O mês de setembro sediou a 73ª edição do Emmy, e a cobertura do Persona comentou sobre incontáveis produções indicadas e vencedoras do prêmio mais importante da Televisão, além de conteúdos com informações sobre as categorias e quem ficou de fora. Mas nem só de tapete vermelho vive um mês, e chegou a hora de comentar sobre as novidades de setembro no Cinema e na TV.
Grandes nomes do Cinema marcaram presença em lançamentos. A começar por Clint Eastwood que, no auge dos seus 91 anos, dirigiu e estrelou o filme Cry Macho, lançado nos cinemas e no HBO Max americano, trazendo uma perspectiva diferente de antigos papéis de sua carreira. Temos também My Son, thriller com a vencedora do Emmy Claire Foy e James McAvoy, que filmou o longa inteiramente sem ler o roteiro, experienciando todos os momentos junto à audiência, acompanhando a investigação do desaparecimento do filho do casal.
O HBO Max também foi o palco de Ryan Reynolds, Taika Waititi e Joe Keery, que compõem o elenco recheado de estrelas de Free Guy. A história de aventura conta a história de Guy, um caixa de banco que descobre ser um personagem de videogame. Indo da comédia para o mistério, M. Night Shyamalan dirige Gael Garcia Bernal, Eliza Scanlen e outros grandes atores no longa Tempo (Old), sobre uma praia deserta onde os visitantes envelhecem repentinamente.
Para já ir se preparando para o Halloween, os lançamentos de terror chegam em peso. Candyman, produzido pelo Jordan Peele e dirigido por Nia DaCosta, propõe uma volta ao clássico do gênero, e Maligno, novo filme de James Wan, presta homenagem ao Cinema de Terror.
A Netflix, por sua vez, traz opções para todos os gostos, lançando Kate, filme de ação protagonizado por Mary Elizabeth Winstead, e Confissões de uma Adolescente Excluída, comédia baseada na obra de mesmo nome de Thalita Rebouças. Na onda de filmes sobre adolescência, Meu Nome é Badgá chega aos cinemas trazendo uma perspectiva diferente dessa fase, pelos olhos de uma skatista de 17 anos da periferia de São Paulo.
O Amazon Prime Video também chegou forte esse mês, com as duas partes que acompanham o julgamento do caso Richthofen, O Menino que Matou Meus Pais, contando a versão de Suzane, interpretada por Carla Diaz, e A Menina que Matou os Pais, acompanhando a perspectiva de seu namorado, Daniel Cravinhos. Além desses, The Voyeurs, inspirado em Janela Indiscreta, entra no catálogo do streaming da Amazon, estrelando Justice Smith e Sydney Sweeney.
Apostando na música, o Prime também traz uma repaginada da clássica história de Cinderella, com covers de músicas pop interpretadas por sua protagonista Camila Cabello. E a terceira edição do desfile da Rihanna, Savage X Fenty Show Vol. 3, coloca grandes nomes nas passarelas, como Troye Sivan, Thuso Mbedu, e Symone e Gottmik de RuPaul’s Drag Race. E falando de drag, Todos Estão Falando Sobre Jamie conta, através de um musical, a jornada de um garoto que quer se tornar drag queen.
Já no streaming da Disney, a música ficou por conta de Billie Eilish e Happier Than Ever: Uma Carta de Amor para Los Angeles, que acompanha um show da artista, além de trazer uma animação através de suas canções. E quando podemos ensaiar uma volta aos cinemas com a vacinação avançando na nossa população – e mantendo o uso de máscaras, não custa reforçar -, a Marvel está de volta às telonas com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, primeiro filme com um herói asiático do estúdio.
Na TV, RuPaul’s Drag Race All Stars 6 coroa, pela primeira vez, uma mulher trans, a vencedora Kylie Sonique Love. Enquanto isso, a segunda temporada do spin-off europeu Drag Race Holland, chegou repleto de brigas e reviravoltas (e também deu o prêmio à uma mulher trans).
Representando os documentários, Controlling Britney Spears, a continuação de Framing Britney Spears, saiu de surpresa. Mais uma vez produzido pelo The New York Times, o programa continua destrinchando a delicada situação vivida pela princesa do pop.
Setembro também foi o mês de despedida de algumas séries. A oitava e última temporada da amada Brooklyn Nine-Nine vem com mudanças motivadas pelos protestos contra violência policial e o movimento Black Lives Matter. E na Netflix, Lúcifer entrega sua 6ª temporada com um final cheio de significados.
Para os fãs de comédia romântica, Sen Çal Kapimi, sensação da TV turca, lança a sua segunda temporada. A Hulu também vem com grandes sucessos em setembro. Reservation Dogs, produzida por Taika Waititi e original do FX, conta a história de jovens nativo-americanos que querem deixar a reserva onde vivem. Além dela, a minissérie Nine Perfect Strangers traz Nicole Kidman, Melissa McCarthy, Regina Hall e outros atores conhecidos de Hollywood em uma trama paradisíaca e bem misteriosa.
Animações também integraram o elenco de lançamentos de séries do mês. No Disney+, Monstros no Trabalho, um spin-off de Monstros S.A., mostra a vida de um jovem monstro recém formado que precisa se adaptar ao novo funcionamento da fábrica, que agora faz as crianças rirem. Star Wars: Visions, uma série de antologia em formato de curtas feita por estúdios de anime, brinca com o universo da franquia de George Lucas, enquanto Rick & Morty, no HBO Max, chega com sua 5ª temporada explorando ainda mais a conturbada relação de seus protagonistas.
A Netflix não brincou em setembro, e além dos filmes, o streaming trouxe muitas séries, começando por Q-Force, que acompanha um espião gay e sua equipe LGBTQIA+. Retornam Sangue e Água, depois do sucesso da primeira temporada, e Sex Education, que chega em sua terceira temporada com novas questões a serem discutidas, e com o primeiro personagem não-binárie da série, interpretado por Dua Saleh.
O streaming também tem bastante conteúdo pra quem gosta de ação: o volume 1 da parte final de La Casa de Papel, uma das séries mais famosas da produtora, chega com episódios intensos e um desfecho surpreendente. Além de Round 6, produção coreana que é a febre do mês. Perto de assumir o posto de série mais assistida da plataforma, a história acompanha pessoas competindo em um jogo de sobrevivência por um prêmio milionário. Por fim, Missa da Meia-Noite: o novo terror dramático de Mike Flanagan, cheio de tensão e religião. Tudo isso e muito mais você confere no Cineclube de Setembro de 2021, sob a curadoria da Editoria do Persona e de seus Colaboradores.
Cinema
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, Destin Daniel Cretton)
Quem diria que uma nova história de origem no abarrotado Universo Cinematográfico da Marvel poderia ser tão proveitosa e ter tanto a dizer? Depois de Pantera Negra abrir as portas para que os heróis abracem a diversidade frente e atrás das câmeras, a aventura solo de Shang-Chi (Simu Liu) chega depois de uma porção de adiamentos em decorrência da pandemia. Sob o comando de Destin Daniel Cretton, o longa que coloca a China no foco e as artes marciais como inspiração consegue mais do que apenas expandir a megalomaníaca Casa de Ideias de Kevin Feige.
Simu Liu é gracioso em cena como o personagem titular, e convence no humor e na ação, com destaque para as dezenas de sequências eletrizantes que recheiam as mais de duas horas de rodagem. Ao seu lado, Awkwafina brilha como sempre o faz, recebendo todo o destaque possível. Sua Katy é desbocada, hilária, destemida e, o mais importante entre um mar de super seres, extremamente humana. Sem a necessidade de encaixar um romance no longa, a direção de Cretton, que está entre os 3 roteiristas creditados, não se preocupa em ticar todas as caixas que uma origem de super-herói costumeiramente tem.
É claro que estão presentes tropos conhecidos: o pai malvado Xu Wenwu (com louvor interpretado pelo lendário Tony Chiu-Wai Leung), a irmã fodona Xialing (papel da irresistível Meng’er Zhang), a tia experiente e batalhadora Ying Nan (vivida por outra lenda, Michelle Yeoh) e até o cômico “Mandarim original”, Trevor Slattery (Ben Kingsley). A história é simples: Shang-Chi se mete em confusões, viaja para um lugar mitológico e quebra pau com o pai, cercado por todo tipo de criatura imaginável. No ano em que a Marvel cresce sua força para a TV (e lança no streaming um erro datado), Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis serve diversão, perigo, amizade e um filme digno para a volta aos cinemas. – Vitor Evangelista
star-crossed: the film (Idem, Bardia Zeinali)
O retorno triunfal de Kacey Musgraves ganha novas dimensões no filme que acompanha o novo disco da artista. Se em star-crossed ela desmancha, analisa e compreende as camadas de seu coração partido, em star-crossed: the film, todo o processo que a vencedora do Grammy de Álbum do Ano de 2019 realiza em seu novo disco é materializado, dando concretude ao que ela chama de “uma tragédia moderna em três atos”.
