O bom filho a sala torna?

95ª edição do Oscar pode acender a fagulha de um movimento de retorno já orquestrado

Nos mais de 120 anos do Cinema, o cenário provocado pelos últimos anos foi uma das poucas vezes que ele precisou se provar (Arte: Ana Clara Abatte)

Guilherme Veiga

O início da história do Cinema, na exibição de A Chegada do Trem na Estação em 1895, foi caracterizado pela fuga do público da sala, em função da novidade daquela tecnologia aliada com a perspectiva de filmagem do trem. A partir daí, iniciava-se uma jornada duradoura e, a princípio, inabalável. A Arte de fazer filmes superou as duas grandes guerras, inclusive servindo como ferramenta de propaganda, a grande depressão, a Guerra Fria, as ditaduras do século XX e até mesmo a greve de roteiristas de 2008. Sempre de portas abertas e salas lotadas.

Continue lendo “O bom filho a sala torna?”

A Fera do Mar é a animação que a Netflix sempre sonhou em ter

“A nossa história é uma mentira. Por gerações, os reis nos fizeram odiar as feras, e fizeram os caçadores destruírem elas. E, com cada mentira, esse império cresceu” (Foto: Netflix)

Amábile Zioli

Na busca incessante em produzir uma animação que consiga competir com outros grandes estúdios já consolidados nesse mercado, como a Disney e a Universal, a Netflix recorreu à pessoa certa: Chris Williams. O currículo do diretor está longe de ser fraco e o cineasta tem seu nome em algumas das produções mais aclamadas dos anos 2000 – Bolt, o Supercão, Mulan, Detona Ralph e A Nova Onda do Imperador são alguns exemplos. Nessa nova empreitada, fica claro que o diretor e roteirista sabe o que está fazendo e isso se confirma em seu novo trabalho, A Fera do Mar.

Continue lendo “A Fera do Mar é a animação que a Netflix sempre sonhou em ter”

O visual deslumbrante e vazio não salva Blonde do sadismo de Andrew Dominik

Alerta de gatilho: abuso, violência doméstica, estupro, aborto, suicídio. 

Cena do filme Blonde. A imagem mostra as costas da personagem Marilyn Monroe com a parte de baixo de seu vestido levantada, em uma interpretação de sua icônica cena no filme O Pecado Mora ao Lado. Imagem em preto e branco.
Em Blonde, a primeira cena sugere qual será a abordagem de Marilyn Monroe, que o levou ao Oscar (Foto: Netflix)

Giovanna Freisinger

Blonde, produção que reimagina a história de Marilyn Monroe, proporcionou a Ana de Armas sua primeira indicação ao Oscar. Concorrendo pelo título de Melhor Atriz por sua interpretação da personagem, ela desponta como forte candidata ao prêmio. Apesar da citação não vir como uma surpresa, após indicações em outras premiações importantes, como o Globo de Ouro, o SAG Awards e o BAFTA, as respostas do público à essa nomeação foram divididas. Isso não em relação ao merecimento da atriz por sua performance, mas à inclusão do filme na premiação em primeiro lugar, cedendo visibilidade e prestígio à obra, que, para muitos, faria melhor ao mundo sendo esquecida.

Continue lendo “O visual deslumbrante e vazio não salva Blonde do sadismo de Andrew Dominik”

As muitas camadas quebradiças e transparentes de Glass Onion

Um fim de semana paradisíaco e misterioso em uma Cebola de Vidro (Foto: Netflix)

Laura Hirata-Vale

Depois do sucesso de Entre Facas e Segredos (2019), Rian Johnson fez seu retorno às telonas com mais um whodunnit, o longa Glass Onion: Um Mistério Knives Out. A franquia foi adquirida pela Netflix após o triunfo do primeiro filme, o que fez com que a segunda produção fosse esperada ansiosamente pelos fãs. O elenco foi repaginado, mas continua tendo nomes de peso como Kate Hudson, Kathryn Hahn e Janelle Monáe integrando a produção. Em meio às novidades, Daniel Craig retorna ao papel do investigador particular Benoit Blanc.

