the Word nos leva novamente a 2000, revestida por uma beleza dificilmente decifrável, melodicamente poderosa, com diversas camadas bem trabalhadas – característica do Radiohead – e uma aura de clássico perdido no tempo.
A canção parece estar entre Climbing Up the Walls, do OK Computer, e entre a faixa Kid A, do disco homônimo. O grupo ainda anunciou uma parceria com a Epic Games, divulgando uma exposição virtual que estará disponível no lançamento de KID A MNESIAC, com projeto gráfico de Stanley Donwood – artista que trabalha com o Radiohead desde The Bends (1995) – e projeto de áudio por Nigel Godrich, produtor do grupo. If You Say the World é uma bela amostra do material inédito que será lançado no fim do ano. – Bruno Andrade
Lana Del Rey – Arcadia
Lana Del Rey sumiu. Depois de anunciar que iria se afastar do público para focar em suas músicas, a cantora desativou todas as redes sociais e foi se prender dentro do estúdio. Mas não sem antes deixar um presentinho para seus ouvintes, é claro: a música Arcadia, seu mais novo single, foi lançada como uma leve despedida para o fandom.
“Ouçam como vocês ouviram Video Games”, pediu ao divulgar a canção. Mais uma melancólica e romântica obra da artista, Arcadia deve estar em seu próximo disco, Blue Banisters. Segundo declaração de Del Rey no Instagram, este será o álbum mais autobiográfico de sua carreira. Mal podemos esperar, Lana! – Mariana Chagas
Alexa Demie – Leopard Limo (Archive LL11)
Para quem está com saudades de Euphoria, uma de suas estrelas acaba de estrear na cena musical com um single apaixonado e lúdico. Alexa Demie, intérprete da complexa personagem Maddy, lançou no dia 13 Leopard Limo (Archive LL11), uma melodia simples sobre amores desperdiçados pautada pelo som de um violão e os vocais ecoantes de Demie, que vem acompanhado de um coral misterioso. A cantora dá luz (literalmente) à seu novo projeto no clipe dirigido por Russel Taylor. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Valley – Oh shit… are we in love?
A banda canadense Valley juntou dois em um e aproveitou o anúncio de um novo EP para lançar Oh shit… are we in love?. Com os vocais e as melodias leves e contagiantes, menos agitada do que os singles anteriores, e uma letra divertida (quem nunca ficou ‘ah merda… estou apaixonada?’), a intenção do quarteto alt-pop de criar uma vibe de verão sobre uma situação amorosa identificável funcionou. – Vitória Lopes Gomez
MUNA e Phoebe Bridgers – Silk Chiffon
Passo 1: admitir que você é homossexual. Essa é a primeira etapa de um programa fracassado de conversão gay retratado no filme cult de Jamie Babbit, But I’m a Cheerleader (1999). E honrando o charme camp, o humor ácido e a pieguice dos amores juvenis presentes no clássico, o trio de Los Angeles abraça a sexualidade queer em Silk Chiffon ao lado de ninguém menos que Phoebe Bridgers e, sem melhor jeito de se pôr, entrega tudo à comunidade LGBTQIA+.
No primeiro single da banda lançado pela gravadora Saddest Factory Records, MUNA ironicamente se distancia do lirismo melancólico presente nos registros passados, apostando num otimista hino alt-pop sáfico. Questões sobre gênero e sexualidade continuam sendo temas abordados na composição do grupo, porém, dessa vez, em celebração às felicidades do amor queer. Entre comparações da textura do chiffon de seda à textura do toque da amante, somos testemunhas de uma declaração de amor cintilante, com direito a riffs de violão enérgicos, vocal de apoio de Bridgers e refrões chicletes – é impossível não cantar junto.
Eufórico e cheio de calor, Silk Chiffon é leve como uma comédia romântica clichê, onde a mocinha conquista a desajustada e ambas se beijam na traseira de uma caminhonete em meio à canção mais brega que puder imaginar, não nos restando nada além de sorrir. Sorrir e imaginar que talvez a vida seja mesmo divertida. 1, 2, 3, 4, você é aquela que eu adoro! 5, 6, 7, 8, não fuja de mim porque isso é destino! – Ayra Mori
Alicia Keys e Swae Lee – LALA (Unlocked)
Acenda o incenso, perca a tensão, sinta-se como o paraíso ao se encontrar com o novo single de Alicia Keys. Depois de concluir a era colorida de ALICIA, álbum de 2020, e celebrar seus 20 anos de carreira com uma versão especial de Songs In A Minor, sua estreia de 2001, a artista inicia uma nova etapa ao lado do jovem rapper Swae Lee em LALA (Unlocked). Assim como ela nos apresentou: a canção é só um aquecimento. Nada comparável aos hits que surgem da cantora de Girl on Fire e Empire State of Mind, mas ainda sim fiel àquele R&B delicioso que toma um ar único no timbre mágico de Alicia Keys. – Raquel Dutra
ABBA – I Still Have Faith In You e Don’t Shut Me Down
“Mamma Mia, aqui vou eu novamente. Minha Nossa, como eu posso resistir a você?” é a única frase possível para encarar o retorno da banda ABBA após 40 anos separados. Talvez a obra do grupo seja tão particular que suas próprias músicas se conectam, e mais do que isso, I Still Have Faith In You é um tributo a própria história do ABBA. Junto com ele, o single Don’t Shut Me Down mostra que a essência continua a mesma, por isso foi tão simples voltar no topo dos streamings e preparar o álbum Voyage.
Depois de um hiato tão longo, um sucesso que ultrapassou gerações e 2 filmes com Meryl Streep, os novos singles do ABBA emocionam e forçam os pés a dançarem sozinhos. O clipe de I Still Have Faith In You mostra as lembranças incríveis da banda ao longo dos anos, enquanto a letra de Don’t Shut Me Down conta aos fãs sobre o processo e motivo de retornar, tudo unido pela vontade de estar presente de novo em uma nova versão, sem nunca esquecer quem eram – o que é um alívio. Depois do anúncio incrível do retorno e uma produção em show virtual, o Voyage já bateu recorde de pré-venda, e como disse a Reuters: Aqui vão eles novamente. – Nathália Mendes
Charli XCX – Good Ones
Quem achava que Charli XCX ficaria para sempre na sonoridade PC Music se enganou. Good Ones, com produção assinada pelo sueco Oscar Holter, abandona a bateção da panela para entregar uma canção imponente, sólida, e mais próxima de um pop convencional com influências de sintetizadores oitentistas. XCX prova mais uma vez que nasceu para escrever e cantar pop, independente do subgênero ou estética, e que podemos sempre esperar um ótimo trabalho. – Jho Brunhara
Manu Gavassi – sub.ver.si.va
A ex-BBB e cantora de meio expediente Manu Gavassi retornou no mês de setembro com seu segundo single, a faixa sub.ver.si.va. Com a produção do seu parceiro de longa data Lucas Silveira (sim, aquele do Fresno), a música é uma prévia pouco interessante de seu segundo álbum de estúdio. Entre uma batida tediosa e vocais suaves, ela até se esforça, mas não consegue consolidar sub.ver.si.va como merecedora de um replay.