Não era para menos, afinal, um filme baseado na intensidade emocional e maestria musical de Kacey. Quase como um álbum visual, a narrativa da obra tem um início de tirar o fôlego ao som de star-crossed, passando pela acidez de good wife, mágoa de justified e ressentimento de camera roll, até chegar na recuperação expressa em there is a light, que encaminha um encerramento inexplicável com a interpretação de Musgraves do clássico hino folclórico latino-americano gracias a la vida.
As referências latinas, aliás, conversam muito bem com o drama amoroso de Kacey. Seja nas composições instrumentais ou visuais, a artista vive, junto de seu elenco recheado de estrelas (Victoria Pedretti, Symone, Eugene Levy…) sua própria narrativa íntima na frente das câmeras. E star-crossed: the film mostra, mais uma vez, que o trabalho da Arte é o que Musgraves sabe fazer de melhor. – Raquel Dutra
A Lenda de Candyman (Candyman, Nia DaCosta)
Não há como colocar A Lenda de Candyman em um pódio qualquer. Já nascido de um material excepcional escrito por Clive Barker e adaptado para um filme icônico como O Mistério de Candyman de 1992, o novo longa de Nia DaCosta expande ainda mais o universo do vilão cercado por abelhas.
Dessa vez, a história da estudante Helen Lyle e seu destino trágico se tornam exatamente aquilo que o personagem de Tony Todd desejava: eternos. Agora, quase 30 anos depois, Todd passa o manto, ou melhor, o gancho para Yahya Abdul-Mateen II, um jovem artista que se vê perdendo a cabeça depois de se deparar com as gerações de Candyman que assombram a sociedade estadunidense.
Questionando a todo o momento a verdadeira vilania do personagem, A Lenda de Candyman dialoga com seus antecessores, mas não sem antes desenvolver uma trama poderosa por si só, que caminha com as próprias pernas e cutuca feridas certeiras. Com certeza um dos maiores nomes do Horror de 2021. – Caroline Campos
A Menina que Matou os Pais (Maurício Eça)
O caso Richthofen é um dos mais famosos, chocantes e amargos do Brasil. Em outubro de 2002, Suzane, Daniel e Cristian (os irmãos Cravinhos) foram acusados de matarem o casal Manfred e Marísia von Richthofen, pais de Suzane. Nos depoimentos, a filha do casal e seu namorado Daniel apresentaram versões completamente diferentes da história do início do namoro até o fatídico dia 31 de outubro. Usando disso, os dois maiores escritores criminalistas do país, Ilana Casoy e Raphael Montes, roterizaram a dobradinha A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais.
A Menina que Matou os Pais apresenta a versão de Daniel Cravinho sobre o crime. Nele, as acusações são inteiramente voltadas à psicopatia de Suzane (Carla Diaz). A ex-BBB entrega uma atuação completa mostrando as várias camadas da personagem que é capaz de seduzir e manipular todos ao seu redor. Carla Diaz cresce conforme o roteiro avança, sem dúvida mostrar Suzane indo de uma garotinha rica a uma assassina a sangue frio é um dos grandes destaques e méritos da produção.
Vale lembrar que todo o roteiro do filme é fielmente baseado nos autos jurídicos do processo. Tudo que foi narrado e mostrado durante as quase três horas que os dois filmes juntos completam, é o que foi dito pelos culpados durante o julgamento e, por serem informações públicas, não renderam verba aos criminosos. A Menina que Matou os Pais pode não ser o mais alto primor do Cinema brasileiro, mas, com certeza, é um filme instigante que te leva a querer conhecer as duas histórias. – Ana Júlia Trevisan
O Menino que Matou Meus Pais (Maurício Eça)
Na dobradinha de lançamentos, cada um com um dos depoimentos do casal envolvido no caso Von Richthofen, O Menino que Matou Meus Pais apresenta a versão de Suzane. Seja pela ordem recomendada pelos realizadores, seja pelo filme em si, a visão dela consegue ser mais envolvente do que a do namorado, Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt), ao mostrar como uma menina à princípio ingênua foi corrompida e levada a participar no assassinato dos próprios pais.
Talvez até mais do que em A Menina que Matou os Pais, o destaque vai para Carla Diaz. A intérprete de Suzane von Richthofen é quase caricata na inocência exagerada, mas condiz com a maneira como a personalidade real se porta. O Menino que Matou Meus Pais não ousa desviar do depoimento e não explora a investigação criminal, mas é interessante ao usar as versões distintas de Suzane e Daniel para reconstruir os eventos que culminaram em um crime brutal. – Vitória Lopes Gomez
Happier Than Ever: Uma Carta de Amor Para Los Angeles – Uma experiência de Billie Eilish em concerto (Happier Than Ever: A Love Letter to Los Angeles, Robert Rodriguez e Patrick Osbourne)
Billie Eilish está crescendo, mas, seguindo o caminho contrário às tendências, ela resolveu fazer um filme com a Disney, estúdio do qual as jovens celebridades costumam se afastar nessa fase da vida. Sorte que, nele, ela não se transforma em “princesa”, ao contrário do que foi mencionado na Billboard, e repetido por diversos veículos de informação brasileiros, e nem é adornada de brilhos mágicos conforme visto em um dos vídeos de divulgação. Para a alegria dos fãs, a forma, a identidade e os temas por vezes ousados para o “padrão Disney” do álbum original foram (quase) inteiramente preservados aqui.
Com a assinatura de Robert Rodriguez (o responsável por Sin City e a franquia Pequenos Espiões) e Patrick Osbourne (animador da Disney que já levou o Oscar pelo curta O Banquete), o concerto gravado no Hollywood Bowl apresenta performances das canções do novo disco de Billie, de Getting Older a Male Fantasy, com o acompanhamento da Orquestra Filarmônica de Los Angeles em algumas das faixas: um encontro musical que é simplesmente tudo o que eu queria. Para completar, há ainda em GOLDWING a participação do Los Angeles Children’s Chorus, do qual Eilish fez parte, e do violonista Romero Lubambo, que traz um pouco de autenticidade brasileira a Billie Bossa Nova.
A carta de amor à Los Angeles é vista nos segmentos da versão animada de Billie vagando por pontos marcantes da cidade, até literalmente se encontrar. A animação ainda ganha espaço no minimalismo hipnótico de Not My Responsability, mas de resto, são as performances que se destacam. A ausência da filarmônica em algumas canções é compensada pelo fantástico arranjo orquestral de Therefore I Am, que no filme-concerto ganha ares pomposos e divertidos. Se até aqui a Disney não havia colocado seu dedo mágico no show, é porque ela tinha resolvido guardar seus truques para o final, apagando os três “fucks” da faixa-título, acabando com o grande momento catártico do álbum em um silêncio constrangedor. Sorte que o talento de Billie Eilish é tão grande que nem a maior companhia de entretenimento do mundo é capaz de ofuscar. – João Batista Signorelli
Savage X Fenty Show Vol. 3 (Idem, Scott Weintrob e Robyn Rihanna Fenty)
Lançado no dia 24 de setembro, pelo serviço de streaming Amazon Prime Video, o terceiro volume do show foi um belo espetáculo celebrando todos os tipos de corpos, a inclusão e a diversidade, contando com uma pitada de sedução. O desfile reuniu estrelas como o cantor Troye Sivan, a atriz Vanessa Hudgens, a atriz Sabrina Carpenter, a cantora Erykah Badu, o ator Jeremy Pope, o skatista Nyjah Huston e a atriz Thuso Mbedu, com aparições das modelos Adriana Lima, Alek Wek, Cindy Crawford, Behati Prinsloo, Emily Ratajkowski, Gigi Hadid, Irina Shayk, Lourdes Leon e Precious Lee.
Durante os 40 minutos de Moda imersiva, o show aproveita-se da arquitetura, mais uma vez usando Música, coreografia, luzes e performances sensacionais. Não aleatoriamente, o Fenty Show foi sonoramente latino, contando com apresentações de Ricky Martin e do rapper porto-riquenho Daddy Yankee. A produção tem ainda ótimas transições entre os sons de rap e R&B e os espaços, aproveitando o térreo, as escadas, passarelas, terraço e elevadores, sempre em conjunto de belíssimas coreografias que destacam músicas, cenários e lingeries.
