Sweet Tooth é um vestígio de inocência e esperança em meio ao caos

Cena da série Sweet Tooth. A imagem é um pouco aberta e está situada em uma floresta muito iluminada com a luz amarela do sol, ao fundo e desfocado temos árvores de troncos grossos e bem espaçadas, com algumas plantas verde claro ao fundo no chão, há também um pedaço de uma rústica à direita e uma cerca bem artesanal em madeira com um espantalho acima e mais para trás. Ao centro, em foco e em plano americano temos Gus, um garotinho branco, de aproximadamente 8 anos e cabelos loiro médio, ele é um ser humano híbrido com cervo, por isso tem galhada e orelhas de cervo. Ele veste uma calça marrom, uma camiseta cinza com pequenos desenhos em rosa e azul, por cima há um casaco aberto de lã com a estampa pied poule em amarelo e branco, com o centro em verde com botões marrons. Atravessando seu corpo, há uma bolsa pequena cinza com detalhes em verde e com alça de corda amarela e um pedaço de couro na região do ombro. As roupas do garotinho parecem velhas e estão um pouco curtas. Gus está com uma expressão curiosa observando algo um pouco distante e mais alta que ele.
“Enquanto o mundo mergulhava no caos, outra coisa estava acontecendo. Algo extraordinário” (Foto: Netflix)

Júlia Caroline Fonte

As adaptações são uma grande polêmica do mundo audiovisual, algumas chegam ao patamar da perfeição, já outras decepcionam o fandom. Sweet Tooth com certeza se encaixa no primeiro grupo. Lançada em 4 de junho, a nova série da Netflix, que vem ganhando cada vez mais destaque da crítica, é produzida por Robert Downey Jr. e Susan Downey e traz uma proposta um pouco diferente da graphic novel que a originou, levando-a a ser uma das séries mais assistidas da plataforma em diversos países.

A criação de Jim Mickle e Beth Schwartz nos apresenta um mundo caótico tomado por um vírus mortal, o Flagelo, e o nascimento de misteriosas crianças híbridas com animais, estas perseguidas e exterminadas pelo exército dos Últimos Homens. A maior parte da sociedade acredita que essas crianças foram as causadoras desse apocalipse, enquanto outras as vêem como uma salvação para o planeta. Diante disso, acompanhamos Gus (Christian Convery) um garotinho híbrido de cervo que, dez anos depois do estopim do caos, tenta sobreviver isolado na floresta com o pai, que ele chama de “Paba” (Will Forte). Quando este é acometido pelo Flagelo, deixando Gus sozinho em um mundo perigoso, o caçador Tommy Jepperd (Nonso Anozie), cruza caminho com o menino, que a partir disso começa uma aventura em busca de sua mãe, Birdie (Amy Seimetz).

Adaptada da graphic novel de mesmo nome de Jeff Lemire, Sweet Tooth assume um tom diferente daquele do quadrinho. Querendo deixar de lado “o estilo Mad Max das páginas, os produtores buscaram transformar a história de Gus em uma série family friendly, o que garantiu um tom leve e encantador, mesmo em meio ao fim do mundo. A inocência e fofura do personagem garantem uma sensação de aconchego e consegue tirar muitas lágrimas do espectador, uma vez que seu foco é o arco do garotinho e não o contexto em que ele está. Essa mudança drástica não impediu a série de ser considerada uma excelente adaptação, uma vez que conseguiu de modo certeiro adequar a história para o novo formato e soube definir muito bem seus objetivos quanto ao seu público.

