Estante do Persona – Maio de 2024

Em Maio, o Estante do Persona faz ode aos inícios (Texto de abertura por: Guilherme Machado Leal/ Artes: Julia Rodrigues)

Se apaixonar e se encantar por um livro pela primeira vez é uma das experiências mais marcantes de qualquer leitor. Seja fantasia, drama ou romance, as narrativas literárias transportam o público para as páginas e escritos de um autor. Por isso, o Estante do Persona deste mês celebra as primeiras indicações dos novos membros da Editoria com uma lista seleta de obras marcantes.

De suspenses literários brasileiros a clássicos mundiais, as recomendações atravessam os mais variados gêneros e atingem todos os públicos. Entre histórias em quadrinhos e livros sobre a iminência da vida adulta, algo que une todas as indicações do mês de Maio é o amor pela Literatura e pelas histórias contadas. Das narrativas infantojuvenis às poesias profundas de Sylvia Plath, o cardápio de obras literárias oferece arcos envolventes de personagens e tramas de tirar o fôlego. 

Em suma, para este mês, as indicações se pautam em liberdade. Drama, distopia, aventura e muitos outros gêneros são encontrados no Estante do Persona de maio. Pegue uma pipoca, se aconchegue e se prepare para receber inúmeras recomendações de narrativas literárias. Do tradicional ao moderno, a lista a seguir é para quem pode se chamar de ávido leitor!

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O dilema de Suzane von Richthofen em A Menina Que Matou os Pais – A Confissão

Cena do filme A Menina Que Matou os Pais - A Confissão. O local é um cemitério, ao fundo, há algumas pessoas desfocadas e no centro, em evidência, está a atriz Carla Diaz, uma mulher branca de cabelos louros, longos e lisos. Ela usa uma calça jeans escura, um cropped preto e no ombro uma blusa de manga comprida preta. Ela está abraçando o ator Leonardo Bittencourt, um homem branco de cabelos pretos utilizando uma camisa social cinza e gravata longa preta. Ele também está utilizando uma calça social cinza escuro e um cinto preto.
Carla Diaz e Leonardo Bittencourt novamente protagonizam a representação do crime que chocou o Brasil (Foto: Amazon Prime Video)

Guilherme Barbosa

Em 2002, o caso Richthofen escandalizou o Brasil pela extrema brutalidade do crime, orquestrado por Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos. A indústria cultural, desde então, explorou diversas formas de recriar esse trágico evento, seja por meio de livros, podcasts ou no Cinema. Em 2021, dois filmes apresentaram uma nova abordagem, revelando a perspectiva de Suzane e a de Daniel Cravinhos, seu então namorado. Dois anos depois das primeiras adaptações cinematográficas, surge um novo capítulo com A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, prometendo narrar os acontecimentos desde a noite do crime até o dia em que confessaram.

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Estante do Persona – Outubro de 2022

Com tradução de Livia Deorsola, As convidadas foi a aventura do Clube do Livro em Outubro de 2022 (Foto: Companhia das Letras/Arte: Nathália Mendes/Texto de abertura: Vitória Gomez)

“Você me disse que o medo sempre foi uma das minhas distrações favoritas. Essas loucuras minhas são das que você mais gosta, porque demonstram que ainda resta em mim algum resquício de infância. Não sou corajosa, mas em minha inconsciência jamais recuso o perigo, eu o busco para brincar com ele.”

– Silvina Ocampo

O final do ano se aproxima e o Clube do Livro não deixou a peteca cair. Se as relações humanas já permearam mais debates do que conseguimos contar em uma mão, a escolha do mês remexeu a abordagem do tema e desafiou os leitores do Persona. As convidadas, leitura selecionada para Outubro, tem as relações amorosas como ponto central da maioria de seus 44 contos de duração. O livro de Silvina Ocampo, porém, leva o absurdo a sério e o extrapola para explorar os tais relacionamentos.

Publicado no Brasil em 2022 pela Companhia das Letras, a coletânea de curtas histórias é tão surpreendente quanto é chocante. Ora sombria, ora cômica, Ocampo invade o costumeiro com o extraordinário e o inesperado. Na subjetividade de deixar seus pontos emaranhados em situações peculiares, escondidos sob o véu da interpretação de cada leitor, a escritora argentina rende material para teorias e debates através da lente do realismo mágico e da literatura fantástica, levando sua testemunha a apenas um passo de descobrir o que não pretende desvendar.

Assim como na obra, selecionada graças a parceria do Persona com a Companhia das Letras, Outubro talvez tenha sido o mês da antecipação no campo literário. Anunciada como convidada da Festa Literária Internacional de Paraty – tema garantido no próximo Estante -, a francesa Annie Ernaux recebeu o Nobel de Literatura pela “coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal”. Uma das favoritas ao prêmio, Ernaux se tornou apenas a 17ª mulher a vencer a honraria, de 119 ganhadores desde 1901. Após a vitória, ela destacou que deve poder testemunhar “uma forma de equidade, justiça, em relação ao mundo”.

