Cineclube Persona – Outubro de 2021

Destaques de Outubro de 2021: Maid, Cenas de um Casamento, 2ª temporada de Ted Lasso e Duna (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Nathália Mendes)

Outubro é o mês mais amado pelo Persona. Cheios do espírito macabro do Halloween, agitamos nossas produções com o Mês do Horror e cobrimos com afinco a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Como comentar sobre tudo isso ainda é pouco, nós também demos vida ao Clube do Livro e as indicações da Estante do Persona. Para fechar nosso mês favorito com chave de ouro, chegamos para comentar as novidades da TV e do Cinema no Cineclube de Outubro.

Foram 31 dias recheados de lançamentos esperados. Começando com sequências do Terror para honrar o mês, Halloween Kills: O Terror Continua tenta dar sentido para as matanças de Michael Myers, mas garante a continuação da franquia graças aos atos horrendos do protagonista. Quem também voltou pela Paramount+ foi Atividade Paranormal 7, com traços da história original e inovando sua narrativa. Já a aposta da Netflix, Tem Alguém Na Sua Casa, degringolou como mais uma trama conhecida de jovens tentando descobrir a identidade do assassino. 

Ainda para os amantes do gênero slasher, o remake de Slumber Party Massacre acabou com os problemas do filme original e expandiu com irreverência a sua trama clássica dos anos 80. Com o mesmo sucesso, American Horror Story: Double Feature gastou tempo dividindo a décima temporada em duas histórias distintas, e foi destaque ao conquistar a aprovação total da crítica na primeira delas.

Enquanto isso, o Amazon Prime Video investiu mais na antologia de terror Welcome to the Blumhouse e trouxe ao mundo O Bingo Macabro e A Mansão, que deixaram os sustos de lado para trabalhar a relação entre a trama e seus personagens. Outro longa entre os lançamentos é Madres, Mães de Ninguém, com sua narrativa dramática e inspirada em fatos reais. O longa de Ryan Zagoga captura os horrores dos imigrantes mexicanos recém-chegados aos Estados Unidos, por isso merecia um desenvolvimento como drama dedicado.

Sucessos da Netflix, Você e Maid, também partilham dessa pegada dos terrores da realidade com protagonistas femininas arrebatadoras. A terceira temporada de Você amadureceu seus conflitos e mostrou como psicopatas brincam de casinha, enquanto a estreia de Maid causou exaustão emocional pela sua trama complexa que fala de pobreza, trauma e agressão.

Outras queridinhas da plataforma tudum que lançaram novas temporadas foram Sintonia e On My Block. Coproduzida pelo KondZilla, Sintonia segue na sua caminhada em mostrar como o poder funciona dentro das favelas brasileiras. Por outro lado, o quarteto do subúrbio de Los Angeles se despediu com fraqueza, pois a última temporada de On My Block empobreceu os desfechos de seus personagens.

  Para os fãs de Round 6, My Name é a nova produção sul-coreana de grande destaque. Além da performance de Han So-hee como protagonista, a narrativa equilibrou ação e sensibilidade estando entre uma organização criminosa e a polícia. Os Muitos Santos de Newark também trabalhou a temática de organizações poderosas ao contar a vida de Tony Soprano antes de ser chefe da máfia italiana. No entanto, nenhuma das produções acima  fez tanto sucesso quanto a primeira temporada de Only Murders in the Building na mistura perfeita de um elenco brilhante, humor e mistério.

No gênero de Ação, o grandioso 007 – Sem Tempo Para Morrer era o mais esperado. Depois dos 15 anos de Daniel Craig e seu James Bond, a aposentadoria chegou em um filme empolgante, emotivo e explosivo que fez jus à saga. Duna também deu o que falar com Zendaya, Timothée Chalamet e Oscar Isaac no elenco. Baseado no livro homônimo de Frank Herbert, o longa exibiu a disputa de poder no universo intergalático à altura da obra. E como não poderia faltar a parceria Marvel e Sony, Venom: Tempo de Carnificina foi um recorde nas bilheterias brasileiras. Com Tom Hardy protagonizando o segundo filme ao lado de seu amigo alienígena, Venom 2 ficou entre ser engraçado e superficial.

