O Preço da Perfeição está longe de ser deslumbrante

A imagem é de uma cena da série O Preço da Perfeição. Na imagem há 17 bailarinos, homens e mulheres, em um palco fazendo uma apresentação de balé. O palco tem fumaça por toda parte com uma leve luz vermelha no fundo. Os bailarinos vestem um casaco cinza com um detalhe vermelho nas pontas.
A história de O Preço da Perfeição é baseada no livro Tiny Pretty Things, de Dhonielle Clayton e Sona Charaipotra (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Rodrigues

Chegar aos nossos objetivos é algo bem complicado, e fica ainda mais difícil quando encontramos outras pessoas no nosso caminho.  O mundo guiado por competição faz parte da realidade, mas também é retratado na ficção. Essa corrida pela vitória já foi mostrada em diversos ambientes diferentes, e no cenário das artes isso também acontece. Possuindo algumas semelhanças com o famoso Cisne Negro, a nova série da Netflix, O Preço da Perfeição (Tiny Pretty Things) mostra uma realidade sobre o universo competitivo e cheio de dificuldades do Balé de Elite de Chicago. 

Continue lendo “O Preço da Perfeição está longe de ser deslumbrante”

Entre fanservice e inovação, The Mandalorian volta para mostrar seu lugar na galáxia

Cena da série The Mandalorian. Na imagem, vemos Din Djarin, vestindo a armadura mandaloriana e segurando Grogu em um dos braços. Ao centro, os dois voam pelo céu, ao fundo.
A segunda temporada de The Mandalorian estreou em outubro na Disney+, com novos episódios lançados semanalmente (Foto: Reprodução)

Vitória Lopes Gomez

Menos de duas semanas antes do fim da segunda temporada de The Mandalorian, a Disney+ anunciou 10 novas séries originais do universo Star Wars. O furor com as novas produções, com os nomes inéditos e antigos sendo divulgados, teasers e teorias agitaram as redes sociais por dias, o que poderia distrair a excitação para a finale da pioneira dos live-action. Felizmente, a série prova, mais uma vez, que é grandiosa e se consolida como uma das melhores produções da franquia bilionária criada por George Lucas.

Continue lendo “Entre fanservice e inovação, The Mandalorian volta para mostrar seu lugar na galáxia”

The Great Pretender: ser enganado nunca foi tão divertido

Na direita temos quatro dos personagens do anime. De cima para baixo há um garoto de cabelo castanho correndo com uma bolsa de dinheiro. Um homem loiro falando ao telefone. Uma garota em pé mexendo no cabelo e outra ruiva tirando os óculos.
Fingindo que eu estou indo bem, minha necessidade é tanta que eu finjo demais, eu sou solitário mas ninguém pode perceber – Freddie Mercury (Foto: Reprodução)

Anna Clara Leandro Candido

Por vários séculos no passado, narrativas como Star Wars e O Senhor dos Anéis basearam-se nos confrontos entre o bem e o mal para construir suas histórias e universos. Muitas vezes, os autores caracterizam a personalidade e modo de viver dos seus personagens com base em um desses dois lados. Por isso, era sempre fácil distinguir o mocinho do vilão e guiar o afeto do público. Até que um dia, ambos os lados convergiram e um novo tipo de personagem nasceu: pessoas que não são heróis nem vilões e mesmo estando ao lado dos mocinhos não compartilham do mesmo jeito de resolver as coisas que eles. Os chamados anti-heróis.

É com essa definição em mente que The Great Pretender constrói seu universo. Um anime criado pela Netflix em parceria com o estúdio Wit, que possui como protagonistas um grupo carismático e divertido de vigaristas internacionais. A segunda parte da história chegou em novembro no catálogo do streaming e conquista os espectadores com seus personagens carismáticos, aventuras divertidas, trilha sonora cativante e uma animação com um estilo deslumbrante.