Depois de tantos anos de carreira, é triste enxergar que Manu ainda tem os mesmos maneirismos e lugares-comuns que a colocaram como fenômeno teen na década passada. Claro que sub.ver.si.va não está distante de qualquer música pop do Top 50 do Spotify, mas depois de três álbuns de estúdio e diversos EPs, é decepcionante não visualizar nenhuma evolução na qualidade de composição de Gavassi. sub.ver.si.va pode até ter uma direção criativa impressionante e soar bem no meio de uma longa playlist, mas aqui, ela é esquecível. Por enquanto, não está tão horrível dormir sem você, Manu. – Laís David
Sigrid – Burning Bridges (Crush Club Remix)
A cantora norueguesa Sigrid emergiu sua carreira como diva indie pop em 2019, com o seu primeiro álbum Sucker Punch. Mas foi mesmo antes de sua estreia que Sigrid começou a ganhar destaque na indústria musical, sendo a vencedora da categoria Revelação do Ano do Sound of…, premiação da BBC, em 2018. Porém, após uma pausa de 2 anos na carreira, como dito em entrevista para o G1, a artista inicia um novo arco em suas produções, mantendo os tons típicos da Música alternativa, que agora revelam leves toques do eletrônico, além de visuais mais trabalhados.
Entre os novos trabalhos, o single Burning Bridges, que originalmente já é uma música animada, ganhou uma série de remixes, e um deles foi pela dupla nova-iorquina Crush Club. Normalmente, as novas versões dão uma versão dançante para as produções, e nesse caso, não foi diferente. A vibe clássica das discotecas trouxe uma energia mais alegre à música, e suas batidas electro-pop a tornaram mais envolvente. Esperamos que assim como suas novas composições, Sigrid siga com essa energia eletrizante. – Gabriel Brito de Souza
Big Thief – Certainty
Se aproximando de suas raízes instrumentais na música folk, a banda liderada por Adrianne Lenker chega com seu terceiro single antecipando o lançamento de seu próximo álbum de estúdio. A canção foi gravada com a energia do acendedor de cigarros de uma caminhonete durante o apagão de três dias que interferiu as sessões de gravação da banda. Certainty é mais uma demonstração da criatividade de Lenker e sua trupe, demonstrando outra vez que a simplicidade e a criatividade podem ser o melhor caminho. – João Batista Signorelli
Caetano Veloso – Anjos Tronchos
Na vida e obra de Caetano Veloso, o que não falta é referência. Do elemento mais popular ao repertório mais cult, o tropicalista sempre se mostrou atento às diversas complexidades que perpassam o mundo onde habitamos. Não é de se espantar, portanto, que Anjos Tronchos, primeiro single do álbum ainda inédito Meu Coco, traz, logo de cara, uma releitura do Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade. Música repleta de informação, é ao longo de aproximadamente 4 minutos que Caetano nos conduz diretamente a importantes reflexões sobre o Vale do Silício e a internet, ambiente digital que, infelizmente, ainda hoje parece terra de ninguém.
Sem querer esgotar as inspirações utilizadas pelo artista baiano nessa composição, é impossível não reparar em questões explicitamente políticas, tais como a Primavera Árabe e os “palhaços líderes” que “brotaram macabros” mundo afora. Em contraponto, depositando nas Artes a possibilidade de esperança, observamos desde autocitações – como o “E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou”, de Alegria, Alegria – até o reconhecimento de novas gerações de artistas, como Billie Eilish, citada no fim da canção. Multifacetado também no clipe, que é totalmente caleidoscópico, o novo single de Caetano mostra, musicalmente e visualmente, que nada é constante nas redes onde hoje nos conectamos. – Eduardo Rota Hilário
Troye Sivan – Angel Baby
Não só o mundo, mas Troye também se encontrou numa sonoridade com uma pegada anos 80. Depois do irretocável EP In A Dream, Angel Baby acaricia os ouvidos através de uma balada pegajosa e apaixonada. Sivan invocou sua melhor energia ‘passivo sem pedir desculpas’, e, o refrão repetitivo nada mais é que um deslumbre da bobeira melosa que é o amor. De coração partido ou perdidamente apaixonado, o australiano nunca decepciona. – Jho Brunhara
Taylor Swift – Wildest Dreams (Taylor’s Version)
O álbum da vez é Red, mas Taylor Swift resolveu brincar com seus fãs e suas teorias malucas no lançamento do primeiro single pós Fearless. Finalmente oficializando a nova versão de Wildest Dreams, a artista confundiu a espera pela sua próxima regravação ao disponibilizar uma das joias de seu aclamado 1989. A justificativa foi uma tendência do TikTok, que fez a música ressurgir nas redes sociais como viral, e então, para trazer visibilidade à sua própria versão de sua música, Wildest Dreams (Taylor’s Version) passou na frente de seus irmãos avermelhados. Seguindo fielmente a ideia central de Taylor para suas regravações, a nova canção não muda praticamente nada da original. É só trocar as versões aí na playlist. – Raquel Dutra
Aly & AJ – Get Over Here
Parte da versão Deluxe de a touch of the beat, a nova música das irmãs Michalka tem inspirações mais disco do que country, mas se encaixa como uma luva no repertório do álbum mais recente de Aly & AJ. Get Over Here narra uma noite de amor descomplicada e doméstica no melhor dos sentidos: “Uma visão solitária, uma garrafa de vinho/De frente para a TV, eu encaro/O tipo de noite sem lugar para estar/E eu não ligo”. Com uma melodia contagiante e os vocais harmoniosos da dupla, a canção nos deixa ainda mais animados para a nova versão do álbum, que será lançada em 2022. – Gabriel Oliveira F. Arruda
FINNEAS – The 90s
O álbum de estreia de FINNEAS, Optimist, está cada vez mais perto. Apesar disso, seu último single não foi tão otimista assim. Em The 90s, o artista discute a saudade que sente dos anos 90 – quando nem sequer tinha nascido. A imaginação de viver em um mundo sem internet e coberto pela esperança do futuro é algo que o cantor queria ter vivido.
Escrita e produzida por ele mesmo, a faixa segue um estilo parecido ao da faixa-título no novo disco de sua irmã, Happier Than Ever, começando calma para então surpreender com o final cheio de batidas pesadas e envolventes. O clipe, dirigido por Sam Bennett, tem a coreografia de Monika Felice, que combina com as mudanças de ritmos da canção. Com mais um trabalho impecável, FINNEAS nos deixa cada vez mais animados para sua nova era. – Mariana Chagas
Mateus Carrilho e Gloria Groove – NOITE DE CAÇA
A selvageria não colou em NOITE DE CAÇA, nova parceria entre Mateus Carrilho e Gloria Groove. Nada de diferente há na música, nem em seu clipe com pegada desértica e estampa animal print para combinar com a letra meio sensual. Definitivamente, a presença de Gloria é ótima, sua referência na letra à estar vacinada e pronta para sair é um refresco, e a batida tem um bom ritmo de reggaeton abrasileirado. De resto, é só mais um single. – Nathália Mendes
Glass Animals – I Don’t Wanna Talk (I Just Wanna Dance)
O terceiro álbum da banda inglesa Glass Animals, Dreamland, fez sucesso a ponto de ganhar uma versão bônus com 26 faixas (delas, seis versões diferentes do hit Heat Waves). O primeiro lançamento do quarteto indie rock desde então, o single I Don’t Wanna Talk (I Just Wanna Dance), é tão dançante, psicodélico e elétrico quanto as canções do imenso álbum – e isso, sem soar repetitivo. – Vitória Lopes Gomez
Tony Bennett & Lady Gaga – Love For Sale
Lady Gaga e Tony Bennett têm preparado de pouquinho em pouquinho o território para o álbum Love For Sale – e os ansiosos que lutem para não morrer de curiosidade. Em setembro, foi a vez da dupla dar à luz a faixa-título, uma animada celebração dos verdadeiros amores à venda. Não que esse “preço para uma viagem ao paraíso” seja novidade para Bennett: ele gravou essa mesma canção já em 1957, no álbum The Beat Of My Heart. No entanto, a contribuição de Gaga é capaz de repaginar e dar ainda mais vida ao clássico de Cole Porter.
