Após o sucesso estrondoso do lead single Flowers, Miley Cyrus lançou e esqueceu o seu oitavo álbum de estúdio (Foto: Brianna Capozzi)
Nathalia Tetzner
Vestindo a carapuça, ou melhor, o manto dourado que encobre as divas do pop traídas, Miley Cyrus começou 2023 colocando o pé na porta da casa em que o ex-marido a traiu com 14 mulheres e com a passagem comprada para uma férias de verão sem fim. Acontece que ambos se provaram uma ilusão: as estatísticas foram inventadas pelos fãs, devotados em trazer Cyrus de volta ao topo, e a tão sonhada celebração de uma das vozes mais potentes da geração com o disco Endless Summer Vacation chegou ao fim antes mesmo de começar, se tornando apenas uma daquelas noites quentes em que o frio parece dominar o psicológico.
Polachek representa visualmente cada elemento de seu projeto: o fio de Ariadne, o fogo, os anjos e os labirintos até a presença do produtor Danny L Harle e sua filha no ensaio do álbum (Foto: Aidan Zamiri)
Enzo Caramori
Em todas mitologias, existem rotas desconhecidas que até mesmo os mais vividos viajantes e argonautas nunca se atreveram a traçar em seus mapas envelhecidos, especulando apenas o que seriam esses tão grandiosos perigos. Pode-se logo pensar que o medo esteja nas ondas de um mar revoltoso, mas a verdadeira violência é a de se prender em órbitas obsessivas do mais temido feitiço: o desejo. Vários são os poetas – talvez os maiores excursionistas desse percurso – que, esquecendo-se do poder de reconfiguração da paixão, perdem-se, tentando capturá-la com objetividade, em suas profundezas.
A artista estadunidense Caroline Polachek é uma das viajantes que também não encontrou o seu destino, até mesmo porque seu maior objetivo está no próprio ato da busca. Em seu novo e triunfal álbum, Desire, I Want To Turn Into You,Polachek constitui uma cartografia do desejo na forma da música pop. Nela, diferentemente de outras narrativas em que o ser apaixonado quer tomar controle e dar nome ao que sente, a cantora prefere ser transportada pelo êxtase do sentimento. As excursões feitas nas doze faixas do esperado sucessor de Pangsão ruminações, balbucios e expressões fundadas pela letargia, que mais criam imagens do que a paixão pode ser do que realmente um dizer concreto.
Toda a divulgação do último álbum de K-Dot foi feita através de um site misterioso sob a alcunha de Oklama, que traduz-se para “meu povo” na língua Chahta Anumpa, usada por nativos americanos (Foto: pgLang/TDE)
Enrico Souto
É possível que um mortal se torne messias? Sendo este o posto dado a Kendrick Lamar pelo hip-hop, a mensagem que fica ao subir no palco do Grammy para receber seu terceiro gramofone de Melhor Álbum de Rap, em Fevereiro de 2023, é que ele é indubitavelmente humano. Depois um longo hiato, em seu quinto projeto de estúdio, Mr. Morale & The Big Steppers, o artista se apossa desse complexo para mergulhar no mais oculto de seus traumas e, assim, celebrar a beleza de suas imperfeições.
Em seu sétimo álbum, Beyoncé confirma a superstição popular: sete é realmente o número da perfeição (Foto: Carlijn Jacobs)
Aryadne Xavier
Que Beyoncé se consolidou como uma das mais importantes figuras do cenário pop nas últimas duas décadas, todo mundo já sabe. Citar o nome da cantora é a porta de entrada para conversas sobre singlesque marcaram épocas e provaram como a Música pode ir além de qualquer fronteira física, se espalhando pelo globo. Seu trabalho artístico, que começou com o grupo Destiny’s Child e progrediu para uma carreira solo no início dos anos 2000, evoluiu a cada novo lançamento, criando a expectativa da mídia e dos fãs ao redor de todo novo passo da vocalista. Em Renaissance, Beyoncé alcança o seu próprio renascimento, provando como uma artista que vivenciou todas as mudanças da indústria fonográfica nos últimos 30 anos consegue se manter relevante, atual e soar ainda mais potente em suas criações.
Em 5SOS5, a banda australiana reflete sobre a vida, o amor e a amizade (Foto: BMG Management)
Laura Hirata-Vale
“Eu tenho os melhores amigos neste lugar” é a frase que resume o que é a 5 Seconds of Summer. Amigos desde a escola, Luke Hemmings, Calum Hood, Michael Clifford e Ashton Irwin começaram a trajetória do grupo com covers publicados no YouTube em 2011, na cidade de Sidney. Em Setembro de 2022, a banda australiana lançou o seu quinto álbum de estúdio, 5SOS5, que mostra toda a evolução e maturidade adquirida pelo quarteto durante mais de uma década de carreira.
Louis Tomlinson é uma promessa para o futuro (Foto: BMG)
Gabrielli Natividade
Para quem gosta de música, 2022 foi um ótimo ano, com diversos lançamentos incríveis de vários grandes artistas. Entre os novos projetos, está o segundo álbum do britânico Louis Tomlinson, Faith In The Future, que chegou ao público no dia 11 de Novembro. O disco é, desde de seu título até a última faixa, um exemplo de otimismo, esperança, mudança e maturidade, além de demonstrar perfeitamente que Louis finalmente se encontrou como artista solo, que sabe o que quer e está pronto para crescer cada vez mais como pessoa e como cantor.