Com uma iluminação impecável, a terceira edição do show varia entre cores frias, com o verde e azul, e cores quentes, como vermelho e laranja, além de takes de longe e giratórios, sempre dando uma visão de toda a grandeza. No fim, mais uma vez, Rihanna jogou a régua lá em cima, entregando uma experiência graciosa e simbólica, convocando diferentes corpos e gerações para a sua passarela plural. – Luisa Rodrigues
Irmãos de Sangue: Muhammad Ali e Malcolm X (Blood Brothers: Malcolm X & Muhammad Ali, Marcus A. Clarke)
Assistir Irmãos de Sangue não é uma tarefa fácil, exige conhecimento prévio sobre as figuras de Malcolm X e Muhammad Ali e a influência de ambos ao longo da década de 60 – e da luta da população negra – nos Estados Unidos. O documentário da Netflix é um arquivo histórico sobre os dois: entrevistas, áudios e imagens inéditas compõem a produção, contando ainda com os pontos de vida dos familiares. Combinado com o filme Uma Noite em Miami…, torna-se um retrato fidedigno para adentrar na complexidade de duas figuras tão fortes que os mesmos laços que os uniram como irmãos, os separaram ao mesmo tempo.
Inúmeras falas de Todo Mundo Odeia o Chris passam a fazer sentido quando se conhece a ponta do iceberg da vida de Malcolm X e Muhammad Ali. Assim como no filme de Regina King, a história é muito mais complexa do que parecia, e o ativismo racial que ambos possuíam era formado de articulações políticas inteligentes nascidas na religião islâmica. Além disso, representavam um risco altíssimo para a sociedade branca – e os assassinatos de Malcolm X e Sam Cooke, logo após Ali se tornar campeão dos pesos pesados no boxe, são bons exemplos disso. Irmãos de Sangue é uma produção muito bem feita para marcar a grandeza de dois homens com personalidade e perspicácia tão poderosas a ponto de se chocarem, e quase 50 anos depois o cinema ainda tenta compreendê-los. – Nathália Mendes
Todos Estão Falando Sobre Jamie (Everybody’s Talking About Jamie, Jonathan Butterell)
Vivendo a fase da adolescência, Jamie New (Max Harwood) é um jovem britânico de 16 anos que se sente deslocado na sociedade. Seu grande sonho de vida é se tornar uma drag queen e, por isso, não se sente compreendido no meio social em que está inserido. Mas apesar disso, o adolescente é incentivado pela mãe e pelos amigos a seguir seus desejos. Desse modo, Todos Estão Falando Sobre Jamie se desenvolve como um musical repleto de coreografias icônicas sobre seguir os sonhos.
O longa, adaptado da peça de teatro homônima, é inspirado na história real da vida de Jamie New e mostra os altos e baixos que o artista passou até alcançar o estrelato. Além disso, Todos Estão Falando Sobre Jamie também marca a estreia exitosa de Jonathan Butterell na direção. O filme, diferentemente de outros clichês sobre o público gay, coloca os personagens em situações cômicas que se desenrolam por meio de músicas e coreografias muito bem produzidas. Desse modo, através de um formato novo, o musical apresenta perfeitamente o público queer. – Gabriel Gatti
Cinderela (Cinderella, Kay Cannon)
São muitas as versões de Cinderela no Cinema e cada um tem sua favorita, mas duvido muito que a de alguém seja essa. Nessa repaginada da clássica história da Gata Borralheira que passa seus dias servindo sua Madrasta Má para que, no fim, seja resgatada por um lindo príncipe e vivendo feliz para sempre, Cinderela (Camila Cabello) é uma garota com o sonho de se tornar uma costureira famosa que cria vestidos para princesas e os vende em várias cidades ao redor do mundo. Porém, seus sonhos estão longe do que é adequado para uma mulher nos tempos em que vive.
O príncipe (Nicholas Galitzine), que de encantado não tem nada, se apaixona por Cinderela e agora ela tem uma decisão a tomar, o amor da sua vida ou a realização dos seus sonhos? A trajetória da princesa é preenchida por, possivelmente, a seleção de músicas mais clichê já vista em um musical jukebox, e, se eu quisesse ver uma interpretação adaptada para modelos medievais de Somebody to Love, eu teria assistido Ella Encantada – que diga-se de passagem é infinitamente superior.
O elenco é repleto nomes conhecidos na cena dos musicais, como Pierce Brosnan, James Corden e, especialmente, Idina Menzel, rainha da Broadway, aclamada por seus papéis como Elphaba em Wicked e Maureen Johnson em Rent, que ao interpretar a Madrasta Má cria o maior mistério do filme “o que fizeram para convencê-la a participar desse show de horrores?”. Por fim, a única ressalva positiva do filme é a interpretação de Whatta Man pelas princesas no baile, mas que é logo interrompida pelo príncipe assassinando Seven Nation Army. – Marcela Zogheib
Observadores (The Voyeurs, Michael Mohan)
Os suspenses eróticos tiveram seu período de grande popularidade na década de 1990 e atingiu o ápice com Instinto Selvagem, dirigido por Paul Verhoeven. Depois, o apelo que esses filmes tinham para o público foi diminuindo com o passar do tempo, até que pararam de ser produzidos pelos estúdios. Observadores, filme lançado diretamente no Amazon Prime Video, traz de volta esse gênero num período onde o Cinema norte-americano parece celibatário demais.
Na trama, acompanhamos Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith), um jovem casal que consegue se mudar para seu apartamento dos sonhos. Aos poucos, ambos começam a observar a rotina dos moradores do apartamento do outro lado da rua e iniciam uma sequência de eventos que podem levar à tragédia.
O filme consegue entreter bastante por conseguir conciliar a tensão sexual com o suspense que há no ato de espiar a vida do outro, adentrando em sua intimidade. O diretor Michael Mohan faz uma versão mais tecnológica e mais sexy de Janela Indiscreta, dessa vez sob uma intrigante perspectiva feminina. Alfred Hitchcock ficaria orgulhoso. – Caio Machado
Meu Nome É Bagdá (Caru Alves de Souza)
Depois de levar as ruas (e as pistas de skate) de São Paulo para o Festival de Berlim e passar por vários festivais, Meu Nome É Bagdá, o segundo longa da diretora e roteirista Caru Alves de Souza, estreou nas salas de cinema brasileiras. No filme, Bagdá, uma menina skatista da periferia paulistana, passa os dias com os meninos do bairro. Ela e mais uma amiga, as únicas meninas do grupo, lidam com o machismo no dia a dia, até que se unem a um grupo de mulheres skatistas que passavam pelo mesmo que elas.
A filmagem deslumbrante, com destaque especial para as cenas de skate, tornam a atmosfera jovem, despojada e próxima da realidade, sem fugir de assuntos incômodos e necessários que marcam o cotidiano das mulheres. Somada a uma personagem central marcante, interpretada pela novata Grace Orstato, o simples roteiro é cativante e fazem de Meu Nome É Bagdá um verdadeiro e encantador coming-of-age feminista. – Vitória Lopes Gomez
Cry Macho: O Caminho para Redenção (Cry Macho, Clint Eastwood)
Clint Eastwood é, talvez, um dos veteranos de Hollywood que mais se mantém na ativa hoje em dia. Sua fase atual como diretor pode ser identificada pelo questionamento de valores e comportamentos norte-americanos. Cry Macho, seu novo filme, continua nessa linha ao refletir sobre as noções de masculinidade que o próprio Eastwood sustentou como símbolo durante décadas.
Na trama, Eastwood interpreta Mike Milo, uma antiga celebridade dos rodeios e criador de cavalos. Em 1979, ele aceita um trabalho de um antigo patrão para trazer seu filho, que mora no México, para casa. Durante a viagem de volta para o Texas, essa dupla improvável encontrará desafios inesperados e Mike descobrirá seu caminho para a redenção.
É um grande prazer acompanhar como um dos gigantes do Cinema estadunidense conseguiu se aperfeiçoar na produção de filmes de orçamento modesto e dramaticamente potentes como Cry Macho. Vê-lo refletir sobre a própria passagem do tempo e aceitar o amor é algo que, com certeza, vai deixar os fãs do astro emocionados. – Caio Machado
Esticando a Festa (Afterlife of the Party, Stephen Herek)
Depois de morrer comicamente na semana de seu aniversário, Cassie (Victoria Justice) descobre aquilo que todos temíamos: aparentemente, nem a morte é motivo suficiente para ignorar pessoas com quem você não quer conversar. Agora, ela tem apenas cinco dias para resolver seus assuntos inacabados, antes que seja condenada à eternidade no lugar menos agradável. Apesar da trama a lá The Good Place, em Esticando a Festa as questões existenciais do além são deixadas de lado para dar espaço às aventuras desengonçadas de Cassie em busca da salvação.
