Em 2020, a maior parte do público não esperava muito de Sonic – O Filme. Afinal, o longa já havia passado por um baita de um rebuliço ao liberar o seu trailer e não agradar nada os fãs com o design “diferente” do ouriço azul mais conhecido do mundo. No entanto, o filme – que praticamente encerrou o funcionamento de cinemas no início da pandemia – ganhou o coração da audiência com um bomredesign e uma ótima trama. Desta forma, sua sequência não poderia ser diferente.
Sonic 2 – O Filme, dirigido por Jeff Fowler,chegou aos cinemas dois anos, e uma pandemia, depois do primeiro longa-metragem, e conseguiu trazer a fórmula de sequências do MCU direto para as adaptações de games. Desta vez, muito mais focado no desenvolvimento do universo do Sonic (Ben Schwartz), do que no planeta Terra. Assim, a produção entrega para seus espectadores tudo que há de bom no mundo dos jogos, a animação, o enredo, o plot line e as referências.
Passeamos pelos multiversos de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e The Umbrella Academy, exploramos o brilhantismo obscuro da terceira temporada de Barry e refletimos sobre o final provisório dos malditos Peaky Blinders. Foi assim que o mês popularmente mais calmo no audiovisual, quase uma preparação para o ápice da temporada de Summer Movies, conseguiu deixar sua marca como um dos capítulos mais interessantes do ano até então. Neste Cineclube de Junho, o Persona destrincha o que rolou no Cinema e na TV no Mês do Orgulho.
Beyond Van Gogh é uma exposição que ocorreu em São Paulo no Morumbi Shopping desde o dia 17 de março até o dia 03 de julho de 2022, e chegou ao Brasil este ano em homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. A instalação é imersiva, pois o público vivencia a experiência entre as telas e multimídias a vida do artista holandês como se estivesse mergulhando na sua história e nas suas obras.
Depois de Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) ter apagado a memória da existência de Peter Parker (Tom Holland), em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) ter libertado a cidade de Westview de sua manipulação, em WandaVision, ambos se encontraram para uma batalha intensa que atravessou universos. Em maio de 2022, foi lançado Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, um filme com muita ação e adrenalina, como é de se esperar de uma produção Marvel. A obra, porém, deixa a desejar, quebrando as expectativas de fãs que estavam ansiosos por esse momento.
Da busca por registrar e contar histórias felizes de amor entre garotas, origina-se O amor não é óbvio. Publicada em 2019, a obra é a estreia da admirável autora baiana Elayne Baeta e marca o primeiro best-seller lésbico nacional a atingir alista de mais vendidos do país. Anteriormente lançado em formato digital de forma independente, o romance ganhou espaço na Literatura brasileira e foi lançado pela Editora Record, sob o selo Galera. A escritora, ilustradora e poetasó escreve sobre o que já sentiu no peito, e talvez por isso, suas narrativas sejam nada óbvias.
“Contar uma história significa levar as mentes no voo da imaginação e trazê-las de volta ao mundo da reflexão.”
– Paulina Chiziane
Em meio à euforia das celebrações do Orgulho, o simbólico mês de junho também deu abertura para importantes reflexões acerca da comunidade LGBTQIA+. O Clube do Livro do Persona sediou uma edição especial aberta aos nossos colaboradores para observar a produção literária da população trans latino-americana. Saindo da Literatura nacional, partimos em uma viagem para conhecer O Parque das Irmãs Magníficas, de Camila Sosa Villada.
Já conhecida nos palcos, telinhas e telões ao redor do país, o primeiro passo da autora em sua caminhada na Literatura ocorreu em 2015, com La Novia de Sandro. Na coletânea de poemas, Camila se propõe a investigar “os mistérios do amor travesti”, temática que se tornaria um dos braços condutores de toda a sua obra. Em 2019, foi a vez de revelar a então leitura do nosso Clube do Livro, um relato semi-biográfico, em que a autora narra seus anos de prostituição no Parque Sarmiento, em Córdoba. Traduzido para mais de 10 idiomas, o livro foi vencedor de prêmios internacionais, como o Finestres de Narrativa (Espanha, 2020) e o Grand Prix de l’Héroïne Madame Figaro (França, 2021).
Construindo uma fortaleza ao lado de um grupo de amigas, fator representativo de uma comunidade que aprendeu a ancorar-se em si mesma, Camila Sosa Villada apresenta um relato cruel do que é ser travesti, em um país que ainda não se equipara à carnificina diária que é essa realidade no Brasil. E se apoia em doses necessárias de realismo fantástico, que, ao invés de amenizar, aprofundam ainda mais as feridas ali expostas. Se for possível resumir bem, a sinopse da narrativa assim o faz: “O romance O Parque da Irmãs Magníficas é isso tudo: um rito de iniciação, um conto de fadas ou uma história de terror, o retrato de uma identidade de grupo, um manifesto explosivo, uma visita guiada à imaginação da autora”.
