Controlling Britney Spears: Em Busca de Liberdade e o abuso tutelar que faz vítimas como a princesa do pop

Foto de Britney Spears acompanhada do seu antigo chefe de segurança Edan Yemini. A cantora branca e loira veste preto enquanto sorri. Edan, um homem branco e careca, está posicionado atrás dela, ele usa uma camisa branca com terno e gravata pretos.
Britney Spears era vigiada a todo momento pela empresa Black Box Security, contratada pelo seu pai, e até então tutor, Jamie Spears (Foto: Getty Images)

Nathalia Tetzner

Submetida a uma tutela pelos últimos treze anos, Controlling Britney Spears: Em Busca de Liberdade coloca nos holofotes os bastidores da estrutura que comandou a vida da princesa do pop por todo esse tempo. Com a ajuda de novos documentos e testemunhas, a sequência de Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela transcende a exposição do caso e mergulha na investigação de um suposto abuso tutelar. 

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Melancolia: 10 anos de colisão emocional

Cena do filme Melancolia em que há uma mulher vestida de noiva à esquerda, uma criança de terno preto no centro e uma mulher de vestido cinza à direita. Os três estão em um gramado e ao fundo há uma mansão.
Melancolia aborda em sua narrativa a objetificação das emoções (Foto: Zentropa Entertainments)

Gabriel Gatti

A melancolia é um estado de morbidez em que a pessoa apresenta abatimento físico e emocional. Esse sentimento tão comum é capaz de afetar qualquer pessoa independente das condições em que esta se encontra. Com o pensamento na escatologia, a trama se aproveita dessa condição emocional abstrata objetificando-a em um gigante planeta azul em rota de colisão com a Terra. A partir dessa premissa, a obra apresenta uma análise comportamental sobre duas irmãs e suas percepções com o fim da vida.

Essa aproximação entre psicologia, morbidez e arte é muito comum na cinematografia do repulsivo diretor dinamarquês Lars Von Trier, que ficou conhecido por suas polêmicas. Seus filmes costumam representar mulheres em estado de vulnerabilidade e inferioridade aos homens, sendo retratado diversas vezes de forma asquerosa o abuso e a violência contra a figura feminina.

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O mundo de The Witcher: Lenda do Lobo é uma máquina movida pelo medo

Cena do filme The Witcher: Lenda do Lobo. Uma imagem retangular contendo Vesemir ao centro, um homem branco de cabelo castanho raspado nas laterais e formando um topete barba curta um pouco mais escura que o cabelo. A personagem veste uma capa com pelos na região próxima ao pescoço, segura uma longa espada e traja um colar prateado. Abaixo do personagem há uma horda de monstros humanoides de olhos vermelhos. O fundo da imagem é composto por uma paisagem nevada com montanhas e pinheiros em tons bastante brancos.
The Witcher: Lenda do Lobo prepara o terreno para uma série live action (Foto: Netflix)

Angelus Simões 

Quando se fala em The Witcher, é quase impossível, se você for um fã, não pensar na figura lacônica e de cabelos prateados que é Geralt de Rívia. No entanto, o personagem icônico que se tornou símbolo tanto dos jogos quanto da série live action, quase não aparece na animação produzida pela Netflix, em parceria com o estúdio sul-coreano Studio Mir, sob a direção de Kwang Il Han. Ao invés disso, o longa The Witcher: Lenda do Lobo acompanha a trajetória de Vesemir (Theo James), conhecido por ser mentor e figura paterna do tão conhecido Geralt.

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Cineclube Persona – Outubro de 2021

Destaques de Outubro de 2021: Maid, Cenas de um Casamento, 2ª temporada de Ted Lasso e Duna (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Nathália Mendes)

Outubro é o mês mais amado pelo Persona. Cheios do espírito macabro do Halloween, agitamos nossas produções com o Mês do Horror e cobrimos com afinco a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Como comentar sobre tudo isso ainda é pouco, nós também demos vida ao Clube do Livro e as indicações da Estante do Persona. Para fechar nosso mês favorito com chave de ouro, chegamos para comentar as novidades da TV e do Cinema no Cineclube de Outubro.