Cena da série Sweet Tooth. Nesta imagem temos duas personagens, Aimee e Wendy ao centro e em plano médio e a imagem está mais fechada nas personagens, ambas estão encostadas em um muro de cimento, escondidas em uma curva. Elas estão posicionadas quase de frente para a câmera e apresentam uma expressão preocupada. Aimee está com a cabeça levemente erguida, olhando para cima e para a esquerda, enquanto Wendy está com o rosto quase totalmente de frente para o público, e olhando para a direita. Aimee está levemente curvada para frente, segurando uma espingarda na mão direita e a mão esquerda está em frente de Wendy como um instinto de proteção para a garotinha, que está com os braços envoltos no braço esquerdo de Aimee. Quanto a características físicas, Aimee é uma mulher latina, magra, de cabelos longos, soltos com leves ondas e mais iluminados nas pontas, ela veste uma roupa verde bandeira, larga, com botões e uma jaqueta jeans clara, ela usa um chapéu de safari. Wendy é uma garotinha negra de aproximadamente 10 anos, é uma criança híbrida com porco, tendo nariz e orelhas do animal; ela tem cabelos crespos presos em dois rabinhos e usa um lenço vermelho de bolinhas brancas e listras laranjas amarrado na cabeça como uma faixa. Ela veste uma jardineira jeans esverdeado e por baixo um suéter laranja cenoura com listras que mesclam marrom e amarelo.
Aimee é uma personagem exclusiva da série da Netflix, e seu arco foi muito importante para os outros personagens, em especial a Wendy (Foto: Netflix)

Além da jornada do Gus, a série apresenta mais duas histórias que ocorrem paralelamente; uma é da Aimee (Dania Ramirez) e a outra do Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar). Gus tem como objetivo chegar ao Colorado, onde tem a certeza de que encontrará sua mãe; Jepperd, sem outra alternativa, assume a perigosa e desafiadora missão de levar Gus até ela. No caminho, ambos cruzam com um curioso grupo chamado Exército Animal, adolescentes que têm como propósito proteger e salvar os híbridos; esses personagens trazem um contraste interessante à obra: inocência e juventude em choque com o perfil de guerreiros sanguinários. A partir daí, ambos seguem com a companhia de Ursa (Stefania Owen). Os três continuam a aventura repleta de desafios e revelações devastadoras

De modo independente, temos a história de Aimee, uma personagem exclusiva da série. Sua jornada começa quando ela encontra um novo sentido para a própria vida, pois da mesma forma que Gus, a pandemia do Flagelo foi um impulso para a liberdade. Aimee se muda para um zoológico abandonado, e acolhe Wendy (Naledi Murray), uma garotinha híbrida com porco que foi deixada em sua porta ainda bebê, tornando-se sua filha. Com o passar dos anos, juntas elas criam o Santuário, um espaço para proteger crianças híbridas. 

E, por último, temos o Dr. Singh, um médico que desistiu de sua profissão quando sua esposa Rani (Aliza Vellani) foi contaminada pelo Flagelo, e passa a dedicar a vida para garantir a sobrevivência dela, até que ele fica responsável por continuar as pesquisas sobre a cura iniciadas pela Dra. Bell (Sarah Peirse). Os três arcos se encaixam perfeitamente, e diferente do que ocorre na série Sombra e Ossos, eles não roubam o protagonismo um do outro e o foco maior permanece na narrativa de Gus, o personagem principal; e ao final, temos uma junção excelente de todos eles.

Cena da série Sweet Tooth. Nesta imagem Gus está em frente a cabana em que mora, uma construção rústica e montada com elementos diferentes, ela está em sua totalidade do lado esquerdo e do lado direito tem a floresta ao fundo. E foco Gus está empurrando um trenó de madeira improvisado, em cima dele há uma mini jangada de madeira, cordas, um cobertor em tons marrom claro e uma cesta azul cheia de objetos diversos, todos presos por uma rede. acima da cesta há o Cão, o cachorro de brinquedo e melhor amigo de Gus, um boneco de pelúcia comprido, feito de meias cinzas azuis e vermelhas, quase feito em retalhos. Gus, agora com 10 anos, veste uma calça jeans azul, botas de trilha pretas, uma pochete quadrada azul e cinza e uma camisa vermelha xadrez. Está com uma expressão determinada mesclada com curiosidade.
Às vezes, tudo o que um menino tem é sua imaginação (Foto: Netflix)

Gus com certeza é o ponto forte da série, sendo um personagem adorável e cativante. Da mesma forma que a personagem Anne, de Anne With An E é inserida e desenvolvida em sua adaptação, Gus consegue ser uma representação verdadeira de uma criança, com toda a sua intensidade de sentimentos e sua curiosidade de entender o mundo. Seu arco é construído colocando o personagem em diversas situações cruciais para o amadurecimento, aprendizado e construção de sua personalidade. 

