Não Se Preocupe, Querida chegou aos cinemas brasileiros no dia 22 de setembro (Foto: Warner Bros.)
Ana Laura Ferreira
Para além de roteiro, atuação, direção e produção, parte importante do que faz um filme ser ou não um sucesso quando entra em cartaz é o seu marketing. Mas o que acontece quando aqueles que encabeçam a obra estão tão preocupados com sua imagem na mídia que o longa fica em segundo plano? A resposta para isso pode ser facilmente vista e destrinchada com o desenvolvimento de Não Se Preocupe, Querida, dirigido por Olivia Wilde e protagonizado por Florence Pugh, que tem seus pontos positivos contados nos dedos de uma mão.
O longa foi exibido no Festival de Veneza e teve uma pré-estreia presencial no Brasil, na seção Perspectiva Internacional da 46ª Mostra SP (Foto: Netflix)
Bruno Andrade
O que parece ser unânime em relação a Alejandro González Iñárritu é que ele nunca se esforça em agradar. Disso surgem virtudes e defeitos: ele pode criar obras originais e autênticas, com refinado valor estético, mas também pode cair no escárnio, na decepção, na epopeia que pode ser o ego de um diretor. Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades parece ser o meio termo entre essas duas situações. Com uma trama que se propõe a traçar a história de um renomado jornalista e documentarista mexicano, Silverio Gama (Daniel Giménez Cacho) – personagem marcado por uma profunda crise existencial –, o longa integrou a seção Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Leonor Jamais Morrerá faz parte da Competição Novos Diretores na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Arkeofilms)
Caio Machado
O Cinema é capaz de mostrar mundos fantasiosos, realidades alternativas, novas perspectivas de grupos marginalizados da sociedade… As possibilidades são infinitas. No caso de Leonor Jamais Morrerá, produção filipina que faz parte da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a Sétima Arte é utilizada como meio de reconciliação entre mãe e filho.
Na trama, Leonor Reyes (Sheila Francisco) já foi uma figura consagrada do cinema de ação filipino, responsável pela criação de uma série de filmes de sucesso, mas agora sua família sofre com dificuldades para pagar as contas. Após ver o anúncio de um concurso de roteiros no jornal, ela decide continuar um esboço inacabado sobre a jornada de Ronwaldo (Rocky Salumbides), que busca vingança pelo assassinato de seu irmão. Enquanto a imaginação ajuda Leonor a escapar das dificuldades da vida real, um acidente envolvendo a queda de uma televisão a deixa em coma, transportando-a para dentro da obra inacabada. Agora, ela pode descobrir o melhor final para a história.
Irlandesa radicada em Nova Iorque, Charlotte Wells impressionou Cannes e Toronto antes de trazer Aftersun para vencer a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra de SP (Foto: MUBI)
Vitor Evangelista
Trabalhar o conceito da memória na Arte é uma artimanha e tanto. Para evocar o sentimento que viveu há cerca de duas décadas, é atrás das lembranças que vai a cineasta Charlotte Wells na confecção de Aftersun. A trama reflete um episódio experienciado pela irlandesa no fim dos anos noventa: uma viagem de férias à Turquia ao lado do pai, e seu apreço pela imagem como instrumento de ternura e captura do tempo.
A pequena Sophie (Frankie Corio) é a bússola do longa de estreia de Wells, parte da Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e eleito o Melhor Filme pelo Júri com o Troféu Bandeira Paulista. Ao lado do pai Calum (Paul Mescal), ela comemora o aniversário de 11 anos entre o quarto de hotel, a piscina, o oceano e as muitas caminhadas pelo ensolarado país euro-asiático, gravando as aventuras por meio de uma filmadora miniDV.
Depois de vencer Cannes com The Square, Ruben Östlund repete o feito com Triângulo da Tristeza, exibido na Perspectiva Internacional da 46ª Mostra de SP (Foto: Diamond Films)
Vitor Evangelista
Ruben Östlund não se preocupa em soar presunçoso ou em talhar o discurso com o intuito de mastigar a jugular que atinge. O sueco, que levou para casa sua segunda Palma de Ouro meses atrás, chega em Triângulo da Tristeza num patamar de sátira e escárnio para além do já apresentado em seu currículo no Cinema. Parte da Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, seu premiado filme está interessado em caçoar.