Foram 31 dias recheados de lançamentos esperados. Começando com sequências do Terror para honrar o mês, Halloween Kills: O Terror Continua tenta dar sentido para as matanças de Michael Myers, mas garante a continuação da franquia graças aos atos horrendos do protagonista. Quem também voltou pela Paramount+ foi Atividade Paranormal 7, com traços da história original e inovando sua narrativa. Já a aposta da Netflix, Tem Alguém Na Sua Casa, degringolou como mais uma trama conhecida de jovens tentando descobrir a identidade do assassino. 

Ainda para os amantes do gênero slasher, o remake de Slumber Party Massacre acabou com os problemas do filme original e expandiu com irreverência a sua trama clássica dos anos 80. Com o mesmo sucesso, American Horror Story: Double Feature gastou tempo dividindo a décima temporada em duas histórias distintas, e foi destaque ao conquistar a aprovação total da crítica na primeira delas.

Enquanto isso, o Amazon Prime Video investiu mais na antologia de terror Welcome to the Blumhouse e trouxe ao mundo O Bingo Macabro e A Mansão, que deixaram os sustos de lado para trabalhar a relação entre a trama e seus personagens. Outro longa entre os lançamentos é Madres, Mães de Ninguém, com sua narrativa dramática e inspirada em fatos reais. O longa de Ryan Zagoga captura os horrores dos imigrantes mexicanos recém-chegados aos Estados Unidos, por isso merecia um desenvolvimento como drama dedicado.

Sucessos da Netflix, Você e Maid, também partilham dessa pegada dos terrores da realidade com protagonistas femininas arrebatadoras. A terceira temporada de Você amadureceu seus conflitos e mostrou como psicopatas brincam de casinha, enquanto a estreia de Maid causou exaustão emocional pela sua trama complexa que fala de pobreza, trauma e agressão.

Outras queridinhas da plataforma tudum que lançaram novas temporadas foram Sintonia e On My Block. Coproduzida pelo KondZilla, Sintonia segue na sua caminhada em mostrar como o poder funciona dentro das favelas brasileiras. Por outro lado, o quarteto do subúrbio de Los Angeles se despediu com fraqueza, pois a última temporada de On My Block empobreceu os desfechos de seus personagens.

  Para os fãs de Round 6, My Name é a nova produção sul-coreana de grande destaque. Além da performance de Han So-hee como protagonista, a narrativa equilibrou ação e sensibilidade estando entre uma organização criminosa e a polícia. Os Muitos Santos de Newark também trabalhou a temática de organizações poderosas ao contar a vida de Tony Soprano antes de ser chefe da máfia italiana. No entanto, nenhuma das produções acima  fez tanto sucesso quanto a primeira temporada de Only Murders in the Building na mistura perfeita de um elenco brilhante, humor e mistério.

No gênero de Ação, o grandioso 007 – Sem Tempo Para Morrer era o mais esperado. Depois dos 15 anos de Daniel Craig e seu James Bond, a aposentadoria chegou em um filme empolgante, emotivo e explosivo que fez jus à saga. Duna também deu o que falar com Zendaya, Timothée Chalamet e Oscar Isaac no elenco. Baseado no livro homônimo de Frank Herbert, o longa exibiu a disputa de poder no universo intergalático à altura da obra. E como não poderia faltar a parceria Marvel e Sony, Venom: Tempo de Carnificina foi um recorde nas bilheterias brasileiras. Com Tom Hardy protagonizando o segundo filme ao lado de seu amigo alienígena, Venom 2 ficou entre ser engraçado e superficial.

As expectativas foram grandes na TV para a segunda temporada do premiado Ted Lasso. Seus episódios mais longos investiram ainda mais nos seus personagens, conseguindo marcar outros 3 pontos e ter um segundo volume ainda mais fenomenal. Quem também encantou foi a sitcom Pretty Smart e sua vibe Disney Channel em 2010, contando com a protagonização de Emily Osment – a nossa Lily de Hannah Montana. Com a mesma expectativa, The Walking Dead acendeu a chama da saudade no coração dos fãs de zumbis na primeira parte da sua temporada final.

