Os melhores filmes de 2018

(Arte: Carlos Botelho)

Semana passada houve nosso listão musical; essa semana, é a vez do listão cinematográfico. Menos extensa mas não menos densa, essa é a seleção de melhores filmes do Persona, que de modo geral assinala mudanças importantes do ramo. Vamos a elas!

Os pretos estiveram no topo em 2018 (Foto: Reprodução)

Egberto Santana Nunes

O cinema negro mais uma vez dominou a sétima arte esse ano. Seja nos blockbusters, onde a bandeira da representatividade foi levantada para demonstrar sua devida importância em Pantera Negra ou com mais um soco na cara na sociedade americana dado pelo grande Spike Lee em Infiltrado na Klan. Todos levantando debates políticos importantes dentro de seu próprio universo.

Mas meus destaques aqui neste espaço vão para Sorry to Bother You e Ponto Cego. Feito por estreantes na direção, ambos tocam em diversos temas que cercam um principal – o racismo – com uma visão de escrita e técnicas únicas e necessárias em nosso tempo. No primeiro, temos o experimental e o surreal como ferramenta de crítica ao capitalismo e o conflito de classe e raça embutida nas relações de trabalho. O segundo manda um papo reto sobre as dificuldades de ser negro, “andar na linha” e gentrificação. Respectivamente, temos Lakeith Stanfield (diferente de seu papel em Atlanta) surtando com tudo isso daí, e Daveed Diggs, rimando em cima disso tudo aí.

Se os filmes acima trouxeram à tona o que muitos pretos vivem na pele, Eighth Grade representou a mente conturbada de tantas garotas millennials, reféns da virtualização das relações sociais e distantes do cara a cara.

Por fim, a Marvel Studios mais uma vez mostrou o seu poder: fez a gente gargalhar com o absurdo renovado de Deadpool 2 e chorar e gritar no cinema com super-heróis desaparecendo em Vingadores: Guerra Infinita. Uma resolução para 2019? Peter Parker de volta e mais pretos dominando as telonas.

1 – Sorry to Bother You / 2 – Ponto Cego / 3 – Infiltrado na Klan / 4 – Eighth Grade / 5 – Vingadores: Guerra Infinita


Prometo ver mais filmes em 2019! (Foto: Reprodução)

Guilherme Hansen

2018 foi um ano que assisti menos filmes do que deveria. No entanto, cumpri um de meus projetos antigos: assistir a filmografia de indicados ao Oscar (pelo menos os cotados a Melhor Filme e as animações que tanto amo). E daí vem a maioria de meus escolhidos neste fim de ano.

À época do Oscar, achava Três Anúncios para um Crime incrível e fiquei irritado quando este perdeu o prêmio de melhor filme para A Forma da Água, o qual eu achava previsível. Porém, ao revisitar este último, simplesmente me encantei e vi que o primeiro se sustenta muito mais na performance visceral de Frances McDormand enquanto o longa dirigido por Guillermo Del Toro é fascinante em todos os sentidos.  

Nem tão famoso, mas tão incrível quanto o supracitado, Projeto Flórida me conquistou pela sua simplicidade e por personagens realistas, algo questionado em Três Anúncios. A menina Moonee é tão gente como a gente que parece nossa irmã mais nova.

Vingadores – Guerra Infinita mostrou mais uma vez a supremacia da Marvel em seu gênero (inclusive, aí vem Ultimato) e Viva – A Vida é uma Festa me emocionou e creio que ganhou merecidamente o prêmio de melhor animação devido ao seu roteiro bem construído e trilha sonora impecável.

Enfim, prometo assistir mais filmes em 2019, porém a temporada do Oscar me trouxe grandes alegrias e me fez entender por que o cinema ainda é chamado de sétima arte! Ah, e quero deixar minha menção honrosa para Me Chame pelo seu Nome, que, mais que um filme, é poesia e um lembrete de autoaceitação. Fabuloso!