Por ser o último álbum da carreira de Tony, há uma certa expectativa elevada rondando Love For Sale – inclusive por parte de alguns little monsters -, sem falar, é claro, do sentimento nostálgico que, desde já, é muito forte. Não à toa o anseio é grande: além do álbum, foram anunciados três especiais sobre uma das duplas mais carismáticas da Música norte-americana. Certamente, tudo tem caminhado como uma boa despedida deve ser: rica em aspectos musicais, informativos e visuais. Os singles radiantes e os videoclipes belíssimos já deram sinais muito positivos do que está por vir. Agora, resta aguardar outras possíveis surpresas. – Eduardo Rota Hilário
Dear Rouge – Fake Fame
Três anos após o elétrico Phases, o duo canadense de alt rock Dear Rouge está de volta com o single Fake Fame, uma divertida meditação no significado de fama na era digital e suas possíveis ramificações. A música resgata algumas das notas mais dançantes de seu primeiro disco, Black to Gold, mas sem abandonar as letras mais pesadas do segundo. Com um forte ritmo e um refrão chiclete, é uma ótima maneira de voltar à cena. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Bring Me The Horizon – DiE4U
Bring Me The Horizon deu o pontapé inicial na segunda fase de Post Human com o lançamento de DiE4U, o primeiro single do próximo EP da banda. Na canção sucessora do Post Human: Survival Horror, a união de sonoridades prévias do quinteto britânico, como rock, metal, punk, pop e até música eletrônica, se transforma na eletrizante mistura que o vocalista Oliver Sykes chama de “future emo”. Combinando a letra sobre “obsessões tóxicas, vícios e coisas do qual você não pode se livrar” ao sangrento e insano clipe da faixa, DiE4U revive a loucura eufórica de Bring Me The Horizon. – Vitória Lopes Gomez
Ed Sheeran – Shivers
Depois de agraciados com a animada Bad Habits e a calorosa Visiting Hours, Ed Sheeran liberou mais uma canção da setlist do seu próximo álbum = (“Equals”), Shivers. Dentre as suas novas investidas, a segunda faixa do disco é a que mais se assemelha com seus trabalhos antigos, talvez por ter sido composta depois da turnê Divide. Com referências a Elton John e a participação da atriz AnnaSophia Robb (Ponte para Terabítia e Pequenos Incêndios por Toda Parte), Shivers conseguiu destronar o próprio britânico na sua performance vampiresca, ficando em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido. Baseando-se no romantismo primordial de muitas de suas canções, o cantor vive um clássico e fantasioso amor de Cinema, daqueles bem clichês em que o protagonista fica no aguardo de mensagens de texto recíprocas. No momento, eu vivo da mesma maneira, esperando por alguma notificação que “me dá arrepios” sobre o seu próximo projeto. – Júlia Paes de Arruda
Wallows – I Don’t Want to Talk
A Wallows virou craque em combinar os sentimentos de melancolia e animação, e o EP Remote que o diga. Reforçando a sua identidade no novo single, I Don’t Want to Talk, a banda une as letras “fundamentalmente sobre insegurança”, como o vocalista Dylan Minnette descreve, a um ritmo efervescente e dançante, em mais uma canção que é ao mesmo tempo ansiosa e divertida. – Vitória Lopes Gomez
Chlöe – Have Mercy
Deus, tenha piedade! A cantora Chlöe, irmã e parceira artística de Halle na Música e Televisão, resolveu soltar as mãos da novata e seguir seu caminho para um álbum solo. Ainda sem nome ou data de estreia, tudo o que a cantora promete é que terá um vibe bad bitch. Sendo esse o objetivo, a menina começou bem.
Have Mercy chegou com tudo. A canção, que entrou no Top 50 do Spotify norte-americano, mergulha entre o trap e o pop para desenvolver uma melodia muito, mas muito viciante. Junto com a letra que esbanja seu corpo e a dança sensual que acompanha o clipe dirigido por Karena Evans, Chlöe mostra que a espera de meses para a faixa valeu a pena. – Mariana Chagas
Oasis – Live Forever (Live at Knebworth, 10th August 1996)
Depois de Supersonic, filme de 2016 que leva o nome de um dos maiores hits do Oasis, o grupo anunciou novo documentário sobre os dois shows realizados no Knebworth Festival em 1996. Como divulgação — e como aperitivo do material que será encontrado no longa —, foi disponibilizada Live Forever (Live at Knebworth, 10th August 1996), versão ao vivo de uma das canções que marcaram a trajetória do Oasis, e que compõe seu álbum de estreia, Definitely Maybe (1996).
É impressionante notar como o Oasis e o público eram jovens, e como o grupo tinha coisas pertinentes a dizer àquela geração. A fantasia adolescente havia se tornado real, a história estava sendo feita e tudo isso foi brilhantemente capturado em 1996. Na canção, encontramos o Oasis quase em sua formação original. Embora o guitarrista Paul Bonehead Arthurs ainda estivesse no grupo — sairia pouco tempo depois —, o baterista da formação original, Tony McCarroll, já havia saído para a entrada de Alan White — dono da melhor bateria que o Oasis já teve. Em Live Forever (Live at Knebworth, 10th August 1996), ouvimos Liam Gallagher cantar utilizando drives vocais pouco explorados em shows posteriores, proporcionando uma aura única a versão, que ainda conta com solos de guitarra primorosos de Noel Gallagher na base sustentada por Bonehead.