Caminhando na contramão, a animação Injustiça: Deuses Entre Nós não foi digna dos Maiores Heróis da Terra da DC Comics. No Showtime, The L Word: Generation Q retoma The L Word depois de dez anos mas também segue presa ao passado, e mesmo com sua satisfatória repaginada, não retrata a vida da comunidade LGBTQIA+ nos dias de hoje.

E falando de vida real, Diana: O Musical estreou na Netflix mostrando o carisma e inteligência de Lady Di, mas esqueceu do drama necessário para falar de uma das maiores figuras do século XX. Já a coprodução entre Brasil e EUA do HBO Max, O Hóspede Americano, veio com um gosto amargo para contar a Expedição Científica Rondon-Roosevelt. Dando mais ênfase ao lado yankee, a minissérie lembrou a perda dos registros históricos brasileiros no incêndio do Museu Nacional de 2018.

Tentando alegrar nosso espírito, What We Do in the Shadows volta com qualidade para a sua terceira temporada cheia de humor, terror e vampiros malucos. No entanto, se nos confortamos com a comédia da FX, Cenas de um Casamento veio para quebrar de vez nossos corações. Terminando ao som de Chico Buarque, a produção original da HBO é uma obra-prima que mostra um casamento fracassado da forma mais complexa possível. 

Enfim, todos esses lançamentos não aliviam a perda de Gilberto Braga para a TV brasileira no mês de outubro. De Escrava Isaura à Babilônia, o talento do escritor deixou um leque de novelas e memórias nas pessoas de todo o país. Uma dedicatória ao legado do dramaturgo e muito mais sobre o que rolou no Cinema e na TV você confere no Cineclube de Outubro de 2021, sob a curadoria da Editoria do Persona e de seus Colaboradores. E deixamos aqui a pergunta mais importante que permeia a memória de um noveleiro digno: Quem matou Odete Roitman?

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Eternos desvirgina a Marvel

Cena do fime Eternos, mostra Thena, personagem de Angelina Jolie, olhando para baixo. Ela é branca, loira e usa uma espécie de tiara dourada na testa. O fundo é verde-água.
Dirigido pela vencedora do Oscar Chloé Zhao, Eternos é um prato cheio para os famintos por mudanças no mundinho dos heróis (Foto: Marvel Studios)

Vitor Evangelista

O conceito de virgindade é cultural, mas se tem uma coisa que o épico bíblico Eternos faz é deflorar o Marvel Studios. Recheado de barreiras quebradas, a aventura comandada pelas mãos de ouro de Chloé Zhao não apenas ruma as investidas do Universo Cinematográfico para longe do sanduíche dos Vingadores, como também vai de encontro a uma leitura muito mais interessante desses heróis em roupas de látex. Ainda por cima com mais de dez anos de histórias nas costas e a exaustão da fórmula pipoca das narrativas.

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Não tem como se blindar de Titane

Cena do filme Titane. Na imagem, vemos a protagonista, Alexia, uma mulher branca, de cabeça raspada, aparentando cerca de 30 anos, de ponta cabeça, com o corpo nu arqueado e com uma expressão de dor no rosto.
Comprado pela plataforma de streaming MUBI e com data de estreia marcada para 28/01/2022, Titane foi exibido no Brasil primeiro na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, onde participa como Apresentação Especial (Foto: Kazak Productions)

Vitória Lopes Gomez

Opte por separar o artista da Arte ou não, Julia Ducournau já cravou seu nome em suas produções. Titane, a mais nova empreitada da cineasta francesa, estreou no Festival de Cannes, onde fez história ao levar a honraria máxima da premiação, a Palma de Ouro, e chegou ao Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O segundo projeto veio antecipado depois do sucesso do polêmico Grave, mas a sangrenta e canibalesca estreia da diretora vira só a porta de entrada para os horrores que vem depois. E não adianta, nem Cannes conseguiu: não tem como se blindar de Titane.

