40 anos de Paris, Texas: a obra-prima de Wim Wenders que desconstruiu o sonho americano

Imagem do filme Paris, Texas. Tem uma pessoa na imagem aparecendo da cintura para cima. No centro está Jane, uma mulher jovem e branca. Ela tem cabelo loiro na altura do pescoço, tem olhos castanhos e veste um suéter rosa felpudo. No fundo tem uma parede com uma porta e uma janela, o fundo também é rosa.
Lançado em 1984, Paris, Texas é uma das obras-primas dirigidas Wim Wenders (Foto: Argo Films)

Nathan Sampaio

Um dos conceitos mais famosos do século XX é o American Way of Life. Criada pelo mercado publicitário no pós-guerra e propagada durante a Guerra Fria, essa expressão prega o estilo de vida estadunidense, marcado pelo trabalho árduo, conquista de bens materiais e construção de uma família feliz. O propósito era vender um imaginário de como seria a vida nos Estados Unidos para os outros países. Porém, essa fantasia se distancia – e muito – da realidade. Diversos filmes expõem isso, um dos mais belos e profundos é Paris, Texas, que completa 40 anos em 2024. 

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John Wick 4: Baba Yaga é um épico de ação que redefine riscos

Cena do filme John Wick 4: Baba Yaga. John Wick em uma capela, protagonista da saga de filmes de mesmo nome, interpretado por Keanu Reeves. Um homem branco de cabelos longos na altura do ombro que veste um terno totalmente preto. Ele está andando de costas para o altar de uma capela com várias velas acesas em castiçais ao seu redor. A exibição está ao nível de sua cintura mostrando uma passarela cercada de cadeiras em que a frente está um homem sentado.
Keanu Reeves, conhecido por participar de vários filmes de ação e ser referência no gênero, chegou a doar parte de seu salário para a equipe de efeitos especiais de Matrix (Foto: Lionsgate)

Henrique Marinhos

John Wick 4: Baba Yaga reflete e pode ser definido pelo seu subgênero neo-noir, em sua exploração das complexidades do ser humano, desde seus conflitos internos até sua moral ambígua no contemporâneo. Ainda que a subcategoria o descreva tão bem, a ação e o suspense se sobressaem em função de sua construção, tanto pela direção de Chad Stahelski, à atuação do veterano Keanu Reeves. Em contrapartida às motivações triangulares – de construção simples, capazes de suportar grandes tensões e únicas –, todo desenrolar da narrativa segue a busca do protagonista pela vingança de um passado e uma esperança destruídos em atos simplórios em sua prequela, que ocasionaram uma sequência de desestruturações de escala mundial, reais e fictícias.

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1899 tenta, mas está longe de superar Dark

Cena da série 1899. Nela, há um homem branco com cabelos pretos vestindo sobretudo preto olhando para a esquerda, lado em que está na foto. No centro, há uma mulher branca com cabelos ruivos e que veste um vestido na cor marsala. À direita, está um homem branco, com cabelo castanho liso e barba. Ele veste um colete preto sobre uma camisa de manga cinza. O fundo da cena é desfocado.
Em 1899, Baran bo Odar e Jantje Friese repetem fórmula na tentativa de se consagrarem novamente com uma das séries mais assistidas da gigante do streaming (Foto: Netflix)

Felipe Nunes

Drama, artefatos misteriosos que moldam a realidade, o espaço e o tempo, ficção científica e um casal alemão que revolucionou a história da Netflix ao lançar uma das séries de língua não inglesa mais consumidas na plataforma. Essa é a receita de Dark e quase foi a do novo lançamento do streaming, 1899. As comparações são sempre injustas, mas o tempo de produção e investimento superior para a segunda obra de Baran bo Odar e Jantje Friese fez o seriado prometer mais do que podia cumprir. A associação é inevitável. 

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Em Triângulo da Tristeza, ricaços escrevem ‘Deus’ com ‘d’ minúsculo e caem em tentação

Cena do filme Triângulo da Tristeza, mostra um homem branco, sarado e sem camisa, tirando uma foto com um celular em posição horizontal. Ao fundo, vemos o céu e está de dia.
Depois de vencer Cannes com The Square, Ruben Östlund repete o feito com Triângulo da Tristeza, exibido na Perspectiva Internacional da 46ª Mostra de SP (Foto: Diamond Films)

Vitor Evangelista

Ruben Östlund não se preocupa em soar presunçoso ou em talhar o discurso com o intuito de mastigar a jugular que atinge. O sueco, que levou para casa sua segunda Palma de Ouro meses atrás, chega em Triângulo da Tristeza num patamar de sátira e escárnio para além do já apresentado em seu currículo no Cinema. Parte da Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, seu premiado filme está interessado em caçoar.