Com forte influência de tons de vermelho e preto, e Demi deitada sob uma cruz o álbum Holy Fvck é repleto de dores e até mesmo de músicas sexualmente empoderadas (Foto: Island Records)
Monique Marquesini
Um ano após o lançamento do brilhante Dancing with the Devil… The Art of Starting Over, Demi Lovato mostra mais uma vez sua potência em começar de novo. Lançado em 19 de agosto, o seu oitavo álbum de estúdio,Holy Fvck, traz a artista retomando suas origens do rock e do punk em arranjos mais pesados. Além das novas sonoridades, é fácil notar uma mudança genuína em Lovato – as fases da vida da cantora são reflexos de seus sentimentos, e parece que em cada uma das 16 faixas do disco ela está realmente se redescobrindo.
Entre a vida e a morte, o sagrado e o profano, composições íntimas e inovadoras são o combustível do Melhores Discos de 2022 (Arte: Henrique Marinhos/Texto de Abertura: Ana Júlia Trevisan)
A Música é o tom indispensável da vida. No amor, na alegria, na tristeza, na solidão, as canções preenchem playlists embalando a vida e refletindo a alma. As composições são o espelho de como artista e ouvinte enxergam a existência, fazendo com as mudanças sejam necessárias e novidades refresquem o imaginário auditivo de quem aguarda ansiosamente por um single, quiçá um disco de seu intérprete favorito. É impossível me conformar com a potência transformadora da Música. Assim como é inevitável usar tanto floreio para introduzir esse que reúne o melhor do que foi feito em 2022.
Com o formato de vendas modificado pelas plataformas digitais, os álbuns se tornam cada vez mais inviáveis para cantores inseridos na indústria, que coage produções única e exclusivamente voltadas a músicas virais para o TikTok. Quebrando aquilo que parece ter virado regra, o Persona emerge os ossos do ofício e abocanha 73 produções que marcaram o ano na Música.
Dominando a tarefa de trazer um novo fôlego para sua arte, The Weeknd lançou a rádio Dawn FM, vislumbrando dias melhores. Coroando o topo dos rankings, ROSALÍA acelerou com muita autenticidade sua MOTOMAMI. Ao lado da catalã, montada em seu cavalo prata, a musa-mor do pop renasceu. Kendrick Lamar ficou entre a cruz e a espada, SZA pediu socorro, Björk celebrou os recomeços, Sabrina Carpenter finalmente enviou seus e-mails, Florence and the Machine renovou seu nome na lista das netas das bruxas e a loirinha mais querida cantou seus terrores noturnos.
A música haitiana foi lembrada em notas do Topical Dancer. Cruzando o oceano, no mundinho do k-pop, enquanto 2022 serviu para SEVENTEEN se consolidar de vez como uma das maiores boybands da Coreia, artistas de outros grupos tão grandes quanto embarcaram em viagem solo, com novas perspectivas, sonoridades exuberantes e trabalhos coesos que entregam turbilhões de sentimentos. No território russo a boa surpresa veio do metal vampiresco da dupla IC3PEAK.
Em solo brasileiro Acorda, Pedrinho caiu na boca do povo, Bala Desejo ganhou o grande público, Ludmilla mais uma vez provou que nasceu para interpretar pagode, Maria Rita cantou para Xangô, e os calos de Alaíde Costa a fizerem – merecidamente – a cantora nacional mais citada nos rankings. Em meio a isso, o amargo das perdas imperaram no território com os álbuns póstumos de Marilia Mendonça e Elza Soares, o adeus a Erasmo Carlos, e aquela que foi a despedida mais cruel do ano, Gal Costa, a Doce Bárbara, se encantou.
O Melhores Discos de 2022 é dedicado a Gal Costa. Coisas sagradas permanecem!
Ctrl (Deluxe) foi lançado em comemoração ao 5° aniversário de seu debut [Foto: RCA Records]Henrique Marinhos
No meio de 2022, antes de lançar o então recente SOS, Solána Rowe comemorou os 5 anos de Ctrl, seu potente trabalho de estreia. Em meio às festividades, SZA impressionou novamente ao lançar, em 9 de junho, a versão deluxe do CD, provando que mesmo em obras aclamadas ainda há como melhorar. Relembrando um dosmelhores álbuns de 2017, sua nova versão é composta por mais sete faixas até então inéditas, trazendo uma completude ao álbum como se sempre estivessem ali, prolongando a melancólica experiência de R&B que deu tão certo meia década atrás.
Em WHO CARES?, Rex Orange County reflete sobre a vida de jovem adulto (Foto: Stephanie Nardi/Impressions Magazine)
Laura Hirata-Vale
Vivemos em um mundo rápido. Inconstante. Frenético. Instável, incerto, veloz, desordenado, apaixonado, desencantado. É sobre esse mesmo mundo que Rex Orange County reflete – de forma impessoal, sem se importar com outras opiniões – em WHO CARES?, seu quarto álbum, lançado em março.
Construído em um período de dez dias, durante uma viagem do cantor à Amsterdam, o projeto de onze músicas nasceu de maneira espontânea em uma rapidez quase inconsciente: não houve tempo para pensar, repensar e refletir muito sobre as sonoridades, musicalidades e letras das canções. Co-produzido com o músico Benny Sings, o disco ainda possui a participação do rapperTyler, The Creator.