As férias de verão sem fim de Miley Cyrus terminaram cedo demais

Capa do álbum Endless Summer Vacation. Na imagem, Miley Cyrus se pendura com as duas mãos apoiadas em uma barra suspensa por correntes. Ela é uma mulher branca de olhos claros. Seu cabelo está dividido entre mechas loiras e escuras, Cyrus veste um traje de banho com cortes laterais, um salto alto e um óculos de sol, todos na mesma cor: preto. Ao fundo, um degradê entre os tons de azul toma conta da paisagem.
Após o sucesso estrondoso do lead single Flowers, Miley Cyrus lançou e esqueceu o seu oitavo álbum de estúdio (Foto: Brianna Capozzi)

Nathalia Tetzner

Vestindo a carapuça, ou melhor, o manto dourado que encobre as divas do pop traídas, Miley Cyrus começou 2023 colocando o pé na porta da casa em que o ex-marido a traiu com 14 mulheres e com a passagem comprada para uma férias de verão sem fim. Acontece que ambos se provaram uma ilusão: as estatísticas foram inventadas pelos fãs, devotados em trazer Cyrus de volta ao topo, e a tão sonhada celebração de uma das vozes mais potentes da geração com o disco Endless Summer Vacation chegou ao fim antes mesmo de começar, se tornando apenas uma daquelas noites quentes em que o frio parece dominar o psicológico.

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Desire: a paixão segundo Caroline Polachek

Caroline Polachek é uma mulher branca, de olhos verdes e cabelos lisos escuros; possui uma característica verruga no centro de sua clavícula. Na foto, tem suas mãos na frente ao lado de seu rosto abertas e envolvidas por linhas vermelhas que formam uma espécie de tela fronte a sua face. As linhas queimam em chamas pontuais, enquanto a artista olha fixamente para a câmera, vestindo um espartilho preto de couro e uma manga preta que cobre parcialmente os seus braços, além de um lenço preto em sua cabeça.
Polachek representa visualmente cada elemento de seu projeto: o fio de Ariadne, o fogo, os anjos e os labirintos até a presença do produtor Danny L Harle e sua filha no ensaio do álbum (Foto: Aidan Zamiri)

Enzo Caramori

Em todas mitologias, existem rotas desconhecidas que até mesmo os mais vividos viajantes e argonautas nunca se atreveram a traçar em seus mapas envelhecidos, especulando apenas o que seriam esses tão grandiosos perigos. Pode-se logo pensar que o medo esteja nas ondas de um mar revoltoso, mas a verdadeira violência é a de se prender em órbitas obsessivas do mais temido feitiço: o desejo. Vários são os poetas – talvez os maiores excursionistas desse percurso – que, esquecendo-se do poder de reconfiguração da paixão, perdem-se, tentando capturá-la com objetividade, em suas profundezas.

A artista estadunidense Caroline Polachek é uma das viajantes que também não encontrou o seu destino, até mesmo porque seu maior objetivo está no próprio ato da busca. Em seu novo e triunfal álbum, Desire, I Want To Turn Into You, Polachek constitui uma cartografia do desejo na forma da música pop. Nela, diferentemente de outras narrativas em que o ser apaixonado quer tomar controle e dar nome ao que sente, a cantora prefere ser transportada pelo êxtase do sentimento. As excursões feitas nas doze faixas do esperado sucessor de Pang são ruminações, balbucios e expressões fundadas pela letargia, que mais criam imagens do que a paixão pode ser do que realmente um dizer concreto. 