No videoclipe ouvimos alguns depoimentos, onde, em um deles, Noel diz: “Éramos uma banda bastante decente na noite anterior à que escrevi ‘Live Forever’, mas ainda era música indie. Um dia depois que eu escrevi ‘Live Forever’, seríamos a maior banda do mundo. Eu sabia disso. Se o Oasis fosse minha banda, essa era a minha música. É tudo: as palavras, a melodia, e depois o pequeno solo de guitarra afiada”. Além do documentário, produzido pelos irmãos Gallagher e dirigido por Jake Scott, diretor de clipes de Smashing Pumpkins, Radiohead, The Strokes e do próprio Oasis, também está previsto para 19 de novembro de 2021 o lançamento do álbum ao vivo, intitulado Oasis Knebworth 1996. – Bruno Andrade
Twenty One Pilots – Heathens / Trees (Livestream Version)
Assistir Heathens / Trees em livestream é como imergir na dolorosa e complexa existência humana. A produção é simples e belíssima, na qual o vocalista Tyler Joseph canta dentro de um barquinho enquanto toca seu ukulele, e o fundo é um céu estrelado em movimento. Essa composição em versão acústica das duas músicas fez parte do Livestream Experience de maio de 2021, junto com o novo álbum do Twenty One Pilots, Scaled And Icy, e é uma bomba dolorosa. Se Heathens e Trees já possuem letras profundas, sua calma combinação é o limbo em que se chega ao pensar sobre estar vivo. – Nathália Mendes
Sungazer – Threshold
Liminaridade é um estado subjetivo que existe no ato de estar entre dois planos diferentes da existência. Embora o conceito seja normalmente aplicado à noção de espaço, o duo Sungazer, formado pelo baixista Adam Neely e o baterista Shawn Crowder, resolveu expressá-lo no tempo através da Música em Threshold, novo single da banda, que foi lançado em preparação ao novo álbum marcado para outubro. Habitando aquele estranho limiar entre a música 8-bit, a eletrônica e o jazz, Neely e Crowder têm contribuído com a Música para além de suas experimentações: ambos possuem canais no YouTube, sendo o de Adam Neely um dos mais significativos quando o assunto é educação musical.
A partir da conciliação entre a marcação temporal regular mais lenta que o nosso cérebro consegue distinguir como um ritmo (em torno de 33 bpm), e a mais rápida (algo próximo de 10 notas por segundo), a dupla fez de Threshold um experimento singular. Entre dois extremos rítmicos, somos transportados para uma gestalt temporal, em um estado intermediário onde o tempo pode ser percebido de múltiplas formas. Deixando as quiálteras de 19 notas e outras pirações teóricas à parte, Threshold permanece uma complexa jornada simultaneamente frenética e contemplativa. Ainda há muito a se desbravar nas fronteiras inexploradas da música, e Sungazer certamente está na linha de frente. – João Batista Signorelli
alt-J – U&ME
Em 2010 – na era do Tumblr, das franjas longas e das coroas de flores –, alt-J pareceu ser uma das bandas de rock alternativo mais influentes do tempo. Contudo, com o lançamento de Relaxer em 2017, o grupo inglês entrou em hiato, deixando os seguidores sem perspectivas de projetos futuros. Felizmente para os fãs, o grupo de Leeds retornou inesperadamente com a divulgação do primeiro single de um álbum em construção, previsto para fevereiro de 2022.
U&ME integrará o quarto álbum de alt-J, The Dream, e segundo Gus Unger-Hamilton, vocalista e tecladista do trio, a nova música é sobre: “estar em um festival com seus melhores amigos, se divertindo juntos e com a sensação de que nada poderia ser melhor naquele instante”. A faixa ainda é acompanhada de um videoclipe descontraído de um dia comum no skatepark, quando subitamente eventos surreais começam a se desenrolar. Com a melodia serena de sempre, U&ME deixa um gosto agridoce na garganta, de algo que já ouvimos antes repetidamente. – Ayra Mori
EDIS – Arıyorum
Carregar o peso de ser o maior da Turquia não é fácil, mas EDIS está fazendo isso com um sorriso no rosto. O cantor que bateu o recorde com a música turca mais escutada no primeiro dia de lançamento com Martılar – que eu chamo carinhosamente de um funk turco – voltou com mais um sucesso. Arıyorum (“estou procurando”, em tradução literal) debutou com tudo.
Mais uma canção de sofrência com batidas animadas que escondem a tristeza, Arıyorum conta composição de Emrah Karakuyu e produção de Ozan Çolakoğlu. Dessa vez, a equipe apostou por usar timbres árabes pela primeira vez na carreira de EDIS, e já garanto que deu muito certo. – Mariana Chagas
Coldplay e BTS – My Universe
Mais representações de hologramas, mais pop genérico, mais figuras de outros planetas. Seguindo a narrativa intergaláctica futurista que constrói para seu nono álbum, Coldplay agora se junta ao sucesso universal de BTS em My Universe. Naquela base já explorada exaustivamente pelo quinteto londrino, o grupo de k-pop surge para refrescar um pouco a imagem batida de Chris Martin & Cia, protagonizando um material que poderia facilmente se confundir com trailer de Guardiões da Galáxia. Mesmo básica, não é uma surpresa se o refrão chiclete do novo single pegar. De carona no sucesso que o BTS conserva mundo afora, a banda agora parece simplificar sua mensagem ao máximo para se comunicar com novas formas de vida, já que a música do Coldplay deixou de conversar com a humanidade há muito tempo. – Raquel Dutra
Edi Rock, Ney Matogrosso e Linn da Quebrada – Nada Será Como Antes
Além de não morrerem, verdadeiros clássicos revigoram-se e metamorfoseiam-se o tempo todo. Completando 50 anos desde a versão de Joyce Moreno, Nada Será Como Antes parece seguir esse caminho ao ganhar uma roupagem completamente nova, muito mais próxima da sonoridade brasileira atual. E o melhor disso tudo é que, agora, essa canção ressoa por meio de três vozes importantíssimas para a Música brasileira: Edi Rock, um dos membros dos Racionais MC’s, divide o single com Linn da Quebrada e Ney Matogrosso, num encontro surpreendente e grandioso.
Composição de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, a versão modernizada de Nada Será Como Antes ganha novos versos, que ocupam boa parte da faixa e nela incorporam o rap através das vozes de Linn e Edi. A produção musical, por sua vez, é assinada por Tejo Damasceno, e o single, vale lembrar, foi gravado para fazer parte da trilha sonora da segunda temporada da série Segunda Chamada. Curioso é que, com versões de inegáveis lendas nacionais, como o próprio Milton Nascimento e Beto Guedes, ou Elis Regina, Nada Será Como Antes parece se encaixar no estilo dos mais diversos intérpretes. – Eduardo Rota Hilário
Foxes – Sister Ray
Após o EP Friends in the Corner, lançado em abril deste ano, a cantora pop britânica Foxes está de volta com um novo single de seu próximo álbum, ainda sem nome ou previsão de lançamento. Em Sister Ray, ela retorna à vibe mais animada e dançante dos discos anteriores, narrando uma noite de música e festa que, infelizmente, ainda parece distante de nossa própria realidade. Mas, através do pop doce e elétrico da cantora, somos capazes de ao menos vê-la no horizonte. – Gabriel Oliveira F. Arruda
The Driver Era – Leave Me Feeling Confident
The Driver Era, a banda formada pelos irmãos Rocky e Ross Lynch, está esquentando o lançamento de seu próximo álbum e disponibilizou um terceiro single, o intimista Leave Me Feeling Confident. Abusando do baixo nessa nova era, o autêntico som do duo alt-pop torna as canções ainda mais dançantes e vibrantes, e as letras apaixonadas casam com o ritmo descolado da banda. – Vitória Lopes Gomez
Alice Caymmi – Serpente
O talento de Alice realmente é de família. Mas, além da Música que já corre no sangue, a Caymmi que me refiro nessas palavras tem uma força própria. Rainha dos Raios (2014) mostrou que a cantora sabe pegar músicas consagradas para chamar de suas, e não meros covers; e em Alice (2018), suas autorais mais puxadas para o pop são um deleite aos ouvidos. Serpente segue essa linha.
