O sentimento de ambivalência talvez resuma muito bem aquilo que acompanhou Thom Yorke ao longo dos anos. Com o Radiohead, ele alcançou um status mainstream, mas a bem da verdade esse nunca foi o objetivo. É como se duas forças contrárias tivessem o levado ao topo, um possível reflexo de uma cultura que tende a glorificar os inconstantes. Sua indignação ganhou forma poética em canções dolorosas, mas ele nunca esteve sozinho. Ao seu lado, Jonny Greenwood serviu como força motora, dando vida através dos instrumentos aos ruídos melancólicos que Yorke vislumbrava; agora, anos depois, os dois se juntam em um projeto paralelo com Tom Skinner para dar vida ao The Smile, cuja estreia ocorreu em 13 de maio com o lançamento do disco A Light for Attracting Attention.
No início dos anos 1970, os Estados Unidos começaram a receber as primeiras respostas negativas à efervescência cultural que se deu na década anterior. Após as aberturas políticas e libertárias que se estabeleceram como força motriz da sociedade civil organizada – além de manifestações políticas profícuas e históricas –, o país começou a enfrentar uma diminuição do interesse público nas políticas liberais e de contracultura. Na esteira, ainda estava por vir a quebra da coletividade e do bem comum que nortearam os ideais hippies anos antes. O neoliberalismo ganhou força popular, Richard Nixon chegou à presidência (1969-1974) e o culto da imagem se estabeleceu – algo que Guy Debord já alertava em A Sociedade do Espetáculo(1967). Mas ao contrário do que se pode imaginar, quando nada pode acontecer, tudo é possível de novo.
Esse é o caótico cenário cultural de Licorice Pizza, 9º filme do diretor Paul Thomas Anderson (PTA), estrelado por Cooper Hoffman e Alana Haim, ambos estreantes em longa-metragens. Lançado nos EUA em novembro de 2021, a trama traz Gary Valentine (Hoffman), um jovem ator de 15 anos com verve de pequeno empreendedor, e Alana Kane (Haim), uma mulher de 25 anos perdida sobre o futuro, vivendo em meio aos conflitos sociais – e geracionais – de 1973. A obra concorre no Oscar 2022 como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original – categoria em que é um dos favoritos à estatueta.
A gente piscou, 2021 passou, e o fim do ano chegou. Mas antes de cantar hinos natalinos e adentrar no ano da mais aguardada e temida eleição da história do país, o Persona processa o mês de novembro, marcado pela já tradicional alta da inflação, pela pertinente reflexão sobre o racismo despertada pelo Dia da Consciência Negra, e pela discussão em busca de encontrar formas de combater as mudanças climáticas na COP-26. Não podemos deixar de notar também o ressurgimento dos cinemas, que voltam em peso com os lançamentos de Eternos, Marighella e Encanto.
Para o mundo da Música, o mês começou com o gosto amargo de duas terríveis tragédias. A primeira foi o acidente aéreo no dia 5 de novembro, que levou a vida da mulher que revolucionou a Música Sertaneja. Marília Mendonça será sempre lembrada por abrir as portas para as mulheres dentro do gênero musical, fundando o movimento batizado de Feminejo, e conquistando milhões de brasileiros. Da Rainha da Sofrência, jamais seremos capazes de esquecer.
Ainda no mesmo dia, um tumulto durante um show de Travis Scott realizado em Houston, no Texas, causou 10 mortes, dentre as quais a de um menino de 9 anos, além de várias outras vítimas terem sido hospitalizadas. O rapper, que já tinha um histórico de incentivar tumultos em seus shows, e a organização do festival são alvo de dezenas de processos que já somam bilhões de dólares, e a situação pareceu ainda mais indigesta com o lançamento de ESCAPE PLAN no mesmo dia da tragédia, uma canção que parece estranhamente falar sobre o caos que ele ajudou a criar.
Outro destaque musical de novembro foi, claro, a divulgação da lista de indicados ao Grammy 2022, que fez Olivia Rodrigo ter seu nome nas 4 categorias principais, e Jay-Z tornar-se o artista mais indicado na história da premiação, com 83 nomeações. Mas quem se sobressaiu este ano foi Jon Batiste, que depois de vencer o Oscar pela trilha sonora de Soul,ficou à frente de nomes como Justin Bieber, H.E.R. e Doja Cat ao acumular indicações em 11 categorias. Billie Eilish, Kanye West e Lil Nas X também se destacaram, enquanto Lana Del Rey, Miley Cyrus e Lorde ficaram de fora.
