As Yellowjackets fazem seus sacrifícios

Cena da segunda temporada de Yellowjackets. Lottie (Courtney Eaton) olha para dentro de uma janela coberta por neve. A câmera está olhando para ela de dentro para fora. Lottie é uma adolescente de descendência indo-asiática, com pele marrom, cabelos longos e olhos marrons. Suas bochechas estão coradas pelo frio intenso, e ela tenta tirar neve da janela com sua mão direita. Sua expressão é de medo e consternação. Atrás dela, podemos ver uma paisagem florestal fora de foco, branca por conta da nevada. Do lado de dentro, podemos enxergar um fecho metálico do lado de dentro da janela, parecido com uma maçaneta.
“O Destino/Contra a sua vontade/Para o que der e vier/Vai esperar até/Você se entregar a ele” – Echo & the Bunnymen, “The Killing Moon” (Foto: Showtime)

Gabriel Oliveira F. Arruda

Há como argumentar que não há sentimento mais antigo à humanidade do que a fome. Não apenas a sempre presente fome metafórica para expandir a experiência humana (poder, conhecimento, amor, etc), mas a fome que serve ao imperativo biológico máximo: sobrevivência. Todos nós nascemos com um espaço vazio na barriga, que grita para ser preenchido que paradoxalmente nunca o será – pelo menos não por muito tempo. Neste exato momento, se você se concentrar, é possível olhar para dentro e sentir a besta arreganhando os dentes ou lambendo as patas, se preparando para a próxima caçada. Até que ponto você consegue deixar ela enjaulada?

Na segunda temporada de Yellowjackets, drama do Showtime indicado ao Emmy, nos reencontramos com o time de futebol feminino de Wiskayok High, dessa vez tendo que sobreviver ao brutal inverno canadense, com a falta de comida e tensões crescentes entre o grupo ameaçando enterrá-las sob a neve. Em um flashforward para o momento de seu resgate, diversos repórteres se amontoam sobre elas, todos desejando serem os primeiros a perguntar o que todos querem saber: como elas sobreviverem lá fora? Lottie (Courtney Eaton) é a única a oferecer uma resposta, na forma de um grito primal e sinistro que ecoa sobre a audiência antes de ser engolido pela abertura do seriado.

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Quem é Hedwig?

Cena do filme Hedwig: Rock, Amor e Traição exibe uma mulher transgênero cantando, com um microfone em mãos. Ela é branca, usa uma peruca loira, usa sombra azul ao redor dos olhos e um batom vermelho intenso na boca. Ela usa um colar prateado no pescoço. No fundo, desfocados, estão dois membros da banda dela. À direita, vemos um homem branco com cabelo vermelho arrepiado e à esquerda vemos um homem branco com cabelo preto mais longo. Ele usa óculos escuros. Mais ao fundo, podemos ver luzes neon do bar onde estão se apresentando.
Hedwig: Rock, Amor e Traição foi o primeiro filme dirigido por John Cameron Mitchell, lançado em 2001 (Foto: New Line Cinema)

Caio Machado

A primeira divisão binária que um ser humano encontra ao chegar no mundo é a de gênero. Menino e menina. O primeiro brinca de carrinho, a segunda brinca de casinha. Um veste azul, outra usa rosa, como disse uma figura execrável em Brasília certa vez. Mas por que essa divisão existe? Quem foi que a criou? Deus ou o ser humano? São todos questionamentos que permeiam Hedwig: Rock, Amor e Traição (Hedwig and the Angry Inch), filme que quebra esse muro tão precário com ousadia, Música e revolta.  

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