O novo single, assinado por Maffalda, Zebu, Rodrigo Gorky e a própria artista, só peca pela duração feita para os streamings, de resto, se exibe com as características marcantes da cantora. A voz grave quase lírica de Alice preenche os versos e o refrão, e a produção genial acompanha e se impõe. Em uma nova MPB tão diversa, Caymmi não está presa ao passado e também não segue à risca o ABC do presente, aqui, a singularidade triunfa. – Jho Brunhara
Tate McRae e Jeremy Zucker – that way
De rolo, ficando, ficando sério, namorando… O brasileiro inventou e continua inventando todo tipo de conceito para explicar as fases que existem em um relacionamento. Mas vamos ser sinceros? Ainda é confuso. Acontece que, quando o assunto é gostar de alguém, ninguém tem muita certeza de nada. E Tate McRae é apenas outra vítima do tão sofrido e comum “o que nós somos?”. Essa pergunta permeia a cabeça da cantora na sua faixa that way.
Lançada em 2020, a música faz parte de all the things i never said, o EP perfeito para os fãs de bedroom pop. Um ano depois, Tate se uniu a outra estrela desse gênero para a versão remix da canção: Jeremy Zucker. Dono de uma voz suave que contrasta perfeitamente com o estilo rouco da jovem, Zucker trouxe uma maior harmonia para a obra. E com os versos adicionados pelo cantor, o hit que já era muito bom ficou melhor ainda. – Mariana Chagas
LISA – LALISA
Após completar 5 anos com o grupo BLACKPINK, a rapper LISA finalmente fez sua estreia solo com a faixa-título de seu primeiro álbum, LALISA. O empoderamento de trazer um disco com seu próprio nome já revela o recado para quem duvida de seu talento: ela irá acabar com quem estiver no caminho! E pra provar que tem muito poder, firmou feitos históricos logo após o lançamento da música, ao entrar em segundo lugar no Billboard Global 200.
Com um clipe cheio de cores, o visual entrega tudo ao misturar o estilo urbano já explorado pelo BP com cenas de luxo e ouro para a rainha que Lisa é, além de uma coreografia contagiante. Já na parte sonora, não é possível ficar tão contente. Apesar de ser uma música que se encaixa perfeitamente no estilo de Lisa, com elementos do hip-hop e batidas agradáveis de se ouvir, é inegável admitir que a maior de todas merecia mais. Se comparada com os hits On The Ground e Solo, de suas colegas de grupo Rosé e Jennie, é perceptível a falta de empenho – da YG Entertainment – para lançar um sucesso estrondoso que pegue de vez o coração do público. E foi justamente ao usar a mesma fórmula de raps do BLACKPINK que LALISA, mesmo com milhões de visualizações e uma produção espetacular, teve um impacto mais tímido. – Maria Vitória Bertotti
half alive – Make of It
“É uma história em que mundos não só se conectam, mas sangram um no outro, em uma amostra bagunçada de uma bela humanidade” é como a banda americana half alive descreve o seu novo single, Make of It. Por mais abstrato que pareça, a descrição é pertinente: o ritmo animado do indie pop combina-se às letras pessoais e soa exatamente como se a bagunça interior se extravasasse em uma canção. – Vitória Lopes Gomez
Placebo – Beautiful James
Se você viveu a fase emo, não há nenhuma surpresa aqui. Em clima nostálgico, Beautiful James marca o retorno dos britânicos da Placebo, que, desde 2013, depois do modesto Loud Like Love, não anunciavam qualquer novidade. O single surge com a promessa de um novo álbum, cujo lançamento pode ocorrer em breve, já que o grupo revelou que o novo disco está terminado.
Na canção, os sintetizadores nos acompanham do começo ao fim, guitarras e baixo estão marcantes, e a entrega vocal de Brian Molko segue impecável. Beautiful James possui um tom de hit, no qual é possível imaginar diversos indivíduos cantando em uníssono sua letra, enquanto a melodia dos sintetizadores é erroneamente simulada pela boca, com o dedo indicador e o médio em imitação do que, idealmente, seria a maneira exata de tocar a música no teclado — talvez essa tenha sido a minha reação ao ouvir a faixa, mas vamos fingir que não. Na verdade, não seria surpreendente se isso acontecesse com outras pessoas. Com o ressurgimento do grupo, as cinzas dos antigos fãs foram acesas, e o que Molko entoa na primeira frase — “Traga-me de volta à vida” — soa quase como um chamado. É isso, a Placebo voltou. – Bruno Andrade
Sabrina Carpenter – skinny dipping
A nostalgia é o lado mais belo, claro e leve da saudade. E é em uma estética nostálgica que Sabrina Carpenter mergulha para produzir seu mais novo single, skinny dipping. O clipe um tanto lúdico, como se tivesse saído dos mais confusos porém lindos sonhos de Sabrina, acompanha a cantora que canta sobre finais e segunda chances.
O começo é confuso e não rima, mas de forma proposital. Narrando um encontro com seu ex, a música transparece a estranheza de um momento como este. Seguido por memórias que a artista coleciona no refrão, a faixa toda é uma grande conversa com uma pessoa do passado.
Quando a maioria da indústria musical transforma os términos de relacionamentos em algo raivoso ou triste, é interessante ver a nova perspectiva que a jovem traz para tal situação. A verdade é que Sabrina é e sempre foi uma grande artista, não merecendo ser esquecida ou diminuída por conta de um triângulo amoroso entre famosos em que acabou fazendo parte. – Mariana Chagas
Martinho da Vila e Teresa Cristina – Unidos e Misturados
Martinho é uma das maiores referências do samba com um infindável legado de composições. Teresa Cristina é o nome da nova geração do samba, que encanta com sua voz e seu carisma e é declarada uma das maiores personalidades da quarentena. Não é novidade pra ninguém que a mistura dos dois renderia um bom caldo. Unidos e Misturados estampa a íntima e intensa relação que os dois têm com o samba e fará parte do novo disco de inéditas de Martinho da Vila. O álbum é o primeiro de inéditas desde 2020 e está previsto para sair no Carnaval de 2022 com o nome de Mistura Homogênea. Outros três singles já foram lançados nos meses anteriores. – Ana Júlia Trevisan
Nick Cave and the Bad Seeds – Earthlings
Em 2019, Nick Cave refletia sobre a morte prematura de seu filho no belíssimo álbum Ghosteen. Na nova coletânea B-Sides & Rarities – Part II marcada para ser lançada em outubro, estarão presentes, dentre outros materiais raros, algumas das faixas que ficaram de fora da versão final de Ghosteen. Em Earthlings, segundo single lançado para a coletânea, somos levados de volta àquela atmosfera espiritual do disco original, com Nick Cave retomando alguns dos versos ouvidos em Ghosteen Speaks. A sensível canção, que segundo ele seria o “link perdido que unifica o álbum”, funciona como um ótimo epílogo para um dos melhores discos dos últimos anos. – João Batista Signorelli
Claud, The Marías e Jesse Rutherford – In Or In-Between (Remix)
Talento em ascensão do indie-pop, Claud foi o primeiro nome a assinar o selo Saddest Factory Records de Phoebe Bridgers. A versão alternativa de In Or In-Between é o primeiro remix do álbum de estreia da carreira de Claud, onde o estilo fantástico, o passado e as desilusões amorosas presentes na saga de amadurecimento de Super Monster continuam sendo exploradas.
