Stranger Things 3: o mergulho definitivo nos anos 80

(Imagem: Reprodução)

Gabriel Soldeira

Quando chegou na Netflix em 2016, Stranger Things nos pegou desprevenidos. A série chegou sem fazer alarde e de repente se tornou um verdadeiro marco na cultura pop, sendo um dos pivôs do retorno dos anos 80 para o mainstream. A produção caiu nas graças do público pela aura nostálgica que permeia a trama, seu enredo misterioso que prende a atenção do início ao fim, e claro, o elenco extremamente carismático com interações tão fáceis de se relacionar quanto amizades de infância poderiam ser. E agora em sua terceira temporada vemos tudo isso evoluir para um novo patamar.

Primeiramente, os anos 80… a estética da década nunca esteve tão presente na série. Agora além de referências ela se expande para a fotografia, com cores vibrantes e saturadas, além de um visual granulado que em muitos momentos faz parecer que a produção realmente foi filmada em 1985. Isso se mostra também pela direção que com alguns planos bem criativos e uma câmera que sabe muito bem quando e como se movimentar. 

Um exemplo de plano criativo, quando não se mostra diretamente Hopper pegando sua arma. (Imagem: Reprodução)

Um show à parte é a trilha sonora original, composta por Kyle Dixon e Michael Stein. Ela ajuda tanto a situar o clima das cenas quanto a  ainda mais a década de 80 com seus sintetizadores, batidas eletrônicas e baixo pesado que parecem referenciar nomes como New Order e Vangelis. Também contamos com músicas que dizem muito sobre o que acontece na trama como “Material Girl” da Madonna, “Cold As Ice” do Foreigner e “The NeverEnding Story”, trilha sonora do filme “A História Sem Fim” de 1984 (essa última sendo um dos melhores momentos da temporada pra mim). Músicas como essas resultam em muitos momentos que só Stranger Things poderia nos oferecer. 

A trama da nova temporada gira em torno da chegada da adolescência para os protagonistas. Construíram arcos muito bons em torno disso, como o de Will (Noah Schnapp) que não amadureceu da mesma forma que Mike (Finn Wolfhard) e Lucas (Caleb McLaughlin), que parecem só se preocupar com seus relacionamentos. O policial Jim Hopper (David Harbour) que continua lidando o fato de ser pai da poderosa Eleven (Millie Bobby Brown), mas com o agravante de que agora sua  filha e Mike estão tendo um relacionamento, e isso gera um arco emocional muito interessante para o personagem. E simultaneamente temos os mistérios da trama se desenvolvendo. E pela primeira vez existe um balanço perfeito entre o desenvolvimento dos personagens e dos mistérios do enredo.

Vemos muita coisa que deu certo na segunda temporada sendo melhor explorada aqui, como a separação em núcleos dos personagens. Por exemplo, a parceria de Dustin (Gaten Matarazzo) e Steve (Joe Keery) foi elevada a outro nível. Conta com a presença de Erica (Priah Ferguson), que foi mais uma grata surpresa introduzida em Stranger Things 2. E também com a chegada de Robin (Maya Hawke), que era uma personagem que nem tínhamos ideia do quanto era necessária até recebermos.

“You can’t spell America without Erica” (Imagem: Reprodução)

Os outros núcleos são compostos por Hopper e Joyce Byers (Winona Ryder); Mike, Lucas e Will; Jonathan (Charlie Heaton) e Nancy (Natalia Dyer); Eleven e Max (Sadie Sink). Cada núcleo de personagens tem seu próprio mistério e alguns vão englobando outros personagens. O roteiro trabalha cada grupo separadamente com maestria. Não dá aquela sensação chata de “poxa, por que não volta logo pra outra história” que existia em temporadas anteriores. E a forma que um mistério vai encontrando o outro aos poucos chega a ser catártico em certos momentos.

Mesmo os anos 80 estando presente em outros aspectos da produção, essa temporada é a que melhor utiliza as referências. Elas são abraçadas pela trama, que faz bom uso das oportunidades que tem para atingir o público nostálgico. A presença do novo shopping por exemplo, ele entremeia a trama de diversas formas. Tanto como apenas ponto de encontro dos adolescentes, como também é mostrado como causa para a crise do comércio local. E ainda, é onde se desenvolve grande parte do núcleo guiado por Dustin e Steve que trabalha numa sorveteria dali. Outro ponto forte das referências está sem dúvida no figurino que mostra o melhor da moda oitentista.

Sem contar também a presença de Andrey Ivchenko como antagonista. O ator em si já é uma referência já que parece ser a fusão perfeita de Arnold Schwarzenegger em Exterminador do Futuro (1984) e Dolph Lundgren (Rocky IV). Aliás, os vilões (sobrenaturais ou não) passam um senso de perigo constante, o roteiro faz você realmente temer pelos personagens.

“Hasta la vista, Baby!” (Imagem: Reprodução)

As atuações estão consistentes, com destaque para David Harbour que tem mais camadas para trabalhar em seu personagem. Gaten Matarazzo e Priah Ferguson que merecem elogios como um alívio cômico e por apresentarem personagens tão cativantes (além de Gaten mostrar mais um grande talento nessa temporada).  Finn Wolfheart é um dos meus maiores problemas em relação a série, o ator se mostra cada vez mais inexpressivo. Fora isso, mais um Bônus seria Eleven ganhar mais personalidade e Millie Bobby Brown ter ganhado mais com o que trabalhar.

Stranger Things 3 em seus oito episódios retorna a série para a qualidade da primeira temporada e desenvolve os pontos fortes da segunda, mesmo sem ter o bônus da falta de expectativa. Mantém um ritmo muito bom sem enxertos de conteúdo desnecessário. E faz referências serem mais do que mero artifício para desencadear nostalgia, sendo a maioria realmente importante pra trama.

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