As faces do Cinema do Golpe, o lado oculto da primeira presidenta do Brasil e a Alvorada de Dilma Rousseff

Cena do filme Alvorada. A imagem é retangular e mostra o lado esquerdo do rosto de Dilma Rousseff. Ela é uma mulher branca, de olhos castanhos e cabelos também castanhos curtos. Dilma usa maquiagem preta no contorno dos olhos e um batom rosa cor de boca. Dilma está olhando para fora da imagem, para o lado esquerdo, com o rosto inclinado. Na diagonal direita, da metade da foto em diante, existe uma sombra escura.
Alvorada, o novo filme de Anna Muylaert e Lô Politi, registra o processo de impeachment de Dilma Rousseff de dentro do palácio presidencial (Foto: Vitrine Filmes)

Raquel Dutra

A história da política brasileira é cinematográfica por si só. Quem dera tudo o que assistimos acontecer através dos telejornais diários fossem apenas loucuras roteirizadas por mentes ardilosamente férteis, e não tema de análises profundas e urgentes de diversas produções de não-ficção. Dentre todos os eventos surreais e reviravoltas cabulosas que acontecem na capital do país e em seus centros políticos derivados, algo em específico perturba os corajosos que se dispõem a interpretar essa realidade maluca definitivamente deflagrada em 2016. Afinal, mesmo na terra conhecida por seus mandatos presidenciais inacabados, o angu da queda de Dilma Rousseff ainda tem alguns caroços. 

Aos olhos da produção documental brasileira, a análise do processo que tirou a primeira mulher eleita à presidência do Brasil de seu exercício não é resultado de obras isoladas, mas sim o centro de todo um movimento. É o chamado Cinema do Golpe, construído nos últimos anos através de uma série de produções que se propõem a abordar a queda de Dilma Rousseff e toda a crise social e política que a acompanha. Cinco anos e alguns filmes depois, a decadência do nosso ambiente democrático permanece deixando o melhor roteirista de House of Cards boquiaberto e mostrando que ainda existe o que se discutir sobre o início do declínio, desde seus ocasos, até a sua Alvorada. 

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O Caso Evandro é um marco na narrativa de crimes reais brasileiros

Aviso: o texto a seguir apresenta conteúdo descritivo de violência, podendo servir de gatilho para alguns leitores.

Cena da série documental O Caso Evandro. A imagem mostra um portão verde de madeira aberto, ao lado de uma parede pintada metade branca e metade verde, com uma faixa azul. Saindo pela porta está um menino branco, loiro, de costas, com um short estampado e uma camisa azul clara, segurando um molho de chaves. À sua frente está uma rua, com uma casa alaranjada e um muro baixo branco, notam-se algumas árvores ao fundo desta casa.
O caso do desaparecimento do menino Evandro Ramos Caetano é objeto de investigação na nova série original Globoplay (Foto: Globoplay)

Ma Ferreira

Em abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no Paraná, desapareceu o menino Evandro Ramos Caetano de apenas 6 anos. Na última vez que ele foi visto, disse que buscaria seu mini game em casa e voltaria para a escola onde a mãe trabalhava, mas nunca mais voltou. Dias depois, alguns lenhadores encontram seu corpo em um matagal. O cadáver estava sem o couro cabeludo, sem as mãos e os dedos dos pés, com o ventre aberto, sem as vísceras e em avançado processo de decomposição.

Após esse bárbaro crime é que se desenvolve a trama apresentada na nova série original do Globoplay, O Caso Evandro. A narrativa é cheia de reviravoltas, infortúnios e grandes erros que foram cometidos na investigação do que foi o mais longo julgamento nacional. Com um clima de conspiração e mistério, somos convidados a participar de uma viagem no tempo para entender o pensamento da época de ocorrência do assassinato e como as informações eram apresentadas na investigação e na mídia.