Com um olho no Grammy 2022 e outro no de 2023, o último mês também trouxe um primoroso trabalho que já tem grandes chances de se destacar entre as obras que serão indicadas no ano que vem. Estamos falando de 30, o quarto álbum de estúdio de Adele, que após 6 anos de espera, finalmente volta para mais uma vez emocionar nossos corações. E se pouco mais de meia década pareceu muito tempo, imagina os 40 anos que separavam o disco anterior do ABBA de Voyage? O álbum marca o retorno do quarteto sueco, dando fim a um dos mais longos hiatos da história da Música.
O retorno das vozes por trás de Dancing Queen e Waterloo não foi o único destaque de artistas da velha guarda no último mês. A Rainha da Voz Dalva de Oliveira e o camaleão do rock David Bowie também foram relembrados, através dos lançamentos póstumos de Rio Claro Divae Toy. Além desses, outros artistas mais recentes resolveram revisitar sua carreira com relançamentos e compilações, reunindo materiais antigos já conhecidos com faixas inéditas, como é o caso de Radiohead, Little Mix e The Wanted.
Como se as 27 faixas e quase duas horas de Dondanão fossem suficientes, Kanye West volta agora com a versão Deluxe,ainda mais extensa. Mas quem vai realmente ficar pra história ao retrabalhar sua obra é Taylor Swift, que vem realizando uma série de regravações de seus primeiros trabalhos com o objetivo de recuperar os direitos sobre as canções, e quebrou o recorde de canção mais longa a atingir o primeiro lugar do Hot 100 da Billboard, com a versão de 10 minutos de All Too Well.
E por falar em recordes, outro nome que aparece nas conquistas do mês é Summer Walker, que vem chamando a atenção na cena do R&B. A cantora, com seu disco STILL OVER IT, tornou-se a segunda artista feminina a ter 18 canções simultaneamente na mesma lista da Billboard, alcançando a própria Taylor Swift com seu Red (Taylor’s Version).
Outro destaque do gênero foi o disco do supergrupo Silk Sonic, que reúne Bruno Mars e Anderson .Paak. Enquanto isso, FKA twigs canta para o lançamento do próximo filme da série Kingsman, em uma parceria com o rapper londrino Central Lee, e Beyoncé para o filme King Richard com Be Alive, que pode lhe render uma indicação ao Oscar de Melhor Canção Original no próximo ano. Ainda no mundo do pop, Avril Lavigne volta às suas raízes do pop punk em Bite Me, e Christina Aguilera ofusca as polêmicas recentes com seu novo single Somos Nada, em que volta a cantar em espanhol.
FLETCHER se junta a Hayley Kiyoko, enquanto Charli XCX se alia a Christine and the Queens e Caroline Polachek em duas parcerias chamativas da Música pop. Paralelamente, The Weeknd disputa com Post Malone quem dois dois sofre mais por amor em One Right Now, e brilha ao lado de ROSALÍA em mais uma colaboração bem-sucedida com a espanhola. Explorando a faceta mais indie do pop, Foxes prepara o terreno para o seu novo álbum com um clima de festa-em-casa, a dinamarquesa MØ faz o mesmo com Brad Pitt / Goosebumps, e Gracie Abrams é sincera sobre seus sentimentos em seu disco de estreia, This Is What It Feels Like.
Ainda no indie, vimos os sentimentos dilacerantes de Snail Mail, e Mitski fugindo do indie rock, abraçando uma instrumentação oitentista para falar de um amor trágico. Mas quem não vai abandonar o rock é a banda IDLES, que esmaga novamente em um trabalho mais pessoal e denso. Para fechar os artistas internacionais, Aminé traz seu rap com toques de hyperpop, e dois lançamentos ao vivo chamam a atenção: a insanidade de black midi em Live-Cade, e as reinvenções de Twenty One Pilots em Scaled and Icy (Livestream Version).
Pulando do exterior para o território nacional, o pop dominou os lançamentos do último mês, com singles de várias das grandes divas do país: IZA e Pabllo Vittar abraçam a estética futurista cyberpunk em Sem Filtro e Number One. Se estiver buscando uma sonoridade um pouco mais experimental, a produtora e agora cantora BADSISTA chega detonando com seu disco Gueto Elegance, cheio de colaborações de peso e ritmos hipnotizantes.