Apesar de se comprometer com bem pouco além do básico de uma comédia romântica, o filme de Stephen Herek consegue emocionar com a desenvoltura das principais relações entre suas personagens, particularmente entre Cassie e sua melhor amiga, Lisa (Midori Francis). A química entre suas atrizes vende muito bem a amizade instável e desigual, bem como o carinho e a preocupação de uma com a outra.
Infelizmente, o filme não aproveita sua premissa ao máximo, dando poucas oportunidades para que a presença de Cassie faça a história prosseguir de maneiras interessantes. Apesar de alguns momentos emocionalmente maduros e instigantes, o final da história perde tempo com tramas paralelas que parecem vir de lugar nenhum e entrega uma conclusão fraca para a própria Cassie. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Free Guy: Assumindo o Controle (Free Guy, Shawn Levy)
Imagine que Ryan Reynolds está contando para um adolescente sobre Matrix. Agora imagine que na explicação dele, o sistema que controla todos os humanos seja o mundo de Grand Theft Auto, e ele esteja apaixonado por uma jogadora. Ao juntar tudo isso, e como objetivo dessa conversa, Ryan quer motivar o adolescente a quebrar barreiras, e faz isso com uma linguagem irritantemente otimista. Conseguiu? Essa é uma boa explicação para a trama divertida e complexa que Free Guy consegue sustentar, filme de Shawn Levy que estreou nos cinemas do mundo todo fazendo barulho, e entrará para a plataforma do HBO Max.
Na história de Guy – vivido por Reynolds-, um personagem de videogame não-jogável que consegue criar a inteligência artificial sozinho, ele conquista a consciência de que a vida poderia ser mais do que a mesmice. Na luta para seguir existindo na plataforma, e apaixonado pela Garota Molotov (Jodie Corner), ele consegue no heroísmo subir nos níveis do jogo, salvando outros NPC’s dos jogadores do mundo real. Assim, Levy e Reynolds compreenderam que poderiam alcançar o público jovem para uma reflexão sobre atitudes e altruísmo, mas falando a mesma língua que a maioria deles – a dos games. Cheio de referências, o filme é uma dose de otimismo que veio no momento certo em meio à pandemia, além de seu bom equilíbrio entre a comédia e uma reflexão sobre o não controle dentro e fora do universo dos games. – Nathália Mendes
My Son (Idem, Christian Carion)
A recém-vencedora do Emmy Claire Foy saiu da superprodução real da Netflix para protagonizar o novo suspense do serviço de streaming Peacock. Em My Son, a primeira protagonista de The Crown vive Joan, uma mãe desesperada em busca de seu filho Ethan, que desapareceu após uma noite num acampamento juvenil. Em teoria, ela dividiria a criação da criança de 7 anos com Edmond (James McAvoy), mas ele é um pai distante por circunstâncias profissionais delicadas. Então, essa demanda de suporte à Joan parece ser cumprida pelo pincelado Frank (Tom Cullen), parceiro da personagem de Foy.
Mas muito além das suspeitas que surgem de seu núcleo, o filme dirigido por Christian Carion guarda seu burburinho em algo peculiar: James McAvoy atuou sem ler o roteiro durante os 90 minutos do longa, vivenciando o suspense e lidando com as reviravoltas junto com o público. Essa radicalidade proposta pelo protagonista pede de My Son uma harmonia perfeita entre direção, fotografia, roteiro e demais atuações – com destaque, obviamente, para a de Claire e de Gary Lewis, como o oficial de segurança que cuida do caso de Ethan -, e assim o filme é. – Raquel Dutra
Quanto Vale? (Worth, Sara Colangelo)
Desde 2001, setembro é marcado pelo fatídico dia 11 e a queda das Torres Gêmeas. Centenas de filmes explorando o assunto já foram produzidos, mostrando a visão estadunidense do ataque e a agonia que se implanta no instante em que os aviões acertam as torres. Uma ferida ainda aberta no peito dos Estados Unidos, Michael Keaton protagoniza o novo filme da Netflix que traz um olhar de um novo ângulo para a tragédia. Quanto Vale? é abastecido pelo luto das famílias que perderam seus amores e a pessoa responsável por colocar na mesa o pão de cada dia.
“Quanto vale a vida humana?” É com essa frase que o longa baseado na história real de Kenneth R. Feinberg, advogado que se ofereceu para negociar a indenização fornecida pelo governo para as famílias que sofreram perdas em 11 de setembro. Mas, existe um preço pela vida? Qual parâmetro faz a história de um homem usando gravata ser mais valiosa que a da mulher que trabalhava incansavelmente limpando os andares do prédio? O dinheiro é capaz de cicatrizar o buraco deixado pela tragédia? Existe uma equação matemática para colocar um código de barras em cada corpo?
Quanto Vale? se destaca pela construção da noção de que cada vítima do atentado era uma pessoa com nome e amores, e que há uma distância incalculável entre a humanização e meros dados dentro de uma planilha. Para conseguir o acordo, Feinberg precisou ouvir as vítimas, estar ao lado delas, entender o que cada uma tinha a dizer. Não se tratava do dinheiro na conta bancária, mas sim da mínima dignidade e conforto para os duros passos do luto. O drama agoniza em memória daqueles que partiram e pede mais respeito à dor alheia. – Ana Júlia Trevisan
Escape Room 2: Tensão Máxima (Escape Room: Tournament Of Champions, Adam Robitel)
Não tem muita coisa para se esperar de uma sequência de algo como Escape Room. O filme de 2019 é engenhoso e garante uma boa diversão, mas não há absolutamente nada de interessante fora das quatro paredes dos jogos. Seu sucessor, Escape Room 2: Tensão Máxima, surgiu quase como um Massacre Quaternário saído diretamente de Jogos Vorazes, onde os clientes misteriosos resolveram pegar aquele bando de gente traumatizada que venceu as edições anteriores e botar para se matar de novo até sobrar apenas um.
O resultado é exatamente isso que você pode prever: personagens rasos como poças, um plot horroroso e sem necessidade alguma e uma pitada de tensão muito bem-vinda através de cenários perigosos. Dessa vez, o longa conta com Holland Roden, estrela da época de Teen Wolf, Indya Moore, de Pose, e a coitada da Isabelle Fuhrman que só se mete em roubada. Esquecível, Escape Room 2 sabe que não entrou na corrida para ganhar, e ainda assim nem se esforça. – Caroline Campos
Kate (Idem, Cedric Nicolas-Troyan)
Nova aposta da Netflix no Cinema de ação, Kate acompanha um dia na vida da assassina que dá nome ao título, vivida por Mary Elizabeth Winstead. Depois de ter sido envenenada, ela tem somente 24 horas para descobrir o responsável e se vingar.
Carregado de luzes neon e referências de animes, o filme cumpre bem seu papel de entregar ação simples e despretensiosa. A direção durante os combates parece um tanto desajeitada na forma como lida com a presença de Mary Elizabeth Winstead em cena e muitos dos diálogos acabam soando bobos demais, mas não é nada que chegue a incomodar. É a diversão perfeita para aqueles sábados em que você está em casa, procurando algo para assistir que não seja muito denso. – Caio Machado
Tempo (Old, M. Night Shyamalan)
Depois de lançar o divisivo Vidro e emprestar sua psique para o seriado Servant, M. Night Shyamalan retorna ao Cinema com Tempo. Enigmático como de costume, o novo filme do diretor se centra em um grupo de pessoas que passa as férias numa praia e, no decorrer do dia, descobre que o local surte um efeito de envelhecimento precoce em seus visitantes. Poupando o espectador de um horror gráfico mais acentuado, o filme caminha na linha do mistério e do medo do desconhecido, mas ao passo que os protagonistas ficam em dia com os acontecimentos, lá pela marca dos setenta minutos, Tempo acaba entrando em um espiral de repetições dolorosas.
Obviamente a discussão sobre o valor da vida e do próprio tempo entrariam em voga, e o roteiro, assinado por Shyamalan procura esgotar os personagens de ações possíveis naquele microuniverso apocalíptico. O elenco não desaponta. Gael Garcia Bernal carrega o medo e a preocupação, Vicky Krieps recebe a egoísta tarefa de lidar com toda a carga emocional do grupo, e a dupla Alex Wolff e Eliza Scanlen emulam bem seus eus imaturos. A graciosa Thomasin McKenzie abraça a vulnerabilidade que lhe é imposta e Rufus Sewell passa por uma metamorfose de Médico à Monstro. Aaron Pierre aparece pouco, mas sua ausência é o primeiro passo para o caos. Buscando pingar todos os is, Tempo pode desagradar pelo conformismo com a ideia de conclusão mundana demais, mas a filmografia do cineasta nunca escondeu seu apreço pelo fecho narrativo mais cabível possível. – Vitor Evangelista
Maligno (Malignant, James Wan)
Depois de ter entrado no mundo dos super-heróis com Aquaman em 2018, James Wan retornou ao Cinema de terror com Maligno. Lançado nos cinemas e no HBO Max lá fora, o filme prova que o diretor ainda tem muito a contribuir para o gênero.
