Persona Entrevista: João Paulo Miranda Maria

Diretor de “Casa de Antiguidades” comenta suas inspirações e o impacto do filme, único brasileiro na seleção de Cannes 2020, no exterior 

Arte com fundo vermelho, no lado esquerdo as palavras PERSONA ENTREVISTA aparecem na vertical, intercalando entre letras pretas e brancas, uma cor por linha, ao lado das 4 linhas, está uma colagem em preto e branco do diretor, seu busto, ele é um homem branco que usa óculos de grau e uma camiseta polo com os botões abertos. Ao lado do homem, está o pôster do filme Casa de Antiguidades, que tem o desenho de um homem usando uma cabeça de touro preta, acima do pôster, em letras pretas está escrito o nome do diretor, João Paulo Miranda Maria
O Persona entrevista João Paulo Miranda Maria, diretor do filme Casa de Antiguidades (Foto: Reprodução)

Caroline Campos e Vitor Evangelista

Como parte da cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o Persona entrevistou realizadores de alguns dos filmes presentes no festival. Nos próximos dias, os leitores do site poderão ter acesso na íntegra a essas conversas exclusivas (coordenadas pela nossa equipe), e que foram realizadas através de videochamadas. Assim, mesclamos o texto clássico narrativizado do Persona com as perguntas e respostas em forma de pingue-pongue, chegando à uma leitura mais fácil e menos carregada.

Se ficou curioso, é só acompanhar abaixo o resultado da nova empreitada da editoria: apresentamos o Persona Entrevista. E, para iniciar com o pé direito, que tal conhecer um pouco mais sobre o filme e o diretor que representaram o Brasil virtualmente em Cannes neste ano?

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Há 15 anos, o clássico de Jane Austen estreava no cinema com orgulho, mas sem preconceito

“É estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção tenham sido, até o advento de Jane Austen, não só retratadas pelo outro sexo, mas apenas de acordo com sua relação com o outro sexo”.   (Virginia Woolf)

Na foto vemos cinco mulheres numa sala, com a protagonista, Elizabeth Bennet, na frente
Da esquerda para a direita: Kitty, Sra. Bennet, Elizabeth, Lydia, Jane e Mary, ao fundo (Foto: Reprodução)

Vanessa Marques

Orgulho e Preconceito (2005), dirigido por Joe Wright, é a adaptação para o cinema da obra famosa de Jane Austen. Sob uma capa de aparente inocência, a trama retrata os costumes rígidos e patriarcais da aristocracia rural inglesa do século 19. Estrelado por Keira Knightley (Elizabeth Bennet) e Matthew Macfadyen (Darcy), o longa-metragem, que retornou ao catálogo da Netflix em seu ano de debutante, mergulha o espectador numa estética delicada e sensorial, fruto da tríade indicada ao Oscar — produção, direção de arte e trilha sonora.

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Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição: a marcha dos mortos e dos vivos

A beleza da cinematografia do longa que estreia no Brasil pela 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

O luto é uma figura de muitas faces. Talvez exista um limite para o número de pessoas amadas que podemos perder sem passarmos a excomungar toda e qualquer força superior que rege a ordem natural da vida. Quando conhecemos Mantoa, protagonista de Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição, passamos a duvidar, junto com ela, da benevolência do Deus-Todo-Poderoso. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a obra do diretor lesotiano Lemohang Jeremiah Mosese é um retrato duro e belo do clamor pela morte em harmonia com o direito à vida. 

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Walden arma uma arapuca sentimental

Walden, presente na 44ª Mostra de SP, defende a máxima de que a memória engrandece o homem, ou a mulher (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Evangelista

Não tem jeito, somos nossos maiores inimigos. Jana, a calejada protagonista de Walden, prova dessa verdade da pior maneira possível, a do coração quebrado. Ela se lembra do antigo namorado da época da adolescência, e cria um escudo ao redor da memória desse amor, mantendo-se obstinada à voltar para sua terra de origem, de onde esteve exilada por trinta anos. Parte da seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Walden é um filme simples de dor e arrependimento.

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Tudo é lento em Dias

O longa faz parte do eixo Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Jho Brunhara

Muito se discute qual é o ponto em que o cinema se divide entre entretenimento e arte, ou se é que esse ponto existe, afinal, o que é entretenimento e por que a arte não pode entreter? Dias, filme do premiadíssimo cineasta malaio Tsai Ming-Liang, adiciona uma camada ainda mais grossa para esse debate.