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Nada de Novo no Front: um filme de guerra humanista em que falta humanidade

Cena do filme Nada de Novo no Front. No lado direito da imagem, temos um homem branco não identificado, vestindo blusa preta, touca cinza e uma máscara facial branca. Ele está abraçando o ator Felix Kammerer, um homem branco de expressão triste, vestindo um casaco cinza e um capacete preto. Ao fundo, temos algumas estacas e o resto do cenário está desfocado. A cena acontece durante o dia, mas a foto está tratada em preto e branco.
Na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a nova versão de Nada de Novo no Front, exibida na seção Perspectiva Internacional, mantém a mensagem anti-guerra do material original (Foto: Netflix)

Nathan Nunes 

Nada de Novo no Front é um livro escrito por Erich Maria Remarque, baseado nas suas próprias experiências como veterano alemão na Primeira Guerra Mundial. Publicado em 1929, o texto não demorou a ser transposto para o Cinema, com a adaptação Sem Novidade no Front sendo lançada um ano depois. Dirigido por Lewis Milestone, o longa fez tanto sucesso que venceu o Oscar de Melhor Filme em 1931, consagrando-se como a primeira adaptação literária a conquistar essa honraria, bem como a primeira vitória conjunta da categoria principal com o prêmio de Melhor Diretor. Agora, 91 anos depois, o diretor Edward Berger (Patrick Melrose e Your Honor), em parceria com a Netflix, traz uma nova versão de mesmo nome do material base para o streaming, exibida na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na seção Perspectiva Internacional. 

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Um Homem: dores e masculinidade em pauta

Cena do filme Um Homem. No centro da imagem, temos o ator Dylan Felipe Ramirez olhando sua reflexão em um espelho. Dylan é um jovem pardo, de cabelos pretos escuros, tatuagens perto das orelhas e olhos castanhos. Ele está vestindo uma jaqueta azul escura com detalhes em branco, em cima de uma camiseta também azul escura. O espelho é revestido de madeira marrom, provavelmente embutido a um guarda roupa da mesma cor. O cenário é uma parede esverdeada e desgastada. A cena acontece durante o dia.
Um Homem é um dos participantes da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na Competição Novos Diretores (Foto: Cercamon)

Nathan Nunes

A premissa de Um Homem , que participa da Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é simples. Carlos (Dylan Felipe Ramiréz) quer comemorar o Natal junto de sua família, da qual ele é separado por viver em um abrigo para jovens no centro de Bogotá, na Colômbia. O problema é que cada um dos três integrantes está em um lugar diferente: sua mãe está distante e sua irmã trabalha como prostituta para pagar uma dívida que nem mesmo o jovem tem condições de quitar. Assim, acompanhamos o protagonista em seu dia a dia de angústia e sofrimento, forçado a se enquadrar em um perfil de masculinidade com o qual ele claramente não se identifica. 

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As realidades do 27º Festival É Tudo Verdade

Arte retangular horizontal de fundo azul com estrelas azul claro. Lê-se o texto: “as realidades do 27º Festival É Tudo Verdade It’s All True”. Foi adicionado o olho do Persona no canto inferior direito, com a íris em azul claro.
Entre os dias 31 de março e 10 de abril, o Persona acompanhou o 27º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de abertura: Raquel Dutra)

Está aberta a temporada de festivais na cobertura do Persona. Entre os dias 31 de março e 10 de abril, a realização do 27º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade inaugurou o ano para as nossas aventuras cinematográficas. Depois de um 2021 marcado pelo Cinema das mulheres, da cidade maravilhosa, das experimentações e fantasias, 2022 se inicia com a única coisa da qual não podemos fugir: a realidade.

Mas na verdade, o espectro contemplado pelo maior festival de documentários do mundo era muito desejado para integrar o horizonte das nossas experiências. Dessa vez, o anseio se tornou possível graças ao formato de realização do É Tudo Verdade, que aconteceu de forma totalmente gratuita e híbrida, sendo presencialmente nos cinemas das capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, e virtualmente através da plataforma de streaming do festival e das dos parceiros Itaú Cultural Play e Sesc Digital. 

A seleção é tão vasta quanto o tema que a define: 70 filmes, que entre curtas, médias e longas-metragens, se dividiram nas mostras competitivas e nas demais categorias de exibição (Foco Latino-Americano, Sessões Especiais, O Estado das Coisas, Clássicos É Tudo Verdade). Trazendo o Cinema documental realizado em mais de 30 países, o alcance do É Tudo Verdade é reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, de forma a classificar diretamente os filmes vencedores dos prêmios dos júris nas Competições Brasileiras e Internacionais de Longas/Médias e de Curtas Metragens para apreciação ao Oscar do ano que vem.