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Mr. Morale & The Big Steppers: Kendrick Lamar renuncia a coroa

Capa do álbum “Mr. Morale & The Big Steppers”, de Kendrick Lamar. Fotografia quadrada e colorida. Nela, vemos Kendrick Lamar com um olhar sério, de costas para a câmera, enquanto segura sua filha no colo. Ele é um homem negro, de cabelos trançados, que veste uma camiseta branca, calças bejes presas por um cinto preto. Ele guarda na cintura uma pistola e, na cabeça, usa uma coroa de espinhos cravejada em diamantes. Sua filha é uma menina negra, de cerca de 5 anos, e veste uma regata branca. Ao fundo, sentada em uma cama, vemos Whitney Alford, sua esposa, amamentando um bebê menor. Ela é uma mulher negra, de cabelos crespos longos, que veste uma regata branca. O cenário é o quarto de uma casa, com paredes da cor marrom, iluminado pela luz do sol.
Toda a divulgação do último álbum de K-Dot foi feita através de um site misterioso sob a alcunha de Oklama, que traduz-se para “meu povo” na língua Chahta Anumpa, usada por nativos americanos (Foto: pgLang/TDE)

Enrico Souto

É possível que um mortal se torne messias? Sendo este o posto dado a Kendrick Lamar pelo hip-hop, a mensagem que fica ao subir no palco do Grammy para receber seu terceiro gramofone de Melhor Álbum de Rap, em Fevereiro de 2023, é que ele é indubitavelmente humano. Depois um longo hiato, em seu quinto projeto de estúdio, Mr. Morale & The Big Steppers, o artista se apossa desse complexo para mergulhar no mais oculto de seus traumas e, assim, celebrar a beleza de suas imperfeições. 

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A celebração do passado e do presente de Beyoncé em Renaissance

Na imagem, vemos Beyoncé, uma mulher negra, adulta, ao centro, vestindo uma roupa prateada com brilhantes, um chapéu branco e sapatos de salto. Ela está com a postura ereta e observa a câmera que a fotografa. Seu rosto possui uma maquiagem na qual o destaque está para seus lábios, com um batom escuro. Ela está sentada sobre um cavalo prateado que reluz e, ao fundo, tem um grande quadro.
Em seu sétimo álbum, Beyoncé confirma a superstição popular: sete é realmente o número da perfeição (Foto: Carlijn Jacobs)

Aryadne Xavier

Que Beyoncé se consolidou como uma das mais importantes figuras do cenário pop nas últimas duas décadas, todo mundo já sabe. Citar o nome da cantora é a porta de entrada para conversas sobre singles que marcaram épocas e provaram como a Música pode ir além de qualquer fronteira física, se espalhando pelo globo. Seu trabalho artístico, que começou com o grupo Destiny’s Child e progrediu para uma carreira solo no início dos anos 2000, evoluiu a cada novo lançamento, criando a expectativa da mídia e dos fãs ao redor de todo novo passo da vocalista. Em Renaissance, Beyoncé alcança o seu próprio renascimento, provando como uma artista que vivenciou todas as mudanças da indústria fonográfica nos últimos 30 anos consegue se manter relevante, atual e soar ainda mais potente em suas criações.

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5SOS5: a música é o quinto integrante da 5 Seconds of Summer

Capa do álbum 5SOS5, da banda australiana 5 Seconds of Summer. A imagem imita cadas de papel: a primeira, é rosa claro, e possui recortes no formato da silhueta dos quatro integrantes do grupo. A segunda camada possui um gradiente de azul e vermelho, e preenche o espaço deixado pela primeira camada.
Em 5SOS5, a banda australiana reflete sobre a vida, o amor e a amizade (Foto: BMG Management)

Laura Hirata-Vale

Eu tenho os melhores amigos neste lugar” é a frase que resume o que é a 5 Seconds of Summer. Amigos desde a escola, Luke Hemmings, Calum Hood, Michael Clifford e Ashton Irwin começaram a trajetória do grupo com covers publicados no YouTube em 2011, na cidade de Sidney. Em Setembro de 2022, a banda australiana lançou o seu quinto álbum de estúdio, 5SOS5, que mostra toda a evolução e maturidade adquirida pelo quarteto durante mais de uma década de carreira.

