10 anos de Super 8: uma extraordinária homenagem aos filmes de ficção científica dos anos 70

Fotografia do filme Super 8. Nela estão retratados os personagens principais, seis pré-adolescentes, que ocupam toda a foto. É noite. Eles estão ao ar livre e são iluminados por uma fraca luz alaranjada, vinda de trás da câmera. Em contraste, há uma luz azulada que vem do fundo. Da esquerda para a direita: Preston é interpretado por Zach Mills, que é um garoto branco de cabelos pretos. Ao seu lado está Martin, interpretado por Gabriel Basso, um menino branco, ruivo e alto. Ele usa óculos escuros e um chapéu de época. Em sequência está Alice, personagem da Elle Fanning, que é uma garota branca e loira. Seus cabelos são lisos e estão presos em um coque. Ela usa um sobretudo bege. Um pouco mais à sua frente está Cary, papel de Ryan Lee, um garoto branco, baixo, de cabelos loiros que vão até os ombros. Atrás dele está Joe, interpretado por Joel Courtney, um garoto branco, de cabelos castanhos e lisos. Por último, ao seu lado, está Charles, um menino branco, de cabelos curtos e castanhos. Ele usa uma jaqueta amarela. Todos estão olhando levemente para a esquerda, com expressões preocupadas. Eles têm os rostos cobertos por fuligem.
Super 8 se inspira acertadamente em obras clássicas de Spielberg que retratam a amizade dentro das histórias de fantasia, como Os Goonies e E.T. O Extraterrestre (Foto: Paramount Pictures)

Mariana Nicastro

Ohio, 1979. Joe (Joel Courtney), Alice (Elle Fanning), Charles (Riley Griffiths), Cary (Ryan Lee), Martin (Gabriel Basso) e Preston (Zach Mills) deixavam suas casas a caminho de uma estação de trem antiga. Era uma madrugada de verão. Os seis carregavam consigo a euforia da pré-adolescência, o desejo de gravarem um filme independente e uma câmera super 8. O plano do diretor mirim Charles era capturar boas atuações dos amigos. Se tivessem sorte, um trem ao fundo complementaria o cenário. E foi o que aconteceu. Mas, ao invés de sorte, eles ganharam passagens só de ida para uma aventura inesquecível, ao tornarem-se testemunhas de um enigmático acidente envolvendo a locomotiva em questão. 

Lançada em agosto de 2011 pela Paramount Pictures, Super 8 é uma produção de ficção científica e mistério que chama a atenção desde os nomes de seus realizadores. Escrita e dirigida por J.J. Abrams, e produzida por ninguém mais, ninguém menos, do que Steven Spielberg, a obra entrega de forma excepcional tudo o que se busca ao assistir um filme do gênero. O nome traduz sua essência, já que Super 8 era uma câmera de 8mm muito utilizada para produções cinematográficas até a década de 80. Assim, o diretor não apenas desejava reproduzir a experiência dos filmes de ficção dos seus tempos de criança, como visava homenagear o inventor de muitos deles, Spielberg. 

Com a introdução de personagens cativantes e uma trama inteligente, o longa já apresenta logo de cara uma problemática que estimula a curiosidade do telespectador. Em seguida, o suspense dos acontecimentos iniciais se desenrola em consequências cada vez mais bizarras para a cidadezinha de Lillian, onde moram nossos protagonistas. Desaparecimentos curiosos e a presença repentina de militares na região, que agem de forma intrigante, alimentam cada vez mais os mistérios. Logo, a obra revela que o agente desses eventos não é nada menos do que extraterrestre, ainda que os verdadeiros vilões sejam, sem sombra de dúvidas, humanos. 