Continue lendo “The Great Pretender: ser enganado nunca foi tão divertido”

As Melhores Séries de 2020

A imagem é uma arte com fundo laranja. No canto superior direito, há um retângulo com fundo preto e escrito na cor laranja a frase "AS MELHORES SÉRIES DE 2020". No canto inferior direito, há o logo do Persona, que é o desenho de um olho aberto, no qual a íris possui a cor laranja e no lugar da pupila há um botão de "play" na cor preta. No canto esquerdo, há personagens de algumas séries organizados em duas fileiras. Na fileira superior, da esquerda para a direita, estão: a personagem Lúcia do seriado Amor e Sorte, interpretada por Fernanda Torres, que é uma mulher branca de cabelos castanhos escuros na altura dos ombros, Fernanda está sorrindo e veste uma blusa cinza; a personagem Marianne da série Normal People, interpretada por Daisy Edgar-Jones, que é uma mulher branca de cabelos castanhos claros compridos e franja, Daisy está com o olhar voltado para a direita; a personagem Hilda da série Hilda, que é um desenho animado de uma menina branca com cabelos longos e azuis, Hilda veste um cachecol amarelo e uma blusa vermelha de manga compridas, ela está sorrindo e com as mãos apoiadas na cintura; e o personagem David Rose da série Schitt's Creek, interpretado por Daniel Levy, que é um homem branco de cabelos castanhos escuros em formato de topete, Daniel está com uma feição assustada e veste um suéter cinza e preto. Na fileira inferior, da esquerda para a direita, estão: a personagem Devi Vishwakumar da série Eu Nunca..., interpretada por Maitreyi Ramakrishnan, que é uma jovem de traços indianos e cabelo preto comprido, Maitreyi está com o rosto virado para a esquerda e com um leve sorriso, ela veste uma regata listrada, um colar e um casaco laranja; a personagem Beth Harmon da série O Gambito da Rainha, interpretada pela atriz Anya Taylor-Joy, que é uma mulher branca com cabelos ruivos curtos e franja, Anya está com o olhar voltado para a direita, veste um casaco cinza e segura um jornal em suas mãos; a personagem princesa Margaret da série The Crown, interpretada por Helena Bonham Carter, que é uma mulher branca com cabelos castanhos escuros presos em um coque alto, Helena está com um olhar sério e usa uma coroa em sua cabeça, um colar em seu pescoço e um vestido rosa e branco; e a personagem Arabella Essiedu da série I May Destroy You, interpretada por Michaela Coel, que é uma mulher negra com cabelos rosa em tom pastel na altura dos ombros, Michaela está com um olhar sério para a frente, ela veste uma camiseta cinza e um casaco branco e vermelho.
Os destaques de 2020: Amor e Sorte, Normal People, Hilda, Schitt’s Creek, Eu Nunca, O Gambito da Rainha, The Crown e I May Destroy You (Foto: Reprodução)

A pandemia, que descarrilou a indústria do entretenimento, fez um estrago estrondoso no cinema. A TV, entretanto, conseguiu segurar as barras e teve até a premiação do Emmy meio virtual, meio presencial, mas inteiramente inovadora. Lá, Schitt’s Creek fez história: a única série a vencer todas as 7 categorias principais de comédia. Junto do hit canadense, Zendaya venceu Melhor Atriz em Drama, se tornando a ganhadora mais jovem da categoria. No campo das minisséries, narrativas fortes com enfoque em figuras femininas ditaram o tom. Teve a heroica avalanche de Watchmen, a comovente Nada Ortodoxa e a avidez de Mrs. America.

Fora dos prêmios, O Gambito da Rainha se tornou a minissérie mais assistida da história da Netflix. A série da enxadrista Beth Harmon, papel taciturno de Anya Taylor-Joy, é parte do panteão de 2020. O streaming muito se beneficiou das pessoas estarem trancadas em casa: os números de acesso e visualizações estouraram a boca do balão. Dark se encerrou com a maestria que prometeu, e The Crown finalmente nos mostrou a Lady Di. Na HBO, Michaela Coel retornou mais poderosa que o de costume com I May Destroy You, um soco no estômago empacotado em 12 episódios quase autobiográficos, discutindo o valor do consentimento e as consequências do abuso. 