Continue lendo “As muitas camadas quebradiças e transparentes de Glass Onion”

Animação não é coisa de criança, mas para a Academia…

Homenagem tendenciosa? Woody e Buzz apresentam o Oscar de Melhor Animação em 2016 para Divertida Mente, do mesmo estúdio que lhes deu vida (Capa: Ana Clara Abatte)

Nathan Nunes

Na manhã do dia 15 de Janeiro de 2015, Hollywood ficou em polvorosa com a falta do então favorito Uma Aventura Lego entre os indicados ao Oscar de Melhor Animação. Lembrado, ainda assim, na disputa de Canção Original com Everything is Awesome, o longa de Phil Lord e Christopher Miller (que seriam premiados anos depois por Homem-Aranha no Aranhaverso) foi preterido em razão de dois candidatos menos conhecidos: O Conto da Princesa Kaguya, do cultuado Studio Ghibli, e A Canção do Oceano, da pequena produtora irlandesa Cartoon Saloon. Completavam a lista Como Treinar o Seu Dragão 2, da DreamWorks, Os Boxtrolls, da LAIKA Studios, e o eventual vencedor Operação Big Hero da Disney. Apesar do esnobe, é notável que havia um equilíbrio na disposição dos estúdios por trás dos concorrentes naquele ano, abraçando tanto os gigantes quanto os independentes e estrangeiros

Continue lendo “Animação não é coisa de criança, mas para a Academia…”

RRR faz o colonialismo dançar ao som da Revolta, Rebelião e Revolução indiana

Cena do filme RRR. Da esquerda para a direita na imagem, o protagonista Komaram Bheem enfrenta um tigre. A câmera captura ambos cara a cara, a partir do busto e da mandíbula, respectivamente. Bheem é um homem indiano de cabelos e olhos escuros, ele aparece todo ensanguentado vestindo apenas um artefato tradicional de seu povoado no pescoço. Tanto Bheem quanto o tigre estão com a boca aberta. O tigre, por sua vez, tem dentes longos e afiados. O animal também está com a pelagem branca, preta e amarela ensanguentada. Ao fundo, o cenário é uma floresta repleta de verde.]
Naatu Naatu concorre ao Oscar 2023 pela estatueta de Melhor Canção Original, feito inédito para um longa indiano (Foto: Pen Studios)

Nathalia Tetzner

Das raízes do imperialismo inglês, a ocupação, exploração e opressão floresceram em uma árvore de tronco imponente. Neste cenário, a violência permitiu o sequestro da cultura de comunidades nativas, porém, incoerentemente, os frutos venenosos dos caules suculentos alimentaram a Revolta, Rebelião e Revolução indiana que colocou fim ao período conhecido como o “Raj Britânico” na primeira metade do século XX. 

Da luta pela independência, líderes se tornaram seres mitológicos para o povo e, em 2022, dois deles ganharam as telas do Cinema com RRR. O longa tollywoodiano dirigido por S. S. Rajamouli não somente surpreendeu pela leitura épica de um evento histórico, como também fez história ao emplacar a indicação de Melhor Canção Original no Oscar 2023, dádiva alcançada pelo feito de M.M Keeravaani e Chandrabose em colocar o colonialismo para dançar com a eletrizante Naatu Naatu.

Continue lendo “RRR faz o colonialismo dançar ao som da Revolta, Rebelião e Revolução indiana”

Em Pinóquio, o valor da vida aumenta conforme o tempo escoa

Em seu novo longa, Pinóquio descobre, assim como nós, que o maior vilão pode ser um humano, e não uma raposa falante (Foto: Netflix)

Aryadne Xavier

Pergunte a alguma criança ou adulto sobre a história de um menino cujo nariz aumenta sempre que mente e, muito provavelmente, ele saberá te dizer de que história você está falando. A grande quantidade de adaptações cinematográficas do boneco de madeira vivo pode trazer o sentimento de mais do mesmo sempre que algo novo sobre o conto, popularizado pela Disney há mais de 80 anos, é lançado. Isso não ocorre na sua mais recente adaptação, construída de maneira a trazer de volta a magia a uma história repetida incontáveis vezes. O longa Pinóquio por Guillermo del Toro, dirigido por Guillermo del Toro e Mark Gustafson, reafirma como animações podem tratar de pautas importantes, equilibrando o discurso filosófico com o visual estonteante.  