Adentrando novos territórios, o remix conta com a inesperada participação de prodígios da cena alternativa de Los Angeles, The Marías e Jesse Rutherford (The Neighbourhood), no qual gêneros se mesclam e novas texturas são criadas. Na nova faixa, a introspecção comum da sonoridade de Claud é amarrada de forma coesa ao dueto entre María e Jesse, e o resultado é um single completamente reinventado do original, combinando as melhores partes dos três artistas. – Ayra Mori
Kanye West & Andre 3000 – Life of the Party
A música excluída do álbum Donda de Kanye West foi vazada por Drake em mais uma tentativa de piorar a briga entre os dois rappers. Desconsiderando a rixa entre os dois que gerou a faixa, a letra de Life of the Party machuca por si só. A rima de Andre 3000 é genuína ao cantar para a mãe de Kanye West – Miss Donda – como um canal no além vida até sua mãe e seu pai. Na faixa, seu trabalho é muito mais profundo do que o de Kanye, pois rimar sobre sua memória familiar é uma característica da música de Andre.
No entanto, Life of the Party não faz parte de Donda, infelizmente, e sua exclusão chega a ser uma falta de respeito com a composição tão boa e dolorosa de Andre – que conhecia a versão da faixa antes de Kanye incluir as indiretas para Drake ou cortar do álbum. A faixa seria a melhor música de Donda, mesmo que ele tenha debutado em primeiro na Billboard 200 Chart. Pois foi Andre 3000 quem de fato entendeu a missão de colocar a própria mãe em sua música, enquanto Kanye parece ter se perdido dentro de uma rixa inútil. – Nathália Mendes
Snail Mail – Valentine
Snail Mail, nome do projeto de indie rock da guitarrista estadunidense Lindsey Jordan, lançou a canção Valentine, single do álbum homônimo previsto para final de 2021. Em contraste com o disco anterior, Lush (2018), a voz de Jordan soa mais madura e tenta demonstrar a sensação de coração despedaçado, com períodos de reflexão proporcionados pela bateria mansa e sintetizadores expansivos, além de momentos de revolta com a guitarra. A canção possui uma sonoridade familiar difícil de explicar, mesmo para os que nunca ouviram nada de Snail Mail, na qual ouvimos ecos de Pavement e Fiona Apple, referências que parecem acompanhar Jordan em todo o projeto. – Bruno Andrade
Syd e Smino – Right Track
Sydney Bennett, ou melhor, Syd, é um fênomeno do R&B. Parte dos membros fundadores do coletivo Odd Future, a cantora, compositora e produtora californiana conta com colaborações de respeito ao longo da carreira – que incluem desde Tyler, The Creator à Frank Ocean. Em 2021, a artista vem investindo nos projetos solos, lançando Missing Out, uma balada anti-romance conduzida por sintetizadores fantasiosos do Omnichord; seguida de Fast Car, uma música feita para “garotas pretas gays se verem”; e agora, Right Track, com a participação do rapper Smino.
Desde 2015, após o lançamento de Ego Death, a produção lírico-sonora profícua de Syd é carregada de vulnerabilidade e sensualismo. Na nova faixa, o amor é tópico central. Ela abre o coração, expondo através da voz suave os sentimentos, inseguranças e ânsias, enquanto flutua sobre loops de um violão radiante. Aqui, Syd prova novamente sua maestria, elevando ainda mais as expectativas – já altas – para o próximo álbum. – Ayra Mori
Rita Lee, Roberto de Carvalho e DJ Gui Boratto – Change
O ano era 2012 e Rita Lee lançava Reza, álbum de inéditas, para encerrar sua vida de palcos e entrar na aposentadoria ao lado de seu amado Roberto de Carvalho, suas plantas e seus animais. Quase uma década depois, Rita volta ao cenário fonográfico poderosa e majestosa Rainha do Rock que é. Icônica e marcada por sua ousadia, Rita Lee prova que essa característica não se perdeu no tempo, sua nova música, Change, é refinada e mistura inglês com francês. Nas mãos do DJ Gui Boratto, a música ganhou um ritmo pop mais dançante, deixando esse retorno de Rita Lee ainda mais delicioso. Gui também aparece em Rita Lee & Roberto – Classic Remix, projeto de releitura dos grandes clássicos que foi lançado esse ano. – Ana Júlia Trevisan
Abe Parker – Empty House
Com o som de uma porta sendo fechada, diminuindo ruídos externos de uma festa, Empty House começa construindo uma cena muito comum para pessoas introvertidas: a do isolamento. Com uma dolorosa sinceridade, o cantor Abe Parker se abre sobre como é ter ansiedade social em uma música escrita, produzida e distribuída por ele mesmo. A melodia melancólica ajuda a transparecer a tristeza que o artista sente em não ser capaz de se comunicar facilmente, e ouvir aos 3 minutos da canção é como assistir a mais verdadeira sessão de terapia de uma pessoa ansiosa. – Mariana Chagas
Anná e Amanda Magalhães – Me Cuidar
A multiartista Anná mergulhou de vez em referências estéticas que ultrapassam a esfera musical de criação. De single e clipe novos, a cantora mocoquense abraça Luis Buñuel e Salvador Dalí ao mesmo tempo que recria a famosa pintura As Duas Fridas, de Frida Kahlo, e flerta com pelo menos duas obras de Marina Abramović. Pode parecer praticamente impossível, mas tudo isso acontece nos quase 3 minutos de Me Cuidar, colaboração feita com a cantora, atriz e compositora Amanda Magalhães, e também segunda prévia do álbum ainda inédito Bra$ileyrah.
A verdade é que Amanda e Anná cantam com a suavidade de uma brisa e, ao mesmo tempo, retiram da terra a firmeza necessária para qualquer escolha bem determinada. Nessa composição, elas tomam a difícil decisão de tentar se priorizar em um mundo que nos explora impiedosamente – e vale lembrar que, enquanto duas mulheres, colocar isso em prática numa sociedade que inferioriza o tempo todo a figura feminina costuma ser uma tarefa ainda mais trabalhosa. Por isso, ter pelo menos os versos “Quando o amor não é servido/Eu vou-me embora” como mantra é, com certeza, uma bênção em meio à grande tormenta.
