Há anos, o Cinema e a Televisão se alimentam da Literatura para produzir sucessos de audiência e público. Isso vai desde o clássico Orgulho e Preconceito às séries de filmes Harry Potter eJogos Vorazes, entre outros. Esse também é o caso de Teto para Dois, livro da autora inglesa Beth O’Leary, que recentemente foi adaptado em uma série original do Paramount+.
Há como argumentar que não há sentimento mais antigo à humanidade do que a fome. Não apenas a sempre presente fome metafórica para expandir a experiência humana (poder, conhecimento, amor, etc), mas a fome que serve ao imperativo biológico máximo: sobrevivência. Todos nós nascemos com um espaço vazio na barriga, que grita para ser preenchido que paradoxalmente nunca o será – pelo menos não por muito tempo. Neste exato momento, se você se concentrar, é possível olhar para dentro e sentir a besta arreganhando os dentes ou lambendo as patas, se preparando para a próxima caçada. Até que ponto você consegue deixar ela enjaulada?
Na segunda temporada de Yellowjackets, drama do Showtime indicado ao Emmy, nos reencontramos com o time de futebol feminino de Wiskayok High, dessa vez tendo que sobreviver ao brutal inverno canadense, com a falta de comida e tensões crescentes entre o grupo ameaçando enterrá-las sob a neve. Em um flashforward para o momento de seu resgate, diversos repórteres se amontoam sobre elas, todos desejando serem os primeiros a perguntar o que todos querem saber: como elas sobreviverem lá fora? Lottie (Courtney Eaton) é a única a oferecer uma resposta, na forma de um grito primal e sinistro que ecoa sobre a audiência antes de ser engolido pela abertura do seriado.
95ª edição do Oscar pode acender a fagulha de um movimento de retorno já orquestrado
Guilherme Veiga
O início da história do Cinema, na exibição de A Chegada do Trem na Estação em 1895, foi caracterizado pela fuga do público da sala, em função da novidade daquela tecnologia aliada com a perspectiva de filmagem do trem. A partir daí, iniciava-se uma jornada duradoura e, a princípio, inabalável. A Arte de fazer filmes superou as duas grandes guerras, inclusive servindo como ferramenta de propaganda, a grande depressão, a Guerra Fria, as ditaduras do século XX e até mesmo a greve de roteiristas de 2008. Sempre de portas abertas e salas lotadas.
Babilônia é sinônimo de grandeza. Uma das sete Maravilhas do Mundo Antigo, seus jardins também são os mais indecifráveis da história. Na alçada da Sétima Arte, Babilônia remete a um livro com suas páginas alimentadas por fofocas escandalizantes do Cinema nas décadas de 20 e 30, quando os roteiros ainda não imaginam ser preenchidos por diálogos. Bebendo da fonte dessa obra, o diretor e roteirista Damien Chazelle concebe seu mais novo trabalho, Babylon, ambientado em uma Hollywood em movimento de transição e abastecida a sexo e drogas.
Solidão. Substantivo feminino. Estado de quem está só, retirado do mundo ou de quem se sente desta forma mesmo estando rodeado por outras pessoas; isolamento. Solitude. Substantivo feminino. Condição de quem se isola propositalmente ou está em um momento de reflexão e de interiorização.Popularmente usada em oposição à solidão para indicar que estar sozinho não implica obrigatoriamente estar em sofrimento. Associada à alegria de estar sozinho.
Se tudo é algo, então nada é algo. A relação entre preenchimento e vazio sempre bailou mais junta do que se imagina. Por mais que esses dois extremos estejam bastante próximos, a jornada para percepção dessa curta distância é bem trabalhosa. É essa via-crúcis que Na Natureza Selvagem (2007), filme que completa quinze anos em 19 de Outubro de 2022, busca percorrer.