À distância, o Persona selecionou 25 títulos a fim de compreender a seleção de 2022, que elegeu como os homenageados da vez Ana Carolina e Ugo Giorgetti, dois dos nomes mais importantes do Cinema de não-ficção brasileiro. As obras de abertura propuseram uma reflexão sobre o passado, presente e futuro da Sétima Arte, enquanto o encerramento do festival ficou na responsabilidade de um dos premiados pelo público e pelo júri da edição mais recente do Festival de Sundance.

A curadoria do Persona conferiu todos eles, além das obras vencedoras e demais títulos que chamaram a atenção de Bruno Andrade, Enrico Souto, Raquel Dutra e Vitor Evangelista. O resultado dessa aventura você pode conferir abaixo, e em meio a experiências milagrosas, figuras históricas, lutas urgentes e muitas reflexões filosóficas, vale o aviso: não se esqueça que é tudo verdade.

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Sou feliz porque sei, com certeza, que ela me ama: 90 anos de Senhoritas em Uniforme

Cena do filme Senhoritas em Uniforme de Leontine Sagan. Nela está Fräulein von Bernburg, interpretada por Dorothea Wieck, e Manuela, interpretada por Hertha Thiele. Ambas são mulheres brancas e se encaram. Fräulein von Bernburg segura o rosto de Manuela com as mãos, inclinando-o para cima. A fotografia é em preto e branco com filtro granulado. Os tons escuros se esfumam junto do branco que parece brilhar. A proporção da tela é de 1.20:1.
Precursor do Cinema queer, Mädchen in Uniform (título original de Senhoritas em Uniforme) foi a estreia da curta filmografia de Leontine Sagan [Foto: Deutsche Film-Gemeinschaft]
Ayra Mori

1931, dentro de um internato, se deu o primeiro beijo lésbico reconhecido pela história da Sétima Arte. O título é honra, não dos tímidos beijos trocados por um casal de mulheres arlequinamente dançantes em Le départ d’Arlequin et de Pierrette (1900), da pioneira mãe do Cinema, Alice Guy-Blaché, ou do sex appeal de um beijo sáfico roubado por uma Marlene Dietrich andrógina em Marrocos (1930), mas sim, por direito, de Senhoritas em Uniforme (1931). Marco do audiovisual LGBTQIA+, a produção alemã determinou os destinos da ficção queer ao longo de seus 90 anos, revelando com sensibilidade o florescer do desejo lésbico. E realizado por uma equipe de mulheres, na desobediência, é alcançada a libertação.

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Annette é um conto de fadas turbulento

Cena do filme Annette. Vemos homens, mulheres e crianças parados na calçada de uma rua de Los Angeles. As que estão na frente estão ajoelhadas, olhando para cima. As pessoas no fundo estão em pé. Duas delas, uma mulher branca com cabelo loiro e uma mulher negra, conversam no canto superior esquerdo.
O musical liderado por Adam Driver e Marion Cotillard faz parte da Perspectiva Internacional da 45ª Mostra de Cinema de SP (Foto: MUBI)

Caio Machado 

O cinema de Leos Carax sempre teve uma relação íntima com a Música, indo da belíssima caminhada noturna ao som de David Bowie em Boy Meets Girl ao “intervalo” com uma impressionante versão instrumental de Let My Baby Ride em Holy Motors. Nesse sentido, Annette, novo trabalho do cineasta francês exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, extrapola esse laço com a Música de uma forma nada convencional. 

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Ahed’s Knee tem os olhos maiores que a boca

Cena do filme Ahed's Knee mostra o close-up de um homem e uma mulher muito próximos um do outro, se olhando nos olhos.
Coprodução entre Itália, Alemanha e Israel, Ahed’s Knee faz parte da Perspectiva Internacional de Mostra de SP (Foto: Fênix Filmes)

Vitor Evangelista

Nascido como um exercício de autorreflexão e uma carga exorbitante de sentimentos, o filme Ahed’s Knee chama atenção por uma série de fatores. Primeiro, vem da mente de Nadav Lapid, cineasta que viu seu longa anterior, Synonymes, vencer dois importantes prêmios de Berlim. Segundo, pois o indeciso Júri de Cannes 2021 o condecorou em um empate com Memoria. Terceiro, pois sua chegada no Brasil pela 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo carimba o passaporte já lotado de festivais por onde viajou.

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