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Sweet Tooth é um vestígio de inocência e esperança em meio ao caos

Cena da série Sweet Tooth. A imagem é um pouco aberta e está situada em uma floresta muito iluminada com a luz amarela do sol, ao fundo e desfocado temos árvores de troncos grossos e bem espaçadas, com algumas plantas verde claro ao fundo no chão, há também um pedaço de uma rústica à direita e uma cerca bem artesanal em madeira com um espantalho acima e mais para trás. Ao centro, em foco e em plano americano temos Gus, um garotinho branco, de aproximadamente 8 anos e cabelos loiro médio, ele é um ser humano híbrido com cervo, por isso tem galhada e orelhas de cervo. Ele veste uma calça marrom, uma camiseta cinza com pequenos desenhos em rosa e azul, por cima há um casaco aberto de lã com a estampa pied poule em amarelo e branco, com o centro em verde com botões marrons. Atravessando seu corpo, há uma bolsa pequena cinza com detalhes em verde e com alça de corda amarela e um pedaço de couro na região do ombro. As roupas do garotinho parecem velhas e estão um pouco curtas. Gus está com uma expressão curiosa observando algo um pouco distante e mais alta que ele.
“Enquanto o mundo mergulhava no caos, outra coisa estava acontecendo. Algo extraordinário” (Foto: Netflix)

Júlia Caroline Fonte

As adaptações são uma grande polêmica do mundo audiovisual, algumas chegam ao patamar da perfeição, já outras decepcionam o fandom. Sweet Tooth com certeza se encaixa no primeiro grupo. Lançada em 4 de junho, a nova série da Netflix, que vem ganhando cada vez mais destaque da crítica, é produzida por Robert Downey Jr. e Susan Downey e traz uma proposta um pouco diferente da graphic novel que a originou, levando-a a ser uma das séries mais assistidas da plataforma em diversos países.

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Entre as safras de J. Cole, The Off-Season cumpre seu papel

Capa do álbum The Off-Season. Foto quadrada, com cenário de noite. Ao lado esquerdo da imagem é possível observar uma grande tabela de basquete, queimando em fogo de cima a baixo. Do lado direito, mais à frente, está J. Cole, homem negro, de barba e cabelos em longos dreads que se alongam até seus ombros. Ele veste uma calça e moletom pretos, com suas mãos dentro dos bolsos. Sua cabeça inclina-se para a direita, enquanto apenas parte de seu rosto é iluminado pelo fogo. Além disso, atrás da cena, vemos uma densa cortina de fumaça tomando todo o céu.
Capa do álbum The Off-Season, de J. Cole (Foto: Dreamville)

Enrico Souto

Dia 29 de dezembro de 2020, J. Cole surpreendia a todos com um post inusitado em seu Instagram, consistindo numa imagem da página aberta de um caderno. Em seu topo estava em destaque The Fall Off Era, e, abaixo, listados vários nomes de antigos e possíveis novos projetos, dispostos em uma linha vertical, denotando tempo. Acima, podia-se ler, ambas horizontalmente riscadas, dando a entender que são etapas já cumpridas, Features – em referência à corrida de colaborações que o rapper entregou entre 2018 e 2020 – e ROTD3 – aludindo à última compilação lançada pela Dreamville, gravadora fundada por Cole; uma das melhores produções coletivas que o hip-hop nos concedeu na última década, envolvendo todos os seus artistas associados e inúmeros outros colaboradores.

Mais abaixo, apresentavam-se os dizeres It’s a Boy e The Fall Off, aparentemente futuros trabalhos que podemos esperar de Cole, que dariam seguimento à era aqui anunciada. Em que estágio estamos agora? No centro do papel, sanduichado pelos dizeres citados anteriormente, estava grafado The Off-Season, que seria lançado seis meses depois, em 14 de maio de 2021. O álbum já havia sido antecipado antes com o freestyle Album Of The Year, de 2018, porém sua espera sempre caminhou na sombra de The Fall Off, o projeto mais aguardado de Cole, que promete ser o maior feito de sua carreira. Numa lógica de parasitismo, semelhante ao que ocorre nas produções do MCU, The Off-Season, dentro do roteiro dessa grande epopeia, até cumpre seu papel, porém inevitavelmente tem seu rendimento individual como obra afetado.