Manu Gavassi segue os passos de Taylor Swift e Billie Eilish, lançando seu novo disco acompanhado de um filme no Disney+. GRACINHA teve ainda participações especiais de Tim Bernardes, Amaro Freitas, Alice et Moi, dentre outros. E o que não faltou foram parcerias de peso entre os lançamentos nacionais: Lagum se juntou a Emicida e Josyara formou um supergrupo com Anná, Obinrin Trio e Sara Donato.
Depois de cancelar nossa felicidade, a banda Fresno vai ter que se virar indo além do estilo de seu eterno rótulo, enquanto Tiago Iorc volta para falar mais dele mesmo do que sobre Masculinidade. Tivemos também singles de Ana Gabriela e Jade Baraldo, além dos videoclipes de Sandra Pêra e Ney Matogrosso, que vasculharam o armário para resgatar aquela Velha Roupa Colorida, e de Marina Sena, grande revelação do pop nacional do ano, e que dá agora um tratamento audiovisual para o seu hitPor Supuesto.
Se encaminhando para o final do ano, a indústria da Música já vai assentando o seu número de lançamentos, mas nem por isso o Persona deixou de mergulhar fundo em tudo que rolou para apresentar o que o mês trouxe de mais significativo. Bem vindo à décima primeira edição do Nota Musical, onde a Editoria do Persona, em conjunto com os colaboradores, traz o que, por bem ou por mal, bombou no mundo da Música em Novembro de 2021, somado ao que pode ter passado despercebido, mas que com certeza merece uma atenção especial.
Tranquilo como um vulcão, setembro chegou com um restinho de inverno que mais parecia uma sauna ao ar livre. Com temperaturas elevadas, o fim da estação tipicamente fria logo deu lugar à elegância da primavera – e nos fez lembrar de que, infelizmente, nem tudo são flores na vida. Entre erupções vulcânicas e medo de tsunamis, talvez nada tenha assustado tanto os brasileiros quanto os atos antidemocráticos que escancararam a fragilidade de nossa recente democracia. Mantendo-se firme ao lado da Cultura, e não permitindo que esses absurdos sejam esquecidos, o Persona respeitosamente introduz a nona edição do Nota Musical.
Se, no fim de agosto, Kanye West bateu recordes na Apple Music com o álbum Donda, é verdade que ele também viu essa conquista durar pouco. Com Certified Lover Boy, lançado no comecinho de setembro, Drake assumiu a posição de seu rival, garantindo o posto de álbum mais ouvido na plataforma nas primeiras 24h em 2021. Apesar dos números elevados, esse projeto se mostrou ambicioso demais, e embora alcance seus pontos altos, é um disco que peca pelo excesso de ideias. De qualquer forma, nada deslegitima o sucesso do trabalho imersivo – e cheio das dores – de Drake.
Mergulhando igualmente em si mesma, Liniker lançou o primeiro álbum solo da carreira. Repleto de referências musicais, Indigo Borboleta Anil é um bom primeiro passo para a nova etapa da cantora, que obteve inclusive o reconhecimento de verdadeiras lendas nacionais, como Milton Nascimento. E se estamos falando de trabalhos bem sucedidos ao se assumirem pessoais, não podemos deixar de mencionar o disco Dai a Cesar o que é de Cesar. Abordando do racismo à religião, o primeiro álbum de Cesar Mc é, com certeza, uma estreia muito notável para o rap nacional.
Ainda em solos brasileiros, Gaby Amarantos fica responsável por um dos melhores álbuns nacionais do ano. Com parcerias invejáveis, como Elza Soares, Alcione e Ney Matogrosso, Purakê extrapola o tecnobrega ao reunir novos sons da Região Norte do Brasil. Enquanto isso, no Nordeste, observamos diariamente uma das maiores polarizações da atualidade: com incontáveis fãs e hatersna internet, Juliette entrega doçura, leveza e origem paraibana em seu primeiro EP, mostrando que, fora do BBB, ela pode viralizar com uma inusitada relação entre preconceito e farinha. Já Luana Flores, também da Paraíba, funde tradição e inovação em Nordeste Futurista, um excelente Extended Play de estreia.
