Notturno: as cicatrizes da guerra são profundas como a noite e nítidas como o dia

O documentário é parte da seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Um jovem casal se encontrando enquanto tiros soam ao fundo, crianças desenhando seus traumas, pacientes psiquiátricos ensaiando uma peça de teatro como parte do tratamento. Num compilado de imagens cotidianas protagonizadas por quem viu e sentiu uma violência extrema, Notturno ressalta as marcas que os conflitos no Oriente Médio deixam em seus habitantes. Filmado durante os três últimos anos nas fronteiras do Iraque, Curdistão, Síria e Líbano, o documentário chega na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo registrando a realidade material e psicológica de quem, inserido num cenário onde a guerra é uma companhia constante, tenta seguir em frente.

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Pai tem gosto de revolta

Nikola na sua caminhada presente na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

Existem filmes que deixam um sabor amargo na boca. Pai, do diretor sérvio Srdan Golubović, com certeza se encaixa nessa categoria. Coproduzido por seis países – Sérvia, França, Alemanha, Eslovênia, Croácia e Bósnia-Herzegovina -, o longa cria uma trama complexa e contida que trabalha um único personagem a partir de sua realidade brutal. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, dentro da seção Perspectiva Internacional, há momentos que é quase impossível conter a raiva e os gritos diante de tanta dor e injustiça que Golubović imprime em tela. 

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O Problema de Nascer: quem não tem medo do futuro?

O longa faz parte da categoria Novos Diretores na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Jho Brunhara

O trailer de O Problema de Nascer coleciona no YouTube uma proporção de 70% de deslikes em comparação aos likes. Sua página no IMDB recebeu uma votação em massa de avaliações negativas de 1 estrela. Afinal, de onde vem esse ódio que o filme encontrou no público? O longa austro-alemão, que faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é extremamente ambicioso. Pelos motivos errados. 

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Sem Ressentimentos: a liberdade só existe quando é para todos

O primeiro longa do diretor Faraz Shariat faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Jho Brunhara

É difícil diretores jovens escaparem de realizar pelo menos um projeto do gênero coming-of-age, o famoso longa de amadurecimento, e Faraz Shariat não foge à regra. O diretor de 26 anos traz para Sem Ressentimentos uma semi-biografia, mas também questões muito maiores sobre a configuração política do mundo que conhecemos. O longa alemão, selecionado para a 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, faz parte da Competição Novos Diretores. 

A história de Futur Drei, título no idioma original, segue o jovem gay Parvis Joon (Benjamin Radjaipour), filho de iranianos que moram na Alemanha há alguns anos. Após um pequeno crime, o garoto precisa prestar serviço comunitário em um centro de refugiados na Saxônia, e é lá onde conhece Amon (Eidin Jalali), que fugiu do Irã junto de sua irmã, Banafshe (Banafshe Hourmazdi). 

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A melancólica lembrança de 1986

O longa é um dos filmes que fazem parte da Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Ana Laura Ferreira

É na diferença entre o ‘ter’ e o ‘querer’ que se constrói a narrativa de 1986. O filme alemão, que fez sua estreia sul-americana na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, se destaca por sua sensibilidade ao tratar da melancolia e das reminiscências do acidente nuclear de Chernobyl. Concentrando-se nas repercussões emocionais e nas marcas que o desastre deixou naqueles que vivem próximos a zona radioativa, o filme tece sua trama na união do passado, do presente e da memória.

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Em As Veias do Mundo, a resistência vem da terra

A “árvore da vida”, que marca o filme presente na 44º Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

“Até hoje, um quinto da Mongólia foi delimitado para a mineração. 391 lagos, 344 rios e 760 nascentes secaram e muitos estão envenenados pela mais ativa indústria de mineração do mundo”. É com essa declaração que Byambasuren Davaa decide por encerrar seu novo filme, As Veias do Mundo, exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Integrante da Perspectiva Internacional, o longa mongol-alemão é uma ode à resistência das populações nativas contra a tomada de suas terras. 

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Dark é um marco temporal

A última temporada da produção alemã se consagra como a melhor original da Netflix (Foto: Netflix)

Vitória Silva 

O começo é o fim….

Um dos primeiros contatos do cinema com viagem no tempo foi na trilogia De Volta Para O Futuro, lançada em 1985, e, com o passar do tempo, novas produções como Efeito Borboleta, Donnie Darko e Vingadores: Ultimato foram surgindo. Essa temática pode ser considerada um dos assuntos mais utilizados em produções de ficção científica.  Apesar das diferentes abordagens, a reviravolta em grande parte das narrativas parece ser sempre a mesma: provocar alterações no passado geram consequências no futuro. E, por muito tempo, pode ter se pensado que essa era uma das únicas maneiras de se criar histórias sobre viagem no tempo, até o surgimento de Dark.

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