Em Rizi, que faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acompanhamos Kang (Lee Kang-Sheng) e Non (Anong Houngheuangsy), dois taiwaneses. Depois de um dia de preparações, os homens se encontram no quarto de um hotel para esquecer suas realidades por uma noite. Desde o começo, Dias é claro em sua proposta: esse não é um filme de cinema comercial. Antes mesmo do longa começar, vemos uma mensagem que diz ‘filme propositalmente sem legendas’. O primeiro take, uma câmera parada que grava Kang olhando a chuva, beira os dez minutos. Mais a frente, vemos Non preparando uma refeição. Câmera parada, quase quinze minutos. E segue esse padrão até o fim.

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Êxtase dissolve os limites

Depois de celebrar sua indicação ao Oscar, a roteirista de Democracia em Vertigem estreia na direção documentando sua experiência com a anorexia na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

É sempre surpreendente como algo profundamente pessoal pode ressoar de maneira tão universal. Fenômeno que é objeto de estudos das ciências humanas é também matéria-prima da arte, especialmente na que surge das mentes e mãos de uma nova geração de documentaristas brasileiras. Depois de explorar esse aspecto em produções como Elena, agora eu falo de Êxtase, documentário que participa da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo marcando a estreia de Moara Passoni – também roteirista do anteriormente citado – na direção. A partir das vivências da própria com a anorexia, o filme estabelece uma narrativa que em nada compreende as estruturas clássicas do cinema para nos conectar com outras realidades e mostrar que, mesmo com as nossas individualidades, muitas das nossas angústias podem ser similares e mesmo com manifestações diferentes, podem carregar a mesma origem.

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Não Há Mal Algum: a tirania em 4 atos

Um dos filmes mais comentados de 2020 chega ao Brasil na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos e Raquel Dutra

A filmografia do diretor iraniano Mohammad Rasoulof não tem sido uma empreitada fácil. Em seus filmes, Rasoulof critica explicitamente o autoritarismo e a tirania que se apossaram de seu país, e isso já lhe rendeu alguns problemas com seu governo. Não seria diferente com Não Há Mal Algum (Sheytan Vojud Nadarad), seu longa mais recente que chega ao Brasil como uma das obras mais esperadas da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com uma forte narrativa sobre as consequências de ser um executor de penas de morte no país, o filme venceu o Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim, mas o diretor não pôde agradecer presencialmente a honraria pois o governo do Irã não permitiu seu comparecimento à cerimônia por ter feito “propaganda contra o sistema”.

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Na verdade, Casa de Antiguidades é um abatedouro

Depois de ‘passar’ por Cannes, o filme estreou em território nacional na 44ª Mostra Internacional de SP (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos e Vitor Evangelista

O burburinho que cercou Casa de Antiguidades não veio de graça. Considerando que temas como regionalismo e horror de mal estar estão em voga desde a explosão de Bacurau, em 2019, quaisquer obras que resvalem nesse espectro sem dúvidas chamariam atenção do público brasileiro. Parte da Seleção Oficial de Cannes 2020 e exibido com exclusividade na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o primeiro longa de João Paulo Miranda Maria se mune de um misticismo tupiniquim para desconstruir e metamorfosear a vida e a humanidade de Cristovam, um homem abandonado pelo tempo e rejeitado pela comunidade em que habita.

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A Morte do Cinema e do Meu Pai Também: o cinema não morreu

O segundo longa do diretor israelense Dani Rosenberg faz parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes (Foto: Reprodução)

João Batista Signorelli 

É no mínimo curioso o fato de um filme com este título venha a ser lançado justamente no ano de 2020, onde redes de cinema caminham para a falência e as salas oscilam entre uma capacidade limitadíssima de espectadores e o fechamento total. E se A Morte do Cinema e do Meu Pai Também poderia estar anunciando nos festivais de cinema online como a 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo que essa forma de arte do modo que conhecemos está com seus dias contados, no fim ele acaba fazendo justamente o contrário. A Morte do Cinema e do Meu Pai Também revigora a arte cinematográfica não apenas por suas reflexões pertinentes a respeito do próprio ato de fazer um filme, mas também por ser tão assertivo em encontrar o universal a partir de um lugar tão íntimo e pessoal. 

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Malmkrog: não tem como argumentar com idiota

Malmkrog faz parte da seção Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Evangelista

Antes de qualquer coisa, Malmkrog é um capricho cinematográfico. Adaptação do livro Three Conversations do russo Vladimir Solovyov, o filme é centrado num grupo de intelectuais europeus que passam horas e horas debatendo e discutindo os mais diversos temas. Sem muito dinamismo visual, o diretor e roteirista Cristi Puiu traz à 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo uma produção destinada às aulas de Cinema, mas que carrega seu valor de entretenimento.

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