Misturas sonoras e experimentalismos, aliás, estão por toda parte. Em The Dune Sketchbook, por exemplo, Hans Zimmer aprofunda os trabalhos musicais desenvolvidos para a nova adaptação cinematográfica de Duna, chegando a criar inclusive uma espécie de som de outra galáxia. Ao mesmo tempo, Lady Gaga torna o universo de Chromaticairregular, sem deixar, contudo, de executar, ao lado de BloodPop, uma curadoria diversificada e rica para Dawn of Chromatica. O álbum de remixes tem, por sinal, um de seus auges em Fun Tonight, colaboração com a nossa Pabllo Vittar.
Mas a Mother Monster não foi a única a realizar grandes curadorias no mês. Comemorando os 30 anos de The Black Album, a banda Metallica lançou o disco The Metallica Black List, marcado por números colossais e diversas releituras das faixas do clássico, em uma reunião de artistas e bandas para todos os gostos. Embora seja um pouco inusitado, um desses nomes é J Balvin, que também se destacou em setembro ao lançar José, o sétimo álbum de estúdio da carreira. Com mais de 20 participações especiais, o CD de tom intimista do embaixador global do reggaeton conquistou um bom desempenho no agregador de notas Metacritic, além de razoáveis reproduções no Spotify.
Falando em rankings, quem também se sobressaiu no mês foi a rapper LISA. Depois de 5 anos em cena com o grupo BLACKPINK, ela finalmente estreou sua carreira solo com o singleLALISA. Faixa-título do álbum ainda inédito, a canção alcançou o surpreendente segundo lugar na Billboard Global 200. E entre hits e polêmicas, não podemos esquecer que Lil Nas X deu à luz o tão aguardado MONTERO. Colaborando com grandes nomes da Música, como Elton John, Kanye West e Miley Cyrus, o atual ícone da comunidade LGBTQIA+, e promessa para o futuro do rap, se mostrou bem eclético em seu disco de estreia.
Nessa importante valorização da diversidade, Phoebe Bridgers e a banda MUNA vivem um romance queer em Silk Chiffon. O single ganhou um videoclipe baseado no filme Nunca Fui Santa, de 1999, demonstrando que os anos 90 ainda estão em alta. Prova disso é também The 90s, de FINNEAS, canção que fará parte do álbum de estreia Optimist. Nela, o irmão de Billie Eilish canta as saudades de um mundo sem internet e com esperança no futuro, retrato explícito desse tempo passado.
Além disso, quase na mesma atmosfera, Radiohead transporta todo mundo para os anos 2000 com If You Say the Word, primeira música inédita do vindouro CD KID A MNESIA, edição especial que comemora os aniversários de duas obras clássicas da banda. Mas as novidades para os fãs de rock não param por aí. Oasis atacou em dose dupla, dando pistas do futuro álbum ao vivo Oasis Knebworth 1996 ao lançar os registros das canções Live Forever e Champagne Supernova, ambos presentes no disco. No entanto, como todo gênero musical, algumas decepções foram inevitáveis, e a culpa agora é da banda norte-americana Imagine Dragons. Em Mercury – Act 1, primeira parte de uma obra dividida em dois álbuns, o que encontramos é um trabalho sem coesão, confuso e diferente dos discos anteriores.
Mas para quem gosta dessas viagens ao passado, ouvir as novidades dos veteranos talvez seja uma boa escolha. Sendo assim, depois da dupla Lady Gaga e Tony Bennett, com o singleLove For Sale, um dos maiores destaques de setembro é com certeza a volta do ABBA. Após 40 anos ausente, o grupo pop sueco retorna com as canções I Still Have Faith In Youe Don’t Shut Me Down, anunciando um álbum novo e um show especial. Não bastasse tamanha alegria, aqui no Brasil, Caetano Veloso chega com Anjos Tronchos, primeiro gostinho de um disco de composições inéditas – o ainda aguardado Meu Coco – desde 2012.
Além desses retornos, uma junção inesperada de nomes grandiosos da Música brasileira foi uma das belas surpresas do mês. Edi Rock, Ney Matogrosso e Linn da Quebrada regravaram o clássico Nada Será Como Antes para a trilha sonora da nova temporada de Segunda Chamada, e o resultado desse encontro está bem interessante. Ainda para as telinhas, St. Vincent presenteia o mundo com três canções originais, dentre outras faixas, na trilha sonora de The Nowhere Inn. Cynthia Erivo, por sua vez, lança Ch. 1 Vs. 1, seu primeiro disco completamente autoral, que transita entre pop, soul, R&B e gospel – e reforça o lado cantora da artista indicada a Melhor Atriz em Série Limitada ou Antologia ou Telefilme no Emmy 2021.
