Medida Provisória: uma distopia iminente se anuncia

Cena do filme Medida Provisória. A foto exibe dois atores negros com olhares atentos em um ambiente noturno, cena de um momento de tensão do filme. À esquerda aparece o personagem Antônio, interpretado pelo ator Alfred Enoch. Ele é um rapaz alto, com cerca de 1,90 de altura, usa barba e cavanhaque e está encapuzado com uma jaqueta preta. Ao lado esquerdo da imagem temos o personagem André, interpretado pelo ator Seu Jorge. Ele é um pouco menor que Antônio, usa bigode e cavanhaque, carrega um colar por cima de uma jaqueta preta. Diferente de Antônio, André não veste um capuz.
Conduzido por uma direção inédita e uma trilha sonora composta por nomes como Elza Soares, Rincon Sapiência, Baco Exu do Blues, Cartola e Liniker, Medida Provisória chega aos cinemas quebrando paradigmas, emocionando e alarmando para um futuro não tão distante (Foto: Elo Company)

Gabriel Gomes Santana

Em um Brasil distópico, mas não muito distante da presente realidade, resgatar as origens deixa de ser uma opção e passa a ser uma lei. É diante desse bizarro cenário que Medida Provisória, primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, se desenvolve e quebra recordes de bilheteria nacional. O filme trata de uma tragicomédia, que aborda o que há de pior em nosso jeitinho brasileiro de mascarar problemas profundos dos porões racistas e cordiais, nos quais Gilberto Freyre de maneira dualista e polêmica tanto criticou em Casa Grande e Senzala.

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Amor de Mãe e a ruptura da teledramaturgia brasileira

Cena da novela Amor de Mãe. Nela, vemos a família de dona Lurdes reunida no sofá da casa, sorrindo para a foto. À esquerda e atrás de todos, está Ryan, de cabelo descolorido e regata cinza. Abaixo dele, da esquerda à direita, vemos Camila, mulher negra vestindo roupa vermelha; Danilo, homem branco, de cabelos castanhos e camiseta cinza. Dona Lurdes está ao centro, sorrindo, de óculos com acessório que impede de cair, e cabelos pretos. Ao lado dela, estão Érica e Magno.
A produção de Manuela Dias chegou ao fim, mas deixa marcas eternas na televisão (Foto: Globo)

Vitória Silva

O meio cultural está em constante mutação. Com o passar dos anos, fomos alterando e desenvolvendo as nossas formas de consumir conteúdo, seja pelo meio impresso, radiofônico ou televisivo. Assim como os meios mudam, o seu público também muda. Temas que no século passado eram tratados com normalidade não são mais cabíveis nos dias atuais. Dessa forma, os produtos culturais foram recebendo novas vestimentas. Hoje, já sabemos que nem toda narrativa precisa ter uma mocinha que vai atrás do seu par romântico, assim como estereotipar personagens homossexuais não é (e nunca deveria ter sido) motivo de piada.

Essa revolução iria se estender, é claro, para o mundo das novelas. Uma das principais formas de entretenimento do público brasileiro, grande adepto do sofá. Com a ascensão dos streamings e a concorrência cada vez maior de seriados, a teledramaturgia precisou se modificar. Assistir histórias com desfechos sem pé nem cabeça já havia se tornado algo rotineiro, “coisa de novela”, como se o gênero tivesse que ser sinônimo de algo mal feito. Não dava para sustentar um público cada vez mais em busca de abordagens sérias e profundas com os mesmos temas batidos de sempre. 

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Três Verões: dias melhores virão

A imagem é uma das cenas do filme. Na imagem, Madá e os outros funcionários da casa estão posicionados em grupo sorrindo para uma selfie.
Filme de Sandra Kogut escancara mudanças sociais recentes no Brasil (Foto: Reprodução)

Vitória Silva

Em 2014, o início da Operação Lava Jato balançou as estruturas do país. A maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro levou, e ainda leva, para a cadeia uma série de personalidades de altos cargos do meio político e econômico. No entanto, pouco se fala sobre os outros personagens que, inocentemente, faziam parte dessa cadeia de esquemas ilegais. Qual foi o destino das famílias desses corruptos? E de seus funcionários?

A cineasta Sandra Kogut parte desse olhar para contar a história de seu filme mais recente. Três Verões se ambienta na mansão da família de Edgar (Otávio Muller), um grande empresário. Entre sua equipe de funcionários, está a caseira Madá, interpretada pela brilhante Regina Casé. A funcionária é ‘quase parte da família’, sempre se virando nos 30 para agradar ao desejo dos patrões e ainda conseguir um sustento extra, mas sem perceber as tramóias que rolam por debaixo dos panos.

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