Além do mais, há uma conexão tão forte e natural entre essas duas cantoras, que a canção flui como as águas de um rio. Laço nítido no videoclipe de Me Cuidar, filmado por uma equipe 100% feminina, logo nos encantamos com tanto afeto e carisma. Por sinal, é nessa parte audiovisual da obra que podemos também nos apaixonar por pontos tradicionais de Mococa, cidade natal de Anná – e igualmente minha terra. No fim, o que resta é a dúvida do que podemos fazer com nossas inseguranças, hesitação implícita ao longo de toda a letra. Assim como faz a plaquinha de papelão do clipe, melhor seria que se queimassem todas. – Eduardo Rota Hilário
Oasis – Champagne Supernova (Live at Knebworth, 11th August 1996)
Para muitos — e para mim também —, Champagne Supernova é a melhor música do Oasis. A canção épica do álbum (What’s the Story) Morning Glory? (1995) teve uma nova versão lançada, gravada no segundo dia de show do grupo no lendário Knebworth Festival, de 1996. Champagne Supernova (Live at Knebworth, 11th August 1996) é a segunda canção lançada para promover o novo documentário e o novo disco ao vivo, que será lançado em 19 de novembro.
O grupo entregou uma versão histórica da canção no festival, e contou com a participação especial de John Squire, guitarrista do The Stone Roses — uma das principais influências do Oasis, ao lado de The Who e Beatles —, que altera os papéis com Noel Gallagher, tomando lugar na guitarra principal e demonstrando todo o seu virtuosismo no solo. – Bruno Andrade
brvnks – Happy Together
Depois de sua fase tristinha em que odiou todo mundo, brvnks (que antes assinava como BRVNKS) volta transformada com um pouco mais de doçura, como pode ser visto em happy together, novo single que marca o retorno da artista ao estúdio de gravação. Brasileira que canta em inglês, brvnks expressa nas letras de sua nova canção uma melancolia açucarada, embalando em um dream pop o desejo de que as coisas, as pessoas e o amor fossem diferentes do que são. Se em uma de suas primeiras canções ela declarava que “queria que você estivesse morto”, o descontentamento assume aspecto mais fofo em Happy Together: “Eu espero que você se torne a minha ideia de você algum dia”, canta brvnks com sua voz delicada. – João Batista Signorelli
Justus Bennetts – Bad Day
Não dá mais para negar: o TikTok veio para ficar. O aplicativo que foi um dos mais baixados na pandemia se expandiu das dancinhas para dar espaço a todo tipo de conteúdo, criando um ambiente perfeito para a descoberta de novos e pequenos artistas. Entre eles, Justus Bennetts foi um grande estouro nas últimas semanas.
Ao postar apenas alguns segundos de uma nova música, o curto vídeo do cantor bateu mais de 20 milhões de visualizações na plataforma e deixou uma grande galera esperando seu lançamento. Problemas com a gravadora vem, problemas com a gravadora vão, e depois de muito sufoco, Bad Day finalmente ficou disponível. E agora não tem como deixar de escutar todo dia a divertida e agressiva composição de Justus.
A letra é simples, mas direta: eu espero que você tenha um dia ruim. Cheio dos piores desejos que você pode fazer a alguém – como ver o ex no meio de um encontro com seu atual -, a faixa grita o que muitas vezes o nosso lado do bem tem vergonha de dizer: para algumas pessoas, desejamos apenas o pior. E quer saber? Está tudo bem. Bad Day está aqui para te mostrar isso. – Mariana Chagas
Criolo e Tropkillaz – Cleane
Sobre o luto que virou luta, Criolo grita a dor de sua perda pela morte precoce de sua irmã, Cleane, vítima de covid-19, no single intitulado com o nome da mesma. Em parceria com Tropkillaz, o rapper paulistano traz em um casamento perfeito com a Arte, sua revolta e indignação com a atual conjuntura do país e o descaso com as milhares de vidas perdidas durante a pandemia.
“Não acabou e nunca vai acabar a pandemia, sobretudo pra quem perdeu um ente querido. A arte ajuda a ressignificar mesmo em um caos tão complexo e profundo. Que o amor possa visitar o coração de todos sem estrutura, por escolha de um país que decide quem vive e quem morre”, afirmou o cantor em seu perfil do Twitter.
Versos como “Abraçar minha irmã já não tenho mais tempo (Saudade)” emocionam os ouvintes,, e mais ainda quem assiste o clipe, sendo este dirigido por Helder Fruteira e trazendo com magnificência a triste realidade dos brasileiros. Cleane é um grito geral e necessário, e assim, o mesmo de sempre acontece: Criolo entrega ao público todo seu talento, que aparenta estar crescendo cada vez mais e enriquecendo a cultura e a vida de todos nós. – Guilherme Teixeira
Janelle Monáe – Say Her Name (Hell You Talmbout)
Com sua primeira versão lançada em 2015, Hell You Talmbout não é uma canção de protesto comum. Trazendo um refrão poderoso potencializado pelas harmonias vocais e percussão vibrantes, além de versos simples mas potentes, a canção relembrava os nomes de algumas das tantas vidas negras mortas pelo sistema que deveria protegê-las. Já tendo sido emprestada para David Byrne para compor o ato final de seu espetáculo David Byrne’s American Utopia, Hell You Talmbout ganha mais uma versão em colaboração com a African American Policy Forum’s #SayHerName Mothers Network, uma comunidade de mães e familiares de mulheres mortas pela polícia.
Dessa vez, em uma faixa de 17 minutos marcada pelas vozes de artistas e ativistas negras, o ouvinte é convidado a dizer e a não esquecer dos nomes de Atatiana Jefferson, Breonna Taylor, e tantas outras vidas que foram vítimas de crimes inacreditáveis oriundos do racismo. O que faz a canção ser tão poderosa é sua simplicidade: fácil de ser entoada, flexível para se adequar a diferentes contextos, é a prova de que na Arte, nem sempre uma crítica elaborada ao sistema é necessária. Às vezes, a lembrança dos nomes já é o suficiente para demonstrar e provar que alguma coisa está errada. – João Batista Signorelli
Clipes
Pabllo Vittar – Bang Bang
Pabllo Vittar continua colhendo os frutos de seu incontestável Batidão Tropical. Bang Bang é uma das faixas do álbum lançado em junho e seu clipe que veio ao mundo agora, alcançou mais de 2 milhões de acessos no YouTube em apenas duas semanas. Um dia antes da estreia, Pabllo deixou todos com a ansiedade a mil para o clipe depois de apresentar o single no MTV MIAW 2021.
O vídeo de Bang Bang não é um show de cenários, pelo contrário, ele acontece num ambiente fechado com uma iluminação roxa mas, sem dúvidas, é um show de looks e coreografias. Com um visual mais contido que seus outros clipes, nesse Pabllo veste a personalidade de cowgirl e entrega tudo em uma coreografia que será lembrada como uma das melhores da carreira. As claras referências do clipe são em homenagem a Mylla Karvalho (ex-vocalista da Cia do Calypso) que empresta sua voz na faixa original de Bang Bang. – Ana Júlia Trevisan
Lucy Dacus – Brando
Uma das melhores faixas do excelente Home Video, já era mais do que hora de Brando receber um clipe só seu. Narrando a amizade tóxica com alguém que só a via como uma chance de se sentir superior, a música de Lucy Dacus já era recheada de melancolia e frustração, com a cantora suplicando: “Tudo que eu preciso que você admita/É que você nunca me conheceu como achou que conhecia”.