Ainda entre os feitos literários do nosso especial do Mês do Orgulho LGBTQIA+, o Persona Entrevista abriu as portas para Tobias Carvalho, autor de Visão Noturna e As Coisas, obra que se aprofunda sobre as relações homoafetivas e vencedora do Prêmio Sesc de Literatura, em 2018. Também foi tempo de condecorar um dos protagonistas da expansão da Literatura no projeto, no dia 7 de junho, o autor Mia Couto recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Essa constitui a mais elevada honraria concedida pela Unesp, que tem o objetivo de prestigiar o trabalho de personalidades nacionais e internacionais, que se destacaram por suas contribuições para a arte, a cultura, a sociedade e a promoção dos direitos humanos.
O clima festivo para o meio literário tende a se prolongar no mês de Julho, que teve seu início marcado pelo retorno da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Mas, para fechar o importante ciclo que passou, fique com as indicações de autores LGBTQIA+ dos integrantes da Editoria em mais um Estante do Persona.
“Pressenti então que neste mundo há um tipo de desejo semelhante à dor pungente. ‘Quero me transformar nele’ foi a vontade que me sufocou ao olhar para aquele rapaz todo sujo: ‘Quero ser ele’”.
Publicado no Japão em 1949 pelo aclamado autor Yukio Mishima, Confissões de uma máscara é um interessante retrato de muitas crises. A crise de seu protagonista, certamente – Koo-chan é um jovem em processo de descoberta da sua própria homossexualidade, em constante conflito com suas crenças pessoais sobre honra, valor próprio e masculinidade -, como também a crise de seu contexto histórico, marcado pela ideologia militarista do Japão Imperial e uma herança cultural em processo de transição e ressignificação. Mas é, principalmente, um livro sobre as crises de seu próprio autor, marcado pelo tom quase biográfico, uma sincera proximidade com o leitor na prosa e uma percepção bastante honesta sobre os dilemas enfrentados por um jovem LGBTQIA+ num período de grande repressão social.
“Nenhuma de nós de fato com uma existência separada. Só traços sobrepostos, confusos, não claros. Como se estivéssemos, todas nós, num palimpsesto.”
Em uma sala, num outro universo que não é, naquele momento, o Rio de Janeiro que estardalhaça do lado de fora, ela está furiosa. Em silêncio, mas nunca quieta. Cautelosamente desajeitada. Uísque caubói, também raivoso, em um copo plástico. Escuta um homem, que nem conhece direito, narrar seus encontros com putas. Mulheres sem nomes, pois são tantas que, no fim, se juntam até se tornarem um único ser com várias cabeças e braços. Rasura. Na verdade, são as estórias que se juntam incessantemente até formarem, gota a gota, gigantes estruturas, como aquelas pedras, em cavernas. Gota a gota. Rígidas. Estalagmites. Que prendem, nos espaços vazios e ocos, o que realmente se quer dizer. E não foi dito.
E é isso – o que não foi dito – que mais pulsa na escrita visceral de Elvira Vigna no brutal Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (2016), um de seus últimos livros publicados em vida. Em uma crueza avassaladora, que partilha de um humor blasé e de uma catártica raiva feminina, a autora não traz suas discussões necessariamente na superfície de seu enredo e no desenrolar de suas personagens, mas sim em uma psicologia que está atrás dos eventos narrativos – localizada no que realmente move os acontecimentos – criando uma dualidade acerca do que se diz mas, não necessariamente, é o que quer ser dito. Nessa narrativa, a única verdade está naquilo que é engolido pela língua e reside no escuro. Na ausência. No negativo.
Não há tempo mais mágico do que as férias escolares. Nesse período, podemos conhecer novas pessoas, formar amizades e laços duradouros, sejam com amigos ou familiares, aprender novas atividades e conhecer o mundo. Essa é, com certeza, a época mais agradável para uma criança. Gravity Falls, série que completa 10 anos em 2022, nos faz recordar com carinho das férias escolares no mesmo momento que adentra em uma grande investigação cativante.
Desde sua estreia como cineasta em 1995, o cineasta Michael Bay tem a ação junto a uma certa dose de niilismo como grandes marcas do seu trabalho. Premiado diretor de comerciais e videoclipes, Bay funde o apelo visual e a iconografia americana de seu predecessor Tony Scott, com o niilismo e antipatia de seu sucessor Zack Snyder, em filmes de ação saturados e apelativos que pouco se importam de fato com seus personagens. Talvez seja por isso que o americano se encontrou nos robôs da franquia Transformers,literais dispositivos de ação e frases de efeito, que a cada filme tinham mais tempo de tela e davam menos valor à vida humana.