Croma Kid sintoniza a expressividade dos anos 1990 em uma tela fantástica e analógica

Cena do Filme Croma Kid. Na imagem está um garoto branco coberto por um pano verde com dois furos em seus olhos castanhos e abertos. Parte de suas sobrancelhas aparecem nas formas ovais. Ao fundo uma parede verde como chroma key de um estúdio.
Croma Kid esteve na 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo e também na seção Bright Future do Festival Internacional de Cinema de Roterdã (Foto: Aurora Dominicana)

Henrique Marinhos

Marcado pelo domínio da tecnologia analógica no cenário audiovisual, Croma Kid é uma viagem estonteante aos anos 1990. Dirigido por Pablo Chea e presente na seção Competição Novos Diretores da 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo, a ficção nos leva a acompanhar o encantador pré-adolescente Emi (Bosco Cárdenas), em todas as suas rebeldias e pensamentos inquietantes sobre sua família, que o envergonha por sua veia artística e televisiva.

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Não há nada de vazio em um Domingo à Tarde

Cena do filme O Vazio de Domingo à Tarde. Na imagem, Gisele Frade, uma mulher branca que interpreta Mônica, retira a  maquiagem em frente a um espelho com moldura branca. Ao lado direito do espelho, há fotos do rosto de Mônica com hematomas. Além disso, há uma taça de vidro e um demaquilante para a remoção da maquiagem na mesa em que a personagem está.
O longa-metragem, presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema, marca a estreia de Gisele Frade como atriz nas telonas (Foto: André Carvalheira)

Guilherme Machado Leal

A metalinguagem é uma das formas de se contar histórias no audiovisual. A partir dela, discussões sobre a arte dentro da arte são inúmeras e não possuem uma maneira específica de abordagem. Por exemplo, em Pânico 3, os personagens gravam um filme slasher enquanto vivenciam o subgênero em suas vidas pessoais. As narrativas autorreferenciais são importantes porque tiram o foco do exterior e priorizam o processo de criação em detrimento à finalidade dele. É nesse lugar que O Vazio de Domingo à Tarde, dirigido por Gustavo Galvão, se encontra. 

O longa, que estreou na seção Mostra Brasil da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acompanha a história de Mônica (Gisele Frade), uma atriz conturbada com a sua carreira e vida pessoal, que se entrelaçam e a tornam uma só. Tendo como ponto de partida a sua relação com o trabalho, a personagem trava uma batalha interna entre o seu eu pessoal e o lugar de prestígio que ocupa no imaginário daqueles que a admiram. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que a protagonista passa por essa jornada, Kelly (Ana Eliza Chaves), uma adolescente que almeja o estrelato, possui a artista como inspiração e fará de tudo para entrar no mundo da atuação.

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A Sobrevivência da Bondade mostra que nem ela está viva

Cena do filme A Sobrevivência da Bondade. Na cena, que se passa durante o dia, podemos ver, ao fundo, uma estrutura de tijolos, que aparenta ser uma casa abandonada. Em um primeiro plano, ao centro, vemos uma mulher preta, de aparentemente 50 anos, com cabelos curtos e castanhos claros, vestindo uma camisa xadrez bege com listras pretas. Ela encara algo a direita da imagem, que não podemos ver.
Presente no Festival de Cannes, Veneza e Berlim, A Sobrevivência da Bondade também integrou a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Fandango Sales)

Vitória Gomez

Reencontrar sentido em seus recomeços. É o que a sinopse de A Sobrevivência da Bondade propõe. Na trama, exibida na seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e vencedora do Prêmio da Crítica do Festival de Berlim, uma mulher negra é abandonada no deserto dentro de uma jaula. Conseguindo milagrosamente escapar depois de dias, ela cruza a paisagem árida em busca de salvação, para encontrar ainda mais barbárie na civilização. 

