Medusa, meretriz, monstro, mulher

Cena do filme Medusa. A atriz Mari Oliveira está no centro. Ela é uma mulher negra, de cabelos escuros e presos e usa uma blusa rosa. Seu rosto está com uma espécia de argila verde e ela espalha com as duas mãos. Ao fundo, vemos a cabeceira da cama e uma parede com fotos.
Medusa agraciou a seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, mas apenas em sessões presenciais (Foto: Bananeira Filmes)

Caroline Campos

Por Poseidon, Medusa foi violentada. Por Atena, foi castigada, seus cabelos viraram cobras e seu olhar se tornou mortal. Por Perseu, a já criatura foi decapitada e transformada em arma de guerra. Pela História e pela Arte, foi vilanizada, perseguida e satirizada. Mas, no Brasil de 2021, Medusa foi a escolhida por Anita Rocha da Silveira para intitular seu segundo longa-metragem, que, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, honra, com moldes trágicos e atuais, a trajetória da bela sacerdotisa amaldiçoada.

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Pedregulhos e o poder silencioso dos oprimidos

Cena do filme Pedregulhos. A imagem mostra um homem e um menino, ambos indianos, em pé sobre um chão de areia, a uma certa distância um do outro. No fundo há uma pequena cabana com diversos produtos pendurados. O cenário é seco, mas com verde nas copas de algumas árvores.
Pedregulhos integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Rowdy Pictures)

João Batista Signorelli

Um pai, um filho, e uma árida paisagem. Estes são os três protagonistas de Pedregulhos, longa indiano selecionado para representar o país na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, e que está em exibição na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme parte de um pai alcoólatra que retira o filho da escola, forçando-o a acompanhá-lo na procura da mãe, que fugiu de casa devido à violência doméstica sofrida pelas mãos do marido. 

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A liberdade como sacrifício em O Cão que Não Se Cala

Cena do filme O cão que não se cala. Na foto em preto e branco, há um homem branco com o braço direito levantado, segurando-se em uma fina barra de ferro acima de sua cabeça. Ele possui cabelos curtos e lisos de cor preta, barba de cor preta, e veste uma blusa de cor cinza. Ele está dentro da parte de carga de um pequeno caminhão, coberto por uma lona de cor cinza clara. Atrás dele, há uma mulher branca olhando desconfiada, cuja roupa constitui-se em uma blusa com listras cinzas e uma macacão cinza. Mais ao fundo, há mais dois homens brancos, onde o primeiro, à esquerda, veste uma jaqueta de cor preta e possui cabelo preto, e o segundo, à direita, veste também uma jaqueta preta e utiliza um boné de cor branca.
Compondo a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, O Cão que Não Se Cala é um retrato fantástico de uma vida comum (Foto: Oh my Gomez)

Bruno Andrade

Pense naquele famoso discurso de paraninfo intitulado Isto é água, proferido por David Foster Wallace aos formandos do Kenyon College em 2005. Nele, lemos que a “verdadeira liberdade requer atenção, consciência, disciplina, esforço e a capacidade de se importar genuinamente com os outros”. Pronto, esse pequeno trecho pode muito bem apresentar a ideia por trás de O Cão que Não Se Cala (El Perro que No Calla, no título original), filme argentino exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, dirigido e co-roteirizado por Ana Katz.

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O outro lado do Mar Infinito atormenta uma geração

Cena do filme Mar Infinito. Na imagem, o personagem Miguel está debaixo d’água e conectado por um aparelho de oxigênio que sai do lado esquerdo da imagem. Ele é um homem branco de cabelos castanhos, está sem camisa e com o corpo e braços flutuando sozinhos, virado de lado. A máscara de oxigênio está presa no alto e lados de sua cabeça
Jorge Quintela fotografa um jovem abandonado pela própria espécie através de lentes precisamente calmas, na produção que integra a Competição Novos Diretores na 45ª Mostra Internacional de São Paulo (Foto: Bando à Parte)

Nathália Mendes

Submerso nas águas de uma piscina qualquer, Pedro Miguel (Nuno Nolasco) abre os olhos e enxerga um azul sem fim. A vastidão do desconhecido é iluminada por feixes de luzes brilhantes vindas de um mundo acima do seu, enquanto as bolhas de seu oxigênio flutuam ao redor e ele só está ali, existindo. Não há como imaginar que esse momento é mais uma tentativa do protagonista em enfrentar sua aquafobia, mas sim que o mesmo estaria tão intrinsecamente conectado com a premissa de Mar Infinito. O longa estreou na Competição Novos Diretores na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo como um filme de ficção intergalático em que um jovem luta por um lugar com a humanidade fora do planeta, mas é, na verdade, a solidão de uma geração sem rumo, afogada por uma incerteza esmagadora.

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Vire-se, seus sonhos serão frutificados no Deserto Particular

Cena do filme Deserto Particular, mostra uma mulher dentro do carro, escuro e com apenas seu nariz e cabelo iluminados pelo poste da rua.
Submissão do nosso país para o Oscar 2022, Deserto Particular estreou na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra de SP (Foto: Pandora Filmes)

Vitor Evangelista

A tarefa de selecionar, entre uma vastidão de olhares e marcas, um único filme para representar o país mundo afora não é nada fácil. Afinal, qual a fórmula secreta para a submissão perfeita? Quais atributos um longa nacional deve possuir para, de fato, ser o “mais brasileiro” possível? Em 2022, a missão é de Deserto Particular, bela produção comandada por Aly Muritiba e presente na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Já que Ninguém me Tira pra Dançar: eu também quero ser Leila Diniz

