Lutar, correr e persistir, três verbos que se encaixam perfeitamente nas rotinas de dois mundos aparentemente distantes: esporte e imigração. Ousamos Sonhar é o ponto de encontro, uma prova de que universos se fundem e são capazes de dobrar a força de qualquer palavra. No filme, dirigido por Waad al-Kateab e presente na Competição Novos Diretores da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, os sonhos ultrapassam as linhas das fronteiras territoriais.
Para Bas Devos, fazer filmes é uma desculpa para ser curioso. Here, seu quarto longa-metragem, usa essa curiosidade para observar a relação de dois estranhos consigo mesmos, um com o outro e com o país que habitam, estrangeiro tanto quanto eles mesmos ali. A produção desembarcou no Brasil no 25° Festival do Rio depois de conquistar dois troféus no Festival de Berlim e, olhando para o ordinário, torna até o comum fantástico.
Na obra, o diretor belga segue Stefan (Stefan Gota), um trabalhador romeno da construção civil morando em Bruxelas, na Bélgica. Quando a temporada de obra acaba e ele e seus colegas – igualmente estrangeiros – poderão aproveitar as férias em seus países de origem, o protagonista encontra uma mulher que o fará pensar duas vezes se deve ou não voltar. O grande porém é que ela sequer sabe o nome dele.
Na cultura sul-coreana, há um conceito conhecido como In-Yun, que pode ser lido como “destino” ou “reencarnação”. Em gênese, In-Yun é o pressentimento que nos arrebata quando entendemos que uma eventualidade estava predestinada em nossos acasos, desenhada em algum no campo cósmico, e que nada e nem ninguém, poderia ser capaz de interferir naquela factualidade. Em Past Lives, longa de estreia da cineasta Celine Song exibido no Brasil durante a 25ª edição do Festival do Rio, vemos o movimento de tempo entre dois melhores amigos e a maneira que seus destinos estão entrelaçados involuntariamente com suas vidas passadas.
A felicidade incomoda, isso é fato. Outra coisa que também faz questão de desagradar é o punk-rock. O gênero que surgiu em meados dos anos 1960 e incorpora o garage rock e o proto-punk assume a roupagem de ser uma pedra no sapato do sistema, a peça que não se encaixa no quebra-cabeças. Isso é notado desde seus expoentes não tão politizados como blink-182 até os mais politicamente ácidos como Rage Against The Machine.
Iniciado juntamente com o movimento punk, seus adeptos, por mais que não liguem para estereótipos, sempre foram caracterizados como pessoas fechadas, vestidas de preto e com uma raiva internalizada. Nesse sentido, seus ouvintes majoritariamente são vistos como indivíduos em que a alegria é seu ‘divertidamente’ mais escanteado e a seu companheiro vermelho é quem assume a sua mente. Pensando nisso, o grupo britânico IDLES, em seu segundo álbum de estúdio, Joy as an Act of Resistance. discorre na verdade como esses dois sentimentos estão mais próximos do que se imagina.
“Vou carregar de tudo vida afora/Marcas de amor, de luto e espora/Deixo alegria e dor/Ao ir embora”. Os versos de Compasso, composição de Angela Ro Ro com Ricardo Mac Cord, podem até não aparecer na trilha sonora da produção dinamarquesa Flee (Flugt, 2021), dirigida por Jonas Poher Rasmussen; no entanto, ao serem recortados do restante da música, esses fragmentos poéticos expressam muito bem uma das inúmeras sensações que permeiam o longa-metragem estrangeiro. Afinal, em todo o filme, estamos diante de uma concretude nua e crua, e ela nunca será vivenciada da mesma forma por indivíduos minimamente diferentes.
Paulo Freire nos contou que para educar é necessário coragem, e ele de certo se orgulharia do desafio que Sr. Bachmann e Seus Alunos enfrentam no sistema educacional alemão. Amor e humanidade são as únicas linhas guias no documentário de Maria Speth, que acompanha uma classe de alunos por meio ano letivo, sem entrevistas ou roteiros pré-estabelecidos. E é com uma neutra observação que o longa de quase 4 horas chega à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, para nos lembrar de que a educação não muda o mundo, a educação muda pessoas e pessoas mudam o mundo.
A metamorfose de Filho das Monarcas é sugerida desde sua primeira cena. Quando um pesquisador curioso rompe cuidadosamente o casulo de uma borboleta logo antes de uma voz ancestral explicar um dos muitos significados atribuídos àquele processo, Alexis Gambis sussurra ao público da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo que sua história existirá em algum lugar entre as ideias de modernidade e tradição, ciência e arte, natureza e tecnologia, relações e separações, mudanças e raízes.
Limpe bem seus ouvidos para assistir o drama português Listen exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Nele, a surdez nada tem a ver com a falta de audição, mas com a racional ignorância daqueles que ouvem muito bem. No longa escrito e dirigido por Ana Rocha Sousa, um casal de imigrantes portugueses tenta criar três filhos, sendo a do meio uma menina surda, e sobrevivendo de subempregos em uma dura Londres, até que o Serviço Social britânico tira as crianças de casa. É por esse duro retrato familiar que o longa pauta a silenciosa adoção forçada na Inglaterra.
O ano era 2019 e os fãs da série One Day at a Time se revoltavam noTwitter por conta do cancelamento feito pela Netflix. Após muitos pedidos para a renovação, foi entregue uma bem sucedida terceira temporada mostrando que o streaming ainda tinha força e conteúdo para continuar produzindo a queridinha dos assinantes. O cancelamento parecia improvável pois, além dos motivos já citados, o terceiro ano se finaliza com um gancho perfeito para uma nova temporada da série que foi abandonada.