Pele, ossos, órgãos, sangue e história. São esses cinco elementos que compõem a unidade de um corpo. Matéria física, esse conjunto ganha diversas traduções paradoxais no nosso dia a dia, sendo conhecido como‘casa da alma’,‘templo da mente’ e múltiplas variações que, nas entrelinhas, resumem um corpo como o espaço palpável que abriga o intocável mundo das ideias, como diria Platão. Mas, longe de definições rasas: “O que pode um corpo?”. Em cenas dinâmicas, Corpo Presente responde.
Em seu segundo álbum, Vício Inerente, Marina Sena apresenta uma evolução em relação ao seu álbum de estreia, De Primeira, que fez tanto barulho no cenário brasileiro em 2021. Com influências de gêneros como reggaeton, drill, trap e funk, a artista experimenta novas sonoridades e se arrisca em texturas eletrônicas, resultado de uma colaboração estreita com seu produtor Iuri Rio Branco, que a acompanha desde o início. Aqui, a cantora apresenta um som mais maduro e coeso, consolidando sua posição no cenário pop nacional.
Uma família negra de Minas Gerais navega por um Brasil incerto e nebuloso, afetado pela eleição de um presidente que representa o oposto de quem são. O véu de mundanidade da trama, escrita e dirigida por Gabriel Martins, chamou atenção por onde passou, sendo condecorada em Sundance e em Gramado, chegando, enfim, às portas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que escolheu a obra como a representante nacional na corrida pela estatueta de Melhor Filme Internacional no Oscar 2023.
Não é de hoje que a atribuição de que as comédias têm a obrigação moral de nos fazer rir caiu por terra. Diante dessa sentença, podemos citar inúmeros exemplos de produções que ultrapassam tanto o espectro do riso quanto o do choro, caminhando desde a britânica viciada em sexo até o americano bigodudo que vira treinador de um time da Inglaterra. E, se nem a essas produções é convencionado mais esse papel, quem dirá a um dos personagens principais quando o assunto é provocar riso.
Depois de Coringa, a velha história do palhaço infeliz que provoca alegria apenas no público se tornou mais do que batida, talvez até ultrapassada e irremediavelmente rasa. Mas, anos antes da produção de Todd Phillips, o ator Selton Mello trouxe uma fábula semelhante para as telonas. Pela segunda vez no posto de diretor de um longa, ele aproxima essa narrativa conhecida de forma imensurável, não apenas por decidir ambientá-la no estado de Minas Gerais, mas por dar luz a um caminho profundo sobre o próprio eu, originando uma produção que não poderia ter outro nome se não O Palhaço.
Livremente inspirada no livro-reportagem Holocausto Brasileiro de Daniela Arbex, Colônia é a nova aposta do Canal Brasil. A série produzida e dirigida por André Ristum é um retrato sensível sobre o hospício em Barbacena, Minas Gerais, que vitimou mais de 60 mil pessoas no último século. Dividida em 10 episódios, a produção explora personagens ficcionais que reconstroem o horror vivido pelos internos do maior manicômio do país.
Crônica da Casa Assassinada, lançado em 1959, assim como vários romances eternizados, contempla o fim da tradição familiar. Mas, ao contrário de clássicos como Os Buddenbrook e Cem Anos de Solidão, o romance não ficou marcado na literatura brasileira como deveria. A reedição pela Companhia das Letras é apenas o ponto de partida para a reparação que o autor merece. O crédito, muito merecido, de Lúcio Cardoso é visível pela maneira com que ele examina o interior da aristocracia mineira e sua decadência.