Steve McQueen encontrou na Amazon o lar para sua poderosa Small Axe, antologia de filmes que lidam com racismo e luta por direitos, obras de vital importância nesse momento político em que vivemos. O sucesso foi tanto que uma porção de sindicatos da crítica está premiando Small Axe como Melhor Filme de 2020 (vai entender). Aqui no Brasil, a Rede Globo mostrou serviço produzindo, à distância, a antologia Amor e Sorte e o especial Plantão Covid, parte da fantástica Sob Pressão. Com todo esse parâmetro em mente, a Editoria do Persona se reuniu com nossos colaboradores para elencar o que de melhor a televisão nos ofereceu em 2020. 

Continue lendo “As Melhores Séries de 2020”

2020 Nunca Mais é o derivado mais óbvio de Black Mirror

Lisa Kudrow, uma mulher loira na faixa dos 50 anos, olha com desdém para a câmera. À sua frente vemos um microfone, e atrás dela a bandeira dos EUA
O filme encontra uma brecha divertida para prever 2021: mutações por conta da vacina e a posse da presidente Harris são dois pontos levantados por 2020 Nunca Mais (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Alguns anos atrás, quando as tramoias de Frank Underwood não chocavam tanto quanto as de Donald Trump, percebemos que a modernidade não deve nada aos roteiros de Hollywood. São muitos os fatores que colocam 2020 num radar dramático e narrativo para a ficção se esbaldar. No contexto da pandemia e das eleições norte-americanas, Charlie Brooker e Annabel Jones decidiram que não liberariam uma temporada nova de Black Mirror no momento, mas eles fizeram melhor: optaram por lançar um especial de comédia recapitulando o ano. Eis que surge 2020 Nunca Mais.

Continue lendo “2020 Nunca Mais é o derivado mais óbvio de Black Mirror”

His Dark Materials e o dilema de adaptações

A personagem de Ruth Wilson, Marisa Coulter, está ajoelhada no chão de uma sala com pouca luz. Ela olha direitamente para os olhos de seu daemon, um macaco dourado, que olha de volta. Com sua mão esquerda ela acaricia o rosto do animal.
Marisa e Ozymandias, os maiores (Foto: BBC One/HBO)

Jho Brunhara

Quando George R. R. Martin decidiu escrever o primeiro livro de As Crônicas de Gelo e Fogo, ele não queria apenas mais uma história de ficção. Ele queria um mundo fantasioso tão complexo que seria considerado “infilmável”. Mesmo assim, os terríveis D&D foram atrás do pepino e transformaram a obra na gigantesca Game of Thrones. Se ignorarmos muitos fatores, é uma adaptação ok, que consegue transferir parte da genialidade do livro para as telas.

Fronteiras do Universo, de Philip Pullman, pode não ser um universo tão detalhado quanto o de Martin, mas ainda sim é um desafio de ser adaptado. A Bússola de Ouro (2007) tentou, mas o apelo não foi suficiente para que a trilogia fosse concluída no cinema. Em 2019, a BBC One, em parceria com a HBO, lançou a primeira parte da versão em formato de série, His Dark Materials. Agora, com o fim da segunda temporada, podemos ter uma dimensão um pouquinho melhor dos méritos da adaptação. 

Continue lendo “His Dark Materials e o dilema de adaptações”

Dash & Lily é o clichê que precisávamos

Midori Francis está sentada em uma mesa. Ela tem os cabelos curtos e escuros, usa uma blusa florida de mangas cumpridas e um colar de pérolas alaranjado. Em suas mãos, está um caderno vermelho que ela segura aberto. Ao fundo, outras pessoas conversam em mesas.
Série produzida por Nick Jonas é a nova comédia romântica da Netflix (Foto: Reprodução)

Ana Marcílio

Nova York, Natal e dois jovens totalmente opostos é uma ótima receita para um clichê. E é nessa ambientação que Dash & Lily, a mais nova aposta da Netflix, se desenvolve. Com a produção executiva assinada por Shawn Levy (diretor e produtor de Stranger Things) e Nick Jonas, o caçula dos Jonas Brothers, a série é um aconchego para este fim de ano. Além das músicas muito bem escolhidas, o cenário e a fotografia sabem explorar o que se tem de melhor nos romances adolescentes. 

