Em nome de Verhoeven, todos bebem do sangue de Benedetta

Cena do filme Benedetta. Nela, está o rosto de Benedetta aproximado. Benedetta é uma freira adulta branca. Ela veste um hábito. Seus olhos e boca estão fechados. No olho esquerdo, um polegar passa água benta por cima. O polegar é de uma pessoa branca. O olho direito também está umedecido pela água.
De santa imaculada à iconografia sexual, Benedetta é a falsa heroína do drama controverso de Paul Verhoeven, que após sua estreia mundial em Cannes 2021 inflamou protestos pela crítica conservadora (Foto: SBS Productions)

Ayra Mori

Intocável, a figura da freira se tornou fonte de lascivas fantasias. Cobertas pelo mistério do tecido negro de seus hábitos, enclausuradas pela solidez das paredes de pedra e tomadas pela devoção santificada por Jesus, desde a origem da Igreja Católica como organização, a silhueta inconfundível das noivas de Cristo corporificou-se, do espírito à carne, contra o olhar. Desse olhar reprimido emergiu uma miríade de representações cuja maior tentação se debruça no magnetismo feminino oculto dentro de um convento. No retorno de Paul Verhoeven em Cannes 2021, o drama semi-biográfico Benedetta tateia o subgênero, revelando, por trás do protagonismo progressivo das mulheres enquadradas em cena, um agressivo observador – masculino.

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Não tem como se blindar de Titane

Cena do filme Titane. Na imagem, vemos a protagonista, Alexia, uma mulher branca, de cabeça raspada, aparentando cerca de 30 anos, de ponta cabeça, com o corpo nu arqueado e com uma expressão de dor no rosto.
Comprado pela plataforma de streaming MUBI e com data de estreia marcada para 28/01/2022, Titane foi exibido no Brasil primeiro na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, onde participa como Apresentação Especial (Foto: Kazak Productions)

Vitória Lopes Gomez

Opte por separar o artista da Arte ou não, Julia Ducournau já cravou seu nome em suas produções. Titane, a mais nova empreitada da cineasta francesa, estreou no Festival de Cannes, onde fez história ao levar a honraria máxima da premiação, a Palma de Ouro, e chegou ao Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O segundo projeto veio antecipado depois do sucesso do polêmico Grave, mas a sangrenta e canibalesca estreia da diretora vira só a porta de entrada para os horrores que vem depois. E não adianta, nem Cannes conseguiu: não tem como se blindar de Titane.

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Um Herói aprisiona até o afeto

Cena do filme Um Herói. Mostra um homem adulto, iraniano, caminhando perto de uma montanha clara. Está de dia e está bem sol, e ele segura uma mala azul com a mão direita.
Submissão oficial do Irã para o Oscar 2022, Um Herói faz parte da Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: California Filmes)

Vitor Evangelista

Asghar Farhadi já tem cadeira cativa na Mostra Internacional de São Paulo, e com Um Herói (Ghahreman) a história não mudou. Premiado em Cannes e com um burburinho absurdo desde sua exibição em terras francesas, o novo drama do aclamado diretor aterrissa na capital paulista recheado de tensão e uma discussão muito boa a respeito de lei, moral e até mesmo dos limites da prisão.

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