Na mesma linha, o astro de Teen Wolf Tyler Posey estreia como artista solo no EP Drugs, trabalho no qual narra o uso exagerado e sua consequente luta contra as drogas. Já Alexa Demie, famosa por seu papel em Euphoria, dá seus primeiros passos no mundo da Música com o single Leopard Limo. E avançando no processo de recuperação de seus direitos autorais, Taylor Swift lança oficialmente a nova versão de Wildest Dreams, hit do álbum 1989, de 2014, que já tinha aparecido na trilha do filme Spirit: O Indomável. Igualmente no universo audiovisual, mas agora nos games, mxmtoon lança true colors, obra que faz parte da trilha sonora do jogo Life is Strange, e é formada por dois covers e duas composições originais.
Sendo a vida estranha ou não, é bom poder aproveitá-la. E Alicia Keys faz isso muito bem em LALA, sua parceria com Swae Lee. Criando um clipe luxuoso para o single, a cantora esbanja alegria em uma festa invejável. Algumas celebrações, no entanto, são um pouco macabras. É o caso de Charli XCX, que dança no funeral do próprio namorado no vídeo de Good Ones, música que narra o processo de acostumar-se com relacionamentos ruins. E falando em dança, é impossível não mencionar a nova canção de Glass Animal. EmI Don’t Wanna Talk (I Just Wanna Dance), a banda britânica não só aparece nas paradas da Billboard, como também cria uma atmosfera totalmente dançante, psicodélica e elétrica.
Numa onda de tantos festejos, os detalhes mais sutis da vida também garantem seus espaços especiais. Em Te Ao Mārama, Lorde dá continuidade à fase mais iluminada de sua carreira, regravando algumas faixas de Solar Power em Maori, a língua nativa da Nova Zelândia – país onde a cantora nasceu e cresceu. Já Lana Del Rey se afasta das redes sociais para focar na Música, mas não sem antes deixar um presentinho para os fãs: Arcadia, single presente no ainda tão aguardado álbum Blue Bannisters, ganhou um clipe dirigido pela própria artista. E em Angel Baby, sua mais recente balada, Troye Sivan tem o coração completamente tomado por uma paixão avassaladora.
Infelizmente, os amores estonteantes nem sempre são eternos ou duradouros. E Kacey Musgraves sabe bem disso. Após o sucesso e aclamação de Golden Hour, a cantora norte-americana vencedora do Grammy retorna com star-crossed, seu quarto álbum de estúdio. Influenciado pelo divórcio entre a artista e o músico Ruston Kelly, o trabalho foi até mesmo descrito como “uma tragédia moderna em três atos”. Aliás, nesse clima de traumas e outros elementos extremamente particulares, a rapper Little Simz se destaca ao lançar o disco Sometimes I Might Be Introvert, trabalho que pode vir a ser classificado como um dos melhores CDs do mês, ou até mesmo do ano.
Se algumas pessoas têm sorte disco após disco, outras não são tão queridas pelo destino. Ao lançar gg bb xx, o quarto álbum de estúdio da banda, LANY cai numa criação genérica e repetitiva, entregando uma obra um pouco frustrante. Ao mesmo tempo, alguns trabalhos, antes de serem bons ou ruins, são apenas totalmente inesperados. Foi o que aconteceu com o EP YELLOW TAPE, de ZAYN. Lançado sem qualquer aviso, e fora das plataformas oficiais de streaming, as três novas músicas do ex-One Direction mergulham no rap, entregando letras profundas, marcadas por indiretas e algumas questões particulares.
Aliás, lançamento inusitado foi o que não faltou no mês. Entre o EP Take a Stand (The Noam Chomsky Music Project) – homenagem ao linguista norte-americano Noam Chomsky – e a aparição da mãe de Beyoncé no clipe do primeiro single solo oficial de Chlöe, Have Mercy, o maior destaque dentre as surpresas de setembro pode ter sido facilmente Life of the Party, colaboração entre Kanye West e Andre 3000. Se essa faixa foi um dos descartes do álbum Donda, Drake achou uma boa ideia vazá-la em um programa de rádio. Aumentando a rivalidade entre os rappers, Kanye West logo deu sua resposta, compartilhando publicamente o endereço de Drake.