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35 anos de Cabeça Dinossauro: os Titãs estavam putos da vida

Capa de Cabeça Dinossauro. O título do álbum e a palavra TITÃS estão escritos em vermelho, no topo da imagem. A capa é uma ilustração chamada "Expressão de um homem urrando", em que vemos o rascunho de um homem careca, com a cabeça sobressaltada, orelhas pequenas e olhos quase fechados. Ele está de perfil, com a boca aberta como que em um grito e a língua para fora. Está de perfil.
A capa de Cabeça Dinossauro não ilustrava os membros da banda; no lugar, foi utilizado um acetato de Leonardo da Vinci chamado “Expressão de um homem urrando” (Foto: Warner Music Brasil)

Caroline Campos

O ano era 1986 e os Titãs estavam irados. O Brasil começava a limpar os pulmões da fuligem dos militares e respirar o ar fresco da democracia quando, em 25 de junho, Cabeça Dinossauro saiu do escuro dos esgotos para fazer barulho na cena musical brasileira e enterrar os fósseis caretas remanescentes dos anos de chumbo. Com 13 faixas, o terceiro álbum da banda que contava com Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos, Branco Mello, Tony Bellotto, Sérgio Britto, Charles Gavin e Marcelo Fromer foi uma experiência verdadeiramente punk rock que gritou na cara do sistema capitalista e das instituições hipócritas daquela terra sem lei dos anos 80.

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Bo Burnham: Inside é um conforto para quem não aguenta mais o isolamento

Cena do filme Inside. Na foto, vemos uma sala fechada, bagunçada com equipamentos de iluminação e som por toda parte. Entre a bagunça e mais ao centro da imagem há uma cadeira e um teclado, ambos pretos como o resto do equipamento. A sala é iluminada suavemente por duas janelas com as persianas entreabertas.
Lotada de novas músicas, a obra também foi lançada como albúm no YouTube e no Spotify (Foto: Netflix)

Bruno Azevedo

Após 5 anos longe dos palcos e da internet, Bo Burnham retorna com Inside, seu novo Especial lançado pela Netflix. A produção foi escrita, dirigida e estrelada por ele mesmo no ano de 2020, trancado no espaço de uma única sala e feita especialmente para ser assistida pela tela da sua TV ou celular. Com vídeos de react, cantoria em volta da fogueira, debates sociais com um fantoche de meia e diversos desabafos, o filme é uma grande bagunça organizada na forma de comédia dividida entre músicas e stand-up.

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A regravação de Fearless e a retomada de Taylor Swift do controle da sua própria arte: um marco na indústria da Música

Capa do álbum Fearless (Taylor's Version), de Taylor Swift. A capa é composta unicamente por uma imagem de Taylor, uma mulher branca e loira, que aparece sobre o centro de um fundo da amarronzado, sépia. Aparentemente saltando com o cabelo ao vento.Aqui ela usa uma blusa branca
Fearless (Taylor’s Version) é a regravação que Swift fez do seu segundo álbum e primeiro grande sucesso de sua carreira [Foto: Republic Records]
Gabriele Lack 

Eu estou tão cansada de correr o mais rápido que consigo/Imaginando se eu chegaria lá mais rápido se eu fosse um homem/E estou tão cansada deles vindo atrás de mim de novo/Porque se eu fosse um homem, então eu seria o cara/Eu seria o cara

Esse trecho que você acabou de ler foi retirado da música The Man da Taylor Swift. Nela, a artista reflete sobre a sua situação como mulher tanto no mundo da Música como na sociedade como um todo, transparecendo o quanto ela sempre tem que se esforçar mais para alcançar o mesmo sucesso dos homens, embora eles entreguem resultados medíocres quando comparados aos dela. 