Na trama, Madison (Annabelle Wallis) começa a ter sonhos com pessoas sendo brutalmente assassinadas. Aos poucos, descobre que, na verdade, esses sonhos são crimes que estão acontecendo em tempo real enquanto ela dorme.
Maligno é ousado, sangrento e cheio de reviravoltas. James Wan esbanja criatividade na direção e não tem vergonha nenhuma de assumir o lado mais explícito que o terror pode oferecer. Numa época onde muitos filmes parecem envergonhados do gênero, é um grande exemplo do que o Terror tem de melhor. É só não ter medo de arriscar. – Caio Machado
Confissões de uma Garota Excluída (Bruno Garotti)
Se tem algo que apetece a Netflix, é um clichê adolescente. Então, o setor de produção do streaming no Brasil juntou sua vontade de fazer acontecer às histórias escritas por Thalita Rebouças e ao apreço que direções como as de Bruno Garotti têm pelos dramas juvenis, e pronto. Temos um novo universo teen deliciosamente familiar para conhecer numa tarde preguiçosa de sábado.
O filme da vez é Confissões de uma Garota Excluída, que sem surpresa nenhuma, divide conosco uma parte da adolescência de Teanira (Klara Castanho), personagem estritamente fiel ao título do filme que protagoniza. Poupando detalhes da história previsível, o original da Netflix é feliz em apostar na genialidade de Klara, que segura técnicas ousadas de atuação, como a quebra da quarta parede, e que desenvolve uma amizade graciosa com Davi (Gabriel Lima) e Zeca (Marcus Bessa).
Confissões de uma Garota Excluída é livre no tema que domina – até demais, beirando o cringe em alguns momentos -. Assim, ele cumpre sua missão ao brincar com seus outros personagens (figurados por Fernanda Concon, Júlia Gomes, Rosane Gofman, Kíria Malheiros e Júlia Rabello) e ao tocar em assuntos importantes de serem abordados com o público-alvo do filme (como a descoberta da sexualidade, homofobia e bullying). – Raquel Dutra
TV
Sex Education (3ª temporada, Netflix)
A terceira temporada de Sex Education continua acompanhando os personagens que já conhecemos, mas dessa vez com um pouco mais de profundidade. Logo no início, a série já é tomada por mudanças, a escola Moordale passa por uma repaginada intensa depois dos escândalos do ano anterior. E faz isso trazendo novos personagens para abordar novas pautas, dessa vez tendo um foco generalizado sobre a desinformação e a importância de criar um espaço seguro que incentive a discussão de todos os assuntos – inclusive sexualidade na adolescência.
Os personagens que já conhecemos passam por muitas mudanças nessa temporada, aqui os fãs aprenderam a amar quem desprezavam, e enxergar um novo lado, mais aprofundado, de temas que já foram discutidos anteriormente no show. Ao longo dos 8 episódios, novas relações são exploradas, algumas curtas demais – e nunca perdoaremos a Netflix por isso – e outras que se estendem a tempos. Mas relacionamentos amorosos de lado, a parte mais recente de Sex Education explora um pouco mais a fundo relações de família, amizade e coletividade.
Possivelmente a melhor temporada até agora, ela faz um trabalho incrível de explorar tudo que tem direito com um carinho que transparece na tela, dando inveja de quem é adolescente hoje em dia pela sorte de tê-la como exemplo, diferente da geração que cresceu assistindo Skins. Além de tudo isso, vale mencionar uma cena que destoa um pouco do humor usual da série, mas sem que ela perca a identidade, os acontecimentos do quinto episódio são impossíveis de serem assistidas sem chorar de rir e merecem ser revistos o tanto de vezes que seu estômago aguentar. – Marcela Zogheib
Round 6 (오징어 게임/Squid Game, 1ª temporada, Netflix)
Mais novo sucesso mundial da Netflix, Round 6 acompanha vários personagens que sofrem para pagar as contas e aceitam competir em um jogo de sobrevivência para tentarem ganhar um prêmio bilionário. Porém, logo no início, descobrem que quem falhar em qualquer uma das provas é executado sem piedade.
Essa dinâmica dos desafios não é uma grande novidade no meio audiovisual e já foi explorada em obras famosas, como Battle Royale, Jogos Mortais e a franquia Jogos Vorazes. No meio delas, Round 6 se destaca por sua excentricidade na narrativa e em boa parte dos cenários, tão coloridos que parecem ter sido imaginados pela mente de uma criança.
É uma série violenta e intrigante, com dramas pessoais que são fáceis para o espectador brasileiro se identificar. Afinal, só quem é rico não está numa situação difícil no Brasil de 2021. – Caio Machado
RuPaul’s Drag Race All Stars (6ª temporada, Paramount+)
RuPaul’s Drag Race All Stars chegou ao seu sexto ano trazendo 13 queens das temporadas regulares para sua segunda (ou terceira, em alguns casos) chance de ser coroada por RuPaul. A temporada deu a largada com o Variety Show, assim como os demais All Stars, porém prometendo que haveria um “jogo dentro do jogo”. Desse modo, semana após semana, todas as participantes que eram eliminadas do programa recebiam a mensagem de que nem tudo estava acabado, o que só servia para instigar cada vez mais a curiosidade dos telespectadores para esse desafio que parecia nunca chegar.
Mesmo com a demora para o “jogo dentro do jogo”, a sexta temporada de All Stars mostrou a energia que o programa não via há muito tempo. Ao longo das semanas, queens, como Ra’Jah O’Hara e Kylie Sonique Love, que não ficaram nem perto do top 4 em suas temporadas originais, surpreenderam ao entregar humor, atuação e looks. Além delas, o show contou com o retorno de Ginger Minj, Trinity K. Bonet e Eureka!, que se destacaram ao longo de sua jornada até a final.
Mas muito além da diversão proporcionada pelo programa, RuPaul’s Drag Race All Stars trouxe um elenco bem miscigenado para competir pela Coroa, apresentando negras, latinas e asiáticas. Outro fator importante foi a temporada escalar Kylie Sonique Love e Jiggly Caliente, sendo, desse modo, a primeira a apresentar duas queens assumidamente trans. Essas questões, combinadas com o carisma, singularidade, coragem e talento das participantes, tão cobrados pela Mama Ru, fizeram com que o All Stars 6 recuperasse a força do show que ficou perdida depois da produção exaustiva de Drag Race. – Gabriel Gatti
Rick & Morty (5ª temporada, Adult Swim/HBO Max)
Incrível, mas não faço ideia do que está acontecendo. Essa talvez seja a melhor definição para os curiosos que nunca assistiram Rick & Morty. Criada por Justin Roiland e Dan Harmon, reis do nonsense, a partir de um curta-metragem — inspirado no filme De Volta Para o Futuro (1985) —, a série traz referências aos clássicos da ficção científica, mesclando cultura pop e cálculos matemáticos, além de satirizar temas contemporâneos. Pela primeira vez, o seriado foi transmitido simultaneamente no Brasil pelo HBO Max. Com excelentes sobressaltos e mais piadas retóricas e existencialistas de Rick, a quinta temporada conseguiu entregar episódios interessantes.
Neste ano, o que pareceu ficar em evidência foi a conturbada relação entre os protagonistas, ressoando pequenas faíscas ao longo dos 10 episódios e descarrilhando completamente nos minutos finais da temporada. Em Forgetting Sarick Mortshall, há o velho e batido dilema em que Morty questiona a relação com seu avô. Todavia, é preciso pontuar que o episódio traz uma espécie de redenção de Rick, assumindo no fim que a relação entre os dois é tóxica. No 10º e último episódio, Rickmurai Jack, há uma referência aos animes, com uma abertura diferente e exclusiva. Neste capítulo, os roteiristas continuam explorando a relação de Rick com os dois corvos apresentados anteriormente, algo que soa arrastado, cansativo, e, por incrível que pareça, um pouco sem graça. Mas, no fim, Evil Morty ressurge — ele apareceu inicialmente na 1ª temporada —, e dá um fôlego ao último capítulo, encerrando com um gancho para o próximo ano e mantendo em aberto seu desfecho.