Fotografia do filme Super 8. Nela estão retratados, à noite e ao ar livre, três personagens do filme em primeiro plano. Mais à esquerda, no canto da imagem, está Joe, personagem de Joel Courtney, um garoto branco de cabelos castanhos e lisos. Ele está de lado e usa uma jaqueta preta. Ao seu lado está Cary, o personagem de Ryan Lee, um garoto branco, baixo, de cabelos loiros que vão até os ombros. Ele usa um casaco bege e olha através da lente da câmera Super 8, apontando-a para a direita. Atrás dele está Charles, um garoto branco, de cabelos castanhos e curtos. Ele usa uma jaqueta amarela e fones de ouvido. Está gritando algo para alguém, também à sua direita. Uma forte luz branca vinda da esquerda ilumina os garotos.
O filme dá diferentes funções criativas para seus personagens ao colocá-los criando um longa; as crianças valorizam a cinegrafia, a maquiagem e a construção dos cenários tanto quanto a direção e as atuações (Foto: Paramount Pictures)

Super 8 fornece uma história divertida enquanto brinca diversas vezes com a metalinguagem e alude a outras obras do tipo, como, por exemplo, E.T. O Extraterrestre (1982), Guerra dos Mundos (2005) ou Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1978). Filmes esses, inclusive, todos dirigidos pelo próprio cineasta que o longa homenageia. A ambientação no fim dos anos 70 também fornece referências notáveis, como os pôsteres de filmes de terror, revistas de Star Wars e bonecos de ação nos quartos das crianças, e até a própria obra de zumbis por elas desenvolvida. 

A produção mantém um ritmo agradável do começo ao fim, sem impor uma história em que os protagonistas se tornariam heróis de uma maneira improvável ou até forçada. Ele se dedica a observá-los lidando com dilemas pessoais e planos comuns de crianças em um típico verão de suas vidas. Ao mesmo tempo, eles acidentalmente têm essas questões misturadas com os acontecimentos alienígenas, e, assim, acabam naturalmente envolvidos.

Super 8 também tem sucesso ao garantir uma ótima progressão nos problemas apresentados, em suas revelações e, até mesmo, nas aparições do alienígena. Quanto ao último, a criatura rende boas sequências de tensão, mesmo quando aparece de forma mais sutil e sugestiva. Isso ocorre em ataques em que sua sombra é vagamente revelada por meio de reflexos em algumas superfícies, ou diante da expressão de horror de suas vítimas. Essa sugestividade alimenta a curiosidade do telespectador e não o trai quando o extraterrestre realmente aparece, entregando bons sustos.

Fotografia do filme Super 8. É uma foto escura. Em primeiro plano há vários rolos de filmes iluminados fracamente por uma lanterna, que é a única fonte de luz da imagem. Em segundo plano, de frente para os rolos de filme e para a câmera estão quatro garotos. O que que se encontra mais à esquerda e segura a lanterna é Joe, personagem de Joel Courtney, um garoto branco de cabelos castanhos e lisos. Ao seu lado está Cary, o personagem de Ryan Lee, um garoto branco, baixo, de cabelos loiros que vão até os ombros. Ele é o que menos está sendo iluminado pela lanterna. Atrás dele está Martin, interpretado por Gabriel Basso, um garoto branco, ruivo e alto que usa óculos. Ao lado de Martin está Charles, papel de Riley Griffiths. Ele é um garoto branco, de cabelos castanhos e curtos. Ele tem uma mochila nos ombros e está parcialmente escondido por Joe, que se encontra em sua frente. No fundo é possível ver o céu escuro e algumas árvores distantes.
Mesmo que nem todos os personagens tenham muito tempo de tela, eles têm personalidades únicas e interessantes, capazes de conquistarem nossa simpatia e contribuírem para a história (Foto: Paramount Pictures)

O elenco, escalado por April Webster e Alyssa Weisberg, é um destaque da produção. O jovem Joel Courtney (A Barraca do Beijo) brilha como o protagonista corajoso do longa-metragem. Joe é um jovem que enfrenta o luto e mudanças drásticas em sua vida desde a morte de sua mãe. Em contrapartida, o garoto não deixa de ser um pré-adolescente comum, que gosta de maquetes e maquiagens de Cinema, de filmes sci-fi, e que tem suas paixões da adolescência. 