A construção do personagem, unida à atuação do ator Christian Convery, traz veracidade tanto para Gus quanto para a obra. Suas reações, inocência, esperança, empolgação, frustrações e ingenuidade são muito bem colocadas, Vemos esse aspecto em diversos momentos: ao perder o Cão, seu brinquedo preferido e melhor amigo, seu desespero para recuperá-lo os coloca em uma situação complicada; seu aborrecimento é evidente quando Ursa usa palavras difíceis que não estão em seu vocabulário, e em muitas situações de perigo o menino recorre desesperadamente a Jepperd. 

O protagonista constrói uma ótima relação com os outros personagens que o acompanham, com destaque para Jepperd, apelidado por Gus de “Grandão”, que de início queria a todo custo se livrar do híbrido, mas eles acabaram se tornando uma boa dupla. Jepperd, dono de um passado sombrio, fazia de tudo para sobreviver ao mundo caótico em que estavam, e entende os perigos de proteger uma criança como Gus; contudo, assim como acontece com o público, ele consegue ser cativado pelo menino cervo. A boa química entre os atores Christian Convery e Nonso Anozie foi fundamental e conseguiu garantir uma das melhores relações entre adulto e criança retratada no universo audiovisual, sendo um ponto alto da série.

Cena de Sweet Tooth. A imagem é bem iluminada e mostra a visão da câmera de dentro de uma casa, mostrando a porta para fora, ao fundo há muita vegetação em tons verde médio, com árvores, arbustos e pequenas flores na cor rosa. Ao centro e um pouco antes do arco da porta, há três personagens em pé, em primeiro plano está Gus, atrás dele tem Jepperd e por último e um pouco desfocada está Ursa. Gus mostra uma expressão de decepção e olha para algo mais além, ele segura com as duas mão em frente ao corpo um pedaço de papel não muito novo, Ele usa uma calça jeans velha e com alguns rasgos, uma camisa xadrez vermelha com manga 3/4 e um colete marrom avermelhado por cima, e é possível ver as alças de uma mochila de cor caqui, na cintura ele usa uma pochete quadrada e artesanal com estampas de listras que mesclam verde, azul, cinza e preto. Jepperd está olhando sério para a câmera e sua mão esquerda está segurando o ombro esquerdo de Gus; Ele é um homem negro, alto, com corpo ___, careca e de barba. Ele veste algumas camadas de roupas, a mais externa é um casaco de couro caramelo, com um moletom vermelho escuro fechado comum ziper e embaixo uma peça mostarda, ele usa uma mochila na cor caqui. E por fim, Ursa uma adolescente com estatura média para a faixa etária, branca de olhos claros e cabelo castanho, cacheado, curto e solto, ela tem uma expressão assustada e olha para o mesmo lugar que Gus, a garota também veste algumas camadas de roupas: uma blusa branca e vermelha listrada de mangas longas, por cima um uma camiseta branca e finaliza com uma camisa jeans clara com as mangas cortadas, uma bandana preta amarrada no pescoço, uma calça mais soltinha com estampa onça nos tons amarelo escuro e detalhes marrom, uma botinha de couro marrom escuro, ela usa uma bolsa de pelo marrom médio com alça de couro no mesmo tom
Quando Gus deixa o conforto e sua casa e atravessa a cerca, pessoas muito importantes passam a fazer parte de sua vida, como Grandão e Ursa (Foto: Netflix)

Gus ainda está envolvido no maior plot twist da temporada e um dos momentos mais difíceis para o garotinho. O híbrido tem seu mundo colocado à prova ao lidar com as verdades sobre sua vida; também é aqui que suas questões familiares e origem se revelam mais profundas do que aparentavam, e afetam sua jornada a partir de então. 