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Em Lucifer, os traumas familiares celestiais são tão humanos quanto os seus

Poster de divulgação da série Lúcifer. O poster é retangular, com fundo vermelho. À esquerda, está o rosto de Lúcifer com os olhos vermelhos. Ele é um homem branco, tem barba rala na cor marrom escuro, da mesma maneira que seu cabelo e sua sobrancelha. Há sombreamento vermelho do lado direito de sua face. Logo depois, centralizado, encontram-se os escritos “SIN AND SINNER”, em letreiro de néon vermelho, e "Lúcifer" em dourado. Por fim, à direita do poster, está Miguel, o irmão gêmeo de Lúcifer. Ele possui as mesmas características físicas do Lúcifer, mas com uma cicatriz que começa na testa e termina na bochecha. Há um sombreamento vermelho no lado esquerdo de sua face.
“No princípio, o anjo Lucifer foi expulso do céu e condenado a governar o inferno para sempre. Até que ele decidiu tirar férias” (Foto: Netflix)

Jordana A. Pironti

Já se perguntou por que o anjo caído decidiu começar uma revolução no Paraíso que o levou a ser castigado e a comandar o Inferno pela eternidade? A segunda parte da 5ª temporada de Lucifer, série da Netflix desenvolvida por Tom Kapinos e comandada por Joe Henderson, coloca o Diabo à frente de seus problemas com seu pai, Deus (Dennis Haysbert), e mostra que na verdade a família celestial é tão desconfigurada e problemática como qualquer outra.

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A 17ª temporada de Grey’s Anatomy trouxe de volta o brilhantismo do seu drama tão popular

Imagem da série Grey’s Anatomy. Na imagem, uma mulher branca usando um jaleco de médico azul, luvas e uma espécie de capacete branco e com o visor na frente transparente. Ela apoia a cabeça em uma mesa branca, em que está apoiado seu celular vermelho embalado em um plástico. Ao fundo, é possível ver uma porta marrom e um quadro azul escuro na parede.
A temporada que abordou a pandemia da covid-19 foi uma das mais importantes para a história da série (Foto: ABC)

Larissa Vieira

Há quem diga que se tornou modinha falar mal de Grey’s Anatomy. O drama médico da ABC, sem dúvida alguma, tem seu charme encantador que agrada grande parte do público, e ao mesmo tempo, afasta outra boa parte dele. Lançada em 2005, a produção vencedora do Globo de Ouro caminhou por 17 e longas temporadas nos últimos 16 anos, que foram como uma montanha-russa, ou melhor dizendo, um carrossel, para os fãs e espectadores da série. 

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50 anos de Construção: Deus lhe pague, Chico Buarque

A foto de Chico foi tirada por Carlos Leonam e enquadrada na arte de Aldo Luz, que também assinou a capa de Krig-ha, Bandolo de Raul Seixas (Foto: Philips)

Caroline Campos

 O roteiro das aulas sobre a ditadura militar, traçado nas salas de Ensino Médio e cursinhos ao longo do país, é padronizado: em algum momento, quando introduzido os malabarismos para escapar da censura e as músicas de protesto contra o regime, Chico Buarque de Hollanda será citado. Será, no mínimo, mencionado – pode anotar. Não é para menos, afinal, Chico integra a gama de artistas brasileiros que sofreram com a repressão e a tesourada em suas composições para que se adequassem aos bons princípios dos governos militares. Mas o carioca tem um quê especial.

Perseguido pelos milicos em meio aos devaneios do “milagre econômico” da trupe de Médici, a situação se tornou insustentável a ponto de, em 1969, Chico Buarque deixar o Brasil e se instalar na Itália, em um autoexílio que durou pouco mais de um ano. O resultado de toda essa história completa 50 anos em 2021; quando o músico enfim retornou, no início da longa década de 70, trouxe com ele as letras daquele que se tornaria seu primeiro manifesto político. Nascia Construção.

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