A incrível Elle Fanning também ganha evidência na história, ao representar com maestria sentimentos de culpa, compaixão, ternura e revolta vividos por Alice. Claro que nem todos recebem o mesmo desenvolvimento e evolução de personagens como ela ou Joe, mas as demais crianças fornecem participações essenciais para que nos importemos com seus destinos. Os conflitos entre pais e filhos e entre as próprias crianças ainda criam dramas reais e promovem a aproximação do telespectador. Eles não são apenas um plano de fundo para os acontecimentos, mas sim importantes dramas para as construções das relações.

Agora, se você leu até aqui e achou a trama de Super 8 semelhante a uma obra bem recente que envolve crianças, alienígenas, mistérios, uma vibe dos anos 70/80 e mais alguns bagulhos sinistros, devo dizer que achou certo. Sem dúvidas, o filme e Stranger Things, da Netflix, não só beberam das mesmas fontes para suas criações, como também é possível citar o próprio longa como uma das inspirações para a série. A química entre os atores mirins, que são um forte pilar de ambas as histórias, a investigação paralela desenvolvida pelos adultos, e os governos escondendo seus segredos a todo o custo, são fatores em comum que merecem ser destacados.

Fotografia do filme Super 8. A foto mostra os personagens principais gravando uma cena do longa-metragem feito por eles. Está de dia. Eles estão ao ar livre e o céu está azul. Em primeiro plano e um pouco distantes da câmera estão três garotos de costas. O primeiro, da esquerda para a direita, é Charles, interpretado por Riley Griffiths. Ele é um garoto branco, de cabelos castanhos e curtos, e usa fones de ouvido e uma camiseta listrada. Ao seu lado está Cary, interpretado por Ryan Lee, um garoto branco, loiro, de cabelos na altura dos ombros. Ele segura uma câmera, que está parcialmente escondida por seu corpo. Em sequência está Preston, agachado. Ele é o papel de Zach Mills, um garoto branco de cabelos pretos. Uma bicicleta azul se encontra jogada no canto inferior esquerdo. À direita de Preston está Alice, interpretada por Elle Fanning, uma garota branca e loira de cabelos lisos. Ela estende um microfone na direção de Joe e Martin, que estão um pouco mais à frente do grupo. Joe é interpretado por Joel Courtney, um garoto branco de cabelos castanhos e lisos. Ele usa uma roupa militar. Ao seu lado está Martin, interpretado por Gabriel Basso, um garoto branco, ruivo e alto. Ele usa óculos, um chapéu e paletó beges. Os dois estão conversando. Ao fundo da cena tem uma casa térrea e dois comboios militares. Um está estacionado ao lado da casa e o outro na extrema direita da foto, parcialmente cortado na imagem.
Os cenários, figurinos e a utilização de ferramentas como a própria câmera Super 8 evidenciam a minuciosidade do diretor e da produção para reproduzirem perfeitamente os anos 70 (Foto: Paramount Pictures)

A trama contém algumas conveniências de roteiro, porém, elas em nada a prejudicam e podem, até mesmo, passar despercebidas. Um exemplo é a forma como facilitações acontecem para que uma determinada nave seja construída no fim, e como a narrativa do alienígena é concluída. Entretanto, elas são minimizadas devido a todos os aspectos positivos do longa-metragem. Como um todo, ele é íntegro e se consagra não só como uma clara homenagem ao Cinema e a Spielberg, mas também como um filme admirável por si só. Assim, o carisma dos atores, a temática e a aura nostálgica que ele emana são só alguns dos fatores que permitem que, 10 anos depois, a história se prove memorável, inspirando também outras obras cinematográficas. 

Inclusive, vale mencionar que, durante os créditos, a obra de zumbis desenvolvida pelos personagens é finalmente exibida completamente. Denominada The Case (O Caso), é incrível assisti-la depois de acompanharmos a trajetória de sua produção. Logo, além de todas suas qualidades criativas, Super 8 ainda contém um inception de obras setentistas. Esse fator fornece uma identidade completamente divertida para esse projeto de ficção e fecha com chave de ouro um tributo tão agradável ao gênero, digno de ser relembrado com o passar do tempo.

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