Participando da seção Perspectiva Internacional, Você Tem Que Vir e Ver é um dos dois filmes de Jonás Trueba na 46ª Mostra Internacional de Cinema, junto de Quem os impede (Foto: Bendita Film Sales)
Jamily Rigonatto
Um piano emite sons leves que caracterizam todo o plano de fundo da cena com a suavidade misteriosa dos clássicos. A câmera se estabiliza nos rostos dos quatro personagens da história, e é com o foco nas feições brandas que Você Tem Que Vir e Ver revela ter algo para nos contar. Entorpecidos pelas notas musicais, Elena (Itsaso Arana), Daniel (Vito Sanz), Guillermo (Francesco Carril) e Susana (Irene Escobar) parecem virar o lar de todos os questionamentos do existir. O filme, dirigido por Jonás Trueba, faz parte da categoria Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, e desenhado em tons primaveris, se desmancha em um retrato cotidiano e intimista.
Protagonista do vencedor do Oscar O Apartamento, Taraneh Alidoosti é figura central de Os Irmãos de Leila, parte da Perspectiva Internacional da 46ª Mostra de SP (Foto: Iris Film)
Vitor Evangelista
Imagine a família Roy de Succession, mas ao invés de magnatas bilionários, eles são pobretões, sem um tostão furado no bolso e em constante pé de guerra pela mísera das migalhas. Essa é a ambientação do iraniano Os Irmãos de Leila, premiado com o louro da crítica em Cannes e apresentado na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Perspectiva Internacional.
Vencedor do Prêmio do Público da seção Horizontes Extra do Festival de Veneza, Nezouh participa da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Perspectiva Internacional (Foto: MK2 Films)
Vitória Gomez
Zeina, Mutaz e Hala são os últimos moradores de Damasco e têm horas para sair da cidade sitiada antes que esta seja invadida. A família composta por pai, mãe e filha permaneceu no local durante o cerco, mas encarou a decisão de deixar ou não seu lar quando um míssil abre buracos na moradia e os expõem ao mundo sem a segurança de suas quatro paredes. É através do olhar inocente e esperançoso de Zeina, de 14 anos, que acompanhamos o dilema do trio de Nezouh, que integra a seção Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Inventário, dirigido por Darko Sinko, faz parte da seção Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: December)
Caio Machado
A produção eslovena Inventário, presente na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, possui uma premissa simples, mas instigante. E se, em um dia normal, alguém tentasse atirar em você, dentro da sua casa? É isso que acontece com Boris (Radoš Bolčina) em uma noite, enquanto lê um livro em seu escritório. Ele não se machuca, mas leva um grande susto. A partir daí, o homem de meia idade parte em uma jornada de obsessão, examinando todas as suas relações sociais para tentar descobrir quem foi o (ou a) responsável pelos tiros.
Escolha do Paquistão para a disputa do Oscar 2023, Joyland integra a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra de SP (Foto: Khoosat Films)
Vitor Evangelista
Sozinhos em um quarto escuro da noite paquistanesa e iluminados apenas pela luz neon em formato de flores e borboletas que beijam seus corpos, Haider (Ali Junejo) e Biba (Alina Khan) não conseguem encostar um no outro. A tensão que os envolve é forte demais para isso. Mas, quando o homem toma coragem e estica o braço a fim de pegar um copo d’água da mulher, uma faísca atravessa o ambiente, quebrando o vidro e, junto dos cacos, a barreira que existe entre ambos.
Essa é apenas uma pequena porção do que serve Joyland, filme presente na Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e representante do Paquistão no Oscar 2023. Primeira produção do país a integrar a seleção de Cannes, ele foi além das expectativas e venceu dois prêmios em terras francesas: o Grande Prêmio do Júri da seção Um Certo Olhar e a Palma Queer, destinada a obras que articulam temas e personagens LGBQIA+ com maestria.