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O fogo não cessa em Assim Queimamos

A imagem é uma cena do filme Assim Queimamos. Nela, a atriz Madeleine Coghlan, que interpreta Rae, está de olhos fechados, em frente a um fundo amarelo iluminado. Rae é uma mulher branca, de cabelos castanhos lisos na altura dos ombros, ela veste uma regata branca.
O longa estadunidense integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Armian Pictures)

Vitória Silva

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de proporções globais, que resultou na morte de, pelo menos, mais de 60 milhões de pessoas. Entre os mais diretamente atingidos por essas estatísticas está a população judaica. Sob o regime nazista de Hitler na Alemanha, os judeus foram perseguidos, colocados em campos de concentração, e poucos sobreviveram dessa tortura para contar a história. A guerra já acabou, mas o mesmo não se pode dizer desse sofrimento e fuga constante. Assim Queimamos, longa exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, traz um olhar mais do que atual para essa situação. 

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O movimento de Olga é cravado: o pessoal é político

Cena do filme Olga.
Antes de chegar à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o drama venceu o Prêmio SACD na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2021 e foi escolhido para representar a Suíça no Oscar 2022 (Foto: Pulsar)

Raquel Dutra

Em novembro de 2013, a população civil da Ucrânia entrou em conflito direto com o governo de Víktor Yanukóvytch. Numa onda de protestos liderados por jornalistas e estudantes que se estendeu até fevereiro de 2014, o povo denunciava a corrupção, o abuso de poder e a violação dos direitos humanos cometidos pelo governo. O estopim, de maneira geral, foi a frustração de um pedido popular por maior integração com União Europeia, que aconteceu quando o bloco se recusou a firmar acordos com o país aliado da Rússia enquanto ele não resolvesse a sua “deterioração flagrante da democracia e do Estado de Direito”. No meio do movimento que ficou conhecido como Euromaidan – ou, mais significativamente, Revolução da Dignidade – está o drama de amadurecimento de Olga e a sua participação na Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Annette é um conto de fadas turbulento

Cena do filme Annette. Vemos homens, mulheres e crianças parados na calçada de uma rua de Los Angeles. As que estão na frente estão ajoelhadas, olhando para cima. As pessoas no fundo estão em pé. Duas delas, uma mulher branca com cabelo loiro e uma mulher negra, conversam no canto superior esquerdo.
O musical liderado por Adam Driver e Marion Cotillard faz parte da Perspectiva Internacional da 45ª Mostra de Cinema de SP (Foto: MUBI)

Caio Machado 

O cinema de Leos Carax sempre teve uma relação íntima com a Música, indo da belíssima caminhada noturna ao som de David Bowie em Boy Meets Girl ao “intervalo” com uma impressionante versão instrumental de Let My Baby Ride em Holy Motors. Nesse sentido, Annette, novo trabalho do cineasta francês exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, extrapola esse laço com a Música de uma forma nada convencional. 

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Curtas Jornadas Noite Adentro é o eterno delírio do compositor

Cena de Curtas Jornadas Noite Adentro. Na imagem vemos um bar, suas paredes são amarelas e suas portas azuis. Da esquerda para a direita há quadros na parede, uma geladeira branca, caixotes de cerveja e armários brancos. À direita há um grupo de quatro homens e uma mulher, todos negros, sentados em roda numa mesa. A mesa está cheia de garrafas de cerveja. Em pé ao lado deles tem um homem branco. À esquerda e mais ao fundo tem um homem e uma mulher sentados e uma criança correndo.
Passeando por botequins, Curtas Jornadas Noite Adentro chega na 45ª Mostra de Cinema em São Paulo (Foto: Memória Viva Cine)

Ana Júlia Trevisan

Um dos ritmos mais ricos do mundo, o samba é uma expressão artística e um patrimônio cultural imaterial brasileiro. No samba, até as composições mais tristes são encantadoras por sua melodia que conversa diretamente com a alma brasileira. Popular, negro, por muitos anos renegado e criminalizado, o gênero é espelho de um sociedade quase sempre esquecida, ou pelas palavras da madrinha Beth Carvalho: “O samba é do povo, que sofre, que sabe o que é a fome”. E, na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o samba é representado na Mostra Brasil por Curtas Jornadas Noite Adentro.

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