A sinopse busca por recomeços, mas, a cada novo cenário apresentado, essa ideia parece mais distante. BlackWoman – como a protagonista é chamada nos créditos finais, uma vez que o longa-metragem praticamente não tem diálogos – cruza campos arenosos sem sinal de vida, cidades abandonadas por uma suposta guerra e trilhas em ambientes hostis, com o inimigo caminhando poucos metros à frente. A mulher não tem outro objetivo senão a sobrevivência e, para o espectador, o tom é contemplativo. O que estaria acontecendo ali? E, acima de tudo, o que isso significa?

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El mal querer: em novas roupagens, Rosalía apresentou o flamenco para novas gerações há 5 anos

Capa do álbum El Mal Querer da cantora Rosalía. Nele, a cantora está acima de uma nuvem aos céus, envolta por um círculo de correntes de ouro brilhantes. Seus braços estão pendurando aréolas que seguram longos panos brancos que vão até seus pés. Ela está despida e ao centro está uma luz branca. Logo acima de sua cabeça estão estrelas em formato de um círculo e uma pomba branca voando. No centro inferior da imagem está escrito Rosalía em negrito e ao lado El Mal Querer.
El mal querer é baseado em um livro do século XIII de um autor desconhecido (Foto: Columbia Records)

Henrique Marinhos

A cantora, compositora e produtora Rosalía nasceu em Sant Esteve Sesrovires, na Catalunha, em 1992 e se tornou um fenômeno da música pop com o lançamento de seu segundo álbum, El mal querer, há 5 anos. A obra conceitual mistura elementos do flamenco, pop e urban com vocais e visuais esplendorosos e surpreendentes para um projeto de conclusão de curso na Escola Superior de Música da Catalunha. 

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Como Você se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível: quando uma tatuagem vira um debate sobre o male gaze iraniano

Cena do filme Como você se atreve a desejar algo tão terrível. Na imagem, uma mulher não identificada tem seus olhos capturados pela câmera. Ela olha para o lado com as pálpebras pintadas com lápis de olho preto e uma sobrancelha fina. O retrato está em preto e branco.
O documentário faz parte da seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Mania Akbari)

Nathalia Tetzner

Mania Akbari é uma força da natureza. Não à toa, a cineasta iraniana escolhe os traços das folhas e flores para tatuar em seu corpo ao longo do documentário Como Você se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível, selecionado para integrar a seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Conhecida por abordar os direitos das mulheres de seu país de origem em suas produções, Akbari, dessa vez, propõe o que define como “o diálogo do corpo com a sua memória pictórica”. 

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O documentário da Xuxa tem sorte de ter a Rainha dos Baixinhos como estrela

Foto promocional de Xuxa, o Documentário. Na imagem, a silhueta da Rainha dos Baixinhos aparece como uma sombra em meio ao cenário todo iluminado e colorido em tons quentes. Ao fundo, a icônica nave da Xuxa está aberta ao lado de dois X gigantescos. Em meio às escadas, uma grande camada de fumaça faz com que a apresentadora pareça estar nas nuvens de seu próprio planeta.
Xuxa, o Documentário se tornou a obra do gênero mais assistida da plataforma Globoplay (Foto: Blad Meneghel)

Nathalia Tetzner

Celebrando 60 anos de vida em 2023, Maria da Graça Meneghel entrega a figura estelar da Rainha dos Baixinhos nas mãos da roteirista Camila Appel e dos diretores Pedro Bial, Cássia Dian e Mônica Almeida que, em Xuxa, o Documentário, resgatam os momentos cruciais do maior fenômeno da história do entretenimento brasileiro. Dividido em apenas cinco episódios liberados semanalmente pela plataforma de streaming Globoplay, o seriado tenta o impossível: compilar décadas de uma trajetória estratosférica. E, com as cortinas do espetáculo despencando na frente do espectador, o produto final cai, mas não sem atirar o brilho da fantasia de volta. 