A série caminha através de diversas reviravoltas e situações cruciais para a história, tendência esta que se mantém no plot twist: sendo tão bem construído, não surpreende apenas o protagonista, mas também o público, que, desde o primeiro episódio é levado a acreditar em determinada realidade que entrará em choque nesse momento.

Os aspectos técnicos de Sweet Tooth também não deixam a desejar. A série possui narrador onisciente, com  voz de James Brolin, de modo sutil e na medida certa, combinando com o tom da história. E seguindo o padrão da maior parte das séries originais da Netflix, a diversidade no elenco também está presente na série do menino cervo, que possui atores excelentes.

Cena da série Sweet Tooth. Imagem apresenta 4 personagens adolescentes em pé que fazem parte do Exército Animal e usam roupas e máscaras referentes a animais. Ursa está na frente e atrás está tigresa e dois figurantes, todos em plano médio e fechado. Ao fundo há uma floresta levemente fechada, porém um pouco iluminada. Da esquerda para a direita os personagens são: há um figurante, um homem branco, que usa uma máscara que é um esqueleto que aparenta ser de um animal equino, coberto na cabeça por uma touca de moletom e algo marrom que simula uma crina, ele usa uma jaqueta fechada por um zíper na cor caqui, nas mangas e bolsos embaixo há franjas roxas escuras, embaixo há uma roupa há alguma peça na cor roxa, há um cinto caramelo em sua cintura acima da jaqueta onde há uma lanterna e um pequeno suporte para flechas, ele segura uma besta com as duas mãos apontando para o centro da câmera e para baixo. Em seguida vem Ursa olhando para frente, com os dois braços esticados ao lado do corpo, sua máscara é a frente de um crânio de urso com detalhes em tinta vermelha no meio. Ela veste uma blusa de mangas longas de listras vermelhas e brancas, aparente apenas no braço direito, por cima há camadas de pele marrom que variam de marrom médio à marrom escuro, elas formam um casaco no corpo, a manga esquerda e uma touca no estilo de moletom que cobre sua cabeça e tem orelhas de ursinho, por cima ela usa uma bandana preta no pescoço, com um cinto marrom claro de couro saindo do ombro direito e indo em direção à cintura do lado esquerdo, preso nele há uma pequena bolsinha de couro marrom escuro e outro cinto marrom de couro na cintura para prender pequenos ossos e uma faca de cabo preto com uma capa de couro cobrindo a lâmina. À esquerda temos tigresa também com os braços ao lado do corpo, ela usa o crânio de um tigre na cabeça, e seu rosto fica aparente com uma expressão séria e com os olhos maquiados em preto, laranja e amarelo e olha para baixo, ela é uma mulher branca, magra e alta de cabelos até o peito em pequenas quantidades, levemente ondulados e nas cores amarelo e laranja, ela usa um short jeans na cor média, de cintura alta, meio velho e desfiado nas pontas, uma regata preta com uma segunda pele arrastão, e um colar comprido prateado com um pingente grande, no short ela usa um cinto de couro preto que prende ao corpo um longo tecido grosso que desce pelo corpo, com estampas de ziguezague vertical em tons de laranja e marrom, no cinto há presa uma barra marrom claro. E por fim, ao lado esquerdo de tigresa há um último figurante, que parece representar um lagarto, ele é um homem branco e apenas os olhos e mãos estão aparentes, ele usa uma jaqueta grossa em tons acinzentados e simula escamas de réptil, na cabeça, usa uma espécie de capacete redonda com escamas dorsais longas na cabeça, ele também segura uma besta com as duas mãos e a aponta para baixo como se estivesse preparando a arma, e há uma alça preta passando pelo ombro direito e desce diagonalmente pelo corpo.
Sweet Tooth mostra um mundo caótico em que a intolerância, falta de informação e medo do desconhecido dividiu a humanidade (Foto: Netflix)