Mas os ecos do famigerado álbum lançado no fim de agosto não param por aí. Baby Keem, que também fez parte do disco, agora reúne seu primo Kendrick Lamar e Travis Scott no álbum The Melodic Blue. Apesar de novato, os passos de Keem têm se mostrado tão dignos quanto os de muitos veteranos. E por falar em veteranos, aqui no Brasil, Manu Gavassi inova em sub.ver.si.va – segundo single de seu quarto álbum de estúdio, previsto para sair em novembro – ao gravar, para essa música, um clipe somente em filme, sem versões digitais.
Já Anitta se tornou a primeira artista brasileira a se apresentar no VMA. Com uma performance simples e breve, marcada por uma parceria com o Burger King e muito playback, a nossa girl from Rio teve seus merecidos momentos de brilho. E embora tenha começado há menos tempo, Pabllo Vittar arrasou no clipe de Bang Bang. Homenageando a artista Mylla Karvalho, a drag queen mais popular do mundo entregou muita coreografia no vídeo dirigido por Vinícius Cardoso – e o mais recente foco dentro de seu último álbum, Batidão Tropical.
Fazendo uma cobertura cautelosa e bastante ampla do que rolou no mundo da Música no nono mês de 2021, o Nota Musical reúne os melhores e piores lançamentos musicais de Setembro. Compromissados com a valorização da Arte e de informações e dados de qualidade, a Editoria e os Colaboradores do Persona tentam trazer um pouco de respiro a quem (sobre)vive no Brasil de 2021, já que falar de Cultura nesta terra devastada é, ao mesmo tempo, luta e resistência.
O segundo semestre do ano finalmente chegou. No meio dos dias dolorosamente frios de Julho, o que faltou de calor teve de lançamentos – alguns ótimos, e outros nem tanto. As músicas e álbuns lançados no último mês já marcaram 2021, e com certeza vão entrar nas listas de playlists de quarentena. Então, para não deixar nada passar batido, o Persona lhes presenteia com mais um Nota Musical.
Se em Junho Doja Cat fugiu para seu próprio planeta, em Julho, foi a vez de Coldplay dar o fora da Terra em Coloratura. A música mais longa da banda, com 10 minutos de duração, já anima os ouvintes para sua próxima era que promete correr longe dos problemas mundanos. Outro fandom presenteado com um ótimo single foi o de Lorde. Com a melancólica faixa Stoned at the Nail Salon, a ex-sumidanos deixa cada vez mais ansiosos para Solar Power, seu novo disco a ser lançado no fim de agosto.
E entre os admiradores da neozelandesa está Conan Gray, que depois de anos cantando sobre a mesma pessoa, diz nunca ter se apaixonado em People Watching. Sério, Conan? Por outro lado, quem não esconde se sentir sufocada por um amor tão nocivo quantos seus vícios é Letrux. A artista bilíngue conta do ano mais difícil da sua vida no single I’m Trying To Quit. Ambos os cantores parecem concordar com a sueca Lykke Li quando ela diz que às vezes tudo que a gente precisa é chorar de noite em Wounded Rhymes (Anniversary Edition).
Enquanto isso, Jack Antonoff manda a tristeza embora em Take the Sadness Out of Saturday Night, o terceiro disco de seu projeto solo como líder do Bleachers. Fora do mainstream, o produtor queridinho do mundo indie pop libera toda a sua criatividade musical em álbuns ricos em referências, camadas, sentimentos e energia. Agora, para os que querem gritar no quarto às 3 da manhã, o álbum da WILLOW promete te fazer sentir tudo. O rock alternativo de lately i feel EVERYTHING é honesto em todas as suas faixas, que viajam entre seu coração partido e amadurecimento.
Além da filha do icônico Will Smith, Billie Eilish é outra jovem que liberta suas emoções para quem quiser ouvir. O impecável Happier Than Ever expressa mais sinceridade do que a cantora já fez em toda sua carreira, em um dos discos mais esperados de 2021. A queridinha do Grammy bem que merece um segundo Álbum do Ano, não é mesmo?
Já aqui no Brasil, que está mais unido do que nunca para assistir aos angustiantes jogos das Olimpíadas, nada como boa Música para celebrar o nosso país ganhando – ou perdendo. Luísa Souza comemorou seu aniversário lançando DOCE 22, tão bem recebido pelo público que entrou na lista dos Top 10 Debuts de sua semana de lançamento no Spotify Global. Mas entre acertos e bastante erros na internet, quem merece o seu título de mulher do ano é a inovadora e talentosa Linn da Quebrada. O quem soul eu? é perfeito para quem precisa viajar dentro de si mesmo, assim como todas as faixas intrigantes de Trava Línguas.