As expectativas foram grandes na TV para a segunda temporada do premiado Ted Lasso. Seus episódios mais longos investiram ainda mais nos seus personagens, conseguindo marcar outros 3 pontos e ter um segundo volume ainda mais fenomenal. Quem também encantou foi a sitcom Pretty Smart e sua vibe Disney Channel em 2010, contando com a protagonização de Emily Osment – a nossa Lily de Hannah Montana. Com a mesma expectativa, The Walking Dead acendeu a chama da saudade no coração dos fãs de zumbis na primeira parte da sua temporada final.

Caminhando na contramão, a animação Injustiça: Deuses Entre Nós não foi digna dos Maiores Heróis da Terra da DC Comics. No Showtime, The L Word: Generation Q retoma The L Word depois de dez anos mas também segue presa ao passado, e mesmo com sua satisfatória repaginada, não retrata a vida da comunidade LGBTQIA+ nos dias de hoje.

E falando de vida real, Diana: O Musical estreou na Netflix mostrando o carisma e inteligência de Lady Di, mas esqueceu do drama necessário para falar de uma das maiores figuras do século XX. Já a coprodução entre Brasil e EUA do HBO Max, O Hóspede Americano, veio com um gosto amargo para contar a Expedição Científica Rondon-Roosevelt. Dando mais ênfase ao lado yankee, a minissérie lembrou a perda dos registros históricos brasileiros no incêndio do Museu Nacional de 2018.

Tentando alegrar nosso espírito, What We Do in the Shadows volta com qualidade para a sua terceira temporada cheia de humor, terror e vampiros malucos. No entanto, se nos confortamos com a comédia da FX, Cenas de um Casamento veio para quebrar de vez nossos corações. Terminando ao som de Chico Buarque, a produção original da HBO é uma obra-prima que mostra um casamento fracassado da forma mais complexa possível. 

Enfim, todos esses lançamentos não aliviam a perda de Gilberto Braga para a TV brasileira no mês de outubro. De Escrava Isaura à Babilônia, o talento do escritor deixou um leque de novelas e memórias nas pessoas de todo o país. Uma dedicatória ao legado do dramaturgo e muito mais sobre o que rolou no Cinema e na TV você confere no Cineclube de Outubro de 2021, sob a curadoria da Editoria do Persona e de seus Colaboradores. E deixamos aqui a pergunta mais importante que permeia a memória de um noveleiro digno: Quem matou Odete Roitman?

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Nota Musical – Outubro de 2021

Destaques do mês de outubro: Gloria Groove, Jão, Ed Sheeran e Alice Caymmi(Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara/Texto de abertura: Raquel Dutra)

O mês de outubro foi o mais agitado de 2021 aqui no Persona. Iniciado com o especial para o Mês do Horror e intermediado pela cobertura intensa da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, os últimos 31 dias também viram o nascimento do nosso Clube do Livro, que aqui no site se materializou na Estante do Persona, nosso novo quadro mensal literário. Entre todas essas atividades, não deixamos de acompanhar o mundo da Música, e agora, chegamos para comentar tudo o que rolou no décimo mês do ano no Nota Musical.

Tudo começou com um misterioso número 30 surgindo nas principais cidades do mundo. Como um bat-sinal, Adele criou um momento no início de outubro para a divulgação de seu retorno, que acontece depois de seis silenciosos anos que sucederam seu último disco, 25. Agora, seremos apresentados aos 30 da artista, e o single Easy On Me foi mestre em nos introduzir ao novo estágio da vida de Adele, que encontrará seu lugar no mundo em forma de disco no próximo dia 19 de novembro.

Enquanto Adele ressurgia com os seus números, Ed Sheeran retornava com os seus sinais. Como anunciado pelas variáveis e constantes de Bad Habits e Shivers, o novo disco do cara mais legal do pop chegou para continuar sua concepção musical pautada na matemática. Agora, +, × e ÷ tem a companhia de =, e para o bem ou para o mal, a música de Ed é assumidamente definida pelo símbolo de igual. 

