O pesadelo feminino toma forma em The Royal Hotel

Cena do filme The Royal Hotel. Da esquerda para direita, Liv (Jessica Henwick) abraça por trás Hanna (Julia Garner) e descansa a cabeça em seu ombro. As amigas estão em uma sacada, olhando para o lado de fora.
Kitty Green colabora novamente com Julia Garner, estrela do seu filme anterior, A Assistente (Foto: Universal Pictures)

Giovanna Freisinger

Um bar fuleiro, na fronteira de uma remota cidade mineradora no deserto australiano, com a população majoritariamente masculina. Essa é a ambientação de The Royal Hotel. Não tem espíritos possessivos nem psicopatas mascarados, mas é um cenário para um filme de terror tão assustador quanto, senão mais. Pergunte a qualquer mulher. A diretora Kitty Green aperfeiçoa o pesadelo feminino, comunicando eficientemente a sensação de ser observada como um pedaço de carne fresca, em meio a predadores famintos. O suspense se constrói sobre aquilo que é desconfortável, sinistro e, assustadoramente, familiar. 

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Joy as an Act of Resistance: Há 5 anos, IDLES revolucionava ao ser feliz

Ensaio fotográfico da banda IDLES para a revista NME. Nela temos, da esquerda para a direita, Mark Bowen, um homem branco de cabelos castanhos e bigode volumoso; Lee Kiernan, um homem branco de cabelos longos castanhos; Adam Devonshire, um homem branco careca de barba ruiva volumosa, seguido logo abaixo por Joe Talbot, um homem branco de cabelo preto ralo, barba por fazer e bigode e Jon Beavis, um homem branco de cabelos castanhos. Mark veste um macacão de trabalhos azul escuro com o escrito “HART” no peito esquerdo. Lee veste uma camisa branca por dentro da calça preta e um óculos de armação na cor vinho. Adam veste uma camisa vinho e calça preta. Joe veste uma camiseta branca, camisa florida e calça preta e Joe veste uma camiseta branca, camisa salmão com estampa em formato de losango e desenhos de uma pantera negra e calça preta. Eles estão sobre uma parede branca fazendo poses e seguram cinco balões prateados com letras que formam o nome da banda.
A grande força da banda está em se reconhecer como frágil (Foto: Fiona Garden/NME)

Guilherme Veiga

A felicidade incomoda, isso é fato. Outra coisa que também faz questão de desagradar é o punk-rock. O gênero que surgiu em meados dos anos 1960 e incorpora o garage rock e o proto-punk assume a roupagem de ser uma pedra no sapato do sistema, a peça que não se encaixa no quebra-cabeças. Isso é notado desde seus expoentes não tão politizados como blink-182 até os mais politicamente ácidos como Rage Against The Machine.

Iniciado juntamente com o movimento punk, seus adeptos, por mais que não liguem para estereótipos, sempre foram caracterizados como pessoas fechadas, vestidas de preto e com uma raiva internalizada. Nesse sentido, seus ouvintes majoritariamente são vistos como indivíduos em que a alegria é seu ‘divertidamente’ mais escanteado e a seu companheiro vermelho é quem assume a sua mente. Pensando nisso, o grupo britânico IDLES, em seu segundo álbum de estúdio, Joy as an Act of Resistance. discorre na verdade como esses dois sentimentos estão mais próximos do que se imagina.

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Sob um jaleco alvejado, A pediatra é tão humana quanto qualquer um

A pediatra foi um dos finalistas da categoria de Romance Literário do Eixo de Literatura do Prêmio Jabuti 2022 (Foto: Companhia das Letras)

Jamily Rigonatto

As mulheres devem ser doces, gentis o suficiente para servirem um homem de meia idade com reclamações diárias sobre um trabalho medíocre e o resultado de um jogo de futebol igualmente irrelevante. Quanto aos filhos: a gestação é a maior benção permitida aos corpos femininos, quem não iria querer isso? Caso Cecília pudesse ser resumida a uma palavra, “antônimo” seria um termo interessante. Ela não é doce e não pretende ser, afinal açúcar é combustível diabético, afeta o funcionamento pancreático e escraviza. Seu papel em A pediatra – livro publicado pela Companhia das Letras em 2021 – é performar o descontrole da autoridade dentro de si. 

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Licorice Pizza: os amores possíveis sob o olhar de Paul Thomas Anderson

Cena do filme Licorice Pizza. Na imagem retangular colorida, os atores Cooper Hoffman e Alana Haim correm lado a lado. Cooper é um jovem branco, possui cabelos ruivos e olhos castanhos, e veste uma camisa azul de mangas curtas, uma camiseta de cor branca e uma calça bege. Ele está com a cabeça inclinada para a esquerda, olhando para Alana. Ela é uma mulher branca, possui cabelos castanhos e olhos azuis, e veste um cropped com estampas floridas, de cores roxas, azul e branco. Os dois estão sorrindo com os dentes à mostra, e ao fundo há um campo de cor verde.
Indicado em três categorias no Oscar 2022, Licorice Pizza é uma reflexão sobre crescer e viver em um mundo problemático (Foto: Universal Pictures)

Bruno Andrade

No início dos anos 1970, os Estados Unidos começaram a receber as primeiras respostas negativas à efervescência cultural que se deu na década anterior. Após as aberturas políticas e libertárias que se estabeleceram como força motriz da sociedade civil organizada – além de manifestações políticas profícuas e históricas –, o país começou a enfrentar uma diminuição do interesse público nas políticas liberais e de contracultura. Na esteira, ainda estava por vir a quebra da coletividade e do bem comum que nortearam os ideais hippies anos antes. O neoliberalismo ganhou força popular, Richard Nixon chegou à presidência (1969-1974) e o culto da imagem se estabeleceu – algo que Guy Debord já alertava em A Sociedade do Espetáculo (1967). Mas ao contrário do que se pode imaginar, quando nada pode acontecer, tudo é possível de novo.