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Faith In The Future demonstra ser uma fonte de otimismo e esperança

Capa do álbum Faith In The Future. No centro da imagem é possível ver Louis Tomlinson, um homem branco, com olhos azuis e olhos castanhos, dos ombros para cima. Veste um casaco quadriculado em preto e vermelho, fechado na gola alta listrada nas mesmas cores. Todo o fundo da imagem é preto e metade do rosto de Louis está coberto pelas sombras; no lado direito, ao lado de sua cabeça, está o título em vermelho.
Louis Tomlinson é uma promessa para o futuro (Foto: BMG)

Gabrielli Natividade 

Para quem gosta de música, 2022 foi um ótimo ano, com diversos lançamentos incríveis de vários grandes artistas. Entre os novos projetos, está o segundo álbum do britânico Louis Tomlinson, Faith In The Future, que chegou ao público no dia 11 de Novembro. O disco é, desde de seu título até a última faixa, um exemplo de otimismo, esperança, mudança e maturidade, além de demonstrar perfeitamente que Louis finalmente se encontrou como artista solo, que sabe o que quer e está pronto para crescer cada vez mais como pessoa e como cantor.

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A intensidade intimista de Holy Fvck mostra que a potência do rock está dentro de Demi Lovato

Foto do oitavo álbum de estúdio de Demi Lovato. A imagem tem formato quadrado e mostra Demi Lovato deitada em cima de uma almofada em formato de cruz, enquanto está amarrada e na frente de um fundo preto com vermelho.
Com forte influência de tons de vermelho e preto, e Demi deitada sob uma cruz o álbum Holy Fvck é repleto de dores e até mesmo de músicas sexualmente empoderadas (Foto: Island Records)

Monique Marquesini

Um ano após o lançamento do brilhante Dancing with the Devil… The Art of Starting Over, Demi Lovato mostra mais uma vez sua potência em começar de novo. Lançado em 19 de agosto, o seu oitavo álbum de estúdio, Holy Fvck, traz a artista retomando suas origens do rock e do punk em arranjos mais pesados. Além das novas sonoridades, é fácil notar uma mudança genuína em Lovato –  as fases da vida da cantora são reflexos de seus sentimentos, e parece que em cada uma das 16 faixas do disco ela está realmente se redescobrindo.

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Os Melhores Discos de 2022

Entre a vida e a morte, o sagrado e o profano, composições íntimas e inovadoras são o combustível do Melhores Discos de 2022 (Arte: Henrique Marinhos/Texto de Abertura: Ana Júlia Trevisan)

A Música é o tom indispensável da vida. No amor, na alegria, na tristeza, na solidão, as canções preenchem playlists embalando a vida e refletindo a alma. As composições são o espelho de como artista e ouvinte enxergam a existência, fazendo com as mudanças sejam necessárias e novidades refresquem o imaginário auditivo de quem aguarda ansiosamente por um single, quiçá um disco de seu intérprete favorito. É impossível me conformar com a potência transformadora da Música. Assim como é inevitável usar tanto floreio para introduzir esse que reúne o melhor do que foi feito em 2022.

Com o formato de vendas modificado pelas plataformas digitais, os álbuns se tornam cada vez mais inviáveis para cantores inseridos na indústria, que coage produções única e exclusivamente voltadas a músicas virais para o TikTok. Quebrando aquilo que parece ter virado regra, o Persona emerge os ossos do ofício e abocanha 73 produções que marcaram o ano na Música.

Dominando a tarefa de trazer um novo fôlego para sua arte, The Weeknd lançou a rádio Dawn FM, vislumbrando dias melhores. Coroando o topo dos rankings, ROSALÍA acelerou com muita autenticidade sua MOTOMAMI. Ao lado da catalã, montada em seu cavalo prata, a musa-mor do pop renasceu. Kendrick Lamar ficou entre a cruz e a espada, SZA pediu socorro, Björk celebrou os recomeços, Sabrina Carpenter finalmente enviou seus e-mails, Florence and the Machine renovou seu nome na lista das netas das bruxas e a loirinha mais querida cantou seus terrores noturnos.