A melhor maneira de corrigir essa arrogância e curar essa ferida? Dividi-la com pessoas que tem amam por quem você é. O clipe de Brando dá aos fãs a chance de poder fazer parte da história do álbum e de oferecerem suas próprias interpretações sobre a letra, criando uma experiência quase transformativa junto com a letra da artista. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Performances
Lil Nax X no VMA
No dia 12 de setembro, aconteceu a 37ª edição do Video Music Awards. Com aparições incríveis dos mais diversos nomes da indústria da Música, um dos maiores momentos da noite com certeza foi a performance de Lil Nas X, que decidiu apresentar ao vivo pela primeira vez o single INDUSTRY BABY. O artista não chegou nem perto de decepcionar: a apresentação contou com uma banda marcial, mais de dez dançarinos de apoio, uma recriação da Montero State Prison e da famosa cena do chuveiro – duas claras referências ao clipe -, além de trazer também a participação do rapper Jack Harlow e, claro, muito cor-de-rosa. Parece demais, mas não para Lil Nas X, que fez tudo funcionar da melhor forma possível.
O artista fez duas trocas de roupas e uma troca de música durante a performance. Ao fim de INDUSTRY BABY, MONTERO (Call Me By Your Name) foi apresentada com um show de coreografia e muito carão da parte do rapper, surpreendendo a todos que esperavam por uma música só. Sendo assim, após faturar a melhor performance da noite e mais três prêmios (incluindo o principal, Vídeo do Ano), pode-se dizer que o evento do VMA foi mágico para o jovem cantor Lil Nas X, trazendo boas energias para o lançamento de seu primeiro álbum. – Gabrielli Natividade da Silva
Olivia Rodrigo no VMA
A internet é previsível. Ela vai conhecer um artista, aclamá-lo ao ponto de saturar e cansar sua imagem. Então, do dia para a noite, vai começar a ridicularizá-lo – ou simplesmente o transformar em outra vítima do cancelamento. Depois de Billie Elish passar por este ritual sagrado, a escolhida da vez é ela: Olivia Rodrigo.
Ao ser uma das convidadas a cantar no VMA 2021, poucos segundos sem ar foram motivo para a jovem ser muito zombada. Pois contrariando cada comentário negativo, constato: Olivia arrasou. Em uma super bem produzida e divertida apresentação, a recém motorista dançou, pulou e levou a plateia à loucura performando seu hit, good 4 u.
Depois de um álbum de estreia que entrou para a História, já é fato que ainda tem muito o que acontecer na carreira da cantora. Ter seus primeiros shows na frente de plateias tão grandes e importantes não é fácil, então a atriz ainda vai ter tempo de sobra para melhorar cada vez mais. E para os que vão continuar pegando no seu pé até lá, bom, screw that and screw you. – Mariana Chagas
Machine Gun Kelly no VMA
Machine Gun Kelly teve uma noite cheia no evento do MTV Music Video Awards 2021. O cantor apareceu no tapete vermelho ao lado da atriz Megan Fox, com quem namora, se desentendeu com o lutador Connor McGregor, levou o Moon Person por Melhor Vídeo Musical Alternativo e ainda subiu ao palco para apresentar seu mais recente single, papercuts.
O primeiro lançamento do álbum born with horns ganhou uma performance com direito a figurantes fantasiados em coro com a canção, cenário especial, vídeo no telão, chamas e, claro, a participação de Travis Barker. O ex-rapper – que se deu muito bem no novo gênero musical, por sinal -, apresentou até um verso inédito e pessoal na noite do VMA, mas as fofocas da briga renderam mais e ofuscaram o número de MGK. – Vitória Lopes Gomez
Doja Cat no VMA
Uma das maiores aquisições da indústria musical nos últimos anos foi a descoberta e ascensão de Doja Cat. Dona de algumas das músicas mais tocadas atualmente, a cantora melhorou a noite do VMA 2021 apresentando duas faixas de seu último álbum, Planet Her.
Começando com Been Like This, Doja estava celestial. Cantando suspensa no ar, dentro de um anel brilhante que a iluminava, assistir a artista performar de tal forma foi de tirar o fôlego. Uma vez no chão, ela não perdeu seu encanto. A segunda canção escolhida foi You Right, dançada de forma tão teatral que se me dissessem que o VMA virou um musical, eu acreditaria. Neste caso, Doja Cat não poderia ter outro papel além do principal. – Mariana Chagas
Alicia Keys no VMA
A Rainha está de volta! Depois de quase dez anos longe do palco do VMA, Alicia Keys retornou à premiação da MTV com uma performance histórica naquele lugar que é tão significativo para sua carreira. A última vez em que a artista tinha se apresentado por lá tinha sido em 2012, na companhia de Nicki Minaj e do hino Girl On Fire, quando também recebia seus últimos prêmios de sua vasta aclamação no Video Music Awards.
Para esse retorno tão especial, Alicia escolheu homenagear o cenário de sua vida: a cidade de Nova York. Introduzida ao som de seu novo single com a participação enérgica de Swae Lee, a noite de Keys teve seu auge quando a artista entoou um de seus maiores sucessos. Transformando o momento numa ode à maior metrópole do mundo que a viu crescer e que exerce tamanha influência em sua Música, uma versão sentimental de Empire State of Mind tomou o céu e as emoções de Alicia expressas em seu fiel piano. E assim também foi com todo o público que a assistia. – Raquel Dutra
Anitta no VMA
Do Brasil para o mundo: Anitta se tornou a primeira artista do nosso país a se apresentar no Video Music Awards. Gostando ou não da cantora, é impossível não enxergar tudo que ela vem fazendo para espalhar a música e cultura brasileira no exterior.
A estreia da carioca na premiação da MTV não poderia ter sido melhor. Saindo de dentro de um quarto para um grande palco, a história construída na performance simboliza bem sua carreira e ascensão dos últimos anos. A música escolhida, também, não poderia ter sido outra: que a nossa Girl From Rio siga crescendo cada vez mais. – Mariana Chagas
Twenty One Pilots no VMA
Twenty One Pilots finalmente está de volta aos palcos. Aproveitando o início da Takeover Tour, o duo decidiu passar no VMA para entregar o que eles sabem fazer de melhor: performances únicas e inesquecíveis. Após já terem se apresentado no Billboard Music Awards, Tyler e Josh foram acompanhados, mais uma vez, por uma banda, que também estará junto com eles durante toda a turnê.
Se o single Saturday não emplacou como o esperado, em grande parte pela arriscada sonoridade nada característica de Twenty One Pilots, Tyler decidiu interpretar uma nova versão da música. Junto do seu conhecido ukulele, o vocalista abriu a apresentação de forma intimista, mas que logo depois ganha fortes sons de guitarra e da estrondosa bateria de Josh Dun, ainda mesclando com a batida pop original. A performance também alude ao videoclipe da faixa, navegando sob as mesmas águas como cenário.
Dando um show à parte, Tyler Joseph não poderia estar mais feliz e confortável ao entoar as letras da canção ao lado dos backing vocals. E descobrimos o motivo de toda essa alegria: ao final da apresentação, ele anuncia que sua esposa, Jenna Joseph, está grávida do segundo filho deles. – Vitória Silva