Esse é o caótico cenário cultural de Licorice Pizza, 9º filme do diretor Paul Thomas Anderson (PTA), estrelado por Cooper Hoffman e Alana Haim, ambos estreantes em longa-metragens. Lançado nos EUA em novembro de 2021, a trama traz Gary Valentine (Hoffman), um jovem ator de 15 anos com verve de pequeno empreendedor, e Alana Kane (Haim), uma mulher de 25 anos perdida sobre o futuro, vivendo em meio aos conflitos sociais – e geracionais – de 1973. A obra concorre no Oscar 2022 como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original – categoria em que é um dos favoritos à estatueta.

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Os M’s de Maid: maternidade, machismo e meritocracia

Cena da série Maid, na imagem Alex e Maddy passeiam por uma floresta. A mãe branca e de cabelo preto veste um colete de tom roxo escuro por cima de uma blusa de manga comprida no tom azul escuro. Ela também usa um gorro azul enquanto carrega a sua filha no ombro. A criança tem a pele branca e o cabelo loiro, ela veste uma jaqueta cinza com estampa infantil acompanhada de um suéter amarelo mostarda
Em entrevista, Margaret Qualley falou sobre como foi importante passar tempo com Riley além do momento das gravações, para que conseguissem capturar uma essência mais autêntica como mãe e filha (Foto: Netflix)

Nathalia Tetzner e Thuani Barbosa

Retratando um cenário particular que reflete as diferentes realidades da maternidade, Maid exibe com fidelidade o machismo e a falta de oportunidade vivenciada por mães que sofrem com algum tipo de violência. A minissérie original da Netflix estreou arrebatando emoções e nos obrigando a preparar os lencinhos. Jovem, Alex (Margaret Qualley) larga os estudos e o sonho de ser escritora para cuidar da filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet), mal sabendo que no futuro, o conjunto de registros realizados durante o seu trabalho como faxineira a salvariam. 

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A importância do Rímel de Azzy para a representatividade feminina no rap nacional

Capa do EP Rímel, de Azzy. A imagem mostra uma fotografia da artista de ponta cabeça, ao lado de um espelho que mostra seu rosto. A imagem é estilizada em tons de vermelho, laranja e amarelo. Azzy é uma jovem negra de pele clara, tem cabelos alisados escuros e olha para o lado esquerdo da imagem, de perfil, com expressão séria. No canto superior esquerdo, está o nome do EP em amarelo numa fonte de letra de forma, e num tamanho menor, em cima e colorido de branco, está o nome da artista.
“De São Gonçalo para o mundo, você não queria, mas eu vinguei”: na música São Gonçalo, Azzy fala sobre a sua trajetória dentro do rap nacional (Foto: Azzy)

Livia de Figueredo

Dona de um talento singular e autêntico, a rapper Azzy lança um novo EP chamado Rímel. Contando com 5 faixas que destrincham toda sua versatilidade e potencial como artista, o trabalho aborda desde músicas com temática romântica até letras que retratam a realidade feminina dentro das periferias. 

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Quem tem medo de Jennifer Check?: Garota Infernal e o verdadeiro inimigo

Cena do filme Garota Infernal. Megan Fox, que interpreta Jennifer Check, é uma mulher branca, de olhos azuis e cabelos pretos. Jennifer é uma adolescente no colegial. Ela se olha no espelho de um armário azul marinho, típico dos colégios estadunidenses. O espelho é arredondado com strass prata e rosa em sua volta. Na lateral superior esquerda e na lateral inferior direita do espelho estão colados dois adesivos de desenhos orgânicos, também em rosa. Não se vê nada na cena além da vista do rosto de Jennifer refletido no espelho e o fundo azul marinho do armário.
Fracasso comercial, Garota Infernal pouco a pouco se restabeleceu como terror cult feminista (Foto: Fox/Dune Entertainment)

Ayra Mori

Se em 2009 Garota Infernal foi considerado um crasso fracasso, após uma década de seu lançamento o filme se restabeleceu como Terror cult feminista à frente de seu tempo. Escrito por Diablo Cody, dirigido por Karyn Kusama e protagonizado pela dupla Megan Fox e Amanda Seyfried, Garota Infernal é um estudo de caso sobre como um roteiro perspicaz, um enquadramento subversivo da câmera e personagens autoconscientes são capazes de transfigurar o olhar masculino predominante no gênero, pondo em foco a perspectiva feminina quanto às violações do corpo através de Jennifer e, bem, “O inferno é uma garota adolescente”.

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