De maneira geral, o quinto ano de Rick & Morty ainda é viciante e atraente, muito embora aguardar tanto tempo para o lançamento de episódios finais não parece ser uma boa ideia. Depois da transmissão do oitavo, a plataforma anunciou que o fim seria lançado um mês depois, e alguns sites divulgaram que o seriado traria um episódio especial de uma hora — inclusive, para promover esse suposto episódio especial, foram disponibilizados dois comerciais live-action, com os atores Christopher Lloyd e Jaeden Martell fazendo referências ao episódio Pickle Rick, um dos melhores avaliados na história da animação. Porém, quando o estimado dia 5 de setembro chegou, recebemos dois episódios tradicionais de 22 minutos, cujo único diferencial em relação aos anteriores foi a disponibilização conjunta. Talvez devido às altas expectativas, os episódios não entregaram totalmente o que os telespectadores esperavam. Seguimos sem fazer ideia do que está acontecendo. – Bruno Andrade
Bata Na Minha Porta (Sen Çal Kapımı, 2° temporada, Fox Turkey)
É com muita tristeza que anuncio: Sen Çal Kapımı acabou. A dizi que para sempre modelou a história das produções turcas, bateu todos os recordes possíveis e até juntou um lindo casal na vida real, teve seu tão esperado final feliz. O sentimento que fica é de saudade, tristeza e muita gratidão.
O começo da segunda temporada surpreendeu. Depois de todo o romance inicial, Eda e Serkan estavam… separados há quase 5 anos e com uma filha? Isso mesmo. Ninguém entendeu nada. Mas tudo bem, porque se fizesse sentido, não era SÇK. O que importa é que a história de EdSer continou linda e mais divertida do que nunca.
Foram novos cenários, novos personagens e novos romances. Muita novidade, mas embrulhada em um jeitinho ainda assim bem familiar. Acontece que a querida Ayşe Üner Kutlu, responsáveis pelos bölüms iniciais da série, voltou nessa reta final para entregar o desfecho de seu casal. E que desfecho lindo, viu? Eda Yildiz e Serkan Bolat podem ter ido embora, mas depois de baterem em nossas portas, viverão para sempre em nossos corações. İyi Ki, Sen Çal Kapımı. – Mariana Chagas
Q-Force (1ª temporada, Netflix)
Apesar de nós estarmos no século XXI e a comunidade LGBTQIA+ já ter alcançado diversas conquistas, a representatividade dessa minoria ainda é muito escassa. Nessa realidade, surge Q-Force, uma série de animação da Netflix que coloca pessoas queer como protagonistas. Outros desenhos, como Super Drags e Drag Tots, já haviam abordado a pauta LGBTQIA+ de forma lúdica, no entanto a história do agente secreto gay traz essa temática de outra forma, colocando a comunidade em um lugar normalmente ocupada por pessoas heterossexuais e, ainda, satiriza o preconceito infundado com a capacidade dessa minoria de exercer atividades radicais.
Com uma trama singular para os padrões, Q-Force se inicia em 2011, ano em que Barack Obama revogou a política “Don’t ask, don’t tell”, que proibia homens LGBT de participarem das forças armadas. Após ser boicotado por sua sexualidade, o agente Steve Maryweather (Sean Hayes) passa dez anos afastado do cargo, até ser recrutado, junto com sua equipe, para uma missão. Com um roteiro repleto de referências ao universo queer, a série começa lenta e vai se aprimorando conforme a história se aprofunda na personalidade do grupo de espiões. Mas apesar disso, alguns personagens foram tratados de forma superficial, como Twink (Matt Rogers), que tinha uma relação traumática com o pai, e Stat (Patti Harrison), que ficou esquecida em boa parte da trama.
Além disso, Q-Force peca ao ressaltar diversas vezes estereótipos da comunidade, sendo uma série desconstruída sem nunca ter se desconstruído realmente. Outro ponto negativo é o foco principal em pessoas gays e lésbicas, deixando de lado a representatividade trans, não-binária, entre outras. Mas apesar dessas limitações, a existência de produtos audiovisuais que coloque esse grupo minoritário como protagonista, sem que o foco seja no romance do casal, já é uma conquista. Mesmo com alguns tropeços, o grupo de espiões conseguem entreter e espalhar cultura pop para quem assiste. – Gabriel Gatti
Missa da Meia-Noite (Midnight Mass, Minissérie, Netflix)
Do mesmo criador das Maldições da Residência Hill e da Mansão Bly, Missa da Meia-Noite é provavelmente o trabalho mais pessoal já produzido por Mike Flanagan, inundado pelas questões existenciais e o terror atmosférico que marcaram as minisséries anteriores do cineasta. A exploração de temas religiosos como redenção e culpa permeiam o universo criado na pacata Ilha Crockett, onde acontecimentos macabros e milagrosos andam lado a lado após a chegada de um misterioso padre (Hamish Linklater).
Juntando boa parte do elenco regular utilizado pelo diretor em projetos anteriores, a minissérie de sete capítulos segura seus sustos, apostando na progressão do clima de medo e desconfiança entre os habitantes da ilha. A grande parte dos mistérios é revelada através de diálogos reflexivos e longos entre as personagens que podem se tornar cansativos, mas nunca entediantes, graças às poderosas interpretações de suas personagens, com destaque para Linklater, Kate Siegel, Rahul Kohli e Samantha Sloyan. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Lúcifer (Lucifer, 6ª temporada, Netflix)
Lúcifer chegou ao final completamente desgastado depois de ser arrastado pela segunda parte da 5ª temporada. Para o seu desfecho, a trama continuou patinando na inserção de novos elementos e personagens desnecessários, mas conseguiu compor episódios dolorosos e lindos – e em parte, injustos. Todos torcemos pelo protagonista de Tom Ellis durante os últimos 5 anos, e depois de tanto criar pano para manga, a série conseguiu um desenvolvimento brilhante para ele e Maze (Lesley-Ann Brandt). E tudo isso só poderia ser feito se Lúcifer terminasse no mesmo lugar onde começou: no Inferno.
A 6ª temporada é uma verdadeira montanha-russa. Entre episódios impecáveis, como o protagonizado por Amenadiel (D. B. Woodside) encarando o racismo policial ou assistir Chloe (Lauren German) e Lúcifer presos em um desenho animado, e a trama bagunçada – que trouxe do futuro a filha do casal, o final da série mexe com o coração ao traçar os caminhos de personagens tão queridos. A detetive é um ponto fraquíssimo do começo ao fim, sem nunca ter se desenvolvido – literalmente em nenhum momento da série-, mas muito pelo contrário, Dan (Kevin Alejandro) teve um final digno ao se despedir de Trixie (Scarlett Estevez), e a menina apareceu menos ainda na última temporada.
No enredo, a finalização foi bem amarrada como um todo, mesmo ao ver o protagonista sem seu final feliz, pagando um preço que deixa uma sensação horrorosa de injustiça na boca do estômago. Longe da filha e de Chloe, Lúcifer termina sua série no Inferno com seu trabalho ressignificado, agora como terapeuta das almas perdidas. O debate que a série plantou na sociedade sobre o dualismo bem versus mal perdurará, tanto quanto a personalidade sagaz e alegre de uma figura tão complexa emocionalmente quanto o diabo. Mas mais triste que tudo isso, só o penúltimo episódio da temporada, criado exclusivamente para dar o gosto de se despedir de um elenco tão rico. – Nathália Mendes
Nove Desconhecidos (Nine Perfect Strangers, Minissérie, Hulu/Amazon Prime Video)
De meses em meses, Nicole Kidman se apresenta numa nova personagem pronta para ter todos os olhares sobre ela. Em Nove Desconhecidos, ela é uma protagonista de luxo, pouco explorada até quase a reta final, mas, com uma mística envolvente que nos faz querer mais da minissérie. Nine Perfect Strangers, produção da Hulu que teve disponibilização no Brasil pelo Prime Video, é baseada no livro homônimo de Liane Moriarty, a mesma escritora de Big Little Lies. A trama se passa num acampamento isolado que promete transformar a vida dos escolhidos a dedo por Masha (Nicole Kidman).
Os nove personagens que vão para o retiro estão enfrentando alguma tragédia pessoal e em cada episódios é revelado o passado dessas pessoas e as motivações que as fizeram procurar por Masha. Em paralelo, sabemos apenas que a personagem de Kidman é motivada pelo luto. O cenário de Nine Perfect Strangers é um espaço de natureza e paz. Toda a calmaria das cenas faz contraponto com a confusão interna que seus personagens vivem, aumentando o misticismo envolvente da série. O roteiro foca na individualidade das nove pessoas, mas, sem esquecer que elas também precisam funcionar em conjunto é a base mais sólida para motivar o espectador a continuar acompanhando e desejando saber mais semana após semana. – Ana Júlia Trevisan
Monstros no Trabalho (Monsters at Work, 1ª temporadas, Disney+)
O trabalho no ramo de geração de energia para a cidade de Monstrópolis sempre foi considerado muito perigoso e importante pelos moradores da cidade. Mas essa realidade mudou depois que Mike (Billy Crystal) e Sully (John Goodman) conviveram com uma criança humana, Boo. No fim da história de Monstros S.A., a fábrica quase se fecha após a Agência de Detecção de Crianças (CDA) descobrir a maracutaia planejada pelo então CEO, Waternoose. Após a polêmica, os amigos Mike e Sully assumem o comando do ramo de energia, transformando o ambiente de trabalho em uma fábrica de risadas. Esse é o ponto de partida para a série do Disney+, Monstros no Trabalho, que retrata os desafios dessa transformação.