É como se a fita amaldiçoada da Samara de O Chamado (2002) sofresse uma transfusão sanguínea da IST mortal que assola Corrente do Mal(It Follows, 2015). Não há maneira simples de descrever o sorriso mortal que intitula a estreia em longas do cineasta Parker Finn. Na simples e direta trama de Sorria (Smile), uma psicóloga testemunha um suicídio e vê a própria vida se tornar um labirinto nefasto, em que só há saída na morte.
“Por que você veio até mim antes de ir à Polícia prestar queixas?”, disse o grande padrinho, Don Vito Corleone, no início de O Poderoso Chefão. Aclamado pela crítica, vencedor de três Oscars e dono da mais alta charmosidade cinematográfica, o filme de Francis Ford Coppola celebra cinco décadas. Você conhece aquela expressão “old but gold”, ou “velho, mas brilhante”? Se encaixa perfeitamente para resumir essa fantástica ascensão de um império americano à moda italiana. Este texto traz como tema central as nuances e razões que fazem da obra algo irrecusável, à frente de seu tempo e referência na arte de expor a máfia nas telonas.
Shh… Silêncio! Adele começou a cantar e o mundo inteiro está afim de ouvir. Exibido em novembro de 2021, no canal estadunidense CBS, e transmitido simultaneamente no Paramount+, Adele One Night Only contou com a interpretação de clássicos da cantora londrina e canções inéditas de seu quarto álbum de estúdio, 30. A apresentação musical ocorreu em outubro do mesmo ano, no Observatório Griffith, localizado em Los Angeles. Ao mesmo tempo, uma entrevista conduzida por Oprah Winfrey abriu as cortinas para o que seria o show de Adele.
Poucos momentos na história do Cinema podem ser considerados verdadeiros milagres. Um deles foi a estreia de O Poderoso Chefão, em março de 1972. A produção do filme foi um verdadeiro caos, indo de um estúdio que não queria aceitar um jovem Al Pacino como protagonista e que estava, a todo momento, pronto para demitir o diretor Francis Ford Coppola, até um boicote de figurões como Frank Sinatra e o envolvimento da máfia por debaixo dos panos na produção, entre diversos outros perrengues. Por sorte, sabemos como essa história terminou muito bem para todos os envolvidos e pavimentou o caminho de muitos artistas estreantes na indústria cinematográfica. Agora, 50 anos depois da obra-prima familiar de Coppola ter conquistado o público, a minissérie The Offer estreou no Paramount+, contando os bastidores do longa pelo ponto de vista do produtor Al Ruddy (Miles Teller).
“Trabalhe duro, e todos os seus sonhos se realizarão”. Esse é um tipo de fala muito familiar para nós, que vivemos imersos em um sociedade capitalista que preza por liberdade acima de tudo – inclusive, de nossa própria humanidade. E, afinal, se mesmo Bong Joon-Ho se surpreendeu em como pessoas do mundo inteiro se identificaram com o seu (mais localizado possível) retrato do capitalismo tardio sul-coreano, nossas vivências dentro desse sistema começam a se costurar, transcendendo territórios e aproximando-se de uma experiência universal. Entretanto, essa frase em específico é retirada de uma propaganda de rua do governo chinês. E a China não é capitalista.
A atual conjuntura econômica chinesa é complexa e um fenômeno único na história. Vivendo hoje um “socialismo de mercado”, essa alternativa ao socialismo tradicional surge quando a China, para evitar sofrer boicotes, embargos e barrar seu desenvolvimento produtivo, se viu na necessidade de fundir-se à lógica mundial de comércio capitalista, em concomitante à outras formas coletivas de propriedade. Contudo, o que parecia uma relação mutualística logo revela-se um violento parasitismo, que passa a contaminar cada aspecto de sua sociedade. E, à vista disso, os efeitos desse fenômeno são percebidos com muita sensibilidade por Jessica Kingdon em Ascension, sua estreia como diretora de longa-metragens, que consta entre os indicados a Melhor Documentário do Oscar 2022.