Continue lendo “Em Pinóquio, o valor da vida aumenta conforme o tempo escoa”

Wandinha nos relembrou o quanto amamos a Família Addams

Cena da série Wandinha. Uma fotografia da personagem Wandinha, interpretada pela atriz Jenna Ortega, 20 anos. A personagem está centralizada na foto, com um olhar sério e baixo e sua mão esquerda levantada para “estalar os dedos”. Seu cabelo é preto, possui uma franjinha reta e está com um penteado de duas tranças, uma de cada lado. Ela está usando uma jaqueta preta, uma blusa branca com listras pretas e a alça de sua mochila está no seu ombro. A fotografia tem tons escuros, baixa luminosidade e pouco contraste, aparentando estar em um túnel.
Wandinha alcançou 341,2 milhões de horas assistidas em sua primeira semana, quebrando o recorde da 4ª temporada de Strangers Things (Foto: Netflix)

Clara Sganzerla

Se você ver Jenna Ortega na tela do cinema, é muito provável que ela estará coberta de sangue. Batalhando por relevância no mundo hollywoodiano desde 2012 – e não demorando muito tempo para conquistá-la -, a norte-americana mostrou ser uma brilhante scream queen e atuou em papéis de grandes sucessos em 2022, sendo muito elogiada por Pânico 5 e X – A Marca da Morte. Sem decepcionar, a atriz guardou o melhor para o final e protagonizou uma das maiores produções da Netflix: Wandinha.

Continue lendo “Wandinha nos relembrou o quanto amamos a Família Addams”

A abóbora antes da meia-noite de Harry & Meghan

 Fotografia em preto e branco de príncipe Harry e Meghan Markle. Na imagem, o casal comemora o casamento enquanto a câmera captura os dois sentados em uma escadaria. Meghan, uma mulher negra de cabelos e olhos escuros, veste um longo vestido de noiva branco de mangas compridas. Ela também usa uma tiara de cristais e carrega um buquê de flores nas mãos. Harry, um homem branco de cabelos e olhos claros, veste um traje de gala militar com condecorações, o uniforme é preto e de mangas compridas. Ambos sorriem.
Anunciado como um evento global pela Netflix, Harry & Meghan alcançou o Top 10 em 85 países (Foto: Alexi Lubomirski)

Nathalia Tetzner

Fugir da madrasta má por um princípe, encontrar a fada madrinha, perder o sapatinho de cristal e assistir a carruagem voltar a ser uma mera abóbora. A história da princesa Cinderela é um clássico que tem início, meio e um final popular entre os seres que habitam a Terra, mas amam sonhar com as estrelas: o famoso ‘felizes para sempre’. Em paralelo com a vida real, os contos de fada são construções fictícias almejadas por uma mídia cada vez mais idealista, sendo o meio responsável pela narrativa ilusionista elaborada em torno da monarquia britânica. Na série documental Harry & Meghan, a diretora Liz Garbus ajuda o duque e a duquesa de Sussex a derrubar as cortinas da fantasia criada sobre eles e a instituição.

Continue lendo “A abóbora antes da meia-noite de Harry & Meghan”

Em Ruído Branco, o mundo real é uma simulação

Em parceria com a A24, Ruído Branco estreou no Festival de Veneza e chegou à Netflix no penúltimo dia de 2022 (Foto: Netflix)

Bruno Andrade

“Consumista” já foi a palavra de ordem de uma geração que, em um passo ousado, julgava os relativos perigos de uma sociedade descontrolada – talvez como consequência direta da mudança social dos anos 1960, cuja virada cultural permanente se estabeleceu e desembocou no mal-estar das décadas seguintes. Mas o fato é que o julgamento parecia resfriar-se em um sólido cenário teórico, e ironicamente se perpetuava, muitas vezes, por aqueles que o apontavam. O consumo estava em toda parte. Em Ruído Branco, adaptação dirigida por Noah Baumbach do clássico homônimo de Don DeLillo publicado em 1985, outras facetas do consumo – para além da alienação – ganham espaço: o entretenimento vulgar, o delírio e a paranoia.

Continue lendo “Em Ruído Branco, o mundo real é uma simulação”