Dessa vez, o foco da história é em Tylor Tuskmon (Ben Feldman), um ex-aluno notável da Universidade Monstros que recebeu um convite para trabalhar na fábrica de sustos, mas ao se apresentar para o novo emprego descobre que a realidade agora é outra. Assim como o novo protagonista, a história da série também passou por dificuldades para engatar. Com os personagens já conhecidos tornando-se secundários e novos, que assumiram o papel principal na trama, sendo pouco carismáticos, a narrativa não foi tão envolvente quanto aos longas, restando apenas a nostalgia para envolver quem assistia.
Outro ponto negativo em Monstros no Trabalho foi a qualidade de renderização da imagem muito inferior à dos filmes. Desse modo, a série segue por um roteiro clichê e maçante, só restando se prender à nostalgia em que os roteiristas se prenderam com unhas e dentes. Dentro dessa narrativa massante faltou carisma dos novos personagens e protagonismo dos queridos Mike e Sully, que ficaram de escanteio dessa vez. – Gabriel Gatti
La Casa de Papel (Volume 1 de Parte 5, Netflix)
Neste mês, a Netflix lançou a primeira parte da temporada final de La Casa de Papel. Na última vez que vimos os assaltantes, a inspetora Alicia Sierra (Najwa Nimri) tinha achado o esconderijo do Professor (Álvaro Morte), e Lisboa (Itziar Ituño) tinha se reencontrado com o resto do grupo dentro do Banco da Espanha. E agora, os assaltantes precisam, mais uma vez, lidar com imprevistos e seguir o plano arquitetado pelo seu mestre, que luta pela sua sobrevivência.
A quinta parte do show continua fazendo o que sempre fez de melhor, inicia resolvendo conflitos e termina deixando gosto de quero mais. Mas, caminhando para o fim, vemos que a série usa do afeto do espectador pelos personagens e os laços criados por eles, explorando novas informações sobre o passado dos ladrões para nos deixar ainda mais envolvidos, realmente se apropriando da ideia das emoções, sem deixar a ação de lado. Apesar de um pouco repetitiva, o rumo da série não perde sentido ao caminhar para o fim e o destino incerto dos personagens ainda nos faz querer acompanhar cada segundo. – Marcela Zogheib
Brooklyn Nine-Nine (8ª temporada, NBC)
Brooklyn Nine-Nine acabou. É triste, mas é verdade. Depois de assistir aos Estados Unidos marcharem contra a violência policial em decorrência do assassinato de George Floyd, o time de roteiristas de B99 se viu na posição de reformular seu ano final e adereçar esses temas, desde a corrupção dos agentes da lei até o racismo, que mata pessoas negras diariamente. Já na primeira cena da oitava temporada, a turma de Peralta e cia se debruçam sobre os protestos do Black Lives Matter e a questão da pandemia.
Não há medo ou receio de tomar drásticas decisões com os personagens, e a saída da Rosa (Stephanie Beatriz) da NYPD faz completo sentido dentro da cabeça e das ações da personagem que acompanhamos por tantos anos. A exibição dessa temporada, com apenas 10 episódios, foi dividida em cinco quintas-feiras, com 2 capítulos transmitidos juntos. A manobra pareceu respeitar o amor dos fãs, mas, em instância maior, reconhecer que uma comédia sobre policiais americanos nesse momentos da História é algo que não deve continuar no ar.
Jake Peralta (Andy Samberg) continua sendo o farol de luz do show e seu amadurecimento como pai, ao lado de Amy (Melissa Fumero) é um dos desfechos mais doces do ano oito. Charles Boyle (Joe Lo Truglio) passa por revelações inacreditáveis, Terry Jeffords (Terry Crews) atua no reforço, assim como Scully (Joel McKinnon Miller), que passa boa parte dos episódios longe de sua alma gêmea Hitchcock (Dirk Blocker). O Capitão Raymond Holt (Andre Braugher) nunca perde a postura, mas encanta como sempre. A nada piegas series finale, que conta com a presença especial da esposa de Samberg na vida real, encontra (amém) espaço para uma singela volta da melhor personagem da série: Gina Linetti (Chelsea Peretti). Deixando saudade, Brooklyn Nine-Nine se despede com respeito e um legado e tanto. – Vitor Evangelista
Sangue e Água (Blood & Water, 2ª temporada, Netflix)
Depois de uma primeira temporada de sucesso, Sangue e Água desceu rolando as escadas da Netflix na segunda vez. A série continua adentrando assuntos urgentes e delicados, gritando ao mundo que vire seus olhos para a sociedade sul-africana, mas o assunto é sério demais para ser colocado nas mãos dos adolescentes da trama. Em um punhado de descobertas nada reveladoras, a série andou numa corda bamba durante a segunda temporada, segurada pelas duas ingênuas protagonistas Puleng (Ama Qamata) e Fikile (Khosi Ngema) – que só agora descobriram que são irmãs -, enquanto os jacarés esperavam lá embaixo.
Puleng não assistiu Pretty Little Liars e por isso não tem o mínimo de bom senso enquanto investiga entre pessoas perigosas o sequestro de sua irmã mais velha quando bebê. Seus erros de principiante, como invadir um escritório de advocacia ignorando as câmeras de segurança, por exemplo, fazem parte do mal desempenho da nova temporada. Além disso, assistir um romance adolescente na África do Sul é satisfatório pela novidade de ver um cenário incomum e uma escola onde os brancos é que são os estranhos, mas o enredo tende cada vez mais para uma versão rentável africana de Elite do que fiel aos temas delicados que aborda, como o tráfico de pessoas. E com até o dramalhão se tornando meia boca, só dá para esperar que Sangue e Água se salve em meio ao mistério. – Nathália Mendes
Star Wars: Visions (1ª temporada, Disney+)
Star Wars: A Ascensão Skywalker causou grande revolta entre os fãs da franquia ao entregar uma conclusão péssima para a trilogia que começou com O Despertar da Força. Depois disso, a Disney tentou se redimir com aqueles que adoram o universo criado por George Lucas na década de 1970. Com Star Wars: Visions, é seguro dizer que ela conseguiu.
A série animada possui formato antológico, onde, em cada episódio, um estúdio de anime diferente conta uma história dentro do universo da franquia, sem se preocupar em seguir cronologias estabelecidas. É nessa liberdade para criar, com estilos de animação diferentes, que a série brilha.
Apesar de ser focada mais nos jedi, cada um dos episódios fascinam por trazerem elementos novos àquele mundo que parecia uma grande “zona de conforto” para os fãs. Os diferentes pontos de vista nos fazem relembrar da riqueza daquele mundo e do porquê somos apaixonados pela saga. Para quem estava desacreditado, a série mostra que existem caminhos maravilhosos a serem tomados depois do fim da saga Skywalker. – Caio Machado
Controlling Britney Spears (The New York Times Presents, FX on Hulu)
A vida de uma celebridade de Hollywood parece glamurosa em frente às câmeras, mas a realidade desses artistas nem sempre reflete essa impressão, como no caso de Britney Spears. A cantora passou 13 anos sob tutela de seu pai, Jamie Spears, até que surgisse uma legião de fãs e militantes apoiando a liberdade da princesa do pop. Desse modo, surgiu a #FreeBritney que levou a produção do especial Framing Britney Spears. Com o recente abandono da tutela da cantora, houve a produção da parte dois do documentário, chamado de Controlling Britney Spears, que traz um lado mais tóxico dos anos em que a cantora passou sendo supervisionada pelo pai.
O documentário, produzido pelo The New York Times em parceria com o Hulu e o FX, permitiu ao público uma percepção mais intimista da vida que Britney Spears levava sob tutela. A cantora era monitorada a todo momento, sem liberdade para as coisas simples do dia a dia. Além disso, como já abordado em Framing Britney Spears, praticamente todo o dinheiro conquistado pela artista era administrado pelo pai. O longa ainda conta com depoimentos de pessoas que vivem dentro do cerco da cantora, que relataram os maus tratos em que Jamie Spears submetia a própria filha.