Contando com uma ótima trilha musical, que combina com a atmosfera criada pela série, Sweet Tooth é perfeita visualmente. A fotografia em tons quentes de Dave Garbett e Aaron Morton e a presença de muitas cores contribui para a leveza e aconchego que ela proporciona ao público; com destaque para o primeiro episódio, o qual se passa a maior parte no chalé de Gus e Paba, com uma iluminação muito bem feita casando com a colorização impecável de Walter Volpatto; tudo se adequando com os elementos da direção de arte. A elaboração desta última, coordenada por Nick Connor, Nathan Blanco Fouraux, Gabriel Kearney e Adam Wheatley, foi um fator fundamental para contar a história.

Ainda sobre seu visual, o trabalho da equipe de arte atrai a curiosidade do público, principalmente para a caracterização das crianças híbridas. Algo essencial e que fez grande diferença para a série foi diminuir o digital para usar elementos construídos fisicamente. Os efeitos especiais foram importantes para trazer veracidade ao universo de Sweet Tooth, como nas orelhas de Gus, que foram inseridas em seu figurino e controladas pelo marionetista Grant Lehmann. Simultaneamente, a maquiagem artística de Justin Raleigh foi um elemento importante para transformar a aparência das crianças em híbridas.

Entretanto, o que mais chamou atenção foi o personagem Bobby, um híbrido de marmota, em que a produção usou um boneco mecatrônico para trazê-lo à vida – uma retomada do que víamos em filmes mais antigos de fantasia, como em Harry Potter e a Câmara Secreta, para criar a fênix do Professor Dumbledore. Outro caso é o dos bebês híbridos retratados logo no início do primeiro episódio, que foram fantoches manipulados pela equipe e criados pela empresa de efeitos visuais Fractured FX. Ao mesmo tempo em que esses elementos deixam tudo mais palpável, pode causar muito estranhamento para um público saturado de efeitos visuais.

Cena da série Sweet Tooth. A imagem mostra o berçário de um hospital em plano geral fechado. A imagem tem um tom mais amarelado, o cenário é composto por uma parede verde água claro, e desfocado ao fundo há armários beges claros na parte inferior da parede da sala e logo acima há uma faixa em um tom mais escuro de verde água. Em cima dos armários há recipientes de produtos que parecem ser álcool em gel e outros para higiene, além de caixas de lenços em tons bege claro. Ao fundo há uma enfermeira negra, com os cabelos presos para trás em um coque, ela veste uma camisa rosa pastel de mangas curtas e usa um avental branco, ela carrega um bebê híbrido de cachorro e olha para o rosto dele. Em frente há 3 fileiras com berços quadrados de hospital com furos nas laterais e colchões verde pastel bem claro. Na primeira fileira, que está na frente da imagem, da esquerda para a direita há os seguintes bebês híbridos todos com um cobertor amarelo : um porco espinho deitado de barriga para baixo, no do meio há um híbrido de gato, do lado um híbrido com coruja, na fileira de trás há um híbrido que não dá para identificar, depois é um híbrido de macaco e um que não dá para identificar deitado de barriga para baixo com pelos pretos nas costas. Na última fileira há alternando berços vazios e com cobertas
“Ninguém sabe o que veio primeiro, os híbridos ou o vírus” (Foto: Netflix)

O último episódio de Sweet Tooth é com certeza um dos mais importantes, principalmente para a continuidade da história. É nele que, finalmente, entendemos por quais motivos Gus, Dr. Singh e Aimee dividem a temporada. A trama será imprescindível para o futuro da série, principalmente para Dr. Singh, pois aqui podemos perceber que em algum momento Gus será um elemento significativo para definir o arco do médico para a segunda temporada. Além disso, revelações sobre um personagem serão relevantes para aguçar o público a respeito do vírus que aquele mundo enfrenta, abrindo espaço para muitas teorias sobre o rumo da série, que já começa a ganhar contornos nítidos.