A mente por trás de Les Armoires Vides (1974), Os Anos (2008) e O Acontecimento (2000) – esse último, experienciado pelo Clube do Livro em Julho -, foi honrada pela forma com que mescla suas experiências de vida a temas de interesse coletivo, cunhado como “autosociobiografia”. Na primeira obra, por exemplo, a escritora reflete sobre classes sociais em uma inconstante França ao passo que narra seu próprio cotidiano no empreendimento da família no interior do país. A linguagem simples e direta, “cristalina”, de Ernaux também pode ser mencionada com um dos motivos do envolvimento arrebatador de seus textos.

Do âmbito global ao nacional, a antecipação se estendeu ao Prêmio Jabuti: um dos maiores reconhecimentos da Literatura e do mercado editorial brasileiro revelou seus finalistas na última semana do mês. Dentre os 10 concorrentes em cada categoria, divididas nos eixos de Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação, a de Romance Literário se destacou. Com 8 dos 10 nomes que chegaram ao corte final sendo autoras mulheres, a lista dos 5 indicados ao troféu foi ainda mais positivo. Mas isso é tema para o próximo mês. Dentre as menções, Natalia Borges Polesso concorreu pela terceira vez (a segunda na categoria), agora com A extinção das abelhas. Andréa del Fuego, por A pediatra, e Aline Bei, por Pequena coreografia do adeus, ambas conhecidas do Persona, também integraram a lista.

Já na língua portuguesa como um todo, o Prêmio Camões 2022 laureou o ensaísta e poeta Silviano Santiago. Autor dos ensaios O entre-lugar do discurso latino-americano, O cosmopolitismo do pobre e As raízes e o labirinto da América Latina, o escritor mineiro levou seis vezes o Prêmio Jabuti e o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Agora, soma o Camões a sua estante, pelo conjunto de sua obra. Dentre os cotados do Brasil, Portugal e países africanos de língua portuguesa, Santiago é o 14º brasileiro a fazer parte da curta lista de vencedores; em 2021, quem recebeu a honraria foi Paulina Chiziane, de Moçambique.

Entre reconhecimentos e antecipações, o Clube do Livro segue atento aos próximos destaques vindos do Jabuti e aos debates fundamentais suscitados na Flip 2022, que pautarão a Literatura pelos próximos meses. Enquanto isso, é a Editoria do Persona quem indica as leituras do final do ano.

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A Menina que Matou os Pais regurgita clichês imperdoáveis

Cena do filme A Menina que Matou os Pais. Nela, vemos Carla Diaz, branca e loira, de roupa vermelha, abraçando um porta retrato. A iluminação é azulada e ela tem uma expressão vazia no rosto.
Com ótimas atuações de Carla Diaz e Leonardo Bittencourt, A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais narram duas versões do crime envolvendo Suzane von Richthofen, Daniel e Cristian Cravinhos (Foto: Amazon Prime Video)

Vitor Evangelista

A destemida ideia de transformar em ficção o crime envolvendo a família Von Richthofen não poderia ser mais ousada. O conturbado cenário do Cinema nacional, que encontra no público do país um asco à qualquer obra que fuja dos “bons costumes” ou da comédia irreverente que a Globo germinou na última década, é carente de filmes corajosos o bastante para, na mesma moeda, adereçar temas sensíveis e fazê-lo ao alcance do grande público. Com isso, A Menina que Matou os Pais já nasceu com promessa de grandeza. 

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Bom dia, Verônica: sangue se paga com sangue

Depois do sucesso de Bom dia, Verônica, Tainá Müller fará mais duas séries policiais (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

Feminicídio, necrofilia, violência doméstica e golpes virtuais. É essa série de crimes que Ilana Casoy e Raphael Montes escolhem para desenvolver o mundo do sistema penal de Verônica Torres, escrivã na Delegacia de Homicídios da cidade de São Paulo. Bom dia, Verônica, o resultado final, foi lançado pela Darkside Books em 2016, quando seus autores ainda se escondiam sob o pseudônimo de Andrea Killmore. Identidades reveladas, não demorou muito para conseguirmos uma adaptação – e ela chegou em outubro de 2020, pelas mãos da Netflix.

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O Vilarejo e o que fazemos com histórias malignas

Ilustração da capa – O “pequeno amontoado de casas esquecidas pelo mundo” em tons de vermelho sangue (Foto: Suma)

 “O caráter do homem é o seu demônio”

-Heráclito

Caroline Campos

Algumas histórias são malditas. Elas carregam a perversidade e a podridão humana em suas palavras e nos deixam diante de um impasse: será que vale a pena eternizar tanta maldade? Logo no prefácio de O Vilarejo, Raphael Montes, autor da obra publicada em 2015 pela Editora Suma, toma a sua decisão. E ela não poderia ter sido mais certeira.

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