Todas essas revelações conturbadas expostas nos documentários repercutiram por todo o mundo. Depois de todo esse processo, Jamie Spears desistiu da tutela e foi substituído pelo contador John Zabel. Britney Spears ainda não leva uma vida totalmente livre de tutores, mas mesmo assim, a luta na justiça, potencializada por fãs e militantes, trouxeram os holofotes para a exploração a que a cantora era submetida. – Gabriel Gatti
Reservation Dogs (1ª temporada, FX)
Taika Waititi não cansa de adicionar títulos fascinantes na sua carreira – e não, dessa vez eu não estou falando do hit absurdo que a série What We Do In The Shadows se tornou. Escrita ao lado de Sterlin Harjo, Reservation Dogs é de longe uma das peças mais bem esculpidas do ano, abusando da dramédia e levando às telas um elenco de peso quase inteiramente indígena.
Os quatro Cães de Aluguel de Waititi, interpretados pelos jovens Paulina Alexis, D’Pharaoh Woon-A-Tai, Devery Jacobs e Lane Factor, moram em uma reserva indígena em Oklahoma, mas sonham em se mudar para Califórnia. Dando um toque especial no desenvolvimento do grupo de protagonistas, mas sem deixar de lado a riqueza de histórias dos coadjuvantes, Waititi e Harjo, ambos também nativos, criam uma narrativa excepcional sobre a universalidade da adolescência com a particularidade dos nativo-americanos.
Já renovada para uma 2ª temporada, Reservation Dogs é um afronte a baixa representatividade de histórias feitas por indígenas na frente e atrás das câmeras. É uma narrativa sutil acerca da depressão, do suícidio, do racismo e de como é quase insuportável ser um adolescente. F*ckin’ Rez Dogs. – Caroline Campos
As 24 Personalidades de Billy Milligan (Monsters Inside: The 24 Faces of Billy Milligan, Minissérie, Netflix)
Não suficiente para Billy Milligan ser inocentado pelos crimes que cometeu e ganhar um longa com James McAvoy protagonizando o personagem inspirado nele, foi necessário uma minissérie para contar sua história. Lançada pela Netflix, As 24 Personalidades de Billy Milligan é uma síntese do caos que o homem causou nos Estados Unidos desde o final dos anos 70 até sua morte em 2014. Ele foi comprovadamente identificado como o estuprador de – no mínimo – 3 mulheres, mas recebeu o diagnóstico de transtorno dissociativo de identidade na época, e rapidamente se transformou em uma celebridade. O documentário deixa dúvidas sobre a veracidade da doença e termina da mesma forma que a vida de Milligan: entediante.
A primeira vista, a minissérie arrepia. Billy aparece “trocando” de personalidade em diversas fitas gravadas logo que foi preso, e com uma história de abuso infantil tudo parece corroborar com sua mente ter fragmentado. Mas isso só dura até ele se transformar em uma celebridade americana, e pular entre diversas clínicas psiquiátricas, sempre ganhando mais privilégios. O que antes era absolutamente convincente aos poucos se torna revoltante. Mais e mais médicos contam versões diferentes, e as 7 personalidades de Billy identificadas primeiro de repente se transformam em 24 – logo que um jornalista surge para escrever um livro de sua história. E daí para o fim, é só ladeira abaixo.
Mas deveria o homem Billy pagar pelos crimes que uma pessoa completamente diferente cometeu através de seu corpo, mesmo que ele não se lembre? É uma das discussões emblemáticas que dão nós na cabeça fomentadas após esse caso. No entanto, uma pergunta mais importante é se teriam todos os membros da sociedade esquecido das mulheres vítimas de Milligan – enquanto ele ganhou minissérie. A resposta é definitivamente sim – pois, como sempre, só é interessante falar da mulher quando ela pode ser culpabilizada pela violência que sofreu. – Nathália Mendes
Chico & Caetano (1ª temporada, Globoplay)
Talvez esses sejam os dois maiores nomes da Música Popular Brasileira. Perseguidos pela censura e referenciados pelo público, Chico Buarque e Caetano Veloso são donos de ricas discografias que tocam em clamor pelos direitos civis. Os dois ícones são anfitriões da série exibida pela primeira vez em 1986, e que chegou agora ao Globoplay para celebrar os 35 anos de sua primeira exibição. Contraste entre a desinibição de Caetano e a timidez de Chico dão o tom descontraído da série de 9 episódios que contou com grandes nomes da MPB.
O musical é uma grande reunião do que a Música brasileira tem de melhor. Rita Lee, Cazuza, Elza Soares, Luiz Caldas, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, esse é apenas o começo da lista de participações em Chico & Caetano. A única que ocorreu fora do formato tradicional da gravação ao vivo, foi a participação de Tim Maia. O cantor que havia ensaiado no dia anterior não compareceu na gravação, assim, foram usadas cenas do ensaio para cobrir a falta. Gravado no palco do Teatro Fênix no Rio de Janeiro, Chico & Caetano é uma preciosidade cultural. – Ana Júlia Trevisan
Mandou Bem (Nailed It!, 6ª temporada, Netflix)
Se há alguma série injustiçada pelo Emmy que ainda não levou um troféu, essa série é Mandou Bem e sua apresentadora Nicole Byer, a primeira mulher negra na História a ser nomeada para a categoria de Melhor Apresentador de Reality ou Competição. Caso você nunca tenha assistido essa competição (ou desastre) de confeitaria, sua missão é devorar todas as edições disponíveis na Netflix neste exato momento. Em sua 6ª temporada, a série segue firme no seu estilo simples: fazer pessoas normais prepararem doces mirabolantes impossíveis de serem produzidos por meros mortais, sentar e assistir tudo dando tremendamente errado.
Para a nova temporada, a produção trouxe temas mais simbólicos para os desafios, como o quarto episódio para confeitar mulheres negras da História, sem perder a chance de fazer do querido Mr. Chocolate, o confeiteiro francês Jacques Torres, um meme, e colocando seu feriado favorito como o Dia da Bastilha no penúltimo episódio. O desempenho dos participantes – como sempre – é pavoroso, ficando ainda mais hilários com os comentários de Nicole. Mas não só da má confeitaria vive Mandou Bem. A personalidade de competidores como Alpin Hong, que participa do episódio C’est Jacques!, combina perfeitamente com o astral da série, além de ele ser apaixonado pelo francês – todos nós não somos? Assim, somos lembrados de que eles são gente como a gente, e o que é mais importante na série: se divertindo em tentar ser o menos pior. – Nathália Mendes
Ghosts (3ª temporada, BBC One)
Os fantasminhas camaradas mais amados da televisão britânica estão de volta. A série da BBC One honra sua comédia fantasmagórica mais uma vez, com seis novos episódios no melhor humor inglês possível, tramas absurdas e personagens de carisma ectoplasmático maior que muitos vivos por aí.
A dinâmica de Alison e Mike combinada com Kitty, Thomas, Julian, Lady Button, Pat, Robin, Sir Humphrey Bone, Captain e Mary ganha novas camadas no terceiro ano da produção. A mansão Button também se expande como uma personagem, com as trapalhadas e momentos de dramédia ocupando seus tantos cômodos. Aprendemos mais sobre os rostos e almas da mitologia da série, e somos introduzidos a uma misteriosa mulher, que se diz ser uma irmã perdida de Alison.
Ghosts parece incansável em suas possibilidades de fazer rir, e nunca precisa apelar para o que estamos cansados de ver; até mesmo os clichês são reinterpretados e nos entregam o efeito do refrescante. Se você quer uma nova sitcom para chamar de sua e invadir sua vida, essa pode ser a surpresa inesperada, viciante e apaixonante que você tanto procura. – Jho Brunhara
Drag Race Holland (2ª temporada, Videoland)
Ao passo que a franquia Drag Race se expande e novas temporadas surgem para além dos Estados Unidos, o alicerce do show se solidifica como um evento cultural e estratosférico. A segunda corrida holandesa corrige os erros do ano inicial, e agora sabe muito bem o que quer dizer e como dizê-lo. Com dez competidoras, o reality foi recheado de bate-boca, briga e muito talento servido na passarela.
Passando por falcatruas das protegidas do apresentador Fred (como The Countess poupada pelo histórico e Vivaldi salva depois de quebrar as regras), o elenco elevou o nível do ano passado. Tabitha se mostrou um poço de carisma e fez valer o título de Miss Simpatia, enquanto Keta Minaj foi assaltada na semifinal e ouviu seu Sashay Away para que, na hora do vamos ver, Vanessa van Cartier pudesse vencer sem ressalvas.
Segunda mulher trans coroada em Drag Race no mês de setembro (depois de Kylie Sonique Love no All Stars 6), Vanessa é um ícone de amor e afeto, além de colocar em discussões assuntos nunca antes iluminados na franquia. O Lip Sync derradeiro, contra uma formidável mas deslocada My Little Puny, deu a Vanessa o ouro olímpico e a chance de se celebrar como nasceu para ser. Bom trabalho, Drag Race Holland, nos vemos em 2022. – Vitor Evangelista