Além de todos seus aspectos audiovisuais, Sweet Tooth carrega mensagens muito fortes para seu público. A jornada de Gus e Aimee mostram a importância de sair da zona de conforto para poder se reencontrar ou para começar a viver, e que essa vivência é essencial para o processo de crescimento, tanto de uma criança, como é o caso de Gus, quanto para Aimee, que entende um novo propósito e significado de sua vida. Ainda somos convidados ao longo da série a refletir sobre o amor, seus diversos aspectos e aquilo que ele pode mover; bem como o papel da família, entendendo o que realmente a faz existir.

Já a história do Dr. Singh traz aspectos científicos e sociais que atingem em cheio a nossa realidade atual. Um retrato muito mais caótico da pandemia que estamos vivendo, a série tem um papel social de extrema importância, que vai muito além de seu entretenimento. Muito antes da covid-19, a Netflix criou um cenário acometido por duas doenças que enfrentamos durante o nosso isolamento e se espalham rapidamente: um vírus fatal e a ignorância diante dos fatos.  A série expõe diversos momentos de extremismos pelo “bem maior”; ou por causa de teorias da conspiração, propagar o ódio e eliminar aquilo de que não se tem conhecimento. Tudo isso abre espaço para um mundo onde o principal objetivo é garantir a própria sobrevivência, ignorando seu papel na sociedade.

Cena da série Sweet Tooth. Nessa imagem temos o casal Singh, de ascendência indiana, da direita para a esquerda: Rani e Aditya. Ambos em plano conjunto fechado. Eles estão em uma festa na casa de um vizinho, fora de foco há uma casa com luzes amarelas com várias pessoas com roupas mais clássicas em tons sóbrios. Rani tem o cabelo médio, preto e está levemente ondulado ela está sentada de frente e com a cabeça em perfil falando com o marido, olhando nos olhos dele e coloca a mão direita no braço direito dele, ela veste uma blusa preta com estampas simples de folha, em que os elementos têm apenas os contornos e usa um colete bege e um colar com um pingente dourado. Enquanto Aditya está sentado de frente e com o rosto em perfil olhando para a esposa, ele apresenta tensão através do corpo e expressão facial. Ele tem cabelo cacheado e curto, está com a barba aparentando crescer e usa um óculos de grau com armação dourada, ele está vestindo uma camisa cinza escura de botões e uma jaqueta de botões preta com leves listras brancas verticais.
“Vai se surpreender com o que é capaz de fazer quando é para alguém que ama” (Foto: Netflix)

Sweet Tooth apresenta um grande potencial para continuações, à medida em que a série deixa de explicar a fundo algumas informações, como as referentes ao vírus e ao início da pandemia do Flagelo. Há também algumas pontas soltas que precisam ser respondidas a respeito de Birdie, sobre quem salvou Wendy quando bebê e o porquê, e qual papel o Exército Animal terá no futuro da série. Além disso, elementos como as flores roxas e as barras de chocolate não paravam de aparecer ao longo da temporada, indicando para um público que elas terão um significado importante em algum momento. Porém, levando em conta os temas e o cenário da história, poderíamos supor que poucas perguntas seriam respondidas em uma única temporada.

Sweet Tooth já consegue se garantir como uma das melhores séries de 2021. Bem recebida pelo público e pela crítica, tem suas raras falhas ofuscadas por uma história bem contada, com personagens reais e apaixonantes e um visual que chega a ser um espetáculo aos olhos. Mais uma vez, a Netflix conseguiu garantir uma boa obra e acertar em todos os seus aspectos como adaptação. E mesmo com o caos que Gus e Jepperd enfrentam em sua história e o que enfrentamos aqui do lado de fora, Sweet Tooth consegue nos resgatar e confortar com sua esperança e leveza inocente que procurávamos há muito tempo.

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