1 – A Forma da Água / 2 – Três Anúncios para um Crime / 3 – Vingadores – Guerra Infinita / 4 – Viva – A Vida é uma Festa / 5 – Me Chame pelo seu Nome


Séries podem ser consideradas filmes? (Foto: Divulgação)

Lucas Marques

Minha lista pode até sugerir que acredito nesta história de que o cinema está morto. Afinal, aqui constam uma série de TV e duas produções da Netflix, uma delas lançada depois de quatro décadas da sua gravação. Prefiro, entretanto, enxergar de forma mais positiva, em como diferentes cinemas podem coexistir.

Começo pelo elefante na sala: a escolha da segunda temporada de Atlanta encabeçando a lista de filmes é em parte artifício meu, mas de outra se justifica por estar mais próxima de uma experiência cinematográfica do que da produção atual de séries (Wesley Morris, do New York Times, escreveu brilhantemente sobre o assunto).

Os novos episódios da série criada por Donald Glover funcionam como curtas-metragens, explorando premissas criativas e que conversam entre si em uma temática geral, na linha cronológica solta e em um certo tom kafkiano. Se Decálogo, de Kieslowski, pode ser cinema; se a terceira temporada de Twin Peaks pode ser eleita o melhor filme de 2017 pela Cahiers du Cinéma; por que não Atlanta?

Outro fato curioso do ano foi o lançamento do filme perdido de Orson Welles, O Outro Lado do Vento, longa que reflete sobre o cinema dos anos 1970 e a própria carreira de Welles. A obra foi lançada pela Netflix, assim como A Balada de Buster Scruggs, antologia de curtas de velho oeste, dirigida pelos irmãos Coen. Um exercício cinematográfico de concisão e estilo.

Completando a lista estão duas obras plenas de sensações. Em Chamas, thriller sul-coreano rico em relações dramáticas, e Vingadores – Guerra Infinita, uma dos melhores blockbusters já feitos, que consegue criar algo novo e empolgante no universo formulaico da Marvel.

Ah, e se o argumento de Atlanta como cinema não desceu, recomendo No Coração da Escuridão, filme cruel sobre fé e afeto na contemporaneidade.

1 – Atlanta (2ª temporada) / 2 – O Outro Lado do Vento / 3 – Em Chamas / 4 – Vingadores – Guerra Infinita / 5 – A Balada de Buster Scruggs / 6 – No Coração da Escuridão


Menos Hollywood, mais Netflix: o minimalismo ditou meu 2018 (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Num ano de descanso de grandes nomes de Hollywood, cineastas menos experientes chamaram atenção. Filmes minimalistas vieram à tona.

Para minha lista de melhores do ano, selecionei obras com lançamento em 2018 contando por seu país de origem. Com isso, filmes como Projeto Flórida e Trama Fantasma (meus favoritos do Oscar desse ano) ficaram de fora, tendo só chegado no Brasil neste ano.

Menções honrosas aos filmes que não entraram no top 5, mas que merecem muito reconhecimento: Pantera Negra, que dá vigor ao gênero e ainda apresenta a trama mais interessante da Marvel em muito tempo; Ilha dos Cachorros, do Wes Anderson, sensível e bruto ao mesmo tempo e com um elenco de voz de outro mundo. Buscando… foi outro debut de direção, tem um ritmo muito próprio e uma construção de tensão crescente a la suspenses do século passado.

Infiltrado na Klan reúne a direção ácida de Spike Lee com as performances eletrizantes de John David Washington e o fenomenal Adam Driver. Tully é um conto materno extremamente simbólico e cheio de alegorias, Charlize Theron tem uma das minhas atuações favoritas do ano. Desobediência é silencioso e cheio de nuances calculadas. E Mamma Mia: Here We Go Again é uma celebração musical da beleza e do amor na Grécia (e ainda tem a Cher!).

Resumindo: 2018 foi um ano para todos os gostos!

1 – Roma / 2 – Você Nunca Esteve Realmente Aqui / 3 – Hereditário / 4 – O Primeiro Homem / 5 – Nasce uma Estrela

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