Cena do documentário Já que Ninguém me Tira pra Dançar. Ao centro está Leila Diniz. Uma mulher branca de cabelos curtos. Ela está de braços abertos. Veste um sutiã com lantejoulas e ombreiras também com lantejoulas e fios. Em segundo há dezenas de homens. A imagem está em preto e branco
Realizado em 1982 e remasterizado em 2021, o documentário inédito tem sua estreia na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Nova Era Produções)

Ana Júlia Trevisan

“Toda mulher quer ser amada/Toda mulher quer ser feliz/Toda mulher se faz de coitada/Toda mulher é meio Leila Diniz.” Os trechos compostos por Rita Lee pressupõem toda a graça e grandiosidade de Leila Diniz. Atriz brasileira, Rainha das Vedetes e transgressora pela liberdade feminina, Leila é representante de Todas as Mulheres do Mundo. Com estreia marcada para acontecer durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Já que Ninguém me Tira pra Dançar é o documentário sobre Leila Diniz dirigido por sua amiga e também atriz Ana Maria Magalhães. 

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A Felicidade das Coisas se exprime entre angústias

Imagem retangular retirada do filme ‘A Felicidade das Coisas’. Em foco, vemos o rosto de Paula, uma mulher de pele parda, cabelos da cor preta, curtos e lisos, que veste um suéter branco e vermelho, e uma camiseta branca por baixo. Ela olha para frente, séria e reflexiva. Ao fundo, vemos desfocado o pôr-do-sol tímido de um dia ligeiramente nublado.
O drama familiar em questão integra tanto a seção Mostra Brasil quanto a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Embaúba Filmes)

Enrico Souto

Uma família de classe média-baixa, desajustada, que viaja na expectativa de sair da rotina, fugir da monotonia e recarregar as energias, mas que ao chegar lá, precisa enfrentar todas as tensões que transbordam do lado de fora, dessa vez acompanhadas da frustração de que não há como escapar dos infortúnios da vida. É essa experiência, tão relacionável e tão próxima de nós, que é relatada em A Felicidade das Coisas, filme brasileiro que marca presença na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, revelando, por fim, a potência dessas pacatas relações, e o que encontramos ao investigá-las.

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O Garoto Mais Bonito do Mundo é o mais triste também

Cena do documentário O Garoto Mais Bonito do Mundo. Em preto e branco, mostra um garoto branco e loiro escondido atrás de uma cadeira de set de gravações. Nas costas da cadeira, está escrito L. Visconti, o nome do diretor.
Analisando o impacto da fama na vida de uma jovem estrela, o documentário faz parte da Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: Films Boutique)

Vitor Evangelista

1971. Luchino Visconti. Morte em Veneza. Björn Andrésen. A receita para o sucesso pode, em adição, conter os mesmos ingredientes de um trauma que se alonga por uma vida inteira. O Garoto Mais Bonito do Mundo, documentário sueco que integra a Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, tem em seu cerne a ferida aberta que a fama e o estrelato podem causar nesse alguém ainda em processo de formação.

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Tove dança nas reviravoltas rumo à Arte

Cena do filme Tove. Ao lado esquerdo da imagem, vemos a protagonista Tove, interpretada por Alma Poysti, uma mulher branca, de cabelos loiros curtos, aparentando cerca de 35 anos, vestindo uma blusa de botão verde e uma cardigan bege, com os braços apoiados em uma mesa e um lápis azul na mão esquerda. À sua frente, do lado direito da imagem, vemos uma mesa com papéis, pincéis, um cavalete e outros objetos de pintura sobre ela.
Exibido exclusivamente nas salas de cinema da capital, Tove faz parte da seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Helsinki Filmi)

Vitória Lopes Gomez

A vida é uma aventura maravilhosa e deve-se explorar todos as suas reviravoltas”. Mente e a mão por trás de um dos cartuns mais famosos do mundo, Tove Jansson se considerava uma “artista falida”. Na cinebiografia Tove, produção finlandesa exibida na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a diretora Zaida Bergroth ilumina os caminhos da escritora, pintora e ilustradora sueco-finlandesa até a criação de seus mundialmente conhecidos Moomins, que a tornaram referência mundial e um tesouro cultural do país. 

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O sofrimento transcende o tempo em Regresso a Reims (Fragmentos)

Fotografia colorida de uma família francesa. Na foto, da esquerda para a direita, há um homem de cabelos grisalhos, vestindo terno cinza e camisa branca, de braços cruzados e boca semi-aberta; depois, há um homem com cabelos pretos lisos, sorrindo de boca fechada, vestindo uma blusa azul, camisa branca e uma calça azul. Também está de braços cruzados. À sua esquerda, há uma mulher de braços cruzados, vestindo um vestido de cor verde, com uma bolsa em cor marrom pendurada em seu braço esquerdo. Ela possui um cabelo liso de cor preta, que cobre suas orelhas. Depois, há uma menina de cabelo castanho liso, utilizando um vestido de cor verde com bolinhas brancas. Ela está com os dois braços cruzados atrás das costas. Essas 4 pessoas são brancas. Ao fundo estão alguns pessoas caminhando, com bandeiras com as cores da França expostas.
Integrando a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Regresso a Reims (Fragmentos) é um recorte da história da classe média na França [Foto: Les Films de Pierre]
Bruno Andrade

Parte considerável dos conflitos geracionais consiste em renegar a vida pregressa do indivíduo que está bem diante de você, comumente associado a alguém antiquado à época. Essa ausência de visão pode transformá-lo em um ser suportável, mas diminuí-lo como ser humano. Pelo menos essa é a lição que tiramos de Pais e Filhos, de Ivan Turguêniev. A essa postura, o diretor e roteirista Jean-Gabriel Périot se opõe ferozmente, e joga luz sobre a história dos trabalhadores franceses em seu documentário Regresso a Reims (Fragmentos), exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.   

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