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10 anos atrás, PRISM refratou todas as cores de Katy Perry

Capa do álbum PRISM da cantora Katy Perry. Na arte da capa, a imagem da cantora está centralizada a partir do busto. Uma borda estilizada apresenta uma paleta de tons suaves com flores nas cores laranja e amarelo. Perry é uma mulher branca de cabelos escuros e olhos claros. Ela está em um campo de girassol. No topo da arte da capa, o nome “Katy Perry” aparece em letras garrafais. Já na parte inferior, o título do disco “PRISM” está escrito da mesma forma.
PRISM debutou no topo da Billboard Hot 200 em 2013 (Foto: Ryan McGinley)

Nathalia Tetzner

Segundo a ciência, o arco-íris é explicado pela refração, dispersão e reflexão da luz solar por gotículas de água presentes na atmosfera. Já para os supersticiosos, o arco luminoso pode significar prosperidade e abundância, tal qual a história clássica do duende e o pote de ouro. Porém, nos versos de Katy Perry, a magia está no Double Rainbow, algo que você somente seria capaz de testemunhar uma vez na vida. 

Mas, afinal, se a misticidade determina que a duplicidade do fenômeno físico pode ocorrer uma única vez ao longo da trajetória de uma pessoa, quantas vezes é possível se alcançar o topo do mundo? Contrariando as estatísticas de discos que são amaldiçoados pelo sucesso estrondoso do anterior, PRISM (2013) refratou todas as cores de Perry ao colocá-la no caminho certo para encontrar a recompensa dourada novamente em sua carreira.

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Jennifer Lawrence estrela a pergunta de um milhão de dólares: Que Horas Eu Te Pego?

Cena do filme Que Horas Eu Te Pego?. Na imagem, Jennifer Lawrence, uma mulher branca que interpreta Maddie, veste uma camiseta branca. Andrew Barth, um homem branco que interpreta Percy, também veste uma camiseta branca. Eles estão em uma sala, sentados em um sofá com almofadas vermelhas. Ele está no colo dela.
O longa-metragem é um dos melhores de 2023 e precisa da sua atenção (Foto: Sony Pictures)

Guilherme Machado Leal

Estrelas de Hollywood e o incrível percurso de uma montanha-russa são o combo perfeito para se estudar a trajetória da carreira de um ator. Todos, sem exceção alguma, possuem seus altos e baixos, períodos em que são muito requisitados e tempos sombrios nos quais são esquecidos. Tal caminho, inerente à fama, também encontrou a atriz Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes). A nossa eterna Katniss Everdeen, que já foi o talento mais bem pago por dois anos seguidos, se afastou dos holofotes para se concentrar na maternidade. No entanto, após ler o roteiro de um certo filme, a ganhadora do Oscar decidiu retornar ao mundo da atuação. Afinal, o que em Que Horas Eu Te Pego? a colocaria de volta às telonas? 

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Oldboy: 20 anos do mais belo trauma geracional

Cena do filme Oldboy. Na imagem, Oh Dae-su (Choi Min-sik) está sentado esperando sua refeição em um restaurante especializado em sushi. A câmera o captura a partir dos ombros e a sua figura está centralizada no plano. Ele é um homem sul-coreano de cabelos e olhos escuros. O protagonista veste uma camiseta de botões e mangas longas na cor preta. Um óculos de sol de armação dourada e lentes vermelhas encobre todo o seu olhar. Ao fundo, é possível observar alguns clientes sentados em mesas e quadros decorando o ambiente de iluminação baixa.
Oldeuboi ganhou o Grand Prix do Festival de Cannes de 2004 (Foto: Show East)

Nathalia Tetzner

No cativeiro de Oh Dae-su (Choi Min-sik), papéis de parede repetidamente estampados com favo de mel, uma televisão de tubo em ótimo estado e um gás capaz de fazer adormecer compõem o cenário desconcertante. O quarto nunca é invadido pela luz natural, gotas de chuva ou o barulho da cidade, mas é penetrado por uma câmera de Cinema condicionada à perspectiva restrita do personagem, sufocando o espectador junto dele. Em 2003, o diretor sul-coreano Park Chan-wook lançou ao mundo a sua interpretação da série de mangá japonesa Old Boy (1996-1998) que, com uma paleta de tons verde, vermelho e roxo, se propôs a retratar a enorme prisão que acorrenta a sociedade e, principalmente, ocasionou o mais belo trauma geracional com um plot twist digno de calafrios.

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