A música haitiana foi lembrada em notas do Topical Dancer. Cruzando o oceano, no mundinho do k-pop, enquanto 2022 serviu para SEVENTEEN se consolidar de vez como uma das maiores boybands da Coreia, artistas de outros grupos tão grandes quanto embarcaram em viagem solo, com novas perspectivas, sonoridades exuberantes e trabalhos coesos que entregam turbilhões de sentimentos. No território russo a boa surpresa veio do metal vampiresco da dupla IC3PEAK.

Em solo brasileiro Acorda, Pedrinho caiu na boca do povo, Bala Desejo ganhou o grande público, Ludmilla mais uma vez provou que nasceu para interpretar pagode, Maria Rita cantou para Xangô, e os calos de Alaíde Costa a fizerem – merecidamente – a cantora nacional mais citada nos rankings. Em meio a isso, o amargo das perdas imperaram no território com os álbuns póstumos de Marilia Mendonça e Elza Soares, o adeus a Erasmo Carlos, e aquela que foi a despedida mais cruel do ano, Gal Costa, a Doce Bárbara, se encantou. 

O Melhores Discos de 2022 é dedicado a Gal Costa. Coisas sagradas permanecem!

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Em Ctrl (Deluxe), SZA prova que é sempre possível melhorar

Capa do álbum CTRL (Deluxe): Uma imagem da cantora SZA, uma mulher negra, jovem e de cabelos pretos, encaracolados e longos. Ela está sentada com sua mão esquerda no chão atrás e outra em seu joelho.Está vestindo um body branco por baixo de uma jaqueta branca. Também tênis e meias brancas curtas. Ao fundo vemos um gramado e vários computadores velhos em volta dela.
Ctrl (Deluxe) foi lançado em comemoração ao 5° aniversário de seu debut [Foto: RCA Records]
Henrique Marinhos

No meio de 2022, antes de lançar o então recente SOS, Solána Rowe comemorou os 5 anos de Ctrl, seu potente trabalho de estreia. Em meio às festividades, SZA impressionou novamente ao lançar, em 9 de junho, a versão deluxe do CD, provando que mesmo em obras aclamadas ainda há como melhorar. Relembrando um dos melhores álbuns de 2017, sua nova versão é composta por mais sete faixas até então inéditas, trazendo uma completude ao álbum como se sempre estivessem ali, prolongando a melancólica experiência de R&B que deu tão certo meia década atrás.

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Rex Orange County e a arte de ‘não ligar’ para algumas opiniões

Foto colorida do palco da turnê WHO CARES?. O cantor Rex Orange County aparece no centro da imagem, embaixo de um holofote, com um microfone na mão, no meio de um pequeno pulo. Ele é um homem branco, de cabelos castanhos, e aparece usando uma camiseta azul claro, bermuda preta, meias e tênis brancos. Atrás, pode-se ver a banda, formada por homens. No fundo, há uma estampa preta e branca, imitando as manchas de um cão dálmata, e apresenta os escritos WHO CARES?, em caixa alta
Em WHO CARES?, Rex Orange County reflete sobre a vida de jovem adulto (Foto: Stephanie Nardi/Impressions Magazine)

Laura Hirata-Vale

Vivemos em um mundo rápido. Inconstante. Frenético. Instável, incerto, veloz, desordenado, apaixonado, desencantado. É sobre esse mesmo mundo que Rex Orange County reflete – de forma impessoal, sem se importar com outras opiniões – em WHO CARES?, seu quarto álbum, lançado em março. 

Construído em um período de dez dias, durante uma viagem do cantor à Amsterdam, o projeto de onze músicas nasceu de maneira espontânea em uma rapidez quase inconsciente: não houve tempo para pensar, repensar e refletir muito sobre as sonoridades, musicalidades e letras das canções. Co-produzido com o músico Benny Sings, o disco ainda possui a participação do rapper Tyler, The Creator

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