O radar de novidades nacionais do Persona também entrou na vibração do jazz de Amaro Freitas em Sankofa, curtiu o rock do novo EP de Ovedrive Saravá, e sentiu o Drama de Rodrigo Amarante. O destaque maior da música brasileira em julho, no entantanto, foi para Marisa Monte, que retorna abrindo as Portas do seu talento para que possamos entrar em seus universos e sermos abraçados por um pouco de otimismo em um ano tão infernal.
Emicida é outro que nos ilumina com sua versão ao vivo de AmarElo. Ouvir as faixas que foram gravadas em um São Paulo de 2019 nos deixa nostálgicos e ansiosos para poder logo voltar a cantar e dançar na companhia de uma multidão. Quando isso for possível, por favor, toquem Borogodó nas festas, pois todos precisamos rebolar ao som de MC Carol novamente.
Falando em festas, o Ander de Elite provou que como cantor é um ótimo ator. Torcemos para que Aron Piper perceba logo que deveria ficar apenas atrás das câmeras, e não do microfone. Ao lado do alemão na lista de decepções do mês, estão Camila Cabello e John Mayer, que pelos méritos de seus novos trabalhos, mostram que já podemos deixar seus lançamentos caírem no esquecimento.
Mas o que não dá e nem se deve esquecer é que ainda vivemos uma pandemia. E em um dos períodos mais dolorosos da humanidade, mais de 4 milhões de vidas foram perdidas. Vidas de parentes, de amigos e de pessoas amadas por outras pessoas. O sentimento tão solitário está, para o bem ou para o mal, juntando cantores e seus ouvintes em faixas que tentam explicar como é tenebroso passar pelo luto.
Em julho, Imagine Dragons e Eliza Shaddad mergulharam em letras que confortam os corações de quem perdeu alguém. A banda estadunidense faz isso através de Wrecked, prenunciando seu novo álbum, enquanto a artista indie sente o luto em In the Morning (Grandmother Song), parte importante de The Woman You Want, disco que é uma das melhores descobertas do ano.
Completando o sétimo mês de Nota Musical, a Editoria do Persona e nossos Colaboradores se uniram, ao lado dos recém-chegados na equipe de Redação, para entregar o apanhado de tudo que rolou em Julho. Para começar bem o segundo tempo desse jogo estressante que está sendo 2021 – não dava para não ter referências de esporte, sabe? -, pegue o lápis e o papel e se prepare para anotar muitas indicações musicais incríveis.
Eram pouco mais de oito horas da noite quanto Thom Yorke, Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Colin Greenwood e Philip Selway adentraram o palco da Allianz Arena, no último domingo. O Radiohead não pisava em terras brasileiras desde 2009. As vendas aquém do esperado deixou certo gosto de decepção, mas, aos primeiros acordes de “Daydreaming”, falhas humanas foram esquecidas – ou quase.
Um texto sobre OK Computer (1997) estava na agenda para o primeiro semestre deste ano. O terceiro álbum do Radiohead é um dos mais aclamados da década de 90, e não à toa: a música mescla diversas influências (DJ Shadow, Pink Floyd, R.E.M, Can) em um produto grandioso e distinto, enquanto as letras já adiantavam a ansiedade e isolamento proporcionados com a chegada da era digital – sem contar os belos clipes e o encarte críptico. Continue lendo “Radiohead, a era digital e o fator humano”
Desde que o Radiohead, no último natal, enfim interrompeu o longo hiato silencioso de quase cinco anos pelo qual a banda atravessava, algo além das canções chamou a atenção: a relação delas com a sétima arte. “Spectre” era uma música rejeitada para a trilha do último filme da franquia James Bond, “Burn the Witch” veio ilustrada com uma animação que remete ao filme O Homem De Palha e, por fim, “Daydreaming” ganhou um belo videoclipe dirigido pelo diretor Paul Thomas Anderson. Todavia, quando o aguardado novo álbum da banda enfim foi lançado no último dia 8, um outro filme, bem distante do sucesso dos supracitados, veio à tona. Continue lendo “Um mergulho no retorno cinematográfico do Radiohead”