Continue lendo “Dash & Lily é o clichê que precisávamos”

Call: eu avisei para não desconectar o telefone

A imagem é o cartaz de divulgação do filme. No canto superior esquerdo, há o rosto de uma mulher de traços asiáticos e cabelo curto, ela aparenta estar assustada. Do lado superior direito, há o rosto de uma mulher, também de traços orientais, mas com uma feição séria, com o olhar voltado para a direita. Abaixo dela, no canto inferior direito, há o rosto de uma mulher de traços orientais, ela usa batom vermelho e está com um olhar sério voltado para a esquerda.  No lado inferior esquerdo, há o rosto de uma mulher de traços orientais, com cabelos castanhos claros e que está olhando assustada para a esquerda, ela tem algumas manchas de sangue no rosto. Em cima de cada rosto há uma das letras que formam a palavra CALL, que é o nome do filme.
“Call não envolve homens e mulheres. É um filme centrado em personagens femininas e suas relações, e um bem feito”, disse a atriz Park Shin Hye sobre o longa (Foto: Reprodução)

Bianca Penteado

O silêncio absoluto. As respirações baixas. Os movimentos lentos. O súbito toque de telefone.

Todos os amantes do terror já contemplaram essa cena. Desde O Chamado (2002), com a Samara prenunciando sua morte em ‘sete dias’, passando por Pânico (1996), que sabe muito bem como nos arrepiar com o vagaroso e intenso ‘hello, Sidney’. E, finalmente, a corrida genérica pela busca do aparelho enquanto alguém o persegue. Convenhamos, as ligações no terror já decaíram ao título de clichê. Porém, sempre existindo a exceção, vamos concordar em discordar de Call (2020).

Continue lendo “Call: eu avisei para não desconectar o telefone”

Traições, liberalismo e Lady Di abalam a quarta temporada de The Crown

Na imagem, Lady Di, jovem de cabelos curtos e loiros, usa um vestido de noiva branco, volumoso.
Emma Corrin, aos 24 anos, estreia na Netflix como a jovem Diana Spencer; a produção não recriou a cerimônia do casamento real, mas exibiu Corrin no vestido icônico da princesa (Foto: Reprodução)

Vanessa Marques

Com o fardo e a glória de narrar uma história real, The Crown chega ao seu quarto ano na Netflix. Em novo ciclo, a realeza é ofuscada pela entrada de duas mulheres no elenco: a lendária Lady Di (Emma Corrin), futura ex-esposa do Príncipe Charles, o cara que até hoje aguarda sentado para ser rei, e a irredutível Margaret Thatcher (Gillian Anderson), primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990. Mais uma vez, a produção de Peter Morgan não peca em qualidade, coroando uma narrativa delicada, rica em beleza visual, de modo a unir aspectos de ficção, história e biografia.

Continue lendo “Traições, liberalismo e Lady Di abalam a quarta temporada de The Crown”

Três Verões: dias melhores virão

A imagem é uma das cenas do filme. Na imagem, Madá e os outros funcionários da casa estão posicionados em grupo sorrindo para uma selfie.
Filme de Sandra Kogut escancara mudanças sociais recentes no Brasil (Foto: Reprodução)

Vitória Silva

Em 2014, o início da Operação Lava Jato balançou as estruturas do país. A maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro levou, e ainda leva, para a cadeia uma série de personalidades de altos cargos do meio político e econômico. No entanto, pouco se fala sobre os outros personagens que, inocentemente, faziam parte dessa cadeia de esquemas ilegais. Qual foi o destino das famílias desses corruptos? E de seus funcionários?

A cineasta Sandra Kogut parte desse olhar para contar a história de seu filme mais recente. Três Verões se ambienta na mansão da família de Edgar (Otávio Muller), um grande empresário. Entre sua equipe de funcionários, está a caseira Madá, interpretada pela brilhante Regina Casé. A funcionária é ‘quase parte da família’, sempre se virando nos 30 para agradar ao desejo dos patrões e ainda conseguir um sustento extra, mas sem perceber as tramóias que rolam por debaixo dos panos.

Continue lendo “Três Verões: dias melhores virão”