Por outro lado, as sábias operações musicais de Lady Gaga e Tony Bennett decidiram apostar tudo num jazz que coloca o amor à venda. Da mesma forma, Hans Zimmer, por sua vez, concluiu na trilha do novo 007 que não temos tempo para morrer, The War on Drugs percebeu que precisa de um novo lugar no indie rock, e Brandi Carlile criou sua aclamada música country a partir de dias silenciosos.

Há também os que buscam a maior abstração possível. É assim com Coldplay e seu novo disco Music of the Spheres, que inventa de buscar outras formas de vida e de expressão distanciando-se do que nos conecta uns aos outros aqui na Terra. Mas nem tudo está perdido: as viagens atmosféricas de outubro funcionam sob a condução de Felipe de Oliveira, Tirzah e Black Country, New Road. Quem quiser acompanhar as belezas descobertas pelos artistas em ascensão, pode conferir os discos Terra Vista da Lua e Colourgrade e o single Chaos Space Marine.

Se alguns embarcam em direção ao exterior, outros mergulham no interior. Na MPB, essa foi a direção de Caetano Veloso em Meu Coco, e de Ney Matogrosso em Nu Com a Minha Música. No rock, o movimento nos entrega o melhor de Sam Fender em seu segundo disco, Seventeen Goin Under. No pop, foi a tática de importantes estreias: lá, FINNEAS descobriu um otimismo agridoce e PinkPantheress resolveu mandar tudo pro inferno.

É da dimensão íntima que outros grandes nomes trazem grandes coletâneas. Silva comemorou seus dez anos de carreira com De Lá Até Aqui; Megan Thee Stallion presenteia seus fãs com Something for Thee Hotties; Elton John traz sua música de quarentena em The Lockdown Sessions; Nick Cave & The Bad Seeds desenterram alguns tesouros em B-Sides & Rarities (Part II); e Madonna disponibiliza sua experiência ao vivo de Madame X nas plataformas de streaming

Assim, outubro também foi um mês de retornos. Primeiro, The Wanted movimentou a internet com seu comeback anunciado através de Rule The World, primeiro lançamento da banda desde sua separação em 2014. Depois, Agnes chega para o revival da era disco em seu quinto álbum, Magic Still Exists, que finaliza um hiato de quase dez anos. Já Tears For Fears viveu um intervalo um pouco maior, mas agora o jejum iniciado em 2004 está encerrado com The Tipping Point, faixa-título do novo álbum da dupla britânica, cujo lançamento está previsto para o início de 2022.

Quando o assunto é novidade, também estamos bem servidos. Em terras brasileiras, o pop viu o encontro de ANAVITÓRIA e Jorge & Mateus, teve mais uma chance de reconhecer Johnny Hooker, finalmente recebeu a estreia de Priscilla Alcantara e o terceiro álbum de Jão. O funk juntou Valesca Popozuda e Rebecca, o rap esteve com Karol Conká e WC no Beat, e a MPB ganhou a companhia de Jorge Drexler na nova canção de Marisa Monte, mas o maior destaque de outubro vai para a Imaculada Alice Caymmi.

Fora do país, o nome segue sendo o de Anitta, que esse mês, apareceu junto de Saweetie em Faking Love. Mas desta vez, a Girl From Rio não representou o Brasil sozinha na música internacional. Nas tabelas, A QUEDA de Gloria Groove significou ascensão, e a drag brasileira estreou na parada global da Billboard. O mesmo sucesso e apreço não pode ser encontrado na colaboração entre Jesy Nelson e Nicki Minaj, já que o lançamento de Boyz veio encharcado de polêmicas da líder Barbz nas redes sociais, e episódios de blackfishing por parte da ex-Little Mix.

Ainda bem que a Música pode contar com a honestidade de Phoebe Bridgers, que usou That Funny Feeling para levantar sua voz em oposição à legislação antiaborto mais restritiva dos Estados Unidos que avança no Texas. O cover da artista esteve no radar mensal do indie, que também tem novidades preciosas no novo disco de Lana Del Rey e nas canções de Mitski e Michael Kiwanuka

Por fim, outubro ainda trouxe um belo descarte de Ariana Grande, novos contornos para a Conan Gray, clipes de Troye Sivan, Kacey Musgraves e Olivia Rodrigo, e o encontro gigante de The Weeknd com Swedish House Mafia. Foi um mês e tanto, mas o Persona nunca deixa de se atentar às novidades e decepções que a Arte nos oferece. Na décima edição do Nota Musical, nossa Editoria e nossos colaboradores se reúnem para vasculhar os CDs, EPs, músicas e clipes que ecoaram por aí em Outubro de 2021.

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Estante do Persona – Outubro de 2021

Arte retangular com fundo vermelho. Ao centro há uma estante de livros branca em formato retangular. Acima dela está escrito ESTANTE em fonte preta. Na primeira prateleira, na divisória esquerda, há o símbolo do Persona (desenho de um olho com a íris vermelha e um símbolo de play no lugar da pupila) ao lado da palavra DO em fonte preta. Na divisória da direita, está escrito PERSONA em fonte preta. Na segunda prateleira, há três divisórias, em que, na do meio, há a capa do livro A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector. Na terceira e última prateleira, também há 3 divisórias, em que, na da ponta direita, há um troféu com o formato do símbolo do Persona.
A primeira edição do Estante do Persona discute a obra A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, e traz indicações dos membros do Clube do Livro (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan e Jho Brunhara/Texto de Abertura: Vitória Silva)

“Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.”

–  Carlos Drummond de Andrade

Para poder valorizar cada vez mais a Literatura, parte tão importante e fundamental da cultura do nosso e de qualquer outro país, o Persona começa, agora, a preencher sua própria estante. 

O mês de outubro marcou o início do nosso Clube do Livro, formado por membros da Editoria, que tem o intuito de promover a leitura compartilhada e encontros para discussão de alguma obra sugerida. Ao final do mês, o Clube ainda se reúne para montar o Estante do Persona, com um comentário que sintetize as ideias sobre a leitura realizada e uma playlist de músicas que se relacionem com a mesma, além de uma indicação de cada membro sobre algum livro marcante ou que mereça ser compartilhado.

Como primeira leitura, o Clube do Livro teve a honra de poder prestigiar uma das maiores autoras da Literatura brasileira. A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, é narrado em primeira pessoa pela personagem que tem suas duas iniciais presentes no título da obra. Uma mulher, moradora do Rio de Janeiro, que, ao desempenhar a tarefa de limpar o “quartinho dos fundos” de seu apartamento, mergulha em um fluxo de pensamento contínuo simbolizado por um monólogo de reflexões existencialistas, uma das grandes marcas da escrita da autora. 

E nada mais simbólico do que estrear essa publicação especial num mês com acontecimentos tão marcantes para o meio literário. Além de no dia 29 de outubro ser celebrado o Dia Nacional do Livro, as semanas anteriores também foram marcadas por grandes eventos. No dia 7, ocorreu a cerimônia de entrega do Nobel de Literatura 2021, que foi concedido ao autor Abdulrazak Gurnah. Nascido na ilha de Zanzibar, atual Tanzânia, em 1948, o escritor é especialista em Literatura pós-colonial e na temática de refugiados, colecionando em sua carreira títulos como Paradise e Afterlives

Mais ao final do mês, no dia 20, foi realizada a entrega do Prêmio Camões, para a moçambicana Paulina Chiziane. Tão simbólica quanto a vitória de Gurnah, Chiziane é a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, Balada de Amor ao Vento, em que o fez depois da independência. Com a figura da mulher moçambicana e africana no centro de sua escrita, a autora dedica-se a explorar os problemas enfrentados pela mesma no meio social, e tem como uma de suas obras de maior prestígio Niketche: Uma História de Poligamia, em que uma mulher decide conhecer as outras esposas de seu marido.

No clima desse mês repleto de grandes feitos na Literatura, você confere as indicações do